“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio
de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já
prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do
pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não
se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e
esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas
das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas.
Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se
davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da
estalagem ou no recanto das hortas” (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.
p. 13).
O trecho acima apresenta um relato da vida em um dos vários cortiços que existiam no Rio de Janeiro
até o início do século XX. A destruição destes fez parte de um projeto de remodelação da cidade no
intuito de modernizá-la; com o fim dos cortiços, a população mais carente acabou migrando para os
morros, como o da Providência, que na época já era chamado de “Morro da Favela”. O processo de
transformação e supervalorização de determinadas áreas de uma cidade, promovendo um aumento
no custo de vida, levando as populações mais pobres a migrarem para regiões mais afastadas, é
conhecido como: