Questões Militares de Português - Interpretação de Textos
Foram encontradas 2.352 questões
Texto 2
A transformação pelo fogo
"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua sendo milho para sempre."
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino a pobre pipoca fechada dentro da panela. Lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo com que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho da pipoca que se recusa a estourar. É como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o seu jeito de ser. A presunção, o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino do piruá é triste, já que ficará duro a vida inteira.
Piruás não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Piruás nunca vão dar alegria para ninguém.
Rubem Alves (da obra O amor que acende a lua). Disponível em: http://metaforas.com.br/a-transformacao-pelo-fogo. Acesso em:
10/03/2017. Adaptado.
A mensagem principal do Texto 2 está adequadamente sintetizada em
Texto 1
O que é ser herói
Um dos maiores defeitos de quem escreve é não saber o significado adequado de certas palavras, como vem ocorrendo de forma até deslavada com o vocábulo “herói”. A mídia, com o tempo, acabou deturpando essa palavra e um exemplo disso ocorreu na última quinta-feira, quando os jornais Zero Hora e Correio do Povo não vacilaram em endeusar o goleiro gremista Marcelo Grohe, chamando-o de herói porque ele defendeu um pênalti e deu chance ao Tricolor de continuar vivo na Libertadores. Grohe, no entanto, mostrou humildade. “Não me considero herói”, disse, com os pés no chão e certamente convicto do verdadeiro significado desse vocábulo tão banalizado.
Herói, do inglês “hero”, historicamente, era nome dado pelos gregos aos grandes homens divinizados. Aqueles que se distinguiam por seu valor ou por suas ações extraordinárias, principalmente por feitos brilhantes durante a guerra ou em tempos de paz. É, ainda, o principal personagem de uma obra literária (poema, romance, peça de teatro) ou cinematográfica. Ou o principal personagem de um acontecimento ou de uma aventura como as que movimentavam a minha coleção de gibis.
Herói, em suma, não é um goleiro, pelo simples fato de defender um pênalti, e nem um Airton Senna, o campeão que foi incensado por morrer nas pistas. No máximo, esses são ídolos de um novo tempo. Também não são heróis os caras parrudos e as garotas cheias de curvas na confinação do descartável Big Brother, como o Pedro Bial insiste em chamar. Definitivamente, eles não têm nada de heroico nessa ridícula clausura a mostrar a mediocridade de quem não tem o que dizer ou fazer.
Para dar um exemplo recente do que é ser herói, basta um olhar mais demorado sobre aquele capítulo sangrento em torno de Santa Maria, a cidade traumatizada pela tragédia do incêndio da boate Kiss, que ceifou mais de duas centenas de vidas na flor da idade. Ali, naquele inferno armado pela irresponsabilidade e ganância, surgiram vários personagens que eu não vacilo em chamar de heróis, pois salvaram vidas e até deram as suas, como os antigos guerreiros gregos faziam com destemor. Esses, sim, na coragem inexcedível, foram e são heróis de verdade, porque sua ação foi e é pela vida.
Disponível em: http://anoticia.com/colunas/newton-alvim/id/647/o-que-e-ser-heroi.html. Acesso em: 03/03/2017. Adaptado.
Sobre o significado de alguns termos e expressões empregados no Texto 1, analise as afirmações a seguir.
I. Com a expressão “de forma até deslavada” (1º parágrafo), o autor quis expressar a ideia de que o emprego do vocábulo herói acontecia “descaradamente”, “inescrupulosamente”.
II. A afirmação de que “a mídia, com o tempo, acabou deturpando essa palavra” (1º parágrafo) tem o mesmo sentido de: “a mídia, com o tempo, acabou supervalorizando essa palavra”.
III. O autor afirma que o goleiro Marcelo Gohe “disse, com os pés no chão” (1º parágrafo). O autor quis dizer que o goleiro “disse, em posição ereta, com atitude desafiadora”.
IV. A expressão “caras parrudos” (3º parágrafo) equivale semanticamente a “homens fortes”, “homens corpulentos”.
Está(ão) CORRETA(S), apenas:
Texto 1
O que é ser herói
Um dos maiores defeitos de quem escreve é não saber o significado adequado de certas palavras, como vem ocorrendo de forma até deslavada com o vocábulo “herói”. A mídia, com o tempo, acabou deturpando essa palavra e um exemplo disso ocorreu na última quinta-feira, quando os jornais Zero Hora e Correio do Povo não vacilaram em endeusar o goleiro gremista Marcelo Grohe, chamando-o de herói porque ele defendeu um pênalti e deu chance ao Tricolor de continuar vivo na Libertadores. Grohe, no entanto, mostrou humildade. “Não me considero herói”, disse, com os pés no chão e certamente convicto do verdadeiro significado desse vocábulo tão banalizado.
