Questões Militares
Foram encontradas 8.852 questões
Resolva questões gratuitamente!
Junte-se a mais de 4 milhões de concurseiros!
As intermitências da morte
No dia seguinte ninguém morreu. O fato, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenômeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e noturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar. [...] Sangue, porém, houve-o, e não pouco. Desvairados, confusos, aflitos, dominando a custo as náuseas, os bombeiros extraíam da amálgama dos destroços míseros corpos humanos que, de acordo com a lógica matemática das colisões, deveríam estar mortos e bem mortos, mas que, apesar da gravidade dos ferimentos e dos traumatismos sofridos, se mantinham vivos e assim eram transportados aos hospitais, ao som das dilacerantes sereias das ambulâncias. Nenhuma dessas pessoas morrería no caminho e todas iriam desmentir os mais pessimistas prognósticos médicos, Esse pobre diabo não tem remédio possível, nem valia a pena perder tempo a operá-lo, dizia o cirurgião à enfermeira enquanto esta lhe ajustava a máscara à cara. Realmente, talvez não houvesse salvação para o coitado no dia anterior, mas o que estava claro é que a vítima se recusava a morrer neste. E o que acontecia aqui, acontecia em todo o país. [...] Já tínhamos passado ao dia seguinte, e nele, como se informou logo no princípio deste relato, ninguém iria morrer. [...]
SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 11-12
As intermitências da morte
No dia seguinte ninguém morreu. O fato, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenômeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e noturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar. [...] Sangue, porém, houve-o, e não pouco. Desvairados, confusos, aflitos, dominando a custo as náuseas, os bombeiros extraíam da amálgama dos destroços míseros corpos humanos que, de acordo com a lógica matemática das colisões, deveríam estar mortos e bem mortos, mas que, apesar da gravidade dos ferimentos e dos traumatismos sofridos, se mantinham vivos e assim eram transportados aos hospitais, ao som das dilacerantes sereias das ambulâncias. Nenhuma dessas pessoas morrería no caminho e todas iriam desmentir os mais pessimistas prognósticos médicos, Esse pobre diabo não tem remédio possível, nem valia a pena perder tempo a operá-lo, dizia o cirurgião à enfermeira enquanto esta lhe ajustava a máscara à cara. Realmente, talvez não houvesse salvação para o coitado no dia anterior, mas o que estava claro é que a vítima se recusava a morrer neste. E o que acontecia aqui, acontecia em todo o país. [...] Já tínhamos passado ao dia seguinte, e nele, como se informou logo no princípio deste relato, ninguém iria morrer. [...]
SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 11-12
A crise de ser amada/odiada demais*
Um dia eu estava correndo pelas ruas de Ipanema à noite, sozinha, indo encontrar Caio para ir ao aniversário de alguém, quando escuto um "Jout Jout?" muito inesperado atrás de mim. Virei imediatamente:
- Eu! - e corri para o abraço.
Era uma menina, Maria Cláudia, com o namorado e seu gato, que tinha acabado de cair da janela. Eles estavam voltando do veterinário.
A gente se amou, falei que era minha primeira vez, falamos dos meus vídeos e nos despedimos. Saí correndo ainda mais rápido para contar a Caio que coisa maravilhosa havia acontecido. Cheguei ofegante, aos pulos:
- Caio! Fui reconhecida na rua!
Celebramos horrores aquele dia.
Um tempo se passou, fui fazendo mais vídeos e sendo reconhecida na rua de vez em quando. Ficava toda boba, tirava foto, contava para todo mundo, minha mãe achava o máximo. Reconhecimento! O que todo bom trabalhador quer.
Chega então o vídeo do batom vermelho, mais inscritos no canal, mais amigos no Facebook, mais seguidores no Instagram. E-mails que eu não dava conta de responder, mensagens das mais lindas às mais assustadoras. Todo dia eu derretia de amor por algum e-mail que me dizia que eu estava fazendo alguém muito feliz mundo afora. Nas ruas, cada vez mais selfies. Até que uma menina me viu e me abraçou tremendo dos pés à cabeça. E outra, além de tremer, chorou.
Quando uma pessoa que você não conhece chora ao te encontrar, passam uns pensamentos na sua cabeça. Trata-se de um amor tão intenso que a pessoa chora. Esse é um tipo de amor que vicia. Alguém idolatrando você sem ter conversado cinco minutos com você? Viciante. E para uma pisciana que busca tanto ser amada isso é um prato cheio. Até você deixar sua vaidade de lado um pouquinho e notar que essa pessoa, na verdade, não pode amar você. Ou não pode amar de um jeito confiável. Melhor: não dá para você ficar dependendo desse amor tanto assim.
