Texto I
A percepção que temos de nossa memória
[...] Você acha que tem má memória? Por quê? Espera que
sua memória seja perfeita? Demora para se lembrar
das coisas, mais do que costumava demorar em outros
tempos? Esquece o nome de pessoas conhecidas com
mais frequência do que no passado? Precisa escrever
tudo para não se esquecer de nada? Se respondeu “sim”
a essas perguntas, podemos afirmar com segurança que
você acredita realmente que tem “má” memória”.
Nesta nossa era tecnológica, em que tudo acontece
depressa, talvez você veja sua memória como um tipo
de dispositivo gravador que serve para guardar os dados
históricos de sua vida. Talvez espere que sua memória
seja perfeita, que armazene o nome de cada pessoa que
você conheceu na vida, que não o deixe esquecer seus
compromissos, ocasiões e acontecimentos especiais, que
o lembre das exigências de um determinado trabalho e do
prazo para entregá-lo, que saiba o que há na geladeira e
quais são os ingredientes necessários para o preparo de
um prato para o jantar, que memorize a agenda de seu
cônjuge, de seus filhos e de outras pessoas queridas.
[...] A lista de coisas que esperamos que nossa memória
guarde é infinita. E quando esquecemos uma única coisa,
reclamamos de nossa capacidade de lembrar. Dizemos que
temos “má memória” ou, pior ainda, nos convencemos de
que estamos nos primeiros estágios do mal de Alzheimer.
Esses pensamentos apresentam alguns problemas.
Primeiro, são percepções subjetivas que temos de nossa
própria memória, e não avaliações objetivas de nossa
real capacidade mental. Assim, são imensuráveis, não
podem ser testados e levam à negatividade. Mais ainda,
essa negatividade cria ansiedade e diminui a autoestima,
agravando os problemas de memória. Ansiedade e outras
emoções negativas prejudicam a capacidade de lembrar [...]
Esses pensamentos negativos também tornam impossível
o desenvolvimento da necessária habilidade de melhorar
a memória, porque eliminam a possibilidade de mudança.
Quanto mais nos convencemos de que temos “má
memória”, mais cresce a probabilidade de simplesmente
aceitarmos isso como um fato e deixarmos de trabalhar para
melhorá-la.
(Douglas J. Mason e Spencer X. Smith. Cuide de sua
memória. Trad. Vera Martins. São Paulo: Arx, 2006. p.33-5.)