Herói, do inglês “hero”, historicamente, era nome dado pelos gregos aos grandes homens divinizados. Aqueles que se distinguiam por seu valor ou por suas ações extraordinárias, principalmente por feitos brilhantes durante a guerra ou em tempos de paz. É, ainda, o principal personagem de uma obra literária (poema, romance, peça de teatro) ou cinematográfica. Ou o principal personagem de um acontecimento ou de uma aventura como as que movimentavam a minha coleção de gibis.
Herói, em suma, não é um goleiro, pelo simples fato de defender um pênalti, e nem um Airton Senna, o campeão que foi incensado por morrer nas pistas. No máximo, esses são ídolos de um novo tempo. Também não são heróis os caras parrudos e as garotas cheias de curvas na confinação do descartável Big Brother, como o Pedro Bial insiste em chamar. Definitivamente, eles não têm nada de heroico nessa ridícula clausura a mostrar a mediocridade de quem não tem o que dizer ou fazer.
Para dar um exemplo recente do que é ser herói, basta um olhar mais demorado sobre aquele capítulo sangrento em torno de Santa Maria, a cidade traumatizada pela tragédia do incêndio da boate Kiss, que ceifou mais de duas centenas de vidas na flor da idade. Ali, naquele inferno armado pela irresponsabilidade e ganância, surgiram vários personagens que eu não vacilo em chamar de heróis, pois salvaram vidas e até deram as suas, como os antigos guerreiros gregos faziam com destemor. Esses, sim, na coragem inexcedível, foram e são heróis de verdade, porque sua ação foi e é pela vida.
Disponível em: http://anoticia.com/colunas/newton-alvim/id/647/o-que-e-ser-heroi.html. Acesso em: 03/03/2017. Adaptado.
Para compreender um texto, é fundamental a identificação adequada dos seus nexos coesivos. No Texto 1, para
estabelecer relação entre a palavra “Tricolor” (1º parágrafo) e o clube de futebol gaúcho Grêmio, o leitor se orienta
pelo seguinte trecho:
Texto 1
O que é ser herói
Um dos maiores defeitos de quem escreve é não saber o significado adequado de certas palavras, como vem ocorrendo de forma até deslavada com o vocábulo “herói”. A mídia, com o tempo, acabou deturpando essa palavra e um exemplo disso ocorreu na última quinta-feira, quando os jornais Zero Hora e Correio do Povo não vacilaram em endeusar o goleiro gremista Marcelo Grohe, chamando-o de herói porque ele defendeu um pênalti e deu chance ao Tricolor de continuar vivo na Libertadores. Grohe, no entanto, mostrou humildade. “Não me considero herói”, disse, com os pés no chão e certamente convicto do verdadeiro significado desse vocábulo tão banalizado.
Herói, do inglês “hero”, historicamente, era nome dado pelos gregos aos grandes homens divinizados. Aqueles que se distinguiam por seu valor ou por suas ações extraordinárias, principalmente por feitos brilhantes durante a guerra ou em tempos de paz. É, ainda, o principal personagem de uma obra literária (poema, romance, peça de teatro) ou cinematográfica. Ou o principal personagem de um acontecimento ou de uma aventura como as que movimentavam a minha coleção de gibis.
Herói, em suma, não é um goleiro, pelo simples fato de defender um pênalti, e nem um Airton Senna, o campeão que foi incensado por morrer nas pistas. No máximo, esses são ídolos de um novo tempo. Também não são heróis os caras parrudos e as garotas cheias de curvas na confinação do descartável Big Brother, como o Pedro Bial insiste em chamar. Definitivamente, eles não têm nada de heroico nessa ridícula clausura a mostrar a mediocridade de quem não tem o que dizer ou fazer.
Para dar um exemplo recente do que é ser herói, basta um olhar mais demorado sobre aquele capítulo sangrento em torno de Santa Maria, a cidade traumatizada pela tragédia do incêndio da boate Kiss, que ceifou mais de duas centenas de vidas na flor da idade. Ali, naquele inferno armado pela irresponsabilidade e ganância, surgiram vários personagens que eu não vacilo em chamar de heróis, pois salvaram vidas e até deram as suas, como os antigos guerreiros gregos faziam com destemor. Esses, sim, na coragem inexcedível, foram e são heróis de verdade, porque sua ação foi e é pela vida.
