Questões de Português - Crase para Concurso

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Q2086594 Português

Como a guerra de palavras molda as notícias

“Lutar com palavras

é a luta mais vã.

Entanto lutamos

mal rompe a manhã.

São muitas, eu pouco.” 


    Assim começa o poema “O Lutador” de Carlos Drummond de Andrade, a meu ver, um dos mais belos poemas sobre o ofício de escrever. Sobre a quase que impossibilidade de definir, seja lá o que (ou quem) for, com vocábulos, o que se pretende dizer ou expressar. Do alto de sua sabedoria infantil, Marcelo, o inesquecível personagem de “Marcelo, Martelo, Marmelo” (Ed. Salamandra), de Ruth Rocha, outra das nossas grandes autoras, já definiu bem a grande dúvida que ronda a origem das palavras, sejam elas em que língua forem:

“– Papai, por que mesa chama mesa?

– Ah, Marcelo, vem do latim.

– Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?

– Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.

– E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?”

    O pai de Marcelo, é claro, não soube responder à pergunta do garoto. E nós, tal como ele, muitas vezes nos pomos a perguntar por que uma pessoa usou tal palavra e não outra (ou outras) para comunicar alguma coisa, definir um conceito, contar uma história. E se perguntarmos a ela, muito provavelmente essa pessoa usará mais tantas outras para justificar a escolha daquela e assim,nos convencer que fez o melhor uso para descrever o que desejava. Longe de mim querer dar conta de explicar um fenômeno tão complexo como a linguagem nas poucas linhas deste artigo. Minha reflexão aqui é sobre como as palavras importam para moldar e explicar a nossa realidade. Nietzsche, um dos maiores filósofos de todos os tempos, disse que as palavras são pontes iridescentes que ligam coisas separadas. Faço um complemento à sua fala: e quando elas se juntam, são capazes de produzir sentido, a chave para que sigamos vivos, em ação, transformando o mundo em que vivemos. As palavras dão sentido à nossa experiência, ao que acontece ao nosso redor e ao que se passa com e em cada um de nós.

    Há mais de 30 dias vivemos uma experiência das mais complexas em diferentes sentidos com a guerra na Ucrânia. E como ela se dá para além dos tiros, bombas, das mortes brutais, e está acontecendo “em tempo real” nas mídias, nos relatos “ao vivo” de quem filma e/ou fotografa o inenarrável sofrimento humano e posta nas redes sociais, assistimos à tão falada “guerra das narrativas” na qual desenrola-se uma escolha cuidadosa de palavras que tentam dar conta de explicar os fatos que se desenrolam, minuto a minuto. Por que uns usam o termo “invasão” e outros “guerra”? E qual a razão de outros insistirem em dizer que se trata de “exercícios militares”, ou ainda de um “conflito” ou então de uma “ocupação”? É que quando você escolhe o termo guerra versus invasão, você selecionou um ponto de vista para explicar os fatos que conseguiu perceber – e, esperamos! – verificar.

    “Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo”, dizia um dos maiores semiólogos e linguistas do nosso tempo, o escritor italiano Umberto Eco. “Que leitor modelo eu queria, quando estava escrevendo? Um cúmplice, claro, que entrasse no meu jogo. (...) Um texto quer ser uma experiência de transformação para o próprio leitor”. Estar consciente desse jogo, conhecer as regras da construção das mensagens é uma das grandes habilidades a serem conquistadas pelos cidadãos dessa Era da (Des)Informação, e um dos pilares da Educação para as Mídias. É fundamental que o leitor (re)conheça que cada notícia é composta por um conjunto de palavras, de termos, que contam uma determinada história, sob um ponto de vista específico, que interessa a um certo grupo de pessoas e/ou instituições. Faz tempo que o mito da objetividade jornalística caiu por terra, por isso, para se formar um leitor crítico, há que prepará-lo para desenvolver uma certa dose de ceticismo saudável, aliado a uma investigação constante dos muitos porquês que envolvem a construção de uma mensagem.

    A chamada grande mídia vem sendo profundamente abalada pelo advento das redes sociais, onde todos e qualquer um é jornalista. Daí a importância de se frisar que se a objetividade jornalística é uma quimera, a objetividade, em si, é um método, não um ponto de vista. E o bom jornalismo faz uso dela quando estabelece critérios claros (e bem expostos em sua política editorial) para publicar um conteúdo, pesquisando o contexto no qual ele se desenrola, conhecendo os mais diversos e diferentes pontos de vista sobre o que se está contando, analisando todas as informações coletadas, fazendo perguntas – tantas quantas forem necessárias para trazer mais clareza ao fato – e escolhendo palavras que sejam molduras o mais próximas possível do que se quer retratar. “As palavras são imprecisas. Elas nunca capturam totalmente o que está acontecendo. Há uma diferença qualitativa entre um jornalista que usa palavras de forma imprudente e um que está lutando, revisando e atualizando sua linguagem à medida que sabe mais (...) as palavras também têm um significado público quando absorvidas pela mídia. As palavras têm definições, mas também conotações e significados culturais, dependendo do contexto em que são usadas. E tudo isso está em jogo nas notícias”, afirma o jornalista e articulista do periódico digital Medium, Jeremy Littau.

