Questões de Concurso
Sobre conjunções: relação de causa e consequência em português
Foram encontradas 4.688 questões
Recentemente pesquisei diversas situações de trabalho escravo, principalmente em Minas Gerais. Não vi nenhuma situação de caracterização de trabalho escravo por ausência de CTPS, ou por atos isolados como mencionados pelo autor, dormir em rede e comer mandioca. Pelo contrário, vi situações em que as más condições de trabalho eram inúmeras e diversas. O fato de um trabalhador do norte do país não ter água potável em casa, não justifica o fato de que, trazido para o Sudeste do país sob a falsa promessa de trabalho de forma a sustentar a família que permanece na cidade de origem, seja submetido às mesmas ou piores condições que estava sujeito em casa. A fiscalização do trabalho é feita por agentes capacitados, tem o respaldo do Ministério Público do Trabalho, não sendo realizada por qualquer indivíduo que classifica as condições de trabalho como análoga à escravidão por bel-prazer. Não concordo com a opinião do autor, que carece de vivência prática.
FERNANDES, Ana Paula, A dicotomia do trabalho escravo. Disponível em:<http://www.migalhas.com.br/Leitores/268224>
Julgue o seguinte item, a respeito das ideias e das construções linguísticas do texto apresentado.
Com o emprego da expressão “assim como” (ℓ.12),
estabelece-se uma relação de comparação entre ideias
expressas no período.
Julgue o seguinte item, a respeito das ideias e das construções linguísticas do texto apresentado.
A locução “em razão de” (ℓ.9) expressa uma ideia de causa.
Uma andorinha não faz verão
No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.
A beleza do Rio é comparável à sua barbárie.
No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.
Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.
Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.
Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada.
Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia?
O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.
A andorinha aculturada sou eu.
Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.
Fernanda Torres. In: [email protected]
BOBAGENS
Por: Sírio Possenti. 07 de abril de 2017. Disponível em:
http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/4923/n/bobagens Acesso em
07 mai 2017
Sérgio Rodrigues saudou, há algumas semanas, em sua coluna na Folha de S. Paulo (16/3), decisão da Rede Globo de não mais empregar (e exigir que se empregasse) a expressão ‘risco de morte’ no lugar da conhecida ‘risco de vida’. Quando impingiu a novidade – o que fez escola em outras emissoras e afins –, o argumento da empresa foi que não há risco de vida, entendida a expressão como ‘risco de viver’, mas sim risco de morte, isto é, de morrer.
Que asneira!
Mas andam por aí coisas semelhantes. Há poucos dias, até mesmo Carlos Heitor Cony, veterano escritor que sabe latim, andou cravando, também em sua coluna na Folha de S. Paulo (26/3), que ‘cadáver’ é palavra composta das primeiras sílabas de caro data vermibus, que quer dizer ‘carne dada aos vermes’.
Que besteira!
(Acrescente-se que quem pensa que a palavra deriva do sintagma português, como já ouvi – e de um médico! –, deveria alterar a palavra para ‘cardaver’).
Outros ‘sábios’ espalham por aí provérbios modificados, para ‘terem sentido’, como “quem não tem cão caça como gato”, em vez de ‘com gato’, o que, paradoxalmente (mas eles não se dão conta!), tira do provérbio todo o sentido, porque ele quer dizer exatamente que, se não se tem uma arma poderosa (metafórica), tenta-se fazer o serviço com outra, mesmo que seja menos poderosa. A única maneira de ‘anular’ esse provérbio seria mostrar que o cão nunca foi considerado mais eficaz na caça do que o gato.
No caso, ter-se-ia que apelar, talvez, para um muar.
Já ouvi (em diversos lugares, mas também de uma coordenadora de um curso de pós-graduação em educação, por este Brasil afora!!) que ‘aluno’ quer dizer ‘sem luz (e por isso os professores são importantes blábláblá).