Disponível em: http://anoticia.com/colunas/newton-alvim/id/647/o-que-e-ser-heroi.html. Acesso em: 03/03/2017. Adaptado.
Ao colocar em discussão a palavra “herói”, o autor do Texto 1 tem por propósito principal, em relação a essa
palavra,
Admirável mundo novo
[...] O D.I.C. (Diretor de Incubação e Condicionamento) e seus alunos entraram no elevador mais próximo e foram levados ao quinto andar.
Berçários. Salas de Condicionamento Neopavloviano, indicava o painel de avisos.
O Diretor abriu uma porta. Entraram num vasto cômodo nu, muito claro e ensolarado, pois toda a parede do lado sul era constituída por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra do cômodo. Grandes vasos, apinhados de flores. Milhares de pétalas, amplamente desabrochadas e de uma sedosa maciez, semelhantes às faces de inumeráveis pequenos querubins [...].
As enfermeiras perfilaram-se ao entrar o D.I.C.
– Coloquem os livros – disse ele, secamente.
Em silêncio, elas obedeceram à ordem. Entre os vasos de rosas, os livros foram devidamente dispostos – uma fileira de livros infantis, cada um aberto, de modo convidativo, em alguma gravura agradavelmente colorida, de animal, peixe ou pássaro.
– Agora, tragam as crianças.
Elas saíram apressadamente da sala e voltaram ao cabo de um ou dois minutos, cada qual empurrando uma espécie de carrinho, onde, nas suas quatro prateleiras de tela metálica, vinham bebês de oito meses, todos exatamente iguais (um Grupo Bokanovsky, evidentemente) e todos (já que pertenciam à casta Delta) vestidos de cáqui.
– Ponham as crianças no chão.
Os bebês foram descarregados.
– Agora, virem-nas de modo que possam ver as flores e os livros.
Virados, os bebês calaram-se imediatamente, depois começaram a engatinhar na direção daquelas massas de cores brilhantes, daquelas formas tão alegres e tão vivas nas páginas brancas. Enquanto se aproximavam, o sol ressurgiu de um eclipse momentâneo atrás de uma nuvem. As rosas fulgiram como sob o efeito de uma súbita paixão interna; uma energia nova e profunda pareceu espalhar-se sobre as páginas reluzentes dos livros. Das filas de bebês que se arrastavam engatinhando, elevaram-se gritinhos de excitação, murmúrios e gorgolejos de prazer.
O Diretor esfregou as mãos.
– Excelente! – comentou. – Até parece que foi feito de encomenda.
[...] O Diretor esperou que todos estivessem alegremente entretidos. Depois disse:
– Observem bem. – E, levantando a mão, deu o sinal.
A Enfermeira-Chefe, que se encontrava junto a um quadro de ligações na outra extremidade da sala, baixou uma pequena alavanca.
Houve uma explosão violenta. Aguda, cada vez mais aguda, uma sirene apitou. Campainhas de alarme tilintaram,
enlouquecedoras.
As crianças sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas pelo terror.
– E agora – gritou o D.I.C. (pois o barulho era ensurdecedor) – agora vamos gravar mais profundamente a lição por meio de um ligeiro choque elétrico.
Agitou de novo a mão, e a Enfermeira-Chefe baixou uma segunda alavanca. Os gritos das crianças mudaram subitamente de tom. Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram. Seus pequenos corpos contraíam-se e retesavam-se; seus membros agitavam-se em movimentos convulsivos, como puxados por fios invisíveis.
– Nós podemos eletrificar todo aquele lado do assoalho – berrou o Diretor para explicar-se. – Mas isso basta — continuou, fazendo um sinal à enfermeira.
As explosões cessaram, as campainhas pararam de soar, o ganido da sirene foi baixando de tom até silenciar. Os corpos rigidamente contraídos distenderam-se; o que antes fora o soluço e o ganido de pequenos candidatos à loucura expandiu-se novamente no berreiro normal do terror comum.
– Ofereçam-lhes de novo as flores e os livros.
As enfermeiras obedeceram; mas, à aproximação das rosas, à simples visão das imagens alegremente coloridas do gatinho, do galo que faz cocorocó e do carneiro que faz bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros recrudesceram subitamente.
[...]
– Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.
Sempre gritando, os bebês de cáqui foram colocados nos seus carrinhos e levados para fora da sala, deixando atrás de si um cheiro de leite azedo e um agradabilíssimo silêncio.
Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum de seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Por que se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?
[...]
– [...] As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas [...].
(Aldous Huxley. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2001. Fragmento.)
