ATENÇÃO: A QUESTÃO DEVE SER
RESPONDIDAS A PARTIR DO TEXTO.
TEXTO
Uma reunião por computador é paradoxalmente mais
distante e mais próxima do que um encontro presencial. Mais
distante por razões óbvias: as pessoas estão reduzidas a duas
dimensões, presas em quadradinhos numa tela. Por outro lado,
somos brindados com uma pequena moldura de intimidade
alheia que não seria revelada em torno da mesa de um escritório.
Vemos a sala ou o quarto dos outros. A estante de
livros. Vejo pendurada uma boina no cabide de um colega de
trabalho, a quem sempre atribuí um caráter discreto e austero.
Em que ocasião ele usa essa boina? Será que meu colega não é
careta e austero coisa nenhuma e, aos domingos, veste a boina,
acende um cachimbo e pinta telas com nus gigantes?
Em contrapartida, li no jornal The New York Times uma
matéria, a qual tratava da importância que damos, em nossas
interações sociais, às imediatas respostas faciais e corporais das
outras pessoas. A cada instante, vamos moldando nosso discurso
pelos sorrisos, sobrancelhas arqueadas ou braços cruzados dos
nossos interlocutores.
Numa reunião on-line, cada um tem uma qualidade de
conexão diferente e as reações chegam embaralhadas, às vezes
com vários segundos de atraso. Ao vivo é quando podemos
interpretar perfeitamente o fluxo da conversa. Lemos no outro a
antecipação de uma pausa, num outro a intenção de uma fala,
num outro, ainda, a disposição para a briga. Uma conversa de
várias pessoas é uma sinfonia emocional, cuja partitura a seleção
natural nos moldou, por milhares de anos, para ler.
PRATA, Antônio. Zoom. www1.folha.uol.com.br, 14/06/2020. Adaptado.