É verdade que existe um prefixo a-, com sentido de negação (como em ‘amorfo’ – sem forma). Mas, para que a análise funcione, é preciso que o que sobra seja um morfema, que tenha sentido sistematicamente, como ocorre com ‘morfo’ (morfologia etc). Mas o que é ‘luno’? Não me digam, por favor, que é uma variante de ‘lume’ (ou mesmo de ‘luz’), porque, para que fosse, seria preciso sustentar essa equivalência na língua; por exemplo, mostrar que ‘alumiar’ seja sinônimo de um hipotético ‘alunar’, que significaria tirar a luz, apagar. Ora, ‘alumiar’ quer dizer exatamente o contrário...
Que sandice!
No fundo, naquelas teses sem sentido jaz uma ideologia: as palavras se referem – ou, pelo menos, se referiram, em alguma idade do ouro – diretamente às coisas.
Quem combate bem essa tese e descarta tal ‘bobajório’, com explicações adequadas, devidas à mudança de critérios – a língua tem uma ordem própria, é uma ‘gramática’ que explica esses casos, não uma nomenclatura –, é Oswald Ducrot, num livrinho intitulado Estruturalismo e linguística (São Paulo, Cultrix). [...]
O que se segue, no livro, é ainda melhor. Mas alguém lê textos assim, quando pode fazer sucesso repetindo crendices (e sandices) na TV, em palestras e, agora, no Facebook?
Sírio Possenti
Departamento de Linguística - Universidade Estadual de Campinas
Analise as proposições sobre a classificação de algumas das palavras do parágrafo a seguir. Depois assinale a alternativa que contenha análise corretas sobre as mesmas.
Outros ‘sábios’ espalham por aí provérbios modificados, para ‘terem sentido’, como “quem não tem cão caça como gato”, em vez de ‘com gato’, o que, paradoxalmente (mas eles não se dão conta!), tira do provérbio todo o sentido, porque ele quer dizer exatamente que, se não se tem uma arma poderosa (metafórica), tenta-se fazer o serviço com outra, mesmo que seja menos poderosa. A única maneira de ‘anular’ esse provérbio seria mostrar que o cão nunca foi considerado mais eficaz na caça do que o gato.
I. As palavras “por” e “como” pertencem à classe das preposições.
II. As palavras “não” e “nunca” são advérbios de negação.
III. As palavras “cão”, “provérbio” e “poderosa” pertencem à classe dos substantivos.
IV. As palavras “porque” e “se” pertencem à classe das conjunções.
O salto da terapia genética
Saudamos o fato de a ciência avançar rapidamente para aplicar técnicas que impeçam a transmissão de doenças hereditárias
Depois de décadas de hesitações e reveses, a terapia genética está em condições de cumprir suas promessas e dar o salto
à prática clínica. Em agosto foi aprovado nos EUA o primeiro tratamento comercial para um tipo de leucemia com mau
prognóstico e em 2018 são esperados os resultados das primeiras terapias experimentais para eliminar ou modificar os genes
envolvidos em outras patologias e tipos de câncer, entre eles o de pulmão.
Os primeiros experimentos tiveram de ser abandonados por causa dos efeitos adversos, uma vez que não havia nenhuma
maneira segura de extrair os genes alterados e substituí-los por outros normais. A morte de vários pacientes retardou a investigação
e as expectativas criadas. O grande salto que aconteceu agora se deve à descoberta — em 2013 — de uma nova técnica de edição
genética, chamada CRISPR, que não só permite copiar e colar genes ou porções do genoma como fazê-lo facilmente e a custos
muito mais baixos do que as técnicas anteriores. Seu desenvolvimento foi vertiginoso. Depois de demonstrar eficácia em animais,
os primeiros testes em humanos foram autorizados em 2016.