Em relação ao experimento relatado no texto, pode-se afirmar que:
I. As etapas seguidas durante a apresentação do experimento demonstram verossimilhança através, também, da seleção lexical.
II. O estabelecimento de uma ligação coerente entre os elementos citados é anulada a partir da mudança brusca de atitude do diretor.
III. O término do experimento aponta que todas as suas etapas foram coordenadas para uma finalidade.
Completa(m) corretamente o enunciado apenas:
Admirável mundo novo
[...] O D.I.C. (Diretor de Incubação e Condicionamento) e seus alunos entraram no elevador mais próximo e foram levados ao quinto andar.
Berçários. Salas de Condicionamento Neopavloviano, indicava o painel de avisos.
O Diretor abriu uma porta. Entraram num vasto cômodo nu, muito claro e ensolarado, pois toda a parede do lado sul era constituída por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra do cômodo. Grandes vasos, apinhados de flores. Milhares de pétalas, amplamente desabrochadas e de uma sedosa maciez, semelhantes às faces de inumeráveis pequenos querubins [...].
As enfermeiras perfilaram-se ao entrar o D.I.C.
– Coloquem os livros – disse ele, secamente.
Em silêncio, elas obedeceram à ordem. Entre os vasos de rosas, os livros foram devidamente dispostos – uma fileira de livros infantis, cada um aberto, de modo convidativo, em alguma gravura agradavelmente colorida, de animal, peixe ou pássaro.
– Agora, tragam as crianças.
Elas saíram apressadamente da sala e voltaram ao cabo de um ou dois minutos, cada qual empurrando uma espécie de carrinho, onde, nas suas quatro prateleiras de tela metálica, vinham bebês de oito meses, todos exatamente iguais (um Grupo Bokanovsky, evidentemente) e todos (já que pertenciam à casta Delta) vestidos de cáqui.
– Ponham as crianças no chão.
Os bebês foram descarregados.
– Agora, virem-nas de modo que possam ver as flores e os livros.
Virados, os bebês calaram-se imediatamente, depois começaram a engatinhar na direção daquelas massas de cores brilhantes, daquelas formas tão alegres e tão vivas nas páginas brancas. Enquanto se aproximavam, o sol ressurgiu de um eclipse momentâneo atrás de uma nuvem. As rosas fulgiram como sob o efeito de uma súbita paixão interna; uma energia nova e profunda pareceu espalhar-se sobre as páginas reluzentes dos livros. Das filas de bebês que se arrastavam engatinhando, elevaram-se gritinhos de excitação, murmúrios e gorgolejos de prazer.
O Diretor esfregou as mãos.
– Excelente! – comentou. – Até parece que foi feito de encomenda.
[...] O Diretor esperou que todos estivessem alegremente entretidos. Depois disse:
– Observem bem. – E, levantando a mão, deu o sinal.
A Enfermeira-Chefe, que se encontrava junto a um quadro de ligações na outra extremidade da sala, baixou uma pequena alavanca.
Houve uma explosão violenta. Aguda, cada vez mais aguda, uma sirene apitou. Campainhas de alarme tilintaram,
enlouquecedoras.
As crianças sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas pelo terror.
– E agora – gritou o D.I.C. (pois o barulho era ensurdecedor) – agora vamos gravar mais profundamente a lição por meio de um ligeiro choque elétrico.
Agitou de novo a mão, e a Enfermeira-Chefe baixou uma segunda alavanca. Os gritos das crianças mudaram subitamente de tom. Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram. Seus pequenos corpos contraíam-se e retesavam-se; seus membros agitavam-se em movimentos convulsivos, como puxados por fios invisíveis.
– Nós podemos eletrificar todo aquele lado do assoalho – berrou o Diretor para explicar-se. – Mas isso basta — continuou, fazendo um sinal à enfermeira.
As explosões cessaram, as campainhas pararam de soar, o ganido da sirene foi baixando de tom até silenciar. Os corpos rigidamente contraídos distenderam-se; o que antes fora o soluço e o ganido de pequenos candidatos à loucura expandiu-se novamente no berreiro normal do terror comum.
– Ofereçam-lhes de novo as flores e os livros.
As enfermeiras obedeceram; mas, à aproximação das rosas, à simples visão das imagens alegremente coloridas do gatinho, do galo que faz cocorocó e do carneiro que faz bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros recrudesceram subitamente.
[...]
– Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.
Sempre gritando, os bebês de cáqui foram colocados nos seus carrinhos e levados para fora da sala, deixando atrás de si um cheiro de leite azedo e um agradabilíssimo silêncio.
Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum de seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Por que se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?
[...]
– [...] As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas [...].
(Aldous Huxley. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2001. Fragmento.)
Admirável mundo novo
[...] O D.I.C. (Diretor de Incubação e Condicionamento) e seus alunos entraram no elevador mais próximo e foram levados ao quinto andar.
Berçários. Salas de Condicionamento Neopavloviano, indicava o painel de avisos.
O Diretor abriu uma porta. Entraram num vasto cômodo nu, muito claro e ensolarado, pois toda a parede do lado sul era constituída por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra do cômodo. Grandes vasos, apinhados de flores. Milhares de pétalas, amplamente desabrochadas e de uma sedosa maciez, semelhantes às faces de inumeráveis pequenos querubins [...].
As enfermeiras perfilaram-se ao entrar o D.I.C.
– Coloquem os livros – disse ele, secamente.
Em silêncio, elas obedeceram à ordem. Entre os vasos de rosas, os livros foram devidamente dispostos – uma fileira de livros infantis, cada um aberto, de modo convidativo, em alguma gravura agradavelmente colorida, de animal, peixe ou pássaro.
– Agora, tragam as crianças.
Elas saíram apressadamente da sala e voltaram ao cabo de um ou dois minutos, cada qual empurrando uma espécie de carrinho, onde, nas suas quatro prateleiras de tela metálica, vinham bebês de oito meses, todos exatamente iguais (um Grupo Bokanovsky, evidentemente) e todos (já que pertenciam à casta Delta) vestidos de cáqui.
– Ponham as crianças no chão.
Os bebês foram descarregados.
– Agora, virem-nas de modo que possam ver as flores e os livros.
Virados, os bebês calaram-se imediatamente, depois começaram a engatinhar na direção daquelas massas de cores brilhantes, daquelas formas tão alegres e tão vivas nas páginas brancas. Enquanto se aproximavam, o sol ressurgiu de um eclipse momentâneo atrás de uma nuvem. As rosas fulgiram como sob o efeito de uma súbita paixão interna; uma energia nova e profunda pareceu espalhar-se sobre as páginas reluzentes dos livros. Das filas de bebês que se arrastavam engatinhando, elevaram-se gritinhos de excitação, murmúrios e gorgolejos de prazer.
O Diretor esfregou as mãos.
– Excelente! – comentou. – Até parece que foi feito de encomenda.
[...] O Diretor esperou que todos estivessem alegremente entretidos. Depois disse:
– Observem bem. – E, levantando a mão, deu o sinal.
A Enfermeira-Chefe, que se encontrava junto a um quadro de ligações na outra extremidade da sala, baixou uma pequena alavanca.
Houve uma explosão violenta. Aguda, cada vez mais aguda, uma sirene apitou. Campainhas de alarme tilintaram,
enlouquecedoras.
As crianças sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas pelo terror.
– E agora – gritou o D.I.C. (pois o barulho era ensurdecedor) – agora vamos gravar mais profundamente a lição por meio de um ligeiro choque elétrico.
Agitou de novo a mão, e a Enfermeira-Chefe baixou uma segunda alavanca. Os gritos das crianças mudaram subitamente de tom. Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram. Seus pequenos corpos contraíam-se e retesavam-se; seus membros agitavam-se em movimentos convulsivos, como puxados por fios invisíveis.
– Nós podemos eletrificar todo aquele lado do assoalho – berrou o Diretor para explicar-se. – Mas isso basta — continuou, fazendo um sinal à enfermeira.
As explosões cessaram, as campainhas pararam de soar, o ganido da sirene foi baixando de tom até silenciar. Os corpos rigidamente contraídos distenderam-se; o que antes fora o soluço e o ganido de pequenos candidatos à loucura expandiu-se novamente no berreiro normal do terror comum.
– Ofereçam-lhes de novo as flores e os livros.
As enfermeiras obedeceram; mas, à aproximação das rosas, à simples visão das imagens alegremente coloridas do gatinho, do galo que faz cocorocó e do carneiro que faz bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros recrudesceram subitamente.
[...]
– Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.
Sempre gritando, os bebês de cáqui foram colocados nos seus carrinhos e levados para fora da sala, deixando atrás de si um cheiro de leite azedo e um agradabilíssimo silêncio.
Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum de seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Por que se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?
[...]
– [...] As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas [...].
(Aldous Huxley. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2001. Fragmento.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.
A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.
O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.
(João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.)
“...ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabuloso.” (linhas 12 a 14)
Segundo essa afirmação, a literatura é uma