Metade dos jovens corre risco de não se inserir no mercado de trabalho
Relatório do Banco Mundial mostra que 52% dos brasileiros entre 19 e 25 anos perdem interesse pelos estudos
Estudo do Banco Mundial (Bird) divulgado nesta quarta-feira mostra um cenário de desalento para a juventude. Com um sistema
educacional falho e pouco conectado com as necessidades do setor privado, 52% dos jovens entre 15 e 29 anos perde interesse pelos
estudos e corre risco de não conseguir se inserir no mercado de trabalho. São pessoas que se encontram em três situações: desistiram
da escola, conciliam os estudos com trabalho informal ou estão defasados na relação idade/série.
Segundo o Banco, em 2015, somente 38% dos adolescentes estavam na série correta. Aos 18 anos, metade já está fora da
escola. A fragilidade da educação dos jovens compromete a produtividade do país, alerta o Bird.
Com o rápido envelhecimento da população, o Banco Mundial alerta que o Brasil pode estar perdendo a “última onda da transição
demográfica”, ou seja, a última parcela significativa de jovens ingressando na população ativa do país. Segundo o relatório, o potencial
de produtividade brasileiro será cada vez mais determinado pela atual juventude. Para isso, será necessário aprimorar a capacidade
das instituições de desenvolver as competências do jovem e do mercado de trabalho de engajá-los plenamente na economia.
“A última onda da transição demográfica do Brasil está chegando ao auge. Equipado com políticas de competências e empregos
sólidas e adequadas, especialmente para os jovens, o Brasil pode superar a posição de renda média surfando essa onda. A alternativa
é que essa onda quebre, e afunde a perspectiva do país em atingir novos níveis de prosperidade compartilhada”, alerta o documento.
SÓ 43% TÊM ENSINO MÉDIO. NOS PAÍSES RICOS, SÃO 65%
A maior evasão escolar é no Ensino Médio: apenas 43% das pessoas com mais de 25 anos tiveram essa etapa dos estudos
concluída. A média dos países ricos da OCDE é de 65%. Nos Estados Unidos, 88%. Mesmo quem termina o Ensino Fundamental, no
entanto, já tem importantes deficiências de aprendizagem, na avaliação do relatório. O Bird analisa que há uma falta de interesse pelos
conteúdos acadêmicos, resultado de um currículo escolar “muito mais voltado para a memorização do que para o pensamento crítico”
e sem correlação direta com o que será exigido no mercado de trabalho.
O Banco ainda aponta que o jovem brasileiro não tem a real noção do valor efetivo da educação para seu futuro, como o impacto
que anos a mais de estudo geram no salário, por exemplo. “Se jovens acham que o investimento em educação adicional não se coaduna
com os empregos que desejam no mercado de trabalho, e/ou se dão pouco peso à possibilidade (incerta) de aumento de remuneração
futura, isso aumenta sua probabilidade de abandonar a escola e ir para o mercado de trabalho com a bagagem atual, ao invés de
debater-se com a falta de oportunidade sem renda alguma”, aponta o estudo.
IMPACTOS NA PRODUTIVIDADE DO PAÍS
A pesquisadora Rita Almeida, uma das responsáveis pelo estudo, explica que esse risco de o jovem não se inserir no mercado
de trabalho, chamado pelo Bird de “desengajamento econômico”, tem reflexos diretos na produtividade do país. Com as deficiências na
educação, o Brasil é o único país em que anos a mais de estudo não impactam a produtividade do país. Para se ter uma ideia, na
Coreia do Sul, um ano a mais de escolaridade gera US$ 7 mil para a economia.
- O impacto fundamental de um alto risco de desengajamento econômico é ter um jovem com oportunidade baixa no mercado
de trabalho. E isso tem consequências muito importantes para o crescimento e para a produtividade. O Brasil perde em capacidade de
competir e de ter uma economia dinâmica e competitiva - aponta.
O relatório considera que o país tem conseguido avanços na área da educação, como o aumento do número de matrículas e do
acesso à educação e a diminuição da evasão escolar. O Bird elogia ainda a reforma do Ensino Médio, aprovada no Congresso Nacional
no início do ano passado. Segundo o documento, as mudanças vão no caminho certo, mas ressalta que apenas esses esforços não
são suficientes e enfatiza que as alterações no modelo educacional devem começar desde a primeira infância.
Entre outras políticas sugeridas para estimular a permanência de mais anos na escola estão programas para reduzir a gravidez
na adolescência, programas de transferência ligados à conclusão do ensino médio e disseminação dos retornos da educação para o
futuro do jovem no mercado de trabalho.
O Banco Mundial mostra ainda que os jovens foram os que mais sofreram com a última crise econômica. Em tempos de recessão,
eles são os primeiros a perder o emprego e os que mais têm dificuldade de encontrar um novo trabalho. De 2013 a 2015, a taxa de
desemprego juvenil ficou em níveis muito superiores à média brasileira. Em 2015, por exemplo, ficou próxima dos 20%, enquanto o
índice brasileiro ficou em cerca de 8% (com base em dados da Pnad).
Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/metade-dos-jovens-corre-risco-de-nao-se-inserir-no-mercado-de-trabalho-22463218. Acesso em: 25/08/2018