Devemos saudar o fato de a ciência avançar rapidamente para poder aplicar essa técnica de maneira segura em patologias
que hoje não têm tratamento ou para evitar a transmissão de doenças hereditárias. Mas também devemos abrir um debate sobre
como isso deve ser aplicado. O mesmo procedimento útil para curar pode servir para outros propósitos, como a modificação de
determinadas características da pessoa. Ainda estamos longe de ter os conhecimentos necessários para tornar isso possível, pois
existem muitos genes e muitas interações entre eles. Mas é conveniente avançar para canalizar a aplicação desses avanços, exigir
a máxima transparência nos resultados e garantir que esses tratamentos estejam disponíveis para todos e não apenas para aqueles
que eventualmente puderem pagar por eles.
TEXTO 3
Já que praticamente todas as nossas ações diárias mais significativas estão revestidas de linguagem, é importante saber algo sobre o seu funcionamento. E esse funcionamento da linguagem é tão espontâneo que não nos damos conta de sua complexidade.
Quando falamos ou escrevemos, não temos muita consciência das regras usadas ou das decisões tomadas, pois essas ações são tão rotineiras que fluem de modo inconsciente.
Por outro lado, as atividades sociais e cognitivas marcadas pela linguagem são sempre colaborativas e não atos individuais. Por isso, seguidamente operam como fontes de mal-entendidos. Como seres produtores de sentidos, não somos tão lineares e transparentes quanto seria de desejar, e a compreensão humana depende da cooperação mútua. Sendo uma atividade de produção de sentidos colaborativa, a compreensão não é um simples ato de identificação de informações, mas uma construção de sentidos com base em atividades inferenciais.
Para se compreender bem um texto, tem-se que sair dele, pois o texto sempre monitora o seu leitor para além de si próprio, e esse é um aspecto notável quanto à produção de sentido.
Tal concepção teórica traz consequências, como, por exemplo, as seguintes: a) entender um texto não equivale a entender palavras ou frases; b) entender as frases ou as palavras é vê-las em um contexto maior; c) entender é produzir sentidos e não extrair conteúdos prontos; d) entender um texto demanda uma relação de vários outros tipos de conhecimentos, além do linguístico que consta na superfície do texto.
(Luís Antônio Marcuschi. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Editora Parábola, Record, 2008, p. 233. Adaptado).
O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo.
Ele... Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
- E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
- E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
- Macabéa.
- Maca - o quê?
- Béa, foi ela obrigada a completar.
- Me desculpe, mas até parece doença, doença de pele.
- Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo - parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...
- Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra.
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
- Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo.
Da terceira vez que se encontraram - pois não é que estava chovendo? - o rapaz, irritado e perdendo o leve verniz de finura que o padrasto a custo lhe ensinara, disse-lhe:
- Você também só sabe é mesmo chover!
- Desculpe. Mas ela já o amava tanto que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor.
Numa das vezes em que se encontraram ela afinal perguntou-lhe o nome.
- Olímpico de Jesus Moreira Chaves - mentiu ele porque tinha como sobrenome apenas o de Jesus, sobrenome dos que não têm pai. Fora criado por um padrasto que lhe ensinara o modo fino de tratar pessoas para se aproveitar delas e lhe ensinara como pegar mulher.
- Eu não entendo o seu nome - disse ela. - Olímpico?
Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era, arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele não sabia responder. Disse aborrecido:
- Eu sei mas não quero dizer!
- Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente não precisa entender o nome.
[...] Olímpico de Jesus trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava “operário" e sim “metalúrgico”. Macabéa ficava contente com a posição social dele porque tinha orgulho de ser datilografa, embora ganhasse menos que o salário mínimo. Mas ela e Olímpico eram alguém no mundo. “Metalúrgico e datilografa” formavam um casal de classe.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, 30jan. p. 43-45. (Fragmento)
Sobre os elementos destacados do fragmento "- Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte”, leia as afirmativas.
I. O uso do pronome em BOTOU ELE atende ao padrão culto da língua.
II. O modo das formas verbais ACHO e BOTOU é determinado sobretudo pelas hipóteses que se verificam entre o conteúdo das orações.
