Questões de Português - Colocação Pronominal para Concurso
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Fofoca: uma obra sem autor
O próprio som da palavra fofoca dá a ela um certo ar de frivolidade. Fofoca, mexerico, coisa sem importância. Difamação é crime, mas fofoca é só uma brincadeira. O que seria da vida sem um bom diz-que-me-diz-que, não?
Não. Dispenso fofocas e fofoqueiros. Quando alguém se aproxima de mim, segura no meu braço e olha para o lado antes de começar a falar, já sei que vem aí uma lama que não me diz respeito. [...]
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A fofoca nasce da boca de quem? Ninguém
sabe. Ouviu-se falar. É uma afirmação sem fonte,
uma suspeita sem indício, uma leviandade órfã de pai
e mãe. Quem fabrica uma fofoca quer ter a sensação
de poder. Poder o quê? Poder divulgar algo seu, ver
seu "trabalho" passado adiante, provocando reações,
mobilizando pessoas. Quem dera o criador da fofoca
pudesse contribuir para a sociedade com um quadro,
um projeto de arquitetura, um plano educacional, mas
sem talento para tanto, ele gera boatos.
Quem faz intrigas sobre a vida alheia quer ter algo de sua autoria, uma obra que se alastre e cresça, que se torne pública e que seja muito comentada. Algo que lhe dê continuidade. É por isso que fofocar é uma tentação. Porque nos dá, por poucos minutos, a sensação de ser portador de uma informação valiosa que está sendo gentilmente dividida com os outros. Na verdade, está-se exercitando uma pequena maldade, não prevista no Código Penal. Fofocas podem provocar lesões emocionais. Por mais inocente ou absurda, sempre deixa um rastro de desconfiança. Onde há fumaça há fogo, acreditam todos, o que transforma toda fofoca numa verdade em potencial. Não há fofoca que compense. Se for mesmo verdade, é uma bala perdida. Se for mentira, é um tiro pelas costas.
(MEDEIROS, Martha. Almas gêmeas. L&PM Editores: Porto
Alegre, 1999, p.127.)
O papel de intelectuais negros, como Machado de Assis, na Abolição
A historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto fez deste tema sua tese de doutorado na Unicamp. Ela investigou a atuação de homens negros, livres, letrados e atuantes na imprensa e no cenário politico-cultural no eixo Rio-São Paulo, como Ferreira de Menezes, Luiz Gama, Machado de Assis, José do Patrocínio e Theophilo Dias de Castro. Segundo Ana Flávia, eles não só colaboraram para que o assunto ganhasse as páginas de jornais, como protagonizaram a criação de mecanismos e instrumentos de resistência, confronto e diálogo. Ela percebeu que não eram raros os momentos em que desenvolveram ações conjuntas.
- O acesso ao mundo das letras e da palavra impressa foi bastante aproveitado por esses “homens de cor”, que não apenas se valeram desses trânsitos em benefício próprio, mas também aproveitavam para levar adiante projetos coletivos voltados para a melhoria da qualidade de vida no país. Desse modo, aquilo que era construído no cotidiano, em conversas e reuniões, ganhava mais legitimidade ao chegar às páginas dos jornais - conta Ana Flávia.
A utilização da imprensa por eles foi de suma importância, na visão da pesquisadora. A “Gazeta da Tarde”, por exemplo, sob direção tanto de Ferreira de Menezes quanto de José Patrocínio, dedicou considerável espaço para tratar de casos de reescravização de libertos e escravização de gente livre, crime previsto no artigo 179 do Código Criminal do Império, como pontua a historiadora.
- Ao mesmo tempo, o jornal também se preocupou em dar visibilidade a trajetórias de sucesso de gente negra na liberdade, como aconteceu em 1883, quando a “Gazeta” publicou em folhetim uma versão da autobiografia do destacado abolicionista afro-americano Frederick Douglass - ilustra Ana Flávia.
Como observa o professor da UFF Humberto Machado, eles conheciam de perto as mazelas do cativeiro e levaram essa realidade às páginas dos jornais. José do Patrocínio, por exemplo, publicou livros que mostravam detalhes da escravidão como pano de fundo em formato de folhetim, que fizeram muito sucesso. Esses trabalhos penetravam em setores que desconheciam tal realidade.
- Até os analfabetos tomavam conhecimento, porque as pessoas se reuniam em quiosques no Centro do Rio de Janeiro e escutavam as notícias. A oralidade estava muito presente nesse processo. Fora isso, havia eventos, como conferências e apresentações teatrais, e as pessoas iam tomando conhecimento e se mobilizando contra a escravidão. O resultado foi um discurso voltado não só à população em geral, mas também aos senhores de engenho, mostrando a eles a inviabilidade da manutenção dos cativeiros - relata o professor, que escreveu o livro “Palavras e brados: José do Patrocínio e a imprensa abolicionista no Rio”.
(Adaptado de: https://extra.globo.com/noticias/saude-eciencia/especialistas-revelam-papel-de-intelectuais-negroscomo-machado-de-assis-na-abolicao-1810S16S.html)
Saúde Mental: Precisamos falar sobre depressão
Mais de 11 milhões de brasileiros foram diagnosticados com a depressão, segundo a Pesquisa Nacional
de Saúde. Os jovens estão entre os mais afetados pela doença que, segundo previsão da Organização
Mundial da Saúde (OMS), poderá ser a mais incapacitante do mundo até 2020.
A juventude enfrenta desafios muitas vezes sem amparo da família ou do poder público, incluindo o
trabalho, a pressão pela sua formação escolar e escolhas de vida. Consequentemente, a saúde mental é
afetada desencadeando doenças como a depressão e a ansiedade. Frases como “fica bem”, “você precisa se
esforçar” ou “fica tranquilo” são comuns a quem está nessa condição, mas não funcionam para quem passa
todos os dias por isso.
A escola pode ser um dos grandes motores para esse problema na vida dos estudantes. Números indicam
que 56% dos alunos brasileiros ficam mais estressados durante os estudos, de acordo com o Programa de
Avaliação Internacional de Estudantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Os baixos investimentos em uma educação pública de qualidade e a falta de suporte aos jovens
ampliam ainda mais esse número.
A população ainda desconhece, na prática, a doença e confunde muitas vezes como mera “tristeza” ou
“baixo astral”. Antônio Geraldo da Silva, superintendente técnico da Associação Brasileira de Psiquiatria
e presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL), afirma que "depressão não é frescura
nem falta de religiosidade. É transtorno psiquiátrico e precisa ser diagnosticado e tratado como tal".
Antônio Geraldo ressalta que é preciso quebrar o preconceito relacionado às questões de saúde mental,
levando informações corretas à população. “A psicofobia (discriminação contra os portadores de
transtornos e deficiências mentais) é um grande obstáculo a ser transpassado para que a população não
tenha vergonha de procurar ajuda”, afirma o psiquiatra.
De acordo com Antônio, alguns cuidados podem ser tomados para que se tenha uma boa saúde mental:
aumentar a frequência de exercícios físicos, mantendo a prática regular; cuidar da alimentação; aumentar a
frequência de atividades prazerosas, sozinhas ou em grupo, tudo isso ajuda a manter uma boa saúde mental.
“O isolamento social é comprovadamente adoecedor”, ressalta o psiquiatra.
Antônio destaca que “quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento da depressão e/ou ansiedade, mais
fácil de se tratar e devolver ao paciente uma vida sem prejuízos”.
A situação deve ser tratada como questão de saúde pública para prevenir que os jovens aumentem as
estimativas sobre a doença. Para quem sofre com a depressão e a ansiedade, a vida perde cores, levando
muitos a tirarem a própria vida como única solução. Atualmente, o suicídio é a segunda principal causa de
óbito entre os jovens de 10 a 24 anos, de acordo com a OMS.
A vida se torna um peso a ser carregado por quem sofre dos estágios mais avançados da doença. A taxa
de suicídios de jovens subiu 10% desde 2002, entre a população de 15 a 29 anos no Brasil de acordo com
o Mapa da Violência de 2017, publicado com base nos dados do Sistema de Informações de Mortalidade
(SIM) do Ministério da Saúde.
As mortes por suicídio estão diretamente ligadas a transtornos mentais diagnosticados ou não, tratados
de forma inadequada ou não tratados de forma alguma. De acordo com Antônio Geraldo, “quanto mais as
pessoas tiverem acesso à informação, entendendo que o suicídio é uma emergência médica, mais chances
teremos de diminuir os números relacionados a essa triste realidade”.
“Pensar em saúde mental de qualidade é entender que o psiquiatra não é ‘médico de loucos’,
incentivando a busca por auxílio psiquiátrico sempre que observados os sintomas iniciais de quaisquer
transtornos”, conclui Antônio.
Julgue o item seguinte, relativo ao sentido e a aspectos linguísticos do texto precedente.
A correção do texto seria prejudicada caso o pronome “me”,
empregado em “me mandaram para Buenos Aires” (l.3), fosse
deslocado para imediatamente após a forma verbal
“mandaram”, da seguinte forma: mandaram-me para Buenos
Aires.