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Q835774 Português

O MEDO QUE DIVIDE OS DOIS BRASIS


       A primeira reação à estridência em torno do banditismo é o medo. Do medo à defesa pessoal o passo é pequeno. E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos.

      Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser. O que não se explica é como será o país que se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. Não existe país viável baseado na exclusão de uma categoria de cidadãos. [...] A segregação e a exclusão não podem ser as vigas mestras para fazer uma civilização democrática.

      As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou de triliardários. Os problemas das grandes cidades do Brasil não são simplesmente policiais ou urbanos. São problemas sociais. A concentração de renda, os desníveis nas condições de vida, os extremos de riqueza e pobreza abrem um fosso dividindo o país. Fazendo com que uma parte tenha medo da outra. O desafio, portanto, é de outra natureza: em vez de separar com muros, é preciso juntar os Brasis, fazê-lo justo e democrático.

        Revista Veja, 23/11/1994.

O texto, “O medo que divide os dois Brasis”, é quanto ao gênero textual classificado como:
Alternativas
Q835773 Português

SEGURANÇA

            O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados. 

            Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

            Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

            Mas os assaltos continuaram. 

            Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordem de atirar para matar. 

            Mas os assaltos continuaram.

            Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas. 

            Mas os assaltos continuaram.

          Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle de saídas. Para sair, só com exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno. 

            Mas os assaltos continuaram.

         Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

            E ninguém pode sair.

        Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa, olhando melancolicamente para a rua. 

            Mas surgiu outro problema. 

            As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

            A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola; RJ: Objetiva, 2001.



O MEDO QUE DIVIDE OS DOIS BRASIS

            A primeira reação à estridência em torno do banditismo é o medo. Do medo à defesa pessoal o passo é pequeno. E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos. 

            Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser. O que não se explica é como será o país que se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. Não existe país viável baseado na exclusão de uma categoria de cidadãos. [...] A segregação e a exclusão não podem ser as vigas mestras para fazer uma civilização democrática. 

            As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos – sejam eles de miseráveis ou de triliardários. Os problemas das grandes cidades do Brasil não são simplesmente policiais ou urbanos. São problemas sociais. A concentração de renda, os desníveis nas condições de vida, os extremos de riqueza e pobreza abrem um fosso dividindo o país. Fazendo com que uma parte tenha medo da outra. O desafio, portanto, é de outra natureza: em vez de separar com muros, é preciso juntar os Brasis, fazê-lo justo e democrático.


Revista Veja, 23/11/1994.


Identifique a ideia, ou as ideias, do texto “O medo que divide os dois Brasis” que tem/têm relação com o texto “Segurança”.


I - “E da defesa vai-se aos exageros de segurança – aos condomínios fechados e guaritas, às cancelas, aos guarda-costas e carros blindados. E dos exageros ao delírio de ter medo de todos os desconhecidos. ”

II - “Claro está que o problema da criminalidade nas metrópoles existe, é grave. Que em algumas cidades a polícia se misturou com a bandidagem. Que o medo tem razão de ser.”

III - “O que não se explica é como será o país que se pretende construir, no qual se quer viver, se uma parte expressiva da população se cerca e constrói muros cada vez mais altos para se defender de uma outra categoria de brasileiros que considera ameaçadora. ”

IV - “As metrópoles brasileiras não irão virar paraísos de tranquilidade do dia para a noite. O desafio, justamente, é melhorá-las para o conjunto de seus habitantes, não deixando que se criem guetos...”


São ideias do texto “O medo que divide os dois Brasis” relacionadas ao texto “Segurança”.

Alternativas
Q835772 Português

SEGURANÇA


        O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

         Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

      Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

      Mas os assaltos continuaram.

      Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordem de atirar para matar.

      Mas os assaltos continuaram.

      Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle de saídas. Para sair, só com exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

          E ninguém pode sair.

      Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

       Mas surgiu outro problema.

       As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

       A guarda tem sido obrigada a agir com energia. 


VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola; RJ: Objetiva,2001. 

Pode-se deduzir da leitura do texto “Segurança” que:
Alternativas
Q835771 Português

SEGURANÇA


        O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

         Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

      Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

      Mas os assaltos continuaram.

      Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordem de atirar para matar.

      Mas os assaltos continuaram.

      Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle de saídas. Para sair, só com exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

          E ninguém pode sair.

      Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

       Mas surgiu outro problema.

       As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

       A guarda tem sido obrigada a agir com energia. 


VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola; RJ: Objetiva,2001. 

Em relação à sequência dos fatos e ao processo de organização das ideias, no texto, é CORRETO afirmar:
Alternativas
Q835770 Português

SEGURANÇA


        O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.

         Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.

      Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.

      Mas os assaltos continuaram.

      Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordem de atirar para matar.

      Mas os assaltos continuaram.

      Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle de saídas. Para sair, só com exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.

      Mas os assaltos continuaram.

      Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.

          E ninguém pode sair.

      Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades de sua casa, olhando melancolicamente para a rua.

       Mas surgiu outro problema.

       As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.

       A guarda tem sido obrigada a agir com energia. 


VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola; RJ: Objetiva,2001. 

Dentre as alternativas abaixo, assinale a que pode ser comprovada por informações explícitas no texto “Segurança”.
Alternativas
Q828763 Português

      Considerando-se a literatura brasileira em suas realizações maiores, de meados ao fim do século passado, vê-se que é alto o valor das obras e grande a sua diversidade. Na prosa, há que se destacar uma polarização: o intimismo dos romances de Clarice Lispector, cujos narradores tanto mergulham no fundo mesmo da pessoa quanto sondam o valor das palavras mesmas, e o modo épico-poético das páginas de Guimarães Rosa, que se rendeu à complexidade do mundo sertanejo sem abrir mão das mais ousadas invenções linguísticas. Na poesia, a fase definitivamente madura de Carlos Drummond de Andrade, em versos que vão da investigação mais profunda do sujeito até o plano das memórias longínquas, e a maturação da poesia de João Cabral de Melo Neto, mestre do poema dramático ou narrativo e senhor da linguagem disciplinada e ordenada de uma original “geometria” artística. Está nesse quarteto, possivelmente, a prova de que nossa literatura dialoga de igual para igual com outras grandes literaturas nacionais.

      O fato mesmo de nenhum desses autores reivindicar para si qualquer atributo de nacionalismo é sintomático: parece que já não temos vergonha de pleitear nosso quinhão do universal.

                                                                          (Bolívar Gomide, inédito) 

O fato mesmo de nenhum desses autores reivindicar para si qualquer atributo de nacionalismo é sintomático: parece que já não temos vergonha de pleitear nosso quinhão do universal.

Deduz-se da frase acima que

Alternativas
Q828762 Português

      Considerando-se a literatura brasileira em suas realizações maiores, de meados ao fim do século passado, vê-se que é alto o valor das obras e grande a sua diversidade. Na prosa, há que se destacar uma polarização: o intimismo dos romances de Clarice Lispector, cujos narradores tanto mergulham no fundo mesmo da pessoa quanto sondam o valor das palavras mesmas, e o modo épico-poético das páginas de Guimarães Rosa, que se rendeu à complexidade do mundo sertanejo sem abrir mão das mais ousadas invenções linguísticas. Na poesia, a fase definitivamente madura de Carlos Drummond de Andrade, em versos que vão da investigação mais profunda do sujeito até o plano das memórias longínquas, e a maturação da poesia de João Cabral de Melo Neto, mestre do poema dramático ou narrativo e senhor da linguagem disciplinada e ordenada de uma original “geometria” artística. Está nesse quarteto, possivelmente, a prova de que nossa literatura dialoga de igual para igual com outras grandes literaturas nacionais.

      O fato mesmo de nenhum desses autores reivindicar para si qualquer atributo de nacionalismo é sintomático: parece que já não temos vergonha de pleitear nosso quinhão do universal.

