Instrução: Leia o texto a seguir para responder à questão.
A arte de revelar sem matar a graça
Após exibir o último episódio da meia-temporada de The Walking Dead — seriado de zumbis de maior
audiência dos EUA — o canal de TV AMC divulgou inadvertidamente em sua página do Facebook a morte
violenta de um de seus principais personagens. Devido à diferença de fuso horário entre as costas leste e oeste
do continente norte-americano, milhares de fãs do seriado que ainda não haviam assistido ao episódio ficaram
furiosos ao descobrir com antecedência o final bombástico.
A frustração dos espectadores que seguiam a série foi tão grande, e tantas as reclamações, que o canal se viu
obrigado a deletar a postagem e publicar um pedido de desculpas: “Ouvimos a reação de vocês ao post da
noite passada, e pedimos desculpas. Sem nenhuma intenção negativa, nos precipitamos e soltamos um spoiler.
Por favor saibam que estamos trabalhando para garantir que, no futuro, possíveis spoilers nas redes sociais da
AMC sejam exterminados antes que possam infectar a transmissão na costa oeste dos EUA”.
Essa falta de timing da AMC, ao divulgar prematuramente informações sobre um de seus programas mais
vistos, está longe de ser um caso isolado. Os chamados spoilers têm se mostrado verdadeiros “estragaprazeres” para uma parcela do público consumidor de narrativas (o termo vem do verbo to spoil, “estragar”)
— ocorrendo principalmente no ambiente virtual, onde as informações circulam com maior velocidade.
Em alguns casos mais extremos, spoilers também têm sido fonte de prejuízo para estúdios, interferindo na
audiência de programas e melando a surpresa de projetos confidenciais. [...]
Há quem diga que conhecer de antemão os rumos de uma estória não interfere em nada na experiência de
desfrutá-la. Seja como for, com a abundância — e a concomitância — de tramas serializadas e narrativas em
geral, criou-se um ambiente propício ao surgimento de uma etiqueta para poupar o público de informações
não solicitadas, com avisos de spoilers tão restritivos na abertura dos textos quanto cercas de arame farpado
com placas de “não ultrapasse”. Contudo, em se tratando de redes sociais, ficar imune a revelações
inconvenientes pode ser uma tarefa quase impossível, tão arriscada como passear por um campo minado.
Para se manter desinformado só há dois modos: filtrar as redes sociais com aplicativos que bloqueiem
referências a assuntos específicos ou basicamente manter-se off-line e, ainda assim, ter de proibir os amigos
de comentar sobre — recomenda o crítico Fernando Oliveira, autor do blog Mundo da TV.
Fonte: MURANO, Edgard. A arte de revelar sem matar a graça. Revista LÍNGUA. São Paulo: Editora Segmento. Ano 9. n.112. Fev. 2015. p.16-
17. [Fragmento].