Questões de Concurso
Sobre figuras de linguagem em português
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“Um mar azul turquesa à la Istambul enchendo os olhos” (Texto IV, verso 2)
No verso destacado, há a presença de figuras de linguagem, dentre as quais destacam-se
Texto III
Soneto de fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
Que mesmo em face do maior encanto,
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure,
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, fim de quem ama,
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes
Leia as afirmativas a seguir, feitas sobre o texto:
I. No início, observa-se a presença de um hipérbato, já que houve uma troca na sequência normal dos termos da oração.
II. No oitavo verso (“Ao seu pesar ou seu contentamento”), os substantivos antitéticos expressam uma ideia contraditória.
III. No sétimo verso (“E rir meu riso e derramar meu pranto”) existe um pleonasmo; porém, devido ao seu valor enfático, não podemos considerá-lo vicioso.
IV. A palavra “chama”, no penúltimo verso, é uma metonímia de um termo anteriormente expresso: amor.
V. O poema, em sua totalidade, expressa o grande amor do poeta por uma mulher.
Assinale a alternativa correta:
Texto: Eu e a enxaqueca, uma história de amor
1º Eu sou meio figurinha carimbada no circuito de triagem clínica de enxaqueca. Os pesquisadores me adoram, principalmente pelo número prodigioso de crises que tenho: de dez a 12 por mês, em média. “Que coisa fantástica. Uma fonte excelente de dados”, comemorou o coordenador da minha última análise de fármaco quando lhe mostrei o diário exclusivo para as dores de cabeça que mantenho há anos.
2º “Excelente para você”, retruquei. Para mim, representa quase um terço da vida sendo refém do horror da enxaqueca, incluindo os três dias por mês, pelo menos, que passo de cama, consumida pela dor paralisante e a náusea intensa.
3º Experimentei mais de uma dúzia de remédios preventivos e participei de uma série de triagens para medicamentos em teste. Nenhum ajudou; alguns, inclusive provocaram dores horríveis. O fato é que todos foram criados para tratar outros males, e só depois investidos na enxaqueca, depois que pacientes hipertensos, convulsivos e bipolares relataram uma melhora coincidente nas dores de cabeça de que sofriam.
4º Atualmente, participo de uma triagem para um remédio específico. Seu alvo é o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, substância neuroquímica que faz os vasos sanguíneos incharem – e que é o que as pessoas que sofrem desse mal aparentemente produzem em demasia.
5º Pela primeira vez na vida, pareço estar sentindo um certo alívio. E o pior efeito colateral até agora é um otimismo profundo, embora ele venha acompanhado de complicações inesperadas. Depois de anos experimentando todo tipo de medicamento, já não me p
reocupo mais com a ineficácia porque é o que sempre acontece. Percebi desta vez uma nova preocupação: e se desta vez funcionar?
6º Tive a primeira crise de enxaqueca aos 12 anos – e depois veio outra, e outra. A princípio, não sabia o que era. Meus pais achavam que eu era só hipersensível à gripe, problema que eles esperavam e eu dava como certo que ia superar. Adolescente motivada e dedicadíssima, acreditava que todas as portas estavam abertas para mim, em termos de carreira: astronauta, médica, a primeira presidente mulher.
7º Foi só no primeiro ano em Yale que tive minha enxaqueca
diagnosticada, quando também me toquei de que não ia superá-la.
As portas começaram a se fechar. O fato de ter que passar dias
seguidos sem poder me levantar parecia eliminar a possibilidade de
carreira em uma profissão da qual dependiam vidas – ou seja, a
medicina cirúrgica estava fora de questão. Também desconfiei que
as enxaquecas crônicas atrapalhariam uma candidata à presidência muito antes de as dores de cabeça de Michele Bachmann se
tornarem manchete. Optei então pelo jornalismo.
8º Já faz mais de 20 anos que a enxaqueca ocupa um espaço central, ainda que indesejável, na minha vida, meio como a irmã detestável que eu nunca tive. Ela também ajudou a moldar a pessoa em que me tornei. E não só me ajudou a desenvolver uma tolerância bem alta à dor, como a aperfeiçoar a técnica do vômito em jato. E, agora que me deparo com a perspectiva quase inimaginável de me livrar da dor para sempre, começo a perceber que nem consigo imaginar a vida sem ela.
