Questões Militares
Comentadas sobre gêneros textuais em português
Foram encontradas 57 questões
Um texto é um conjunto coerente de enunciados, uma composição de signos codificada sob a forma de um sistema e que constitui uma unidade de sentido, com uma intenção comunicativa. A esse respeito, leia, atenciosamente, o enunciado seguinte.
Para a interpretação do conjunto de informações do texto acima, é imprescindível considerar que
VIVER EM SOCIEDADE
Dalmo de Abreu Dallari
A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo.
E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transportes e os cuidados de saúde.
Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças.
Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos.Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo.
Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos.
Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos e exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais.
Rosenthal, Marcelo et al. Interpretação de textos e semântica para concursos. Rio de Janeiro: Essevier, 2012.
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Analise os itens apresentados, a seguir, de acordo com os tipos e gêneros textuais.
I. “Secretária faz balanço positivo das ações sociais em MT”.
II. “Venha para a Vivo e aproveite a maior e melhor cobertura 3G do Brasil”.
III. “Apresentamos, nesta edição da revista, um breve mosaico das iniciativas premiadas, que utilizam as tecnologias de informação e comunicação como ferramentas para acelerar a inclusão social país afora”.
IV. “Excelentíssimo Juiz, Encaminhamos à V.Exª os documentos relativos ao processo nº 297/12 para inclusão nos autos”.
Assinale a alternativa que apresenta a
classificação correta dos gêneros textuais.
Relacione as colunas de acordo com as características da fala e da escrita. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. Alguns números poderão ser utilizados mais de uma vez e outros poderão não ser usados.
1. Fala
2. Escrita
( ) Localmente planejada.
( ) Maior tempo de planejamento.
( ) Planejamento simultâneo.
( ) Fluxo discursivo descontínuo.
( ) Resultado de um processo.
( ) Estática.
( ) Dinâmica.
( ) Maior densidade lexical.
Contra a mera “tolerância” das diferenças
“É preciso tolerar a diversidade”. Sempre que me defronto com esse tipo de colocação, aparentemente progressista e bem intencionada, fico indignado. Não, não é preciso tolerar.
“Tolerar”, segundo qualquer dicionário, significa algo como “suportar com indulgência”, ou seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente com aquela conduta.
“Tolerar” o que é diferente consiste, antes de qualquer coisa, em atribuir a “quem tolera” um poder sobre “o que tolera”. Como se este dependesse do consentimento daquele para poder existir. “Quem tolera” acaba visto, ainda, como generoso e benevolente, por dar uma “permissão” como se fosse um favor ou um ato de bondade extrema.
Esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é diferente dos padrões construídos socialmente. Mais: funciona como um expediente do desejo de estigmatizar o diferente e manter este às margens da cultura hegêmonica, que traça a tênue linha divisória entre o normal e o anormal.
Tolerar não deve ser celebrada e buscada nem como ideal político e tampouco como virtude individual. Ainda que o argumento liberal enxergue, na tolerância, uma manifestação legítima e até necessária da igualdade moral básica entre os indivíduos, não é esse o seu sentido recorrente nos discursos da política.
Com efeito, ainda que a defesa liberal-igualitária da tolerância, diante de discussões controversas, postule que se trate de um respeito mútuo em um cenário de imparcialidade das instituições frente a concepções morais mais gerais, isso não pode funcionar em um mundo marcado por graves desigualdades estruturais.
(QUINALHA, Renan. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2016/02/contra-a-mera-tolerancia-das-diferencas/. Acesso em: 30/03/2016. Trecho.)
Considerando o conteúdo temático, propósito comunicativo, estilo e composição na esfera dos gêneros textuais, aponte a semelhança do conteúdo verbal da tirinha abaixo com o segundo parágrafo do texto.
Observe:
Exemplos de alimentos com índice maior de
A partir das informações acima e das informações que se
encontram no texto, pode-se afirmar que
A Segurança Pública no Brasil
Na última década, a questão da segurança pública passou a ser considerada problema fundamental e principal desafio ao estado de direito no Brasil. A segurança ganhou enorme visibilidade pública e jamais, em nossa história recente, esteve tão presente nos debates tanto de especialistas como do público em geral.
Os problemas relacionados com o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, a degradação do espaço público, as dificuldades relacionadas à reforma das instituições da administração da justiça criminal, a violência policial, a ineficiência preventiva de nossas instituições, a superpopulação nos presídios, as rebeliões, as fugas, a degradação das condições de internação de jovens em conflito com a lei, a corrupção, o aumento dos custos operacionais do sistema, os problemas relacionados à eficiência da investigação criminal e das perícias policiais e a morosidade judicial, entre tantos outros, representam desafios para o sucesso do processo de consolidação política da democracia no Brasil.