    A afirmação do jornalista americano explica de maneira bastante simples porque cada um lê a notícia do jeito que lhe interessa, afinal, cada termo selecionado se encaixa na moldura que o leitor tem, aquela que lhe possibilita ver e compreender o mundo em que vive. Nesse sentido, nunca é demais lembrar que o poder está, de fato, na mão do leitor. Em uma sociedade letrada como a nossa, a leitura (e aqui me refiro a ela como a possibilidade de ler/ver/ouvir em quaisquer suportes) é um instrumento precioso para que interpretemos a realidade e então, possamos devolver a nossa percepção dela para a nossa comunidade e com isso, construirmos a nossa história. O exercício da leitura nos dá a possibilidade de questionar e elaborar as nossas perguntas e respostas a partir da nossa experiência. O leitor crítico quer acessar as notícias, mas sobretudo quer entendê-las e encontrar sentido nelas e para elas. Aquecimento global ou mudança climática? Protesto ou motim? Combate ou luta? Você escolhe como explicar ou compreender, meu caro leitor.

(ALVES, Januária Cristina. Como a guerra de palavras molda as notícias. Jornal Nexo. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/ 2022/Como-a-guerra-de-palavras-molda-as-not%C3%ADcias. Acesso em: 05/04/2022. Adaptado.)

Das passagens transcritas a seguir, qual apresenta um emprego INADEQUADO do acento indicativo de crase, considerando as prescrições estabelecidas pela norma culta escrita?
Alternativas
Q2086557 Português

Aquilo por que vivi


    Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso instável, por sobre profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero. 

     Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual a nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime.

    Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui. 

    Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta a terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a constituir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria de ser a vida humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro. 

    Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.


(Bertrand Russel. Autobiografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. Adaptado.)


Em “Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso instável, por sobre profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.” (1º§), o sinal indicativo de crase foi empregado corretamente. Entretanto, tal fato NÃO ocorre em: 
Alternativas
Q2086132 Português
INSTRUÇÃO: A questão diz respeito ao TEXTO 2. Leia-o atentamente para respondê-las.

TEXTO 2

Sintomas iniciais de Covid-19 podem variar de acordo com idade e sexo

Pesquisa no Reino Unido detectou diferenças na manifestação da doença entre pessoas acima e abaixo de 60 anos e entre homens e mulheres. Entenda.

    Conforme a pandemia de Covid-19 avança, cada vez mais a ciência conhece as diferentes manifestações da doença causada pelo Sars-CoV-2 em diversos grupos de pessoas. Um estudo publicado na última quinta-feira (29) no jornal científico Lancet Digital Health indica que os sintomas da infecção pelo novo coronavírus são diferentes de acordo com a idade e o sexo daqueles que foram contaminados.

    De acordo com a pesquisa, as principais divergências se dão entre os grupos mais jovens (16 a 59 anos) em relação aos mais velhos (60 a 80 anos). Para chegar às conclusões, os cientistas analisaram dados de abril a outubro de 2020 registrados no aplicativo do levantamento ZOE COVID Symptom Study, conduzido no Reino Unido. As pessoas que reportaram algum sintoma no app foram instruídas a fazer o teste para Covid-19 até três dias após o início da manifestação. Dessa forma, os autores conseguiram rastrear 80% dos casos.

    Um sistema de aprendizado de máquina cruzou os dados dos sintomas com informações como idade, sexo e condições de saúde dos participantes. Foi aí que os estudiosos chegaram a 18 sintomas iniciais diferentes de Covid-19. De modo geral, os mais comuns foram perda do olfato, dor no peito tosse persistente, dor abdominal, bolhas nos pés, olhos doloridos e dor muscular fora do normal.

     No entanto, entre os indivíduos acima de 60 e 80 anos, a perda da capacidade olfativa foi menos relevante do que nos mais jovens. Por outro lado, diarreia foi uma manifestação bem mais significativa nos idosos.

    Analisando as diferenças entre os sexos, homens se mostraram mais propensos a ter dificuldade para respirar, fadiga e calafrios; já as mulheres estão mais sujeitas à anosmia, além de dor no peito e tosse persistente. [...]

Redação Galileu. Sintomas iniciais de Covid-19 podem variar de acordo com idade e sexo. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2021/07/sintomas-iniciaisde-covid-19-podem-variar-de-acordo-com-idade-e-sexo.html. Acesso em 08 ago.2021.


Leia este trecho.
    Para chegar às conclusões, os cientistas analisaram dados de abril a outubro de 2020 registrados no aplicativo do levantamento ZOE COVID Symptom Study, conduzido no Reino Unido.
O uso da crase nesse trecho deve-se ao fato de o termo
Alternativas
Q2084603 Português

Texto 2 


Relações de poder e decisão: conflitos entre médicos e administradores hospitalares 

      


RAM, Rev. Adm. Mackenzie 11 (6) • Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1678- 69712010000600004

Analise o espaço vazio 1 do Texto 2 (l.27) e as opções abaixo


I. a

II. à

III. há


A(s) forma(s) que preenche(m) o espaço vazio 1 de forma ortográfica, gramaticalmente coesa e que respeita as regras de concordância nominal da gramática tradicional do português brasileiro é/são:

Alternativas
Q2082064 Português
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
I. ___ exceção da TV Cultura, nenhuma outra emissora disponibiliza intérprete de Libras nos telejornais. II. ___ 22 anos o Brasil aprovou a Lei de Libras, ___ qual teve grande impacto na vidas dos surdos. III. A acessibilidade comunicacional em Libras é essencial ___ formação dos surdos em sala de aula. IV. Quando os surdos eram proibidos de sinalizar, eles o faziam ___ escondidas. V. Os pesquisadores brasileiros têm dado maior atenção ___ Libras nos últimos tempos.
Alternativas
Respostas
1001: B
1002: D
1003: C
1004: B
1005: B