Leia o texto para responder à questão.
Os jovens e o futuro
Duas pesquisas recentes ouviram jovens de diferentes
faixas etárias, revelando suas expectativas em relação ao futuro e suas preferências em relação à educação.
Na primeira, em que foram ouvidos estudantes do ensino
médio de escolas públicas, apareceu com destaque a conexão com a escola, bem avaliada pela maioria, em particular
os que estudam em tempo integral. Mesmo assim, dados do
Inep de 2021 mostram que o abandono escolar mais do que
dobrou, indo de 2,6% para 5,6%.
92% dos jovens apoiam a ideia de se ter, nesta etapa, áreas alternativas de aprofundamento a serem selecionadas por
eles, como ocorre em países com bons sistemas educacionais.
De fato, imaginar que todos tenham que cursar 13 disciplinas,
espremidas em quatro horas e meia de aulas, oferecendo apenas um verniz de cada uma, faz pouquíssimo sentido.
Na segunda pesquisa, que focou nos jovens de 15 a 29
anos, apesar da constatação da maioria de que houve perdas irreparáveis com a pandemia, o desejo de estabilidade
financeira e moradia própria aparece como uma preocupação
maior do que a de prosseguir com os estudos, decisão, esta
última, fundamental, inclusive para se poder ter condições de
alcançar as duas primeiras. Sabe-se que cada ano adicional
de estudo, de acordo com o Banco Mundial, aumenta em até
15% a renda futura do trabalho.
Mas o que me chamou mais atenção nesta pesquisa
mais recente foi certa desesperança dos jovens quanto ao futuro. O altíssimo percentual deles que afirmam desejar deixar
o Brasil evidencia sim uma crise que afetou emprego e renda
de jovens, mas há algo mais no ar. Há uma percepção ingênua de que em outros países teriam uma vida bem melhor,
mesmo sem se dispor das qualificações necessárias para
navegar no que se convencionou chamar de “o futuro do trabalho”. Afinal, a automação acelerada de postos de trabalho
vem trazendo, por um lado, certa sofisticação nas demandas
de talentos pelo setor produtivo e, por outro, oferta de trabalhos precarizados e extremamente instáveis para os demais.
É urgente se construírem boas políticas públicas voltadas
aos jovens, incentivando-os a se manter estudando e criando
oportunidades para que possam realizar seus sonhos de futuro.
(Cláudia Costin. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/. 20.10.2022.
Adaptado)