Questões Militares Comentadas para oficial da marinha mercante

Foram encontradas 581 questões

Resolva questões gratuitamente!

Junte-se a mais de 4 milhões de concurseiros!

Q1695482 Português
Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 
Por meio da metáfora do burro, pode-se encontrar, na crônica lida, uma crítica aos indivíduos passivos diante do seu destino e que aceitam o que lhes é atribuído sem relutar. Tal referência pode ser observada nos trechos abaixo, EXCETO em:
Alternativas
Q1695481 Português
Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 
No texto lido, a existência de um burro morrendo na praça levou o cronista a escrever sobre o fato avistado porque
Alternativas
Q1695480 Português
Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 
O cronista emprega urn tom irônico em. vários momentos da narrativa. Em que trecho abaixo isso NÃO acontece?
Alternativas
Q1695479 Português
Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 
Sobre o texto lido, podernos afirmar que
Alternativas
Q1695478 Inglês
MARITIME ACCIDENTS

Accidents on Tugboats

    Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. They are small in nature but are powerful to ensure that the large vessels are handled safely. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.

Accidents on Oil Tankers
    The major cause of accidents on tankers is explosions. Since the very nature of the materials . these tankers transport is dangerous and highly flammable, even the most minor of explosions can cause enormous losses. According to statistics, one of the main reasons for oil tanker accidents occurring is because of workers' negligence - nearly 84-88%. 


(Adapted from: https://www .maríneinsight.com/marinesafety/12-types-of~maritime-accidents/)
In "Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.", the word in bold expresses:
Alternativas
Q1695477 Inglês
MARITIME ACCIDENTS

Accidents on Tugboats

    Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. They are small in nature but are powerful to ensure that the large vessels are handled safely. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.

Accidents on Oil Tankers
    The major cause of accidents on tankers is explosions. Since the very nature of the materials . these tankers transport is dangerous and highly flammable, even the most minor of explosions can cause enormous losses. According to statistics, one of the main reasons for oil tanker accidents occurring is because of workers' negligence - nearly 84-88%. 


(Adapted from: https://www .maríneinsight.com/marinesafety/12-types-of~maritime-accidents/)
Read the statements below and decide whether they are TRUE (T) or FALSE (F). Then choose the option that contains the correct answer.

I. Maritime accidents can be caused by human failure.
II. Size of vessels does not imply maritime accidents.
III. Maritime accidents sometimes occur at dock entrances.
IV. Lack of visibility is one of the causes of maritime accidents.
V. Explosions represent a small percentage in tanker accidents.
Alternativas
Q1695476 Inglês
Confluence of Cultures

        A professional involved in a merchant marine career gets to meet and mingle with people of different cultures and nationalities. This helps the individual to understand and function better as a team player and learn the nuances of different cultures and traditions at the same time. This automatically increases adaptability and brings about more awareness about what goes and what doesn't in a different country.

(From: https://www .marineinsi ght. com/careers-2/10-reasonswhy-a-career-in-merchant-navy-ís-unl ike-any-other-career/)
According to the text:
Alternativas
Q1695475 Inglês
Confluence of Cultures

        A professional involved in a merchant marine career gets to meet and mingle with people of different cultures and nationalities. This helps the individual to understand and function better as a team player and learn the nuances of different cultures and traditions at the same time. This automatically increases adaptability and brings about more awareness about what goes and what doesn't in a different country.

(From: https://www .marineinsi ght. com/careers-2/10-reasonswhy-a-career-in-merchant-navy-ís-unl ike-any-other-career/)
Which word DOES NOT follow the same plural rule applied to the word "nationalities" in the text?
Alternativas
Q1695474 Inglês
Based on the text, it is possible to infer that:
Alternativas
Q1695473 Inglês
In "A merchant navy or merchant marine is the fleet of merchant vessels [... ]. ", the word fleet means:
Alternativas
Q1695472 Inglês
Read the poem below and choose the correct answer.
SEA-FEVER
I must down to the seas again, to the lonely sea and the sky, And all I ask is a tall ship and a star to steer her by, And the wheel's kick and the wind's song and the white sail's shaking, And a grey mist on the sea's face and a grey dawn breaking. I must down to the seas again, forthe call of the running tide Is a wild call and a clear call that may not be denied; And all I ask is a windy day with the white clouds flying, And the flung spray and the blown spume, and the seagulls crying. I must down to the seas again to the vagrant gypsy life, To the gull's way and the whale's way where the wind's like a whetted knife; And all I ask is a merry yarn from a laughing fellow-rover, And quiet sleep and a sweet dream when the long trick's over.

By John Masefield (1878-1967)
According to the text:
Alternativas
Q1695471 Inglês
Choose the option that correctly completes the sentences below, respectively:

I - The journey was quite quick _______ the road was clear.
II - The meeting has been canceled _______ the strike.
III - I drove at a steady 50 mph ________ save fuel.
IV- There's no reason _______ we shouldn't be friends.
V- _______ all her qualifications, she's useless at the job.
Alternativas
Q1695470 Inglês
Which is the correct alternative to complete the paragraph below?

Many ofthe same questions that ________ about coal-powered propulsion _______ of the Internet of Things (loT) today: What's wrong with the traditional way; how will this benefit my fleet; why do we need to malee this change? They _______ all good questions, and they ______ a very natural human interest in the three areas that should matter most in deciding whether to use any maritime technology: safety, effectiveness and cost. The biggest challenges to IoT adoption _______. In large part, this is due to the ready availability of high-performance data collection.
(Adapted from: Sea Technology, December 2018).
Alternativas
Q1695469 Inglês
Mark the option which corresponds · to the grammatically correct sentences.

