Questões de Concurso Militar PM-MG 2014 para 2º Tenente - Fisioterapia
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Uma Galinha
Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.
Considerando a fase de aceleração da marcha no plano sagital, analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA.
I. Na articulação do quadril, observa-se atividade concêntrica dos músculos iliopsoas, grácil e sartório.
II. Na articulação do joelho, observa-se atividade excêntrica dos músculos bíceps femoral, sartório e grácil.
III. Na articulação do tornozelo, observa-se atividade excêntrica dos músculos
tibial anterior, extensor longo dos dedos e extensor longo do hálux.
Analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA.
I. A dor lombar que aumenta na posição ortostática e diminui na posição sentada pode estar associada à osteoartrite e é comum em indivíduos acima de cinquenta anos.
II. Dor lombar que aumenta com tosse ou espirros está relacionada ao aumento da pressão no espaço subaracnóide.
III. Em geral, o segmento L5-S1 é o local mais comum de desordens na coluna
vertebral, já que este nível suporta mais carga que qualquer outro nível.
Considerando o complexo do quadril, analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA.
I. As inclinações pélvicas anterior e posterior são movimentos no plano frontal em torno de um eixo coronal.
II. As inclinações anterior e posterior da pelve sobre o fêmur produzem flexão e extensão do quadril, respectivamente.
III. A flexão do quadril através da inclinação anterior da pelve traz a espinha ilíaca
ântero-posterior para frente e para baixo.
Analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA:
I. A atrofia muscular não se manifesta por dor durante a contração contra resistência ou palpação do músculo.
II. A diminuição do número de sarcômeros e da quantidade de tecido conjuntivo afeta apenas a tensão ativa do músculo.
III. A distensão muscular nem sempre é fácil de ser identificada como causa de
fraqueza muscular.
Considerando o complexo tornozelo e pé, analise as assertivas abaixo e marque a alternativa CORRETA.
I. A canelite anterior pode ser causada pelo uso excessivo do músculo tibial anterior, por um complexo gastrocnêmio-sóleo alongado, assim como pela pronação do pé.
II. Um fator que predispõe o pé à síndrome do uso excessivo é uma supinação anormal na articulação subtalar.
III. Na canelite posterior, a dor é sentida quando o pé é fletido plantarmente de
forma passiva com inversão e com supinação ativa.
Considerando as características mecânicas do tecido mole não-contrátil, enumere a segunda coluna de acordo com a primeira e, a seguir, marque a alternativa que contém a sequência de respostas CORRETA, na ordem de cima para baixo.
1. Sobrecarga
2. Distensão
3. Elasticidade
4. Deformação
5. Dureza
( ) Quantidade de deformação que ocorre com a aplicação de carga.
( ) Relaciona-se à viscosidade do tecido, depende do tempo.
( ) Força por unidade de área.
( ) Capacidade de absorver energia dentro da amplitude elástica à medida que o trabalho está sendo realizado.
( ) Capacidade de absorver energia dentro da amplitude
plástica sem romper.
Com relação aos efeitos fisiológicos provocados pela imersão em água aquecida na reabilitação em fisioterapia aquática, analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA:
I. O processo de analgesia ocorre por meio de estímulos gerados pela pressão hidrostática sobre os receptores de dor (sistema de comportas), pela influência da temperatura mais elevada da água que promove alívio dos espasmos musculares, aumento da remoção de metabólitos e aporte de oxigênio muscular, e por meio da diminuição da tensão da musculatura antigravitária devido à ação do empuxo.
II. O sistema venoso é sensível à pressão hidrostática da água durante a imersão, provocando aumento do retorno venoso, volume e pressão sanguínea central. Isso acarreta aumento do fluxo sanguíneo pulmonar e diminuição do volume sistólico.
III. A pressão hidrostática da água, em um indivíduo imerso até o pescoço, exerce uma pressão superior à pressão diastólica, favorecendo a eliminação de edemas.
IV. Durante a imersão com água até o pescoço, a capacidade funcional residual
(CRF) aumenta aproximadamente 54%, assim como o volume pulmonar,
provocando aumento do trabalho respiratório.
Com relação às amputações e reimplantes de membro superior, analise as assertivas abaixo e, a seguir, marque a alternativa CORRETA.
I. As amputações dos dedos são classificadas em três zonas com base na anatomia e rede vascular. As amputações a nível da zona II não tem indicação de reimplante, independente das condições do coto e parte amputada.
II. As lesões corto-contusas terão um prognóstico melhor que as lesões por avulsão ou esmagamento.
III. Nos reimplantes, a mobilização precoce é contra- indicada devido à instabilidade vascular e o risco de lesões secundárias das estruturas reparadas.
IV. O uso de modalidades de calor e frio está contra-indicado nas fases iniciais dos reimplantes devido à instabilidade vascular, linfática e ausência de sensibilidade.