Pesquisa Fapesp: Como você enxerga as relações
atuais entre indígenas e brancos no Brasil?
Marta: O país tem um racismo enorme contra não brancos,
incluindo negros e indígenas. O racismo contra os índios se
traduz de duas maneiras. Uma delas deriva dos tempos do
colonialismo e os vê como iguais à natureza: são ingênuos,
não precisam entrar em universidades e, se usarem celular,
deixarão de ser índios. Por muito tempo, no Brasil, se considerou que os indígenas não tinham capacidade de raciocinar,
viviam em sociedades simples e se equiparavam a crianças.
Por isso, precisavam ser tutelados pelo Estado. O outro tipo
de preconceito é o oposto: o índio é selvagem, equiparado a
um animal. Isso tudo tem raiz na ignorância da população. O
artigo 26-A da Lei Federal nº 9.394, de 1996, torna obrigatório
o estudo das histórias e culturas afro-brasileira e indígena.
Porém essa prática não está disseminada. Temos mais livros
didáticos sobre afro-brasileiros do que sobre indígenas.
(Trecho de entrevista da demógrafa e antropóloga Marta Maria
do Amaral Azevedo da Unicamp à revista Pesquisa Fapesp.
Em: https://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)