(http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca)
OAB: reforma do Código Penal é um retrocesso na democracia do país
O anteprojeto de reforma do Código Penal, elaborado de modo açodado por uma comissão de juristas, atualmente em fase de tramitação no Senado Federal, vai representar um retrocesso para a democracia brasileira. A afirmação é do presidente da OAB do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, que promove amanhã (31), na sede da entidade, a segunda etapa do seminário sobre a reforma do Código Penal. O Brasil possui a quarta população carcerária do mundo e um déficit de 200 mil vagas nos estabelecimentos prisionais.
Segundo Damous, não há dúvida de que o Código Penal brasileiro, em vigor desde 1942 e inspirado no código da Itália fascista de Mussolini merece ser reformado. A questão é: como deve ser feita a reforma? Quais condutas merecem ser criminalizadas? Que políticas criminais e penitenciárias nosso país deve adotar? Com o desafio de unificar em um único código toda a legislação penal aprovada nas últimas décadas, a comissão não teve tempo de incorporar propostas da sociedade, tampouco de especialistas em Direito criminal.
No anteprojeto a comissão de juristas - disse - chegou a aumentar penas e dificultar a concessão de benefícios aos que já estão presos, além de considerar, equivocadamente, que a prisão pode ser a solução para todos os males. No entanto, segundo ele, há algo de bom no atual debate: a proposta de reforma do Código Penal trouxe à tona para discussão temas considerados tabus e há muito evitados: aborto, eutanásia e prostituição.
O presidente da OAB acentuou que são temas impregnados de preconceitos e que precisam ser discutidos de modo multidisciplinar. Todos estes temas serão analisados em evento que acontecerá na sede da OAB-RJ amanhã (31) e no próximo dia 7, sempre a partir de 9h30. A entrada é franca no auditório "Ministro Evandro Lins e Silva" e vão participar dos debates juristas, médicos, psicólogos e líderes sociais.
(Jornal do Brasil. 30/10/2012)
Assinale a afirmativa que indica o segmento do texto que confirma a opinião final expressada no trecho sublinhado.
OAB: reforma do Código Penal é um retrocesso na democracia do país
O anteprojeto de reforma do Código Penal, elaborado de modo açodado por uma comissão de juristas, atualmente em fase de tramitação no Senado Federal, vai representar um retrocesso para a democracia brasileira. A afirmação é do presidente da OAB do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, que promove amanhã (31), na sede da entidade, a segunda etapa do seminário sobre a reforma do Código Penal. O Brasil possui a quarta população carcerária do mundo e um déficit de 200 mil vagas nos estabelecimentos prisionais.
Segundo Damous, não há dúvida de que o Código Penal brasileiro, em vigor desde 1942 e inspirado no código da Itália fascista de Mussolini merece ser reformado. A questão é: como deve ser feita a reforma? Quais condutas merecem ser criminalizadas? Que políticas criminais e penitenciárias nosso país deve adotar? Com o desafio de unificar em um único código toda a legislação penal aprovada nas últimas décadas, a comissão não teve tempo de incorporar propostas da sociedade, tampouco de especialistas em Direito criminal.
No anteprojeto a comissão de juristas - disse - chegou a aumentar penas e dificultar a concessão de benefícios aos que já estão presos, além de considerar, equivocadamente, que a prisão pode ser a solução para todos os males. No entanto, segundo ele, há algo de bom no atual debate: a proposta de reforma do Código Penal trouxe à tona para discussão temas considerados tabus e há muito evitados: aborto, eutanásia e prostituição.
O presidente da OAB acentuou que são temas impregnados de preconceitos e que precisam ser discutidos de modo multidisciplinar. Todos estes temas serão analisados em evento que acontecerá na sede da OAB-RJ amanhã (31) e no próximo dia 7, sempre a partir de 9h30. A entrada é franca no auditório "Ministro Evandro Lins e Silva" e vão participar dos debates juristas, médicos, psicólogos e líderes sociais.
(Jornal do Brasil. 30/10/2012)
Observe o gráfico a seguir.
Se você pudesse ver seu coração, não cuidaria melhor dele?
Marília Gabriela conversa com Gabriel, o mais novo adepto da corrente do coração. “Começou comigo, passou para o meu filho Christiano, depois para a Julia, arquiteta do Christiano, e hoje eu estou aqui com o Gabriel, irmão de Julia." Gabriel também incluiu Becel no seu café da manhã. E não parou por aí. Agora, quando vai decidir o que comer, escuta seu coração. Foram escolhas simples, mas quando se trata da saúde do coração, pequenas mudanças podem fazer toda a diferença.
