Democracia e autoritarismo
O fato de que as pessoas que vivem em um regime democrático não saibam o que é democracia é uma questão
por si só muito grave. O saber sobre o que seja qualquer coisa - e neste, caso, sobre o que seja a democracia - se dá
em diversos níveis e interfere em nossas ações. Agimos em nome do que pensamos. Mas muitas vezes não
entendemos muito bem nossos próprios pensamentos, pois somos vítimas de pensamentos prontos.
Creio que, neste momento brasileiro, poucas pessoas que agem em nome da democracia estejam se
questionando sobre o que ela realmente seja. É provável que poucos pratiquem o ato de humildade do conhecimento
que é o questionamento honesto. O questionamento é uma prática, mas é também qualidade do conhecimento. É a
virtude do conhecimento. É essa virtude que nos faz perguntar sobre o que pensamos e assim nos permite sair de um
nível dogmático para um nível reflexivo de pensamento. Essa passagem da ideia pronta que recebemos da religião, do
senso comum, dos meios de comunicação para o questionamento é o segredo da inteligência humana seja ela
cognitiva, moral ou política.
[...] a democracia flerta facilmente com o autoritarismo quando não se pensa no que ela é e se age por impulso ou
por leviandade. Eu não sou uma pessoa democrática quando vou à rua protestar em nome dos meus fins privados, dos
meus interesses pessoais, quando protesto em nome de interesses que em nada contribuem para a construção da
esfera pública. Eu sou autoritária quando, sem pensar, imponho violentamente os meus desejos e pensamentos sem
me preocupar com o que os outros estão vivendo e pensando, quando penso que meu modo de ver o mundo está
pronto e acabado, quando esqueço que a vida social é a vida da convivência e da proteção aos direitos de todos os
que vivem no mesmo mundo que eu. Não sou democrática quando minhas ações não contribuem para a manutenção
da democracia como forma de governo do povo para o povo, quando esqueço que o povo precisa ser capaz de
respeitar as regras do próprio jogo ao qual ele aderiu e que é o único capaz de garantir seus direitos fundamentais: o
jogo da democracia.
(Mareia Tiburí. Disponível em: http://revistacuit.uoi.com.br/home/2015/03/democracia-e-autoritarismo/. 18/03/2015. Adaptado.)