Questões Militares de Português - Morfologia
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Texto III
Adolescência agora vai até os 24 anos, diz estudo
Da Redação
Publicado em
19 jan 2018, 20h58
Até quando vai a adolescência? Alguns podem achar que ela dura a vida toda. Mas cientistas definiram um período para essa fase da vida, que fica entre a infância e a vida adulta.
Estudo divulgado pela revista científica Lancet Child & Adolescent Health afirma que a definição de adolescência mudou, passando agora para o período entre 10 e 24 anos de idade. Pela definição anterior, essa etapa da vida ia até os 19 anos.
A nova definição reflete mudanças de comportamento, como a demora para concluir os estudos, casar e ter filhos.
De acordo com o estudo, a definição adequada desta etapa da vida é essencial para o desenvolvimento de leis, políticas sociais e serviços.
O estudo lembra que a definição do início da adolescência já foi antecipada anteriormente para 10 anos – costumava ser padronizada como 14.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/adolescencia-agora-vai-ate-os-24-anos-diz-estudo/
Acesso em 19/01/2018.
Texto II
2. Audiência com o Rei Wei
[…] Comentários
Este capítulo é o primeiro substancial sobre táticas e inicia, assim como A arte da guerra, com uma afirmação que enfatiza a natureza crucial da guerra.[…] O parágrafo de abertura sintetiza de maneira similar a postura de Sun Pin quanto aos assuntos militares: enquanto as ameaças à segurança permanecerem no mundo, a arte militar e a guerra serão tanto necessárias quanto inevitáveis. A própria sobrevivência do estado depende da compreensão dos princípios da guerra, do empreendimento das preparações militares e da ação, quando necessária, com compromisso e resolução. […]
Ao mesmo tempo, Sun Pin, bem como muitos outros escritores militares, adverte igualmente contra o perigo de se enfeitiçar pela guerra ou de se deixar seduzir por lucros aparentes, e com isso fadar o estado à extinção. Embora ele a afirme explicitamente apenas mais uma vez, a crença de que batalhas frequentes debilitam um estado e que mesmo inúmeras vitórias o podem levar à ruína subjaz a todos os Métodos militares. Além de serem fisicamente preparados, os soldados devem abraçar uma causa moral, devem lutar com e pela retidão. Somente aqueles propriamente motivados pela virtude (além do estímulo imediato das recompensas e do medo de punições) se mostram compromissados e eficazes no combate. [...]
Embora não mencione novamente a importância da retidão para as tropas, Sun Pin salienta sua necessidade para o comandante e assevera ainda que guerreiros, individualmente, não se qualificarão para sua designação aos carros se lhes faltar uma constelação de virtudes. Mesmo nos dias de hoje, a retidão permanece um forte motivador, capaz de despertar veemência quando intensamente proclamada por um orador habilidoso, incitando os homens à ação. Os sábios podem ainda se valer de seu poder, tanto na busca por parceiros e associados no caminho trilhado como para se prepararem para as lutas cotidianas.
Adaptado de Sun-Tzu . A arte da guerra [livro eletrônico]; tradução
para o inglês, introdução e comentário de Ralph D. Sawyer; tradução
a partir do inglês de Ana Aguiar Cotrim. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2012.
Texto II
Abril Despedaçado
Alessandra Salina
O filme Abril Despedaçado, de Walter Salles, aborda o conflito de terras entre duas famílias no interior nordestino do Brasil. Essa disputa se mantém durante várias gerações e se caracteriza por um ritual no qual sempre os filhos mais velhos de cada família se enfrentam em um duelo de morte em nome de suas terras, de forma que as mortes se alternavam entre as famílias. Abril Despedaçado mostra a repercussão desta prática na história de vida dos personagens, principalmente em relação ao protagonista Tonho (Rodrigo Santoro) e seu irmão Menino.
O contexto dessa história também denuncia a pobreza do sertão e principalmente os vários níveis de exploração e domínio estabelecidos. A família evidenciada no filme sobrevive da confecção da rapadura e, enquanto o pai de família força o filho pequeno ao trabalho intenso, também é explorado pelo dono da venda que passa a pagar menos pelo seu produto.