![Imagem associada para resolução da questão](https://qcon-assets-production.s3.amazonaws.com/images/provas/43288/454ec070ade76e3c2f7e.png)
(Época, 10.07.2010.)
Observando as informações apresentadas, o meio de comunicação em que foram veiculadas e a intencionalidade do autor, conclui-se que o texto é
Leia atentamente o texto abaixo e responda a questão proposta.
MEU MELHOR CONTO
Moacyr Scliar
Você me pergunta qual foi o melhor conto que escrevi. Indagação
típica de jovens jornalistas; vocês vêm aqui, com esses pequenos gravadores,
que sempre dão problema, e uma lista de perguntas - e aí querem saber qual foi
o melhor ponto que a gente fez, qual provocou maior controvérsia, essas coisas.
Mas tudo bem: não vou me furtar a responder essa questão. Dá mais trabalho
explicar por que a gente não responde do que simplesmente responder.
Meu melhor
conto... Não está em nenhum dos meus livros, em nenhuma antologia, em nenhuma
publicação. Ele está aqui, na minha memória; posso acessá-lo a qualquer
momento. Posso inclusive lembrar as circunstâncias em que o escrevi. Não
esqueci, não. Não esqueci nada. Mesmo que quisesse esquecer, não o
conseguiria.
Eu era então um
jovem escritor - faz muito tempo, portanto, que isso aconteceu. Estava
concluindo o curso de Letras e acabara de publicar meu primeiro livro, recebido
com muito entusiasmo pelos críticos. É uma revelação, diziam todos, e eu, que à
época nada tinha de modesto, concordava inteiramente: considerava-me um gênio.
Um génio contestador. Minhas histórias estavam impregnadas de indignação; eram
verdadeiros panfletos de protesto contra a injustiça social. O que me salvava
do lugar-comum era a imaginação - a imaginação sem limites que é a marca
registrada da juventude literária e que, como os cabelos, desaparecem com os
anos.
Mas eu não
era só escritor. Era militante político. Fazia parte de um minúsculo, obscuro,
mas extremado grupo de universitários. Veio o golpe de 1964, participei em
manifestações de protesto, cheguei a pensar em juntar-me à guerrilha - o que
certamente seria um-desastre, porque eu era um garoto de classe média, mimado
pelos pais, acostumado ao conforto, enfim, uma antípoda do guerrilheiro. De
qualquer modo, fui preso.
Uma tragédia.
Meus pais quase enlouqueceram. Fizeram o possível para me soltar, falaram com
Deus e todo mundo, com políticos, jornalistas e até generais. Inútil. O momento
era de linha dura, linha duríssima, e eu estava em mais de uma lista de suspeitos.
Não me soltariam de jeito nenhum.
Fui levado para um
lugar conhecido como Usina Pequena. Havia duas razões para essa denominação.
Primeiro, o centro de detenção ficava, de fato, perto de uma termelétrica. Em
segundo lugar, o método preferido para a tortura era, ali, o choque elétrico.
O chefe da Usina
Pequena era o Tenente Jaguar. Esse não era o seu verdadeiro nome, mas o apelido
era mais que o apropriado: ele tinha mesmo cara de felino, e de felino muito
feroz. Ao sorrir, mostrava os caninos enormes - e isso era suficiente para dar
calafrios nos prisioneiros.
Fiquei pouco tempo
na Usina Pequena, quinze dias. Mas foi o suficiente. Da cela que eu ocupava, um
cubículo escuro, úmido, fétido, eu ouvia os gritos dos prisioneiros sendo torturados
e entrava em pânico, perguntando-me quando chegaria a minha vez. E aí uma manhã
eles vieram me buscar e levaram-me para a chamada Sala do Gerador, o lugar das
torturas, e ali estava o Tenente Jaguar, à minha espera, fumando uma cigarrilha
e exibindo aquele sorriso sinistro. Leu meu prontuário e começou o
interrogatório. Queria saber o paradeiro de um dos meus professores, suspeito
de ser um líder importante na guerrilha.
Tão apavorado eu
estava que teria falado - se soubesse, mesmo, onde estava o homem. Mas eu não
sabia e foi o que respondi, numa voz trémula, que não sabia. Ele me olhou e
estava claramente decidindo se eu falava a verdade ou se era bom ator. Mas ali
a regra era: na dúvida, a tortura. E eu fui torturado. Choques nos genitais, o método
clássico. No quarto choque, desmaiei, e me levaram de volta para a cela.