III. Apalavra MAS é uma conjunção coordenativa.
Está correto apenas o que se afirma em:
Considere o seguinte trecho de texto:
Quanto mais participam em redes sociais e chats online, veem vídeos na internet, baixam músicas ou fazem outras atividades do universo digital, mais os adolescentes tornam-se propensos a experimentar sintomas de TDAH.
Nesse trecho, estabelece-se entre as ideias expostas uma relação de:
Considere o seguinte trecho: Como ninguém se interessou em continuar o projeto de pesquisa, decidimos cancelá-lo. Caso haja algum interesse no futuro, tornaremos a reabri-lo.
Os termos sublinhados indicam, respectivamente:
O segredo das amizades que duram
Ana Carolina Prado
O que faz com que as pessoas virem amigas? E por que algumas amizades duram e outras não? Um artigo do site Psychology Today reuniu alguns estudos que trazem bons esclarecimentos sobre o tema. Os pontos principais, bem práticos, estão listados a seguir:
Condições para começar uma amizade
Além de alguns fatores básicos, como ter contato com a pessoa com alguma regularidade (afinal, assim temos mais chance de conhecê-la melhor e aprofundar nossos laços) e ter coisas em comum, dois aspectos são fundamentais para que se passe do posto de conhecido para o de amigo:
1. Disposição de se abrir.
Segundo Beverley Fehr, pesquisadora da Universidade de Winnipeg e autora do livro “Friendship Processes”, o que determina que passemos de meros conhecidos a amigos é a disposição de se abrir e revelar coisas mais pessoais ao outro – e isso precisa vir dos dois lados. “Nos estágios iniciais da amizade, isso tende a ser um processo gradual. Uma pessoa aceita o risco de revelar uma informação pessoal e ‘testa’ se a outra faz o mesmo”, diz ela. Aqui, a reciprocidade é essencial para a coisa funcionar, porque leva a outra condição importante:
2. Intimidade.
De acordo com a pesquisa de Fehr, pessoas com boas amizades envolvendo o mesmo sexo têm uma boa compreensão do que envolve a intimidade: elas sabem se abrir e expressar suas emoções, sabem o que dizer quando o amigo lhes conta algo e respeitam os limites – entendem, por exemplo, que sinceridade não significa falar tudo o que lhes vêm à cabeça, especialmente no que se refere a opiniões sobre a vida e os gostos do outro. Até porque outras condições apontadas foram aceitação, lealdade e confiança. Essas qualidades foram consideradas mais importantes do que ajudas práticas, como emprestar dinheiro.
Por que algumas amizades duram e outras não?
Ok, entendemos o que dá aquele pontapé inicial às amizades. Mas há outro fator, descoberto pelas psicólogas sociais Carolyn Weisz e Lisa F. Wood, da Universidade de Puget Sound, em Tacoma, Washington, que é fundamental para fazer com que as nossas relações durem: o apoio à nossa identidade social. Em outras palavras, procuramos amigos que entendam e validem a ideia que temos sobre nós mesmos e sobre o nosso papel na sociedade ou grupo de que fazemos parte – o que pode estar associado à religião, etnia, profissão ou mesmo participação em algum clube.
Para chegar a essa conclusão, elas acompanharam um grupo de estudantes universitários por anos durante toda a sua graduação, sempre pedindo a eles que descrevessem níveis de proximidade, contato, apoio geral e apoio à identidade social que sentiam em relação a amigos do mesmo sexo. A conclusão foi que todos esses fatores ajudaram a predizer se a amizade seria mantida ou não. Mas um único fator pôde predizer quem seria elevado à posição de melhor amigo: a pessoa, nesses casos, era parte de um mesmo grupo (fraternidade, time etc.) ou pelo menos apoiava e reafirmava o papel do amigo dentro desse grupo. Um cristão podia ter como melhor amigo alguém que não tivesse religião, desde que esse amigo apoiasse sua identidade como cristão. E, como temos vários papéis na vida, é mais provável que nosso melhor amigo esteja ligado ao papel que é mais importante para nós, que melhor representa a nossa identidade.
