Questões de Literatura para Concurso
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Gonzaga é conaturalmente árcade e nada fica a dever aos confrades de escola na Itália e em Portugal. As liras são exemplo do ideal de aurea mediocritas que apara as demasias da natureza e do sentimento. A "paisagem", que nasceu para arte como evasão das cortes barrocas, recorta-se para o neoclássico nas dimensões menores da cenografia idílica. A natureza vira refúgio (locus amoenus) para o homem do burgo oprimido por distinções e hierarquias. (...). Em Gonzaga, a paisagem é ora nativa, com minúcias de cor local mineira, ora lugar ameno de virgiliana memória.
(Adaptado de: BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2000, pp.72-73)
Quais dos versos de Gonzaga, no contexto de suas Liras, fazem alusão à “paisagem nativa de cor local mineira” citada por Bosi?
(Fonte dos versos: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000036.pdf)
No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano.
Na segunda metade do século XVIII, porém, o ciclo do ouro já daria um substrato material à arquitetura, à escultura, à literatura e à vida musical, de sorte que parece lícito falar de um "Barroco brasileiro" e, até mesmo, "mineiro", cujos exemplos mais significativos foram alguns trabalhos do Aleijadinho, de Manuel da Costa Ataíde e composições sacras de Lobo de Mesquita, Marcos Coelho e outros ainda mal identificados. Sem entrar no mérito destas obras, pois só a análise interna poderia informar sobre o seu grau de originalidade, importa lembrar que a poesia coetânea delas já não é, senão residualmente, barroca, mas rococó, arcádica e neoclássica, havendo, portanto uma discronia entre as formas expressivas, fenômeno que pode ser variavelmente explicado.
(BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2000, pp.34-35)
Do texto, infere-se sobre o “Barroco mineiro” que a partir da
A fase Pré-Modernista passa a ser tomada como marginal ou subsidiária à estética passadista ou ao próprio Modernismo. Consequentemente, as obras que lhe remetiam pertencimento cronológico, dentre elas Canaã, eram tomadas pelo sincretismo das escolas Realismo, Naturalismo, Simbolismo, mas também pela aproximação temática ao Modernismo.
(Adaptado de: ARAÚJO, Bárbara Del Rio. O registro de estilo em Canaã: uma reflexão sobre a historiografia e o rótulo Pré- modernista. In: Entretextos, Londrina, v.14, n.1, p. 240-257, jan./jun.2014)
O contraditório de classificação de Canaã, de Graça Aranha, é reiterado em:
Canção do Suicida
NÃO ME MATAREI, meus amigos.
Não o farei, possivelmente.
Mas que tenho vontade, tenho.
Tenho, e, muito curiosamente,
Com um tiro. Um tiro no ouvido,
Vingança contra a condição
Humana, ai de nós! sobre-humana
De ser dotado de razão.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
Editora Nova Aguilar: 1993, p. 336)
A análise adequada para o poema de Bandeira é:
A denominação de Modernismo abrange, em nossa literatura, três fatos intimamente ligados: um movimento, uma estética e um período. O movimento surgiu em São Paulo com a famosa Semana de Arte Moderna, em 1922, e se ramificou depois pelo País, tendo como finalidade principal superar a literatura vigente, formada pelos restos do Naturalismo, Parnasianismo e do Simbolismo. Correspondeu a ele uma teoria estética, nem sempre claramente delineada, e muito menos unificada, mas que visava, sobretudo, a orientar e definir uma renovação, formulando em novos termos o conceito de literatura e escritor. Estes fatos tiveram seu momento mais dinâmico e agressivo até mais ou menos 1930, abrindo-se a partir daí uma nova etapa de maturação, cujo término se tem localizado cada vez mais no ano de 1945. Convém, portanto, considerar como encerrada nesse ano a fase dinâmica do Modernismo.
(CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da literatura brasileira: Modernismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, p. 9)
Das afirmações abaixo, indique a que tem por tópico principal a apresentação da fase inicial do Modernismo relacionada ao seu período histórico.
Aos principais da Bahia chamados os Caramurus
Há coisa como ver um Paiaiá1
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente do sangue tatu,
Cujo torpe idioma é Cobepá2?