O filme mostrou-se um recurso muito rico para observação e análise da violência, principalmente a psicológica. É importante ressaltar que outro personagem, Menino, é vítima constante de violência: apanha do pai, é proibido de brincar, obrigado a trabalhos forçados e presencia o assassinato de um dos irmãos.
Outro aspecto positivo do filme é o fato de mostrar uma população que sofre violência e que possivelmente apenas intervenções amplas em seu contexto poderiam protegê-las, como o oferecimento de condições dignas de trabalho, moradia, acesso à escola etc.
Disponível em: http://www.laprev.ufscar.br/sinopse-filmes/abril-despedacado Acesso em 21/01/2018.
Com base no seguinte contexto de uso, assinale a alternativa em que as palavras em destaque estão corretamente classificadas, respectivamente.
“O filme mostrou-se um recurso muito rico para observação e análise da violência, principalmente a psicológica.”
Considere o texto da charge e avalie as afirmações abaixo.
I – No primeiro quadrinho, o grau comparativo de superioridade para o adjetivo “grande”, é “maior”, e o superlativo absoluto é “máximo”.
II – No segundo quadrinho, a palavra “humanidade” adjetiva o termo “esfrangalhada”.
III – No terceiro quadrinho, há um adjetivo que qualifica uma locução pronominal com valor semântico de “ele”.
IV – No quarto quadrinho, o grau superlativo relativo de inferioridade para o adjetivo biforme “macabro” é “o menos macabro”.
Está correto apenas o que se afirma em
Leia o texto de Drauzio Varella para responder à questão.
Passei dois anos escrevendo o livro que acabo de terminar. A tarefa não foi realizada em tempo integral, mas nos momentos livres que ainda me restam.
Há escritores que precisam de silêncio, solidão e ambiente adequado para a prática do ofício. Se fosse esperar por essas condições, teria demorado 20 anos para publicá-lo, tempo de vida de que não disponho, infelizmente.
Por força da necessidade, aprendi a escrever em qualquer lugar em que haja espaço para sentar com o computador. Por exemplo, nas salas de embarque durante as viagens de bate e volta que sou obrigado a fazer. Consigo me concentrar apesar das vozes esganiçadas que anunciam os voos, os atrasos, as trocas de portões, a ordem nas filas, os nomes dos retardatários.
Mal o avião levanta voo, puxo a mesinha e abro o computador. Estou nas nuvens, às portas do paraíso celestial. O telefone não vai tocar, ninguém me cobrará o texto que prometi, a presença na palestra para a qual fui convidado, os e-mails atrasados.
Minha carreira de escritor começou com “Estação Carandiru”, publicado quando eu tinha 56 anos. Foi tão grande o prazer de contar aquelas histórias, que senti ódio de mim mesmo por ter vivido meio século sem escrever livros.
A dificuldade vinha da timidez e da autocrítica. Para mim, o que eu escrevesse seria fatalmente comparado com Machado de Assis, Gógol, Faulkner, Joyce, Pushkin, Turgenev ou Dante Alighieri. Depois do que disseram esses e outros gênios, que livro valeria a pena ser escrito?
A resposta encontrei em “On Writing”, livro que reúne entrevistas e textos de Ernest Hemingway sobre o ato de escrever. Em conversa com um estudante, Hemingway diz que, ao escritor de nossos tempos, cabem duas alternativas: escrever melhor do que os grandes mestres já falecidos ou contar histórias que nunca foram contadas.
De fato, se eu escrevesse melhor do que Machado de Assis, poderia recriar personagens como Dom Casmurro ou descrever com mais poesia o olhar de ressaca de Capitu.
Restava a outra alternativa: a vida numa cadeia com mais de 7.000 presidiários, na cidade de São Paulo, nas últimas décadas do século 20, não poderia ser descrita por Tchékhov, Homero ou pelo padre Antonio Vieira. O médico que atendia pacientes no Carandiru havia dez anos era quem reunia as condições para fazê-lo.