É claro que eu amo que me amem, e eu amo que amem meu trabalho, mas será que essa pessoa me amaria dessa forma se passasse um fim de semana na serra comigo? Ou ela iria querer me matar? Ou ia ficar indiferente a mim? As pessoas geralmente têm um contato semanal comigo, editado, por não mais do que vinte minutos, e isso basta para despertar amor, ódio ou indiferença. Quando se trata do primeiro caso, é o tipo de sentimento fácil de ganhar e difícil de manter. Uma bolinha fora, uma frase que machuca alguém de alguma forma que você jamais imaginaria transforma aquele amor profundo na mais terrível decepção. Se sua mãe fala uma coisa que você não gosta, você bate a porta e no dia seguinte já ama ela de novo. Se uma youtuber que você idolatra magoa você, não tem volta. O que nos traz de volta ao "não dá para depender muito desse amor". E nem do ódio, aliás (essa é a parte boa). Se alguém na internet odeia você, geralmente é porque não gostou da sua orelha ou do seu sotaque ou da sua opinião sobre um assunto. Não dá para confiar nesse ódio também. Às vezes, no fim de semana na serra, essa pessoa ia querer casar com você e ter uma penca de filhos. Vai saber. Como meu analista disse uma vez: "Não importa, você não está nisso para angariar amor". Tapa na cara atrás de tapa na cara.
*JOUT, jout. Tá todo mundo mal: o livro das crises. São Paulo: Companhia das letras, 2016.
A crise de ser amada/odiada demais*
Um dia eu estava correndo pelas ruas de Ipanema à noite, sozinha, indo encontrar Caio para ir ao aniversário de alguém, quando escuto um "Jout Jout?" muito inesperado atrás de mim. Virei imediatamente:
- Eu! - e corri para o abraço.
Era uma menina, Maria Cláudia, com o namorado e seu gato, que tinha acabado de cair da janela. Eles estavam voltando do veterinário.
A gente se amou, falei que era minha primeira vez, falamos dos meus vídeos e nos despedimos. Saí correndo ainda mais rápido para contar a Caio que coisa maravilhosa havia acontecido. Cheguei ofegante, aos pulos:
- Caio! Fui reconhecida na rua!
Celebramos horrores aquele dia.
Um tempo se passou, fui fazendo mais vídeos e sendo reconhecida na rua de vez em quando. Ficava toda boba, tirava foto, contava para todo mundo, minha mãe achava o máximo. Reconhecimento! O que todo bom trabalhador quer.
Chega então o vídeo do batom vermelho, mais inscritos no canal, mais amigos no Facebook, mais seguidores no Instagram. E-mails que eu não dava conta de responder, mensagens das mais lindas às mais assustadoras. Todo dia eu derretia de amor por algum e-mail que me dizia que eu estava fazendo alguém muito feliz mundo afora. Nas ruas, cada vez mais selfies. Até que uma menina me viu e me abraçou tremendo dos pés à cabeça. E outra, além de tremer, chorou.
Quando uma pessoa que você não conhece chora ao te encontrar, passam uns pensamentos na sua cabeça. Trata-se de um amor tão intenso que a pessoa chora. Esse é um tipo de amor que vicia. Alguém idolatrando você sem ter conversado cinco minutos com você? Viciante. E para uma pisciana que busca tanto ser amada isso é um prato cheio. Até você deixar sua vaidade de lado um pouquinho e notar que essa pessoa, na verdade, não pode amar você. Ou não pode amar de um jeito confiável. Melhor: não dá para você ficar dependendo desse amor tanto assim.
É claro que eu amo que me amem, e eu amo que amem meu trabalho, mas será que essa pessoa me amaria dessa forma se passasse um fim de semana na serra comigo? Ou ela iria querer me matar? Ou ia ficar indiferente a mim? As pessoas geralmente têm um contato semanal comigo, editado, por não mais do que vinte minutos, e isso basta para despertar amor, ódio ou indiferença. Quando se trata do primeiro caso, é o tipo de sentimento fácil de ganhar e difícil de manter. Uma bolinha fora, uma frase que machuca alguém de alguma forma que você jamais imaginaria transforma aquele amor profundo na mais terrível decepção. Se sua mãe fala uma coisa que você não gosta, você bate a porta e no dia seguinte já ama ela de novo. Se uma youtuber que você idolatra magoa você, não tem volta. O que nos traz de volta ao "não dá para depender muito desse amor". E nem do ódio, aliás (essa é a parte boa). Se alguém na internet odeia você, geralmente é porque não gostou da sua orelha ou do seu sotaque ou da sua opinião sobre um assunto. Não dá para confiar nesse ódio também. Às vezes, no fim de semana na serra, essa pessoa ia querer casar com você e ter uma penca de filhos. Vai saber. Como meu analista disse uma vez: "Não importa, você não está nisso para angariar amor". Tapa na cara atrás de tapa na cara.
*JOUT, jout. Tá todo mundo mal: o livro das crises. São Paulo: Companhia das letras, 2016.
O conto da mentira (Rogério Augusto)
Todo dia Felipe inventava uma mentira. “Mãe, a vovó tá no telefone!”. A mãe largava a louça na pia e corria até a sala. Encontrava o telefone mudo.
O garoto havia inventado morte do cachorro, nota dez em matemática, gol de cabeça em campeonato de rua. A mãe tentava assustá-lo: “Seu nariz vai ficar igual ao do Pinóquio!”. Felipe ria na cara dela: “Quem tá mentindo é você! Não existe ninguém de madeira!”.