Por que escolhemos assim os amigos? Segundo o estudo, além de isso estar relacionado a níveis maiores de intimidade e compreensão, também envolve o aumento da autoestima. Esse senso de identidade que influencia até o comportamento de viciados em drogas. Outro estudo de Weisz concluiu que as pessoas eram mais propensas a se livrar de seus vícios depois de três meses quando sentiam que seus papéis sociais e senso de identidade entravam em conflito com o uso de drogas.
“Nossas identidades sociais são tão importantes para nós que estamos dispostos a ficar com as pessoas que apoiam a nossa identidade social e nos afastar daqueles que não fazem isso. Podemos até mudar de amigos, quando os antigos não apoiam nossa visão atual de nós mesmos”, diz o artigo do Psychology Today. “A sabedoria popular diz que escolhemos os amigos por causa de quem eles são. Mas acontece que nós realmente os amamos por causa da maneira como eles apoiam quem nós somos.”
Como manter a amizade
De acordo com Debra Oswald, psicóloga da Universidade de Marquette (em Wisconsin, EUA), que estudou o relacionamento entre voluntários que estavam no ensino médio e seus melhores amigos, há quatro comportamentos básicos necessários para manter o vínculo – que valem para todo mundo, não importa se você tem 15 ou 70 anos.
Os dois primeiros são pontos que exploramos bastante até agora: tomar a iniciativa de se abrir e apoiar nossos amigos. O terceiro ponto é a interação. Não importa se o amigo é seu vizinho ou mora em outro continente: você precisa estar em contato com ele, seja escrevendo, conversando ao telefone, visitando. Felizmente, com a internet, a proximidade física tem pouco efeito sobre nossa capacidade de manter uma amizade.
Por fim, é importante ser positivo. Precisamos nos abrir com nossos amigos, mas isso não significa que está tudo bem ficar choramingando por horas e só ver o lado negativo de tudo. É claro que faz parte de ser amigo segurar a onda durante os perrengues da vida, mas, no final das contas, a intimidade que faz com que uma amizade prospere deve ser algo agradável e que faça bem para os dois lados.
Disponível em:<http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/o-segredo-das-amizades-que-duram/>
Por que Elvis foi coroado o rei do rock’n’roll?
Um resumo foi dado por Richie Unterberger na enciclopédia online All Music Guide: “Suas gravações da década de 50 estabeleceram a linguagem básica do rock’n’roll, enquanto sua presença de palco explosiva e sexual definiu os parâmetros para a imagem desse gênero musical”. Os fatos falam por si sós e levam a crer que, se dependesse de Bill Haley, o rock nunca teria ido além de modismo passageiro. Faltavam-lhe o carisma, a intensidade e a voz potente, infinitamente maleável, com que Elvis saiu do isolado circuito country do sul dos Estados Unidos para, em apenas dois anos (54 – 56), se tornar o maior ídolo da história da música. Sem ele, dificilmente o rock’n’roll teria se transformado em sucesso de massa e fenômeno social e comportamental. Sua inédita fusão de estilos musicais negros e de gospel é um dom especial para baladas românticas – rompeu as barreiras entre rock e pop, batendo todos os recordes de vendagem até então. Por tudo isso, dá para entender por que John Lennon declarou que “antes de Elvis não havia nada”.
(Rock! Coleção 100 Respostas, vol. 4: Mundo estranho apresenta. p.17)
O segredo da vida
(Marcelo Tas)
Desde jovem, ganho a vida fazendo perguntas. Primeiro como repórter, depois entrevistador e cutucador de dúvidas em várias mídias. Acredito piamente que o ponto mais importante na vida do ser humano é o ponto de interrogação.
Entre as dúvidas da vida, a maior de todas é, sem dúvida, a razão da nossa própria existência. Qual o segredo da vida? Ao longo do curto espaço de tempo que passamos no mundo, perseguimos essa questão e ela implacavelmente nos persegue de volta. A chegada dos filhos coloca uma lente de aumento no assunto.
