Questões Militares de Português - Regência

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Q816398 Português

                                     Admirável mundo novo

      [...] O D.I.C. (Diretor de Incubação e Condicionamento) e seus alunos entraram no elevador mais próximo e foram levados ao quinto andar.

Berçários. Salas de Condicionamento Neopavloviano, indicava o painel de avisos.

      O Diretor abriu uma porta. Entraram num vasto cômodo nu, muito claro e ensolarado, pois toda a parede do lado sul era constituída por uma única janela. Meia dúzia de enfermeiras, com as calças e jaquetas do uniforme regulamentar de linho branco de viscose, os cabelos assepticamente cobertos por toucas brancas, estavam ocupadas em dispor vasos com rosas sobre o assoalho, numa longa fila, de uma extremidade à outra do cômodo. Grandes vasos, apinhados de flores. Milhares de pétalas, amplamente desabrochadas e de uma sedosa maciez, semelhantes às faces de inumeráveis pequenos querubins [...].

      As enfermeiras perfilaram-se ao entrar o D.I.C.

      – Coloquem os livros – disse ele, secamente.

      Em silêncio, elas obedeceram à ordem. Entre os vasos de rosas, os livros foram devidamente dispostos – uma fileira de livros infantis, cada um aberto, de modo convidativo, em alguma gravura agradavelmente colorida, de animal, peixe ou pássaro.

      – Agora, tragam as crianças.

    Elas saíram apressadamente da sala e voltaram ao cabo de um ou dois minutos, cada qual empurrando uma espécie de carrinho, onde, nas suas quatro prateleiras de tela metálica, vinham bebês de oito meses, todos exatamente iguais (um Grupo Bokanovsky, evidentemente) e todos (já que pertenciam à casta Delta) vestidos de cáqui.

     – Ponham as crianças no chão.

     Os bebês foram descarregados.

    – Agora, virem-nas de modo que possam ver as flores e os livros.

  Virados, os bebês calaram-se imediatamente, depois começaram a engatinhar na direção daquelas massas de cores brilhantes, daquelas formas tão alegres e tão vivas nas páginas brancas. Enquanto se aproximavam, o sol ressurgiu de um eclipse momentâneo atrás de uma nuvem. As rosas fulgiram como sob o efeito de uma súbita paixão interna; uma energia nova e profunda pareceu espalhar-se sobre as páginas reluzentes dos livros. Das filas de bebês que se arrastavam engatinhando, elevaram-se gritinhos de excitação, murmúrios e gorgolejos de prazer.

      O Diretor esfregou as mãos.

      – Excelente! – comentou. – Até parece que foi feito de encomenda.

      [...] O Diretor esperou que todos estivessem alegremente entretidos. Depois disse:

      – Observem bem. – E, levantando a mão, deu o sinal.

      A Enfermeira-Chefe, que se encontrava junto a um quadro de ligações na outra extremidade da sala, baixou uma pequena alavanca.

     Houve uma explosão violenta. Aguda, cada vez mais aguda, uma sirene apitou. Campainhas de alarme tilintaram, enlouquecedoras.

     As crianças sobressaltaram-se, berraram; suas fisionomias estavam contorcidas pelo terror.

   – E agora – gritou o D.I.C. (pois o barulho era ensurdecedor) – agora vamos gravar mais profundamente a lição por meio de um ligeiro choque elétrico.

   Agitou de novo a mão, e a Enfermeira-Chefe baixou uma segunda alavanca. Os gritos das crianças mudaram subitamente de tom. Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram. Seus pequenos corpos contraíam-se e retesavam-se; seus membros agitavam-se em movimentos convulsivos, como puxados por fios invisíveis.

      – Nós podemos eletrificar todo aquele lado do assoalho – berrou o Diretor para explicar-se. – Mas isso basta — continuou, fazendo um sinal à enfermeira.