Seguindo o mesmo critério, publiquei outros livros. Às cotoveladas, a literatura abriu espaço em minha agenda. Há escritores talentosos que se queixam dos tormentos e da angústia inerentes ao processo de criação. Não é o meu caso, escrever só me traz alegria.
Diante da tela do computador, fico atrás das palavras, encontro algumas, apago outras, corrijo, leio e releio até sentir que o texto está pronto. Às vezes, ficou melhor do que eu imaginava. Nesse momento sou invadido por uma sensação de felicidade plena que vai e volta por vários dias.
(www.folha.uol.com.br, 13.05.2017. Adaptado)
Leia o texto para responder a questão.
A tensão com a violência na disputa entre grupos de traficantes e em meio a uma megaoperação de segurança na favela da Rocinha (zona sul do Rio) e arredores, neste sábado [23.09.2017], teve um saldo de três suspeitos mortos, uma criança ferida e nove homens presos no Rio de Janeiro. Houve intensa troca de tiros no início da tarde, depois de registro de tiros durante a madrugada.
O tiroteio do início da tarde, que aparentemente ocorria na parte alta da comunidade, durou cerca de dez minutos, por volta das 13h, e obrigou militares e jornalistas a se abrigarem na 11ª DP, que fica no pé da favela. Ainda não há informações sobre o que teria desencadeado o tiroteio.
A Polícia Militar trocou tiros com suspeitos em pontos do Alto da Boa Vista, da Tijuca e de Santa Teresa. Nos dois primeiros casos, a Polícia Civil confirmou a suspeita de vínculo com os conflitos na Rocinha.
(UOL. https://noticias.uol.com.br. 23.09.17. Adaptado)
Texto 02
Comunicação virtual nas relações interpessoais. Que negócio é esse?
Com a Internet, o homem consegue ultrapassar as barreiras geográficas, tornando mais fácil e ágil a sua comunicação. Mas, por outro lado, a comunicação virtual nas relações interpessoais tem limitado o contato social ao mundo cibernético, o que pode representar aspectos negativos para o futuro da humanidade.
Já sabemos que a Internet trouxe muitas vantagens para o nosso dia a dia, tanto na dimensão profissional quanto na pessoal e devido à intensidade dos movimentos econômicos e políticos, principalmente, nas grandes cidades, a vida é cada dia mais agitada. Por conta desse fato, o crescimento do mercado das comunicações virtuais tem sido cada vez mais abundante, mas o modo de relacionamento entre as pessoas está sendo seriamente afetado.
É preciso levar em consideração que tais vantagens também podem esconder certas desvantagens, como no caso da falência das relações interpessoais, e o ser social virar, de vez, um ser cibernético. Muitos preferem a comunicação virtual à face a face, pois a primeira parece ser mais fácil e “segura” do que a outra.
Ou seja, um meio de comunicação eficiente, cujo alicerce é a tecnologia, passa a ser, na realidade, um distanciador de pessoas, pois mesmo aproximando geograficamente, o contato físico vem sendo anulado paulatinamente. Hoje, é mais fácil conversamos com nosso amigo, que mora no bairro vizinho, por um bate papo ou mídia social, do que nos despencarmos até a sua casa ou a um café para colocar a conversa em dia.
Sabemos das novidades da vida dos “nossos” por meio do Facebook, Intagram, Twitter, entre outros, e não mais face à face, ou mesmo pelo telefone. Mas, até quando as relações irão aguentar esse tipo restrito de comunicação? A resposta para essa pergunta não é fácil de descobrir, pois estamos enfrentando esse fato pela primeira vez e não há uma previsão certeira de como essa nova realidade irá evoluir.
O que sabemos de fato é que a comunicação evolui, assim como caminha a humanidade, mas o laço entre os seres é de fundamental para que continuem a criar uma sociedade melhor, que não se encontra apenas na web. É preciso, portanto, saber usufruir das vantagens que a tecnologia nos oferece para podermos estar em comunicação com os outros indivíduos, mas sem perder o contato social e, assim sendo, o lado humano deve prevalecer sobre o lado virtual, pois, como pessoas, necessitamos do toque, do olhar, do abraço e da sinceridade da comunicação face a face, que a virtual não oferece.
