O pavão
Rubem Braga
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o
esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo
livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena
do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas
d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O
pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir
o máximo de matizes com um mínimo de elementos. De água
e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a
simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh minha
amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira
em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz do teu
olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(Crônicas Escolhidas)