A linha feminina é Carimá3
Muqueca, pititinga4, caruru,
Mingau de puba, vinho de caju
Pisado num pilão de Pirajá.
A masculina é um Aricobé5,
Cuja filha Cobé6, c’um branco Pai
Dormiu no promontório de Passé.
O branco é um Marau que veio aqui:
Ela é uma índia de Maré;
Cobepá, Aricobé, Cobé, Pai.
(MATOS, Gregório. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. São Paulo: Cultrix, 1976, p. 100)
Vocabulário:
1 Paiaiá − Pajé.
2 Cobepá − dialeto da tribo cobé, que habitava as cercanias da cidade.
3 Carimá − bolo feito de mandioca-puba, posta de molho, utilizada para mingau.
4 Pititinga − espécie de peixes pequeninos.
5 Aricobé − cobé (nome de uma tribo de índios progenitores do Paiaiá, a que se refere o poeta).
6 Cobé − palavra que Gregório empregava para designar os descendentes dos indígenas, pois no seu tempo o termo tupi não estava generalizado.
(Referência do vocabulário: SANTOS, Luzia Aparecida Oliva dos. O percurso da indianidade
na literatura brasileira: matizes da figuração. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009, p. 303)
Considere o soneto para analisar as afirmativas abaixo.
I. O soneto possui características marcantes no uso dos termos da língua indígena: de um lado, a inserção do léxico tupi metaforiza uma linha constitutiva da cultura brasileira resgatando a presença do índio; de outro, o eixo alto versus baixo, que desmascara a figura do caramuru, mestiço.
II. O soneto obedece ao molde europeu no tocante à forma, mas amplia sua configuração ao inserir o universo linguístico pertencente ao nativo. Com esse recurso, o efeito do poema tira as amarras da seriedade para estabelecer o vinco principal da satírica gregoriana no que lhe compete a agressão às instituições e seus representantes pelo viés lúdico, trocando a convenção pela contestação.
III. As expressões “Descendente do sangue tatu (v.3)” e “Cujo torpe idioma é cobepá? (v.4)” assumem a duplicidade de função em seu significado por estarem indissoluvelmente ligadas aos elementos caracterizadores de ambas as culturas: o fidalgo possui “sangue de tatu” e seu idioma é “torpe”, “cobepá”.
IV. O último verso revela que a verdadeira origem dos principais da Bahia está na nobreza de sangue azul dos europeus. Como se pode notar, o nome Paiaiá, representante nato do sangue indígena, não é colocado entre os que nomeiam simbolicamente os descendentes.
Está correto o que se afirma APENAS em
Lembro-me de que em 1891 formou-se um grupo de rapazes em torno da Folha Popular. Foi aí que os novos, tomando por insígnia um fauno, tentaram as suas primeiras exibições. A esse grupo prendiam-se por motivo de conveniência e por aproximação de idade Bernardino Lopes (B. Lopes), Perneta (Emiliano, que era o secretário da redação), Oscar Rosas e Cruz e Sousa. Tais rapazes, principalmente o primeiro, não eram desconhecidos.
(Adaptado de: ARARIPE JÚNIOR, T. A. Literatura Brasileira − Movimento de 1893 − O crepúsculo dos povos. In: MURICY, A. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1952)
O relato refere-se ao início do movimento
“Os Lusíadas” – Luís Vaz de Camões.
Canto II
Já neste tempo o lúcido Planeta
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo;
E da casa marítima secreta he estava o Deus
Nocturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
Às naus, que pouco havia que ancoraram.
Os Lusiadas é um longo poema dividido em dez partes, denominadas “Cantos”. São 8.816 versos, distribuídos em 1.102 estrofes. Neste poema, retratam-se os feitos heroicos do povo português, especialmente as conquistas marítimas. A linguagem é solene, muito diferente da empregada no cotidiano. A objetividade dominada a cena, não havendo espaço para as divagações do “eu”.
Tendo estas informações acerca do livro de Camões
indique a que gênero literário pertence Os Lusíadas.
Este movimento estético e literário constitui-se numa reação ao Positivismo e à objetividade no trato com a realidade. Prezou pela evocação do subjetivismo, da espiritualidade e do misticismo, pela tentativa de aproximar poesia e música e pela ênfase no imaginário e na fantasia.
Em relação a que movimento está a se falar a partir destas características?
“Canto do Piaga” – Gonçalves Dias.
Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Fragmento extraído de Norma Goldstein, “Versos, sons, ritmos”. 13ª edição. São Paulo, 2001, pág. 28-29.
Neste fragmento de “Canto do Piaga” todos os versos obedecem ao mesmo esquema rítmico. Neste caso temos versos de:
No vidro traseiro de um carro particular, circulando pela cidade, encontram-se os seguintes dizeres:
I. Eu, Júlia, amo meu marido, o Carlos, que ama Lucas, nosso filho, que ama Laís, irmãzinha dele. Essa é a história de uma família feliz.
Logo abaixo, na lataria, encontra-se o seguinte adesivo:
II.
III. Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
A aproximação entre a fala de Júlia (I) e o poema (III) evidencia a correção do seguinte comentário:
O texto abaixo transcrito constitui a unidade 57 da obra 234: ministórias, do escritor curitibano Dalton Trevisan, publicada em 1997.
– Os dois irmãos eram os piores inimigos. Bem me lembro no enterro da velhinha. Eles seguravam a alça do caixão – e não se olhavam. Pálidos, mas de fúria. Nem a cruz das almas comoveu os dois. Se odiavam tanto que a finadinha bulia sem parar entre as flores.
Abaixo está transcrito um recorte que foi feito do texto que o escritor e crítico literário Cristovão Tezza publicou, na íntegra, no jornal O Globo, na secção Prosa & Verso, no dia 26/4/97. Título: As 1001 noites de Dalton Trevisan: violência seca colore vitral de Dalton Trevisan.
I. Para que o objeto simbólico (texto) cumpra sua função, é necessário olhar o símbolo e enxergar o simbolizado. Por isso é importante lembrar que a compreensão/produção de textos (objetos simbólicos) mobiliza competências não só linguísticas, mas também extralinguísticas (conhecimento de mundo/saber enciclopédico, determinações socioculturais etc.).
(Caderno de orientação didática: referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no ciclo II do ensino fundamental da área de língua portuguesa, p. 21)
II. Dalton Trevisan se autodefine como ‘arredio, ai de mim!’, e sua incurável timidez é bastante comentada. Sempre recusando a fama, e a presença de fotógrafos e jornalistas, cria uma atmosfera de suspense em torno de seu nome que o transforma numa enigmática personagem. Afastado do convívio social, enclausurado em casa, mereceu o apelido de “O vampiro de Curitiba”, título de um de seus livros.
É correto afirmar:
– Os dois irmãos eram os piores inimigos. Bem me lembro no enterro da velhinha. Eles seguravam a alça do caixão – e não se olhavam. Pálidos, mas de fúria. Nem a cruz das almas comoveu os dois. Se odiavam tanto que a finadinha bulia sem parar entre as flores.
− Nunca me senti tão só, querida, como na tua companhia.
Abaixo está transcrito um recorte que foi feito do texto que o escritor e crítico literário Cristovão Tezza publicou, na íntegra, no jornal O Globo, na secção Prosa & Verso, no dia 26/4/97. Título: As 1001 noites de Dalton Trevisan: violência seca colore vitral de Dalton Trevisan.
Em sua origem, pós-modernismo significava a perda da historicidade e o fim da "grande narrativa" - o que no campo estético significou o fim de uma tradição de mudança e ruptura, o apagamento da fronteira entre alta cultura e da cultura de massa e a prática da apropriação e da citação de obras do passado. (LIMA, 2004)
É uma característica importante do pós-modernismo:
“Mas, como é que ele tão sereno, tão lúcido, empregara sua vida, gastara o seu tempo, envelhecera atrás de tal quimera? Como é que não viu nitidamente a realidade, não a pressentiu logo e se deixou enganar por um falaz ídolo, absorver-se nele, dar-lhe em holocausto toda a sua existência? Foi o seu isolamento, o seu esquecimento de si mesmo; e assim é que ia para a cova, sem deixar traço seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira!"