                                                                          (Bolívar Gomide, inédito) 

Sem indicar propriamente uma polaridade, o texto acusa uma diferença entre as fases maduras de Drummond e João Cabral:
Alternativas
Q828761 Português

      Considerando-se a literatura brasileira em suas realizações maiores, de meados ao fim do século passado, vê-se que é alto o valor das obras e grande a sua diversidade. Na prosa, há que se destacar uma polarização: o intimismo dos romances de Clarice Lispector, cujos narradores tanto mergulham no fundo mesmo da pessoa quanto sondam o valor das palavras mesmas, e o modo épico-poético das páginas de Guimarães Rosa, que se rendeu à complexidade do mundo sertanejo sem abrir mão das mais ousadas invenções linguísticas. Na poesia, a fase definitivamente madura de Carlos Drummond de Andrade, em versos que vão da investigação mais profunda do sujeito até o plano das memórias longínquas, e a maturação da poesia de João Cabral de Melo Neto, mestre do poema dramático ou narrativo e senhor da linguagem disciplinada e ordenada de uma original “geometria” artística. Está nesse quarteto, possivelmente, a prova de que nossa literatura dialoga de igual para igual com outras grandes literaturas nacionais.

      O fato mesmo de nenhum desses autores reivindicar para si qualquer atributo de nacionalismo é sintomático: parece que já não temos vergonha de pleitear nosso quinhão do universal.

                                                                          (Bolívar Gomide, inédito) 

A polarização apontada entre Clarice Lispector e Guimarães Rosa resulta bastante clara quando se confrontam
Alternativas
Q828760 Português

                         A ilusão do migrante (fragmento)

                     Quando vim da minha terra,

                     não vim, perdi-me no espaço,

                     na ilusão de ter saído.

                     Ai de mim, nunca saí.

                     Lá estou eu, enterrado

                     por baixo de falas mansas,

                     por baixo de negras sombras,

                     por baixo de lavras de ouro,

                     por baixo de gerações,

                     por baixo, eu sei, de mim mesmo,

                     este vivente enganado, enganoso.

                                                  (Carlos Drummond de Andrade) 

O poeta se vale, nesses versos, de um recurso poético que sugere o ritmo e o andamento de uma reza:
Alternativas
Q828759 Português

                         A ilusão do migrante (fragmento)

                     Quando vim da minha terra,

                     não vim, perdi-me no espaço,

                     na ilusão de ter saído.

                     Ai de mim, nunca saí.

                     Lá estou eu, enterrado

                     por baixo de falas mansas,

                     por baixo de negras sombras,

                     por baixo de lavras de ouro,

                     por baixo de gerações,

                     por baixo, eu sei, de mim mesmo,

                     este vivente enganado, enganoso.

                                                  (Carlos Drummond de Andrade) 

O título desse poema justifica-se plenamente quando se considera que, nesses versos, o poeta mineiro confessa que
Alternativas
Q828758 Português

                           Prólogo da terceira edição

      A primeira edição destas Memórias póstumas de Brás Cubas foi feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880. Postas mais tarde em livro, corrigi o texto em vários lugares. Agora que tive de o rever para a terceira edição, emendei alguma coisa e suprimi duas ou três dúzias de linhas.

      O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama de “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir de seus modelos. Não digo mais para não entrar na crítica de um defunto que se pintou a si e aos outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo.

                                                                                      Machado de Assis

(Machado de Assis. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986) 

Neste prólogo, há uma clara referência ao fato de que
Alternativas
Q828757 Português

                           Prólogo da terceira edição

      A primeira edição destas Memórias póstumas de Brás Cubas foi feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880. Postas mais tarde em livro, corrigi o texto em vários lugares. Agora que tive de o rever para a terceira edição, emendei alguma coisa e suprimi duas ou três dúzias de linhas.

      O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama de “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir de seus modelos. Não digo mais para não entrar na crítica de um defunto que se pintou a si e aos outros, conforme lhe pareceu melhor e mais certo.

                                                                                      Machado de Assis

(Machado de Assis. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986) 

Ao assinar com seu nome o prólogo desse romance, Machado de Assis deixa ver que
Alternativas
Q828756 Literatura

Atente para estes dois textos, que constam das páginas iniciais de dois grandes romances brasileiros:

I.    Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão de trabalho. Dirigi-me a alguns amigos e quase todos consentiram em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. (...)

      Abandonei a empresa e iniciei a composição de repente, valendo-me de meus próprios recursos e sem indagar se isto me traz qualquer vantagem, direta ou indireta.

          (Graciliano Ramos. S. Bernardo. S. Paulo: Martins, 1970, 12. ed.)


II.    Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? (...) A história – determino com falso livre arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade.

(Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. ed., 1978) 

S. Bernardo e A hora da estrela – os dois romances a que pertencem esses textos – são exemplos, respectivamente,
Alternativas
Q828755 Português

Atente para estes dois textos, que constam das páginas iniciais de dois grandes romances brasileiros:

I.    Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão de trabalho. Dirigi-me a alguns amigos e quase todos consentiram em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. (...)

      Abandonei a empresa e iniciei a composição de repente, valendo-me de meus próprios recursos e sem indagar se isto me traz qualquer vantagem, direta ou indireta.

          (Graciliano Ramos. S. Bernardo. S. Paulo: Martins, 1970, 12. ed.)


II.    Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? (...) A história – determino com falso livre arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade.

(Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. ed., 1978) 

Há uma tonalidade irônica em ambos os textos, representada pelas seguintes expressões:
Alternativas
Q828754 Português

Atente para estes dois textos, que constam das páginas iniciais de dois grandes romances brasileiros:

I.    Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão de trabalho. Dirigi-me a alguns amigos e quase todos consentiram em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. (...)

      Abandonei a empresa e iniciei a composição de repente, valendo-me de meus próprios recursos e sem indagar se isto me traz qualquer vantagem, direta ou indireta.

          (Graciliano Ramos. S. Bernardo. S. Paulo: Martins, 1970, 12. ed.)


II.    Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? (...) A história – determino com falso livre arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade.

(Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 4. ed., 1978) 

Encontra-se, nessas passagens de Graciliano Ramos e Clarice Lispector o elemento comum da
Alternativas
Q828753 Literatura

     A divisão em “etapa da análise” e “etapa da interpretação”, que tantas vezes propomos em nome da boa ordem escolar, deve sofrer uma severa crítica. Ela dá margem a um preconceito bastante antiquado, segundo o qual só chegaremos a compreender o todo se o dividirmos em elementos e descrevermos cada um deles. A hipótese do círculo filológico, elaborada por Leo Spitzer, já desfazia o equívoco dessa técnica rudimentar e recomendava um ir e vir do todo às partes e das partes ao todo: uma prática intelectual que solda na mesma operação as tarefas do analista e do intérprete.

                                                                            (Alfredo Bosi. Céu, inferno)

Materializando as ideias desse texto no reconhecimento crítico de um poema coloquial modernista, por exemplo, haveria que se considerar
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Q828752 Português

     A divisão em “etapa da análise” e “etapa da interpretação”, que tantas vezes propomos em nome da boa ordem escolar, deve sofrer uma severa crítica. Ela dá margem a um preconceito bastante antiquado, segundo o qual só chegaremos a compreender o todo se o dividirmos em elementos e descrevermos cada um deles. A hipótese do círculo filológico, elaborada por Leo Spitzer, já desfazia o equívoco dessa técnica rudimentar e recomendava um ir e vir do todo às partes e das partes ao todo: uma prática intelectual que solda na mesma operação as tarefas do analista e do intérprete.

                                                                            (Alfredo Bosi. Céu, inferno)

Depreende-se do fragmento crítico acima que uma análise morfológica e uma interpretação cultural de um texto
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Q828751 Literatura

Num país sem tradições, é compreensível que se tenha desenvolvido a ânsia de ter raízes, de aprofundar no passado a própria realidade, a fim de demonstrar a mesma dignidade histórica dos velhos países. Nesse afã, os românticos compuseram uma literatura para o passado brasileiro, estabelecendo troncos a que se pudesse filiar (...)

(Antonio Candido)


No trecho crítico acima, há elementos que ajudam a compreender

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Q828750 Português

      (...) nesses dias descobri que, de todas as ideias que não funcionam, a mais estéril é decidir com antecedência o tema de uma crônica. Crônicas são como cogumelos, brotam onde querem, espontaneamente, e não convém colhê-las muito antes da hora nem demorar para tirá-las da terra, sob o risco de secarem e perderem o sabor.

                                             (Antonio Prata. Folha de S. Paulo, 5/10/2011) 

A seguinte consideração acerca do gênero crônica é compatível com a concepção que faz dela o autor do texto:
Alternativas
Respostas
3161: A
3162: A
3163: D
3164: D
3165: B
3166: C
3167: B
3168: A
3169: A
3170: C
3171: C
3172: B
3173: C
3174: A
3175: B
3176: D
3177: C
3178: D
3179: A
3180: C