I - I gather you've had some problems with our secretary.
II - Are you having a headache?
III - Hadn't you better check to see if the baby is all right?
IV - She knows Jacob since 1981.
V - I'd rather to stay here than to go out tonight.
Alternativas
Q1695468 Inglês
Based on the passage below, mark the correct option.

By the end of our first two weeks in Holland, we had fallen head over heels for the country. It's a historic, visual, artistic and cultural feast that is compact and easy to get around thanks to its efficient trains, buses and bike routes.
(Adapted from: Sail Magazine, August 2018.)

Considering the previous passage, the underlined phrase 'head over heels' is closest in meaning to:
Alternativas
Q1695467 Inglês
Choose the correct alternative to complete the paragraph below.

Charter, Sail, Repeat: new ventures and old favorites in the Greek Isles
By Zuzana Prochazka
On our first day, we sailed southwest nearly 50 miles 011 a nice beam reach, winding through Kolpos Idras, or the Hydra Gulf. By the end, we were running out ______ daylight, so we pulled ___ the miniscule harbor on Spetses Island. I read the guides twice, but the most I got was a warning about tl1e inner harbor being only 4ft deep, which made me suck in my stomach as we crept in. The harbor turned ______ to be a mix of private yachts, commercial boats and fishing craft, and as we were looking round I happened to notice black clouds _____ the horizon. The wind was also now picking _______, so out we went again, making a U-turn back to the bay to drop anchor with the other cruisers who'd opted to skip the draft headaches. We made it just before the gale overtook us.

(Adapted from: Sail Magazine,March 2020).
Alternativas
Q1695466 Inglês
Choose the correct option.
Alternativas
Q1695465 Inglês
Choose the option with the correct prefixes to complete the sentences below.

I. Computing systems often deliberately _____ classify sensitive information.
II. Since then, every time I felt stressed, _____ aligned, or dissatisfied, I would refer back to them to get the source of my frustration." ·
III. My son-in-law was talking and acting in an ____ appropriate manner at the party.
IV. Crooks sometimes ____ run the police.
V. She had difficulty in writing anything but scribbles because she was ____ patient.
VI. Her latest article is quite ____ similar from the previous one.
Alternativas
Q1695464 Inglês
According to the text, it is possible to infer that:
Alternativas
Q1695463 Inglês
Passenger ship hits rock

        A passenger ship was inbound in daylight and fair visibility. The Master gave the Pilot a briefing regarding the ship's manoeuvring characteristics; the ship was highly manoeuvrable and would 'turn on a dirne,' he said. The Master told the Pilot that a three-degree helm order would create a rate of turn of 10-15 degrees per minute.
      The bridge team would consist of the Pilot at the con while the Master would bave overall navigational conunand. The staff captain would be in charge of communications while the first officer would be in charge of electronic navigation and collision avoidance. Finally, the second officer would be in charge of plotting the ship's position on the navigational chart,
        The Pilot and the . Master discussed and agreed the intended passage plan, noting a strong flood tide that would be running astern. However, the subsequent investigation found that, due to miscommunication during the exchange, the passage inwards began with the Master and Pilot having different understandings of how the first turn would be conducted.
        The ship was lined up with the leading navigation lights and entered the channel without incident. As the Pilot took the con, the Master brief ed the staff captain on the Master/ Pilot exchange and explained his understanding of how they were going to negotiate the tum to port. The rest of the bridge team were not included in this conversation and essentially relied on what they overheard.
        Under the Pilot's con, the first alteration of course to port was initiated using three degrees of port helm. At this time the vessel had a speed over ground (SOG) of nearly 18 knots. The initial helm order was followed by successive increases to five and then 10 degrees of rudder.
        About one minute after the initial three degree port helm order an offtrack: alarm flashed 011 the ECDIS, but this information was not brought to the attention of the Master or the Pilot. The alarm appeared only as a visual indicator on the radar screen because its audio had been muted prior to the ship entering the channel.
        Even so, the Master and Pilot soon realised that the ship was proceeding dangerously close to a known rock shoal, so 20 degrees of port rudder was ordered, immediately foll owed by maximum port rudder.
        About three minutes after the initial helm order of three degrees, and despite the emergency helm order, the ship's bilge keel and the starboard propeller made contact with the rock as the ship passed.
        The ship was then navigated back to the centre of the channel and continued on its passage to port without further incident.
        The official report on this accident discusses the concept of allowing a ship to depart from an intended track in the belief that other influences, such as tide in this case, would return the ship to the intended track. The report notes that this carries a high risk when manoeuvring large ships in narrow waterways, where margins for error are small. The report posits that there is less risk when a ship is kept strictly to the intended track by increasing or decreasing its rate of tum inresponse to the external influences such as tide and wind. This method has the advantage of being unambiguous for other members of the bridge team tasked with monitoring the progress of the ship against the planned track.


(Adapted from: https://steamshipmutual.com)
Mark the option that is TRUE about the text.
Alternativas
Respostas
61: C
62: A
63: E
64: D
65: D
66: B
67: B
68: E
69: A
70: C
71: C
72: E
73: E
74: D
75: D
76: A
77: C
78: A
79: D
80: E