O pai de Felipe também conversava com ele: “Um dia você contará uma verdade e ninguém acreditará!”. Felipe ficava pensativo. Mas no dia seguinte...
Então, aconteceu o que seu pai alertara. Felipe assistia a um programa na TV. A apresentadora ligou para o número do telefone da casa dele. Felipe tinha sido sorteado. O prêmio era uma bicicleta: “É verdade, mãe! A moça quer falar com você no telefone pra combinar a entrega da bicicleta. É verdade!”.
A mãe de Felipe fingiu não ouvir. Continuou preparando o jantar em silêncio. Resultado: Felipe deixou de ganhar o prêmio. Então, ele começou a reduzir suas mentiras. Até que um dia deixou de contá-las. Bem, Felipe cresceu e tornou-se um escritor. Voltou a criar histórias. Agora, sem culpa e sem medo. No momento está escrevendo um conto. É a história de um menino que deixa de ganhar uma bicicleta porque mentia...
Fonte: Imagem de circulação livre no WhatsApp. Out/2016
A análise desta charge nos remete à seguinte interpretação:
(Circulação livre WhatsApp)
Com respeito à forma de tratamento empregada para se referir ao “Pai”, aquele que reza mistura as pessoas gramaticais na alternativa:
Fonte:http//www.google.com.br/search?q=reg%C3%AAncia+verbal&espv=2&biw=1366&bih=662&source=Inms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiX4tevspbQAhXCGpAKHZQSDUgQ AUICCgD#tbm=isch&q=erros+reg%C3%AAncia%imgrc=IyYCxEA57Es4kM%3A 05/11/2016
A respeito do emprego do sinal de crase, marque o item VERDADEIRO considerando
as convenções da gramática normativa:
“Primeiro elas se libertaram do papel de cozinheiras. Depois, ganharam as ruas com roupas coloridas e um som alegre. Desafiaram o machismo instaurado historicamente na brincadeira de maracatu rural. Hoje, estão mais empoderadas que ontem. Prontas, portanto, para receberem a homenagem merecida. Doze anos depois de lançado, o Maracatu Feminino de Baque Solto Coração Nazareno, o único do Brasil formado apenas por mulheres, será agraciado com a Ordem do Mérito Cultural (OMC), considerada a condecoração mais importante da cultura brasileira e ofertada pelo Ministério da Cultura (MinC)”.
As palavras sublinhadas operam a união de idéias e emitem valor semântico, respectivo de:
Aninha e suas pedras (Cora Coralina)
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha ,
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede
(Fonte: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/cora-coralina-poemas/Acesso; 05/11/16)
Imagem captada da internet.
O texto acima, publicado em um blog, certamente, de uma professora de português,
comenta sobre um registro bastante comum no português atual. Sobre o texto, identifique o
comentário ERRADO.
Observe atentamente a tirinha de Charlie Brown a seguir.
Pode-se inferir, a partir da leitura dessa charge, que
Observe a charge, em seus aspectos verbais e não verbais, para responder à questão proposta.
Assinale a afirmativa que DIFERE do ponto de vista apresentado na charge.
Observe o trecho: “Tem gente que esperou tanto o prato ficar pronto que morreu antes. Com fome.” (Texto 1, 13 e 14)
Assinale a alternativa em que, unindo-se os dois enunciados, seja mantido o significado lógico do contexto, sem desrespeitar as normas da língua padrão.
De acordo com o valor semântico-discursivo dos conectores destacados, assinale a alternativa cuja classificação esteja CORRETAMENTE indicada, na ordem em que se apresentam os termos no período: “Os alunos terão que criar um produto que gere felicidade entre os colegas.” (Texto 2, 11 e 12)
As conjunções coordenativas podem ligar duas orações independentes e autônomas na perspectiva sintática. Semanticamente, estabelecem diferentes relações de sentido entre as orações.
Leia, com atenção, o trecho extraído do texto 1: “[...] muita gente jura que o inventou, mas cada um de nós possui talento inato para alcançar as três estrelas do Michelin.” ( 2 e 3)
É correto afirmar que a conjunção coordenativa presente nesse trecho
Assinale a alternativa que pode substituir, corretamente, o trecho sublinhado, sem alteração de seu valor semântico-discursivo.
“Se ele vai mal nos estudos, tudo está ruim [...]” (Texto 2, 8)
Assinale a opção que contenha um termo que exerça a mesma função sintática do que está destacado na frase abaixo, extraída do texto 1:
“Providência simples, que acrescenta doçura.” ( 8)
Leia o texto IV para responder ao item.
TEXTO IV
ISSO SIM QUE E VIDA BOA
Eu queria ser de circo
Ai, que vida originai!
Trabalhar todas as noites,
Divertindo o pessoal.
Os aplausos da platéia,
Toda aquela vibração,
Sempre novas gargalhadas,
Sempre mais animação.
Eu queria ser do circo,
conhecer os bastidores,
que a platéia nunca vê,
ver de perto os domadores,
dar comida ao chimpanzé,
ver a cama do anão,
ver as focas amestradas,
ver a jaula do leão,
ver a cara do palhaço,
sem pintura e fantasia,
e ver se a mulher barbada
faz a barba todo dia.