(7 junho 2017)
(http://www.convictiva.com.br/artigos/comunicacao-virtual-nas-relacoes-interpessoais-que-negocio-e-esse.
Acesso em 14.10.2017-transcrita com adaptações).
TEXTO 01
Um dilema ético só ocorre quando, independentemente da escolha que se faça, se compromete algum valor ou princípio ético. Aqueles que atravessam os limites da ética em benefício próprio, situação tristemente comum no nosso país, não vivem dilemas éticos. São, simplesmente, antiéticos.
Na atenção à saúde, é frequente haver conflito entre valores fundamentais. O estado terminal de um paciente, por exemplo, pode gerar um conflito entre a preservação da vida e a preservação da dignidade. Em outras situações, somos obrigados a escolher entre sermos benevolentes e sermos justos. A importância dos dilemas éticos, portanto, é explicitar os valores que norteiam as nossas decisões, colocá-los em perspectiva e obrigar-nos a encarar com reflexão e transparência as nossas escolhas.
(...)
Escolher eticamente exige de nós mais do que ponderar corretamente os valores éticos. Exige, fundamentalmente, que consideremos as dimensões éticas de nossas escolhas.
(...)
(Revista Veja. Editora Abril. Edição 2506 - ano 49 - nº 48 – 30.11.2016. Seção Página aberta – pág. 100/101. Por Francisco Balestrin –
Presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados).
Aqueles que atravessam os limites da ética em benefício próprio, situação tristemente comum no nosso país, não vivem dilemas éticos. São, simplesmente, antiéticos.
Em relação ao trecho acima, é INCORRETO apenas o
que se afirma em:
Leia o texto a seguir e responda ao que se pede.
Chamas de louco ou tolo ao apaixonado que sente ciúmes quando ouve sua amada dizer que na véspera de tarde o céu estava uma coisa lindíssima, com mil pequenas nuvens de leve púrpura sobre um azul de sonho. (Rubem Braga)
Assinale a alternativa correta referente ao adjetivo destacado no texto.
Considere os três períodos abaixo:
I. O estado de saúde do menino piorou.
II. A família levou-o para atendimento médico.
III. O hospital estava lotado e não havia vaga para internação do enfermo.
Formando um só período com as orações expressas nas sentenças, assinale a alternativa que traz a correta sequência das conjunções coordenativas que explicitam corretamente a relação de sentido entre elas.
Leia:
Assinale a alternativa referente ao verso em que a conjunção
e estabelece relação de sentido diferente das demais.
Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos
O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência (amplamente admitida mas nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia.
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa situação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total, pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, praticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).
Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1° no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8° país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%.
A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegração seja comprovada.
O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena remuneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia.
A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimentos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores.
Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um curso superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os outros também aprenderão a respeitar.
A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e na vingança.
O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade.
A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem crimes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito.com.br. Estou no blogdolfg.com.br. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil. FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/noruega-como-modelo-dereabilitacao-de-criminosos/ Acessado em 17 de março de 2017.
"(... ) uma sinistra cultura de que bandido bom é bandido morto."
O adjetivo em destaque apresenta, no texto, o significado de:
Encontros e desencontros
Hoje, jantando num pequeno restaurante aqui perto de casa, pude presenciar, ao vivo, uma cena que já me tinham descrito. Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da minha. Feitos os pedidos ao garçom, o homem, bem depressinha, tira o celular do bolso, e não mais o deixa, a merecer sua atenção exclusiva. A mulher, certamente de saber feito, não se faz de rogada e apanha um livro que trazia junto à bolsa. Começa a lê-lo a partir da página assinalada por um marcador. Espichando o meu pescoço inconveniente (nem tanto, afinal as mesas eram coladinhas) deu para ver que era uma obra da Martha Medeiros.