     As explosões cessaram, as campainhas pararam de soar, o ganido da sirene foi baixando de tom até silenciar. Os corpos rigidamente contraídos distenderam-se; o que antes fora o soluço e o ganido de pequenos candidatos à loucura expandiu-se novamente no berreiro normal do terror comum.

     – Ofereçam-lhes de novo as flores e os livros.

     As enfermeiras obedeceram; mas, à aproximação das rosas, à simples visão das imagens alegremente coloridas do gatinho, do galo que faz cocorocó e do carneiro que faz bé, bé, as crianças recuaram horrorizadas; seus berros recrudesceram subitamente.

    [...]

    – Elas crescerão com o que os psicólogos chamavam um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.

   Sempre gritando, os bebês de cáqui foram colocados nos seus carrinhos e levados para fora da sala, deixando atrás de si um cheiro de leite azedo e um agradabilíssimo silêncio.

    Um dos estudantes levantou a mão. Embora compreendesse perfeitamente que não se podia permitir que pessoas de casta inferior desperdiçassem o tempo da Comunidade com livros e que havia sempre o perigo de lerem coisas que provocassem o indesejável descondicionamento de algum de seus reflexos... enfim, ele não conseguia entender o referente às flores. Por que se dar ao trabalho de tornar psicologicamente impossível aos Deltas o amor às flores?

      [...]

    – [...] As flores do campo e as paisagens, advertiu, têm um grave defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica. Decidiu-se que era preciso aboli-lo, pelo menos nas classes baixas [...].

        (Aldous Huxley. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2001. Fragmento.)

Em relação à estrutura linguística de “Havia algo de desesperado, de quase demente, nos urros agudos e espasmódicos que elas então soltaram.” (21º§) assinale a afirmativa correta.
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Q816387 Português

      Aldous Huxley é conhecido mundialmente pela sua novela Admirável mundo novo, publicada em 1932. Nela, ele descreve uma sociedade utópica na qual tudo é planejado e organizado. O Estado controla a vida de seus cidadãos com pleno consentimento. Nessa sociedade nada acontece, pois, a história acabou. Tudo é previsível na vida de seus habitantes, desde seu nascimento até sua morte, que deveria ocorrer aos 60 anos. Há castas intransponíveis, mas todos são felizes. Não há inquietação social. A vida insípida e seus eventuais momentos de angústia ou de depressão são suprimidos com a ingestão do soma, um psicofármaco livremente distribuído para assegurar a euforia na medida necessária.

      A novela de Huxley ficou conhecida por retratar o paradoxo de uma utopia que se converte no seu oposto. Mas essa não é a única razão de sua fama internacional. O futuro distópico de Huxley foi profético e muitas das características dessa sociedade imaginária acabaram se concretizando nas últimas décadas.

      O mundo foi globalizado, padronizado e dividido entre dois ou três governos transnacionais que controlam as decisões planetárias. A individualidade e a vida privada foram devassadas pela internet. O controle químico da angústia, da ansiedade e do pânico é, atualmente, uma das prioridades das sociedades contemporâneas, pois, uma premissa fundamental das sociedades pós-modernas é que todos têm o dever de sempre estar bem. A governança triunfou sobre a política e as palavras “direita” ou “esquerda” designam apenas a opção entre a dessubjetivização deliberada ou recoberta pela pseudoliberdade das democracias. Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.

 (João de Fernandes Teixeira. Adaptado do texto “Regresso ao admirável mundo novo”. Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 122.) 

Reconhecendo as relações de regência presentes na oração: “Todos se tornam normais em relação a uma sociedade imensamente anormal.” (3º§) está correto o que se afirma em:

Alternativas
Q815225 Português

Leia:

E lá estão elas novamente, as quatro cachorrinhas amáveis. Rose, a mais serelepe, sempre chama as outras para brincar. Ruth, latindo desaforos, prefere uma boa corrida pelo gramado ao marasmo de um sono tranquilo. Ciça, no aconchego próprio da idade que avança, obedece o chamado de sua caminha e lá se vai deitar com o olhar lânguido da indiferença. Já Vilma é mais pacata e aspira ao sossego das tardes quentes com que o verão nos presenteia.

Está com a regência verbal incorreta o verbo referente a

Alternativas
Q814158 Português
Conforme a norma culta, coloque C para as frases corretas e E para as erradas quanto à regência nominal e verbal dos termos destacados. Em seguida, assinale a alternativa com a sequência correta. ( ) O professor residia à Rua dos Ipês. ( ) A lírica pós-moderna não é acessível de todos. ( ) O projeto de que éramos favoráveis não foi discutido durante a reunião. ( ) Aquele colega de trabalho ansiava-lhe. Já não aguentava mais tanta angústia.
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Ano: 2017 Banca: Marinha Órgão: EAM Prova: Marinha - 2017 - EAM - Marinheiro |
Q812541 Português

O trabalho dignifica o homem. O lazer dignifica a vida.

      “Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida.” A frase do pensador Confúcio tem sido o mantra de muitos que, embalados pela concepção de que ofício e prazer não precisam se opor, buscam um estilo de vida no qual a fonte de renda seja também fonte de alegria e satisfação pessoal. A questão é: trabalho é sempre trabalho. Pode ser bom, pode ser até divertido, mas não substitui a capacidade que só o lazer possui de tirar o peso de um cotidiano regido por prazos, horários, metas.

      Não são poucas as pessoas que eu conheço que negligenciam descanso em prol da produção desenfreada, da busca frenética por resultado, ascensão, status, dinheiro.

      Algo de errado em querer tudo isso? A meu ver, não. E sim. Não porque são dignas e, sobretudo, necessárias, a vontade de não ser medíocre naquilo que se faz e a recusa à estagnação. Sim, quando ambas comprometem momentos de entretenimento minando, aos poucos, a saúde física e mental de quem acha que sombra e água fresca são luxo e não merecimento.

      Recentemente, um construtor com o qual eu conversava me disse que estava havia nove anos sem férias e lamentou o pouco tempo passado com os netos. O patrimônio milionário veio de dedicação e empenho. Mas custou caro também. Admirei a trajetória, a abdicação. Entretanto, senti um pesar por aquele homem com conta bancária polpuda e rosto abatido. Na hora me perguntei se era realmente preciso escolher entre sucesso e diversão. Evidentemente, não. É simples e absolutamente viável conciliar o suor da batalha com mergulhos no mar, planilhas Excel com caipirinhas em fins de tarde.

      Poucas coisas são tão eficazes na função de honrar alguém quanto o ofício que se exerce. Momentos de pausa, porém, honram o próprio ofício. A vida se equilibra justamente na possibilidade de converter o dinheiro advindo do esforço em ingressos para o show da banda preferida, passeios no parque, pipoca quentinha e viagens de barco.

      Convivo com pessoas que amam o que fazem e se engrandecem cada vez que percebem como são eficientes na missão de dar sentido à profissão. Pessoas que, por meio de suas atribuições, transformam o mundo, sentem­-se úteis, reforçam talentos. Mas até essas se esgotam. É o famoso caso do jogador de futebol que, estressado com as cobranças do time, vai jogar uma “pelada” para relaxar.

      Desculpe a petulância ao discordar, Confúcio, mas ainda que trabalhemos com o que amamos, será sempre trabalho. Muitas vezes prazeroso, outras tantas edificante..., mas nunca capaz, sozinho, de suprir toda uma vida. Arregacemos as mangas conscientes de que os pés na areia da praia e as rodas de amigos em bares são combustíveis importantes para o bom andamento da labuta diária.

                                                                                                           Larissa Bittar (Adaptado).

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Com relação à regência verbai, assinale a opção correta.
Alternativas
Respostas
91: C
92: C
93: C
94: C
95: C