Durante dois dias
ali fiquei, deitado no chão, encolhido, apavorado. No terceiro dia o carcereiro
entrou na sala: o Tenente queria me ver. Implorei para que não me levasse: eu
não aguento isso, vou morrer, e vocês vão se meter em confusão. Ignorando
minhas súplicas, arrastou-me pelo corredor, mas não me levou para o lugar das
torturas, e sim para a sala do Tenente. O que foi uma surpresa. Uma surpresa
que aumentou quando o homem me recebeu gentilmente, pediu que sentasse,
ofereceu-me um chá. Perguntou se eu tinha me recuperado dos choques; e aí - eu
cada vez mais atônito - pediu desculpas: eu tinha de compreender que torturar
era a função dele, e que precisava cumprir ordens.
Ficou um instante
olhando pela janela - era uma bela manhã de primavera - e depois voltou-se para
mim, anunciando que tinha um pedido a me fazer.
Àquela altura eu
não entendia mais nada. Ele tinha um pedido a me fazer? O todo-poderoso chefe
daquele lugar? O cara que podia me liquidar sem qualquer explicação tinha um
pedido? Estou às suas ordens, eu disse, numa voz sumida, e ele foi adiante. Eu
sei que você é escritor, e um escritor muito elogiado.
Está na sua
ficha - acrescentou, sorridente. - Nós aqui temos todas as informações sobre
sua vida.
Olhou-me de
novo e acrescentou:
- Tem uma
coisa que eu queria lhe mostrar.
Abriu uma gaveta
e tirou de lá um recorte de jornal. Era uma notícia sobre um concurso de
contos. Cada vez mais surpreso, li aquilo e mirei-o sem entender. Ele explicou.
Eu escrevo.
Contos, como você. Mas tenho de admitir: não tenho um décimo do seu talento.
Nova pausa, e continuou:
Quero ganhar
esse concurso literário. Melhor, preciso ganhar esse concurso literário. Não me
pergunte a razão, mas é muito importante para mim. E você vai me ajudar. Vai
escrever um conto para mim. Posso contar com você, não é?
E então aconteceu
a coisa mais surpreendente. Eu disse que não, que não escreveria merda nenhuma
para ele.
Tão logo falei,
dei-me conta do que tinha feito - e fiquei a um tempo aterrorizado e orgulhoso.
Sim, eu tinha ousado resistir. Sim, eu tinha mostrado a minha fibra de
revolucionário. Mas, e agora? E os choques?
Para meu espanto,
o homem começou a chorar. Chorava desabaladamente, como uma criança. E então me
explicou: quem tinha mandado aquele recorte fora o seu filho, um rapaz de
catorze anos que adorava o pai, e adorava as histórias que o pai escrevia
- Ele quer que
eu ganhe o concurso, o meu filho o Tenente, soluçando. E eu quero ganhar o
concurso. Para ele. É um rapaz muito doente, talvez não viva muito. Eu preciso
lhe dar essa alegria. E só você pode me ajudar.
Olhava-me, as
lágrimas escorrendo pela face.
O que podia eu
dizer? Pedi que me arranjasse uma máquina de escrever e umas folhas de papel.
Naquela tarde
mesmo escrevi o conto. Nem precisei pensar muito; simplesmente sentei e fui
escrevendo. A história brotava de dentro de mim, fluía fácil. E era um belo
conto, diferente de tudo o que eu tinha escrito até então. Não falava em
revolta, não satirizava opressores. Contava a história de um pai e de seu filho
moribundo.
Entreguei o
conto ao Tenente, que o recebeu sem dizer palavra, sem sequer me olhar. E no
dia seguinte fui solto.
Nunca fiquei
sabendo o que aconteceu depois, o resultado do concurso, nada disso. Não estava
interessado; ao contrário, queria esquecer a história toda, e inclusive o conto
que eu tinha escrito. O que foi inútil. A narrativa continuava dentro de mim,
como continua até hoje. Se eu quisesse, poderia escrevê-la de uma sentada.
Mas não o
farei. Esse conto não me pertence. É, acho, a melhor coisa que escrevi, mas não
me pertence. Pertence ao Tenente, que esses dias, aliás, vi na rua: um ancião
alquebrado, que anda apoiado numa bengala.
Ele me olhou e
sorriu. Talvez tivesse, com gratidão, lembrado aquele episódio. Ou talvez
estivesse debochando de mim. Com esses velhos torturadores, a gente nunca sabe.
(Porto Alegre, 2003.)
Conto de Moacyr Scliar
publicado no livro "Do conto à crônica".
A partir da leitura do texto, pode-se afirmar que todas as alternativas estão corretas, EXCETO.