Desse modo, os dois iam usufruindo suas gulodices, sem comentários, com algumas reações dele, rindo com ele mesmo com postagens que certamente ocorriam em seu celular. Até dois estranhos, postos nessa situação, talvez acabassem por falar alguma coisa. Pensei: devem estar juntos há algum tempo, sem ter mais o que conversar. Cada um sabia tudo do outro, nada a acrescentar, nada de novo ou surpreendente. E assim caminhava, decerto, a vida daquele casal.
O que me choca, mesmo observando esta situação, como outras que o dia a dia me oferece, é a ausência de conversa. Sem conversa eu não vivo, sem sua força agregadora para trocar idéias, para convencer ou ser convencido pelo outro, para manifestar humor, para desabafar sobre o que angustia a alma, em suma, para falar e para ouvir. A conversa não é a base da terapia? Sei não, mas, atualmente, contar com um amigo para jogar conversa fora ou para confessar aquele temor que lhe está roubando o sossego talvez não seja fácil. O tempo também, nesta vida corre-corre, tem lá outras prioridades. Mia Couto é contundente: “Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. " Até se fala muito, mas ouvir o outro? Falo de conversas entre pessoas no mundo real. Vive-se hoje, parece, mais no mundo digital. Nele, até que se conversa muito; porém, é tão diferente, mesmo quando um está vendo o outro. O compartilhamento do mesmo espaço, diria, é que nos proporciona a abrangência do outro, a captação do seu respirar, as batidas de seu coração, o seu cheiro, o seu humor...
Desse diálogo é que tanta gente está sentindo falta. Até por telefone as pessoas conversam, atualmente, bem menos. Pelo whatsApp fica mais fácil, alega-se. Rapidinho, rapidinho. Mas e a conversa? Conversa-se, sim, replicam. Será? Ou se trocam algumas palavras? Quando falo em conversa, refiro-me àquelas que se esticam, sem tempo marcado, sem caminho reto, a pularem de assunto em assunto. O whatsApp é de graça, proclamam. Talvez um argumento que pode ser robusto, como se diz hoje, a favor da utilização desse instrumento moderno.
Mas será apenas por isso? Um amigo me lembra: nos whatsApps se trocam mensagens por escrito. Eu sei. Entretanto, língua escrita é outra modalidade, outro modo de ativar a linguagem, a começar pela não copresença física dos interlocutores. No telefone, não há essa copresença física, mas esse meio de comunicação não é impeditivo de falante e ouvinte, a cada passo, trocarem de papéis e até mesmo de falarem ao mesmo tempo, configurando, pois, características próprias da modalidade oral. Contudo, não se respira o mesmo ar, ainda que já se possa ver o outro. As pessoas passaram a valer-se menos do telefone, e as conversas também vão, por isso, tornado-se menos frequentes.
Gosto, mesmo, é de conversas, de preferência com poucos companheiros, sem pauta, sem temas censurados, sem se ter de esmerar na linguagem. Conversa sem compromisso, a não ser o de evitar a chatice. Com suas contundências, conflitos de opiniões e momentos de solidariedade. Conversa que é vida, que retrata a vida no seu dia a dia. No grupo maior, há de tudo: o louco, o filósofo, o depressivo, o conquistador de garganta, o saudosista ...Nem sempre, é verdade, estou motivado para participar desses grupos. Porém, passado um tempo, a saudade me bate.
Aqueles bate-papos intimistas com um amigo de tantas afinidades, merecedores que nos tornamos da confiança um do outro, esses não têm nada igual. A apreensão abrangente do amigo, de seu psiquismo, dos seus sentimentos, das dificuldades mais íntimas por que passa, faz-nos sentir, fortemente, a nossa natureza humana, a maior valia da vida.
Esses momentos vão se tornando, assim me parece, uma cena menos habitual nestes tempos digitais. A pressa, os problemas a se multiplicarem, as tarefas a se diversificarem, como encontrar uma brecha para aquela conversa, que é entrega, confiança, despojamento? Conversa que exige respeito: um local calminho, sem gritos, vozes esganiçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas estourando de geladas e uns tira-gostos de nosso paladar a exigirem nova pedida. Não queria perder esses encontros. Afinal, a vida está passando tão depressa...
Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/