9º A possibilidade do surgimento de um remédio “prodígio” gera emoções conflitantes por várias razões. Para começar que, se tivesse sido inventado antes, eu poderia ter me tornado astronauta. E se a solução é realmente tão simples – olha, seu organismo gera esse tal de peptídeo em demasia, está aqui o remédio para inibir a produção –, fica difícil entender por que demorou tanto para ser inventado.
10º A cura também representaria um novo fardo. Dizer que fiz o melhor que pude “apesar da enxaqueca” livra a minha cara por tudo aquilo que não fiz, tipo tornar-me a primeira mulher na presidência. Se esse medicamento funcionar, nada vai me impedir de fazer coisas excepcionais – e, ao mesmo tempo, acabará com a desculpa para não as realizar.
11º Por outro lado, e se foi a enxaqueca que me ajudou a conquistar tudo o que consegui até agora? Scott Sonenshein, professor da Faculdade de Administração Jones da Universidade Rice, afirma que conseguimos realizar mais quando nossos recursos (no meu caso, a saúde) são limitados do que quando são abundantes. “As restrições podem ser motivação para desenvoltura, para a criatividade, estímulo para uma solução melhor dos problemas”, escreve ele em seu livro, Stretch.
12º É fato que, graças à enxaqueca, aprendi muita coisa interessante e útil – como fazer todos os meus trabalhos antes do prazo, para o caso de a dor de cabeça atacar na última hora. Fazer as coisas apesar dela quando absolutamente necessário – e a pegar leve comigo mesma no resto do tempo. Aprendi a pedir ajuda quando precisava. Será que a ausência da enxaqueca me fará menos responsável, menos diligente? Ou fará com que eu me dedique em dobro, sabendo que não vou acabar tendo uma dor paralisante se me esforçar demais? Tenho muitas perguntas em relação a essa possível versão futura de mim mesma. (E uma para a Nasa: qual é o limite de idade para o treinamento dos astronautas?)
13º É claro que, se uma crise de identidade é o preço para acabar com a dor debilitante no meu cérebro, pagarei com muito prazer. Passei décadas sonhando com uma cura, geralmente deitada no quarto escuro, com um saco de ervilhas congeladas contra o rosto. A surpresa é eu sentir qualquer resquício de nostalgia em relação a esses tempos – mas percebo agora que uma parte de mim sentirá saudades.
LATSON, Jennifer
Texto adaptado. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/saber-viver/eu-a-enxaqueca-uma-historia-deamor-23178050 Acessado em 16/03/2019.
Leia o texto abaixo para responder a questão.
O que é ser menina na era digital
Todos os dias, mais de 1 milhão de selfies são tiradas mundo afora. Os jovens se destacam como os maiores adeptos desses autorretratos da era virtual - e, entre eles, as meninas aparecem em primeiro lugar. De acordo com um estudo global que analisou cinco metrópoles - São Paulo, Bangcoc, Berlim, Moscou e Nova York-elas publicam mais fotos de si mesmas do que os rapazes. Na capital paulista, 65% das selfies são de mulheres, em sua maioria, jovens. É a cidade, entre as pesquisadas, com o maior percentual de meninas, que se autofotografam com um sorriso no rosto. O estudo foi batizado de Selfiecity (junção de selfie com city, a cidade das selfies).
Não é de estranhar, portanto, que o mundo digital - em especial, o universo das redes sociais - venha transformando a maneira como as adolescentes amadurecem e se afirmam como mulheres. Essa é a tese por trás de dois livros publicados recentemente nos Estados Unidos. Em American Girls: Social Media and the Secret Life of Teenagers (em inglês: Meninas Americanas: Redes Sociais e a Vida Secreta das Adolescentes), a jornalista Nancy Jo Sales se dedica a explicar de que forma a experiência virtual, temperada por curtidas e selfies, influencia o modo como as garotas se veem e como se mostram ao mundo. Já Girls & Sex (Meninas e Sexo), de Peggy Orenstein, aborda um assunto ainda mais delicado: a maneira como os nudes (selfies tiradas sem roupa) transformaram e anteciparam a descoberta da sexualidade das garotas. As duas obras acendem um alerta para os pais, sobretudo os que estão criando filhas.