Recentemente, em um evento empresarial, tive o privilégio de entrevistar o filósofo Mário Sergio Cortella e não perdi a oportunidade de passar a batata quente para ele.
– Filósofo, qual o segredo da vida?
Sem pestanejar, com a generosidade e a barba característica dos filósofos, Cortella respondeu com uma pausa dramática e seu vozerão grave em dolby stereo.
– O segredo da vida é que... vaca não dá leite!
As palavras do filósofo iluminaram a minha infância. Quando criança, fui ajudante mirim do meu avô João na fazenda, onde se tirava leite das vacas. Que trabalheira louca é tirar leite de uma vaca, lembrei. Acorda-se de madrugada, entra-se num curral forrado de puro excremento de vaca, confere-se as vacas, chama-se o bezerro correspondente a cada vaca pelo nome, o bicho vem doido para mamar, impede-se que ele mame tudo de uma vez, amarra-se o bezerro com uma cordinha nas pernas traseiras da mãe, amarra-se o rabo da vaca também na cordinha (senão ele vira um espanador de bosta fresca na cara da gente...). Até que, finalmente, agachado, numa posição desajeitada, o cidadão encarregado do trabalho inicia a tarefa de apertar com destreza uma a uma as quatro tetas da vaca, para que o jato de leite seja direcionado para dentro de um balde equilibrado entre suas pernas. Segue-se a repetição exaustiva do gesto até que o balde encha, para depois ser derramado dentro de um grande latão metálico de 50 litros. O final do processo é colocar os latões – uns três ou quatro, no caso da fazenda do meu avô – na caminhonete para ser entregue no laticínio da cidade. Um trabalhão.
Graças a esse ritual que acompanhei tantas vezes, adquiri ainda criança a clara noção do esforço gasto por tanta gente para que eu possa despejar o precioso líquido branco na xícara do café da manhã.
A plateia do evento corporativo, cerca de 2 mil gerentes de um grande banco, estava tão surpresa quanto eu com a resposta do filósofo. Cortella explicou que aquela foi a forma que encontrou de alertar os filhos dele para as virtudes do esforço para conquistar as coisas na vida. Prometeu aos filhos que, quando cada um completasse 13 anos de idade, o papai filósofo iria revelar o segredo da vida. Dito e feito.
No dia de completar 13 anos, o filho mais velho acordou Cortella bem cedo.
– Papai, hoje é o dia do meu aniversário.
– Parabéns, filho!
– Hoje faço 13 anos. É dia de você me revelar o segredo da vida.
– O filósofo encarou carinhosamente o menino e concluiu o ensinamento.
– O segredo da vida é que... vaca não dá leite, você tem que tirar.
Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Marcelo-Tas/noticia/2015/08/o-segredo-da-vida.html. Acesso em: 15/04/2018.
O homem cuja orelha cresceu
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de came, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco, incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para iá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fóra da cama. Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, cham aram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: “Por que ó senhor não mata o dono da orelha?”
(Ignácio de Loyoia Brandão, Os melhores contos de Ignácio de
Loyola Brandão. Seleção de Deonísio da Silva. São Paulo:
Global, 1993. p.135.)
O homem cuja orelha cresceu
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de came, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco, incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para iá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fóra da cama. Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, cham aram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: “Por que ó senhor não mata o dono da orelha?”
(Ignácio de Loyoia Brandão, Os melhores contos de Ignácio de
Loyola Brandão. Seleção de Deonísio da Silva. São Paulo:
Global, 1993. p.135.)
A pesquisa destaca que os participantes que assistiam televisão mais de três horas por dia quando eram jovens correm duas vezes mais riscos de ter problemas cognitivos ao longo da vida adulta do que aqueles que são mais ativos e passam menos tempo em frente à tela. SISTEMA 103 – CIÊNCIA E SAÚDE – 03/12/2015 11H15MIN)
As palavras sublinhadas, acima, pertencem à classe gramatical: