Com ‘Parasita’, Hollywood reconhece que inovação no cinema vem do Oriente
Inácio Araújo*
1. “Parasita” conseguiu, para resumir, o que nem Itália nem Japão, em seus melhores dias, conseguiram:
ser o centro de uma cerimônia destinada, até aqui, a celebrar Hollywood, seu estilo de filmes, sua força
mercadológica. Caso os apreciadores de bons filmes concordassem e, se a crítica ratificasse, com “Parasita”
o Oscar 2020 reconheceria que o eixo principal da inovação cinematográfica vem, e há décadas, da Ásia.
2. Ao tratar de conflitos do desenvolvimento atrasado e veloz da Coreia do Sul, Bong Joon-ho, o diretor,
acertou na mosca: falou ao mundo inteiro dos desequilíbrios demenciais do capitalismo contemporâneo.
3. Mas convém não esquecer, sobretudo, a grande enchente que assola Seul e alaga a casa da família pobre:
é também dos desequilíbrios climáticos brutais contemporâneos que “Parasita” trata.
4. Toda essa novidade veio num ano em que os indicados estiveram muito acima da média habitual. Pelo
menos “O Irlandês”, “Coringa”, “História de um Casamento” e “Era Uma Vez em... Hollywood” destacaram-se
recentemente, para não falar da proeza, mais técnica do que outra coisa, de “1917”.
5. Seja como for, era tido como favorito por muitos desde que levou, também surpreendentemente, o Globo
de Ouro.
* Articulista da Folha.
Folha de São Paulo. Ilustrada, 11 fev. 2020, p. C1. Adaptado.