Para Nancy Jo Sales, a busca por atenção no Facebook faz com que as meninas da era da internet “se sintam em um constante concurso de beleza.” Eis a definição de uma garota de 13 anos em depoimento incluído em American girls: “Todo mundo quer tirar uma selfie tão boa quanto as da Kardashian”. Segundo a escritora, as jovens querem ser reconhecidas como a famosa socialite Kim Kardashian, casada com o músico Kayne West e que em suas redes sociais mostra sua rotina de princesa. As adolescentes americanas, segundo Nancy Jo Sales, querem ser igual à socialite, pois para a maior parte deles, a vida ordinária e comum é a realidade mais imediata.
Uma das versões brasileiras próxima de Kardashian é Gabriela Pugliesi, de 30 anos. Ela conquistou notoriedade sem exibir nenhum talento. Como alcançou a fama? Compartilhando fotos em que mostrava o corpo malhado. Em novembro passado, Gabriela teve a equivocada ideia de sugerir a seus seguidores (que só no Instagram somam 2,3 milhões) que vazassem fotos de amigas nuas caso elas não conseguissem ser “firmes” em suas dietas de emagrecimento. Vale lembrar: boa parte dos fãs de Gabriela é formada por meninas de seus 15 anos.
Uma selfie - ou mesmo um nude - pode soar inocente, uma brincadeira da juventude, contudo suas consequências às vezes são trágicas. Em 2013, a gaúcha Giana Laura Fabi, de 16 anos, suicidou-se depois que se tornaram públicos retratos com seus seios à mostra - ela havia enviado as imagens a um rapaz via Skype. Uma análise de estudos realizados em doze países, feita pela Universidade de Queensland, na Austrália, mostrou que não receber likes em uma publicação gera ansiedade, e por vezes, depressão. Na opinião da autora, isso ocorre devido à pressão para que jovens mulheres “reduzam o valor que dão ao corpo e passem a vê-lo como uma coleção de partes que existem para agradar aos outros”. As selfies têm levado meninas à mesa de cirurgia: nos EUA houve um aumento de 71% no número de implantes no queixo em adolescentes porque as pacientes queriam ficar mais “bonitas” nos autorretratos digitais. Ser adolescente - e do gênero feminino -nunca foi fácil, o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) dizia que a juventude é “embriaguez sem vinho”. Parece, entretanto, que o mundo conectado elevou a novos patamares os típicos problemas desta fase da vida.
Fonte: Revista Veja, com reportagem de Luiza Donatelli.
“Todo mundo quer uma selfie tão boa quanto as da Kardashian.”
Na primeira oração do excerto, há:
"Todos estamos deitados na sarjeta, só que alguns
estão olhando para as estrelas."
Esta citação foi tirada de O leque de lady Windermere, uma obra de teatro de Oscar Wilde que estreou em Londres em 1892. Ela nos faz lembrar que, independentemente de nossa situação, o que importa é a perspectiva que mantemos.
Há pessoas que aparentemente têm tudo na vida - saúde, beleza, dinheiro, liberdade - e são infelizes. Isso acontece porque elas fixam a atenção naquilo que lhes falta ou simplesmente não sabem o que querem da vida.
Outras, ao contrário, vivem situações penosas, mas são capazes de enxergar um cantinho do jardim onde bate um raio de sol.
A escritora, filósofa e conferencista norte-americana Helen Keller, que ficou cega e surda ainda muito jovem, explicava assim seu segredo para nunca deixar de ver as estrelas:
Abro as portas do meu sera tudo o que é bom e as fecho cuidadosamente diante do que é ruim. Essa força tão bela e persistente me permite enfrentar qualquer obstáculo. Nunca me sinto desanimada, pensando que me faltam coisas boas. A dúvida e a insegurança são apenas o pânico gerado por uma mente fraca. Com um coração firme e uma mente aberta, tudo se torna possível.
(Fonte: PERCY, Allan. Oscar Wilde para inquietos, p. 10.)
Rio de Lama, Rio de Lágrimas.
Ainda aturdida por duas imensas tragédias sem conserto para vidas e lugares atingidos, escrevo sobre uma, na Europa, que assusta o mundo e outra, no Brasil, que deveria nos assustar especialmente. Vejo em capitais brasileiras vigílias pela carnificina em Paris. São justas, não só porque qualquer cidade assim ferida merece homenagens, mas porque para muitíssimos Paris é uma cidade especial. E esse foi anunciado pelos autores como sendo apenas um primeiro golpe na tempestade. Pela extensão e sofisticação de sua capacidade destrutiva, e pelos locais de preparação antes nunca imaginados, mas que começam a ser descobertos, outros países estão na mira, pela Europa inteira. Sem falar na Olimpíada do ano próximo, no Brasil.
Todos alertas, todos assustados, todos um tanto perplexos com essa tragédia - e outra ainda maior e mais complexa se anuncia, ou já começou: a chegada de milhões de refugiados, migrantes sofridos e necessitados, parece ser cavalo de Troia com que se movem facilmente bandos de terroristas assassinos. O que fazer, como fazer, perguntam-se os líderes dos países envolvidos. Mesmo quem recebia os migrantes com alguma boa vontade começa a rever sua postura, pensar em mudar leis, levantar muros de toda sorte: pagarão inocentes por alguns culpados. “A vida não é justa”, suspiramos.
Mas esperei entre nós vigília e lágrimas pelo Brasil por este que é um dos maiores crimes ambientais do mundo: protesto e pranto pela morte do Rio Doce, miseravelmente envenenado e travado pela lama, que mata as águas do Doce e de seus afluentes, os peixes, os bichos, os campos cultivados, as pastagens, as plantações, as pessoas - quantas de verdade? Que providências se tomam? O que se faz para encontrá-las, além de urubus, cães e paus enfiados na lama repulsiva para ver se dali sai “odor”?
Morrem também profissões na região, como as de agricultor e pescador: um velho pescador declara aos prantos que sua profissão não existe mais por ali. A extensão é vastíssima, quilômetros de esterilização, envenenamento, em suma, assassinato. Pois o desastre era previsível: laudos anteriores alertavam para a fragilidade das barragens, e aparentemente nada foi feito, além de negar, desviar os olhos, e de novo negar. “Nada de barulho, pois podemos ter problemas.” E os trágicos problemas chegaram: segundo Sebastião Salgado, a “cura” das águas e terras levará de vinte a trinta anos.
O grande fotógrafo e humanista (sim) internacionalmente admirado nasceu e cresceu junto ao Doce, onde criou com sua parceira, Lélia, o maravilhoso projeto de revitalização de zonas quase mortas décadas atrás, o Instituto Terra. Agora, tudo está pior do que antes dos esforços deles. Recuperar toda aquela região, que vai de Mariana ao mar no Espírito Santo, onde certamente haverá muita contaminação, custará não apenas somas incríveis - projeto que ele já tinha proposto ao BNDES algum tempo atrás foi aprovado, mas não houve o repasse do dinheiro -, como terá de manter aceso por décadas o interesse num país de momento tão superficial, tão desinteressado, tão focado em poder, poder, e fuga à responsabilidade, ocultamento de crimes, e salvação das próprias feias peles. Não sou otimista. Até aqui só vi, como em geral neste país, promessas de planos, projetos, eternas comissões ineficientes e mornas, pouquíssima ação concreta, também nesta crise: mesmo na busca de mortos, lenta e atrasada. Ficarão emparedados na lama que, ao secar, parece cimento. Homens, mulheres, crianças, velhos, eternamente ocultos, a não ser para os corações que por eles choram. O que está fazendo o Brasil para compensar todo esse sofrimento, cada vez menos mencionado?
Precisamos de lágrimas e vigílias pelos inocentes chacinados na França, mas de movimentos vibrantes pelo que, aqui entre nós, vem sendo lentamente assassinado, e agora foi brutalmente soterrado pelo rio de lama, de lágrimas, de pouca esperança. Vamos trabalhar, e nos manifestar, e chorar, com Sebastião Salgado.
Fonte: Lya Luft - 25 de novembro de 2015)
Rio de Lama, Rio de Lágrimas.
Ainda aturdida por duas imensas tragédias sem conserto para vidas e lugares atingidos, escrevo sobre uma, na Europa, que assusta o mundo e outra, no Brasil, que deveria nos assustar especialmente. Vejo em capitais brasileiras vigílias pela carnificina em Paris. São justas, não só porque qualquer cidade assim ferida merece homenagens, mas porque para muitíssimos Paris é uma cidade especial. E esse foi anunciado pelos autores como sendo apenas um primeiro golpe na tempestade. Pela extensão e sofisticação de sua capacidade destrutiva, e pelos locais de preparação antes nunca imaginados, mas que começam a ser descobertos, outros países estão na mira, pela Europa inteira. Sem falar na Olimpíada do ano próximo, no Brasil.
Todos alertas, todos assustados, todos um tanto perplexos com essa tragédia - e outra ainda maior e mais complexa se anuncia, ou já começou: a chegada de milhões de refugiados, migrantes sofridos e necessitados, parece ser cavalo de Troia com que se movem facilmente bandos de terroristas assassinos. O que fazer, como fazer, perguntam-se os líderes dos países envolvidos. Mesmo quem recebia os migrantes com alguma boa vontade começa a rever sua postura, pensar em mudar leis, levantar muros de toda sorte: pagarão inocentes por alguns culpados. “A vida não é justa”, suspiramos.
Mas esperei entre nós vigília e lágrimas pelo Brasil por este que é um dos maiores crimes ambientais do mundo: protesto e pranto pela morte do Rio Doce, miseravelmente envenenado e travado pela lama, que mata as águas do Doce e de seus afluentes, os peixes, os bichos, os campos cultivados, as pastagens, as plantações, as pessoas - quantas de verdade? Que providências se tomam? O que se faz para encontrá-las, além de urubus, cães e paus enfiados na lama repulsiva para ver se dali sai “odor”?
Morrem também profissões na região, como as de agricultor e pescador: um velho pescador declara aos prantos que sua profissão não existe mais por ali. A extensão é vastíssima, quilômetros de esterilização, envenenamento, em suma, assassinato. Pois o desastre era previsível: laudos anteriores alertavam para a fragilidade das barragens, e aparentemente nada foi feito, além de negar, desviar os olhos, e de novo negar. “Nada de barulho, pois podemos ter problemas.” E os trágicos problemas chegaram: segundo Sebastião Salgado, a “cura” das águas e terras levará de vinte a trinta anos.
O grande fotógrafo e humanista (sim) internacionalmente admirado nasceu e cresceu junto ao Doce, onde criou com sua parceira, Lélia, o maravilhoso projeto de revitalização de zonas quase mortas décadas atrás, o Instituto Terra. Agora, tudo está pior do que antes dos esforços deles. Recuperar toda aquela região, que vai de Mariana ao mar no Espírito Santo, onde certamente haverá muita contaminação, custará não apenas somas incríveis - projeto que ele já tinha proposto ao BNDES algum tempo atrás foi aprovado, mas não houve o repasse do dinheiro -, como terá de manter aceso por décadas o interesse num país de momento tão superficial, tão desinteressado, tão focado em poder, poder, e fuga à responsabilidade, ocultamento de crimes, e salvação das próprias feias peles. Não sou otimista. Até aqui só vi, como em geral neste país, promessas de planos, projetos, eternas comissões ineficientes e mornas, pouquíssima ação concreta, também nesta crise: mesmo na busca de mortos, lenta e atrasada. Ficarão emparedados na lama que, ao secar, parece cimento. Homens, mulheres, crianças, velhos, eternamente ocultos, a não ser para os corações que por eles choram. O que está fazendo o Brasil para compensar todo esse sofrimento, cada vez menos mencionado?
Precisamos de lágrimas e vigílias pelos inocentes chacinados na França, mas de movimentos vibrantes pelo que, aqui entre nós, vem sendo lentamente assassinado, e agora foi brutalmente soterrado pelo rio de lama, de lágrimas, de pouca esperança. Vamos trabalhar, e nos manifestar, e chorar, com Sebastião Salgado.
Fonte: Lya Luft - 25 de novembro de 2015)
PERSISTÊNCIA
Máxima latina antiga, sábia, “a gota escava a pedra". Se há algo absolutamente frágil rente a uma rocha é uma gota d’água. Não é à toa que circula o ditado 'água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. A persistência pode estar no campo positivo, isto é, a capacidade de ir adiante, de não desistir, mas também, no negativo: persistir em algo que está equivocado, persistirem algo que seja um desvio de rota.
A noção de persistência, quando colocada gota a gota, traz uma indicação muito séria da forma como a paciência deve entrar na persistência. Paciência não é lerdeza. E a capacidade de admitir a maturação e dar o tempo necessário aos nossos processos de conceber, de fazer, seja na nossa carreira, seja no nosso trabalho, seja na família, seja no atingimento de algum objetivo,
A máxima latina “a gota escava a pedra" é uma orientação da natureza para mostrar o valor da persistência quando ela é positiva, é capaz de ajudar a chegar ao lugar a que se deseja passo a passo.
Não de maneira lerda, não de maneira demorada, mas não desistindo, ou seja, não deixar de lado aquilo que necessita de fôlego, no estudo, na organização da vida, na certeza daquilo que se precisa conseguir.
(CORTELLA, Mário Sérgio. Pensar bem nos faz bem! Vozes p.99)
Utilize o Fragmento a seguir para responder a questão: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura".
Ao dar características animadas a seres inanimados, foi
usado(a):
Quando era novo, em Pringles, havia donos de automóveis que se gabavam, sem mentir, de tê-los desmontado “até o último parafuso” e depois montá-los novamente. Era uma proeza bem comum, e tal como eram os carros, então, bastante necessária para manter uma relação boa e confiável com o veículo. Numa viagem longa era preciso levantar o capô várias vezes, sempre que o carro falhava, para ver o que estava errado. Antes, na era heroica do automobilismo, ao lado do piloto ia mecânico, depois rebaixado a copiloto. [...]
Na realidade, os bricoleurs* de vila ou de bairro não se limitavam aos carros, trabalhavam com qualquer tipo de máquinas: relógios, rádios, bombas d´água, cofres. [...] Desnecessário dizer, assim, que desde que os carros vêm com circuitos eletrônicos, o famoso “até o último parafuso” perdeu vigência.
Houve um momento, neste último meio século, em que a humanidade deixou de saber como funcionavam as máquinas que utiliza. De forma parcial e fragmentária, sabem apenas alguns engenheiros dos laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento de algumas grandes empresas, mas o cidadão comum, por mais hábil e entendido que seja, perdeu a pista há muito. Hoje em dia usamos os artefatos tal como as damas de antigamente usavam os automóveis: como “caixas-pretas”, com um Input (apertar um botão) e um Output (desliga-se o motor), na mais completa ignorância do que acontece entre esses dois polos.
O exemplo do carro não é por acaso, acredito ter sido a máquina de maior complexidade até onde chegou o saber do cidadão comum. Até a década de 1950, antes do grande salto, quando ainda se desmontavam carros e geladeiras no pátio, circulava uma profusa bibliografia com tentativas patéticas de seguir o rastro do progresso. [...]
Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas. Ninguém se assusta por não saber o que acontece dentro do mais simples dos aparelhos de que nos servimos para viver. [...]
O que aconteceu com as máquinas é apenas um indício concreto do que aconteceu com tudo. A sociedade inteira virou uma caixa-preta. A complicação da economia, os deslocamentos populacionais, os fluxos de informação traçando caprichosas espirais num mundo de estatísticas contraditórias, acabaram por produzir uma cegueira resignada cuja única moral é a de que ninguém sabe “o que pode acontecer”; ninguém acerta os prognósticos, ou acerta só por casualidade. Antes isso acontecia apenas com o clima, mas à imprevisibilidade do clima o homem respondeu com civilização. Agora a própria civilização, dando toda a volta, se tornou imprevisível.
(César Aira. In: Marco M. Chaga, org. Pequeno manual de procedimentos. Tradução: Eduardo Marquardt. Cuuritiba: Arte & Letra, 2007, p.49-51)
* bricoleur: aquele que faz qualquer espécie de trabalho
Considere a oