Beijos, nunca mais
1 Ouço dizer que, por causa da Covid, os beijos foram
banidos do cinema. Por mais longa a quarentena antes das
filmagens, não se pode arriscar a saúde dos atores – a não
ser que eles se beijem de máscara. Mas talvez nem tudo
esteja perdido. Muitos filmes do passado souberam transmitir
intenso romantismo ou sensualidade sem recorrer ao beijo.
Duvida? Eis alguns.
2 Em “A Estranha Passageira”, de Irving Rapper, Bette Davis pede um cigarro a Paul Henreid. Ele tira dois cigarros,
coloca-os na boca, acende ambos e passa um deles a Bette. Um beijo seria mais explícito? Em “Férias de Amor”, de
Joshua Logan, William Holden e Kim Novak fazem uma das
maiores danças da história sem se tocarem. Poucas vezes o
cinema foi tão romântico – a coreografia dizia tudo.
3 Em “A Dama e o Vagabundo”, desenho de Walt Disney,
os dois cães comem no mesmo prato na cantina italiana e,
sem querer, seus focinhos se unem por um fio de macarrão.
4 E eu poderia citar três das histórias mais românticas de
todos os tempos, em que o herói não chega nem perto de
beijar a heroína. “O Corcunda de Notre Dame”, filmado em
1923, em 1939, e em 1956, em todos havia atores famosos
no papel do Corcunda apaixonado por Esmeralda – sem
beijo. “O Fantasma da Ópera” em que, com ou sem máscara,
aquele monstro sem nariz era imbeijável.
5 E, claro, King Kong, em que, em suas inúmeras versões,
o galã tragicamente apaixonado nunca pôde sequer aproximar seus grandes lábios dos lábios da mocinha.
(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2020/09/
beijos-nunca-mais.shtml Adaptado)