Texto 2A1-I
Quando se trata de obesidade, é importante ter em mente
que vivemos um grave problema de saúde pública. Dados de
2019 do Ministério da Saúde apontam que cerca de 50% da
população possuem excesso de peso (ou seja, têm índice de
massa corporal — IMC — maior que 25) e 20% da população
são obesos (IMC maior que 30).
As pesquisas são claras ao dizer que há correlação entre a
condição de sobrepeso e de obesidade e a mortalidade por
doenças cardíacas. Por isso, não é correto dizer que está tudo
bem se a obesidade no país aumentar drasticamente. Mas, nesse
contexto, muitas pessoas se amparam em um discurso médico
para lembrar constantemente a toda pessoa gorda que ela precisa
urgentemente emagrecer, o que também não é correto.
Médicos e nutricionistas garantem que é perfeitamente
possível uma pessoa gorda ser mais saudável que uma pessoa
magra. Magreza não é sinônimo de saúde, e não só gordos têm
diabetes, hipertensão, problemas cardíacos e problemas
articulares.
O excesso de peso e a obesidade têm diversas causas,
como fatores genéticos, fisiológicos, sociais, psicológicos e
nutricionais. Portanto, quando alguém diz a uma pessoa gorda
que ela é assim porque quer ou porque não se esforça para
emagrecer, está ignorando uma série de fatores que podem
dificultar muito esse processo. Além disso, uma pessoa pode
perder peso tomando remédios fortes, submetendo-se a cirurgias,
adotando dietas agressivas ou longos períodos de jejum. Mas isso
não significa que a saúde melhore.
O consumo excessivo de açucarados e de baixa qualidade
nutricional é um fator importante para o crescimento da
obesidade. Se os pais de uma criança permitem que ela tenha
uma rotina mais sedentária, tenha como fonte de lazer o celular,
o videogame, o computador e a televisão, e coma muitos
produtos açucarados, ela pode adquirir sobrepeso ou mesmo
obesidade. A genética, o meio social, a condição psicológica e
até o desmame precoce são alguns dos fatores que também
podem influenciar esse processo.
Os fiscais do corpo alheio que se convencem de que estão
apenas incentivando as pessoas a emagrecerem podem não estar
ajudando em nada. O estigma social em torno do corpo gordo
leva as pessoas a buscar medidas extremas, não para alcançar a
saúde, mas a magreza. Disso decorrem diversos transtornos
alimentares e até o próprio agravamento da obesidade.
Uma pesquisa identificou que cerca de 65% dos
executivos têm objeções à contratação de profissionais obesos. A
vida das pessoas gordas é minada por diversas perdas de direitos.
Se essas pessoas são privadas de dignidade, de acesso pleno aos
sistemas de saúde e de concorrência justa aos postos de trabalho
e submetidas a chacotas e opressões que deterioram sua
autoestima e saúde mental, é no mínimo perverso dizer que elas
são culpadas pela própria obesidade. Quem deve dizer se o
excesso de peso de uma pessoa é um problema para a saúde dela
é um profissional de saúde, amparado por tantos exames quanto
forem necessários.
Lucas Mascarenhas de Miranda. Gordofobia na tela: um reflexo da sociedade.
In: Ciência Hoje, ed. 385, mar./2022, p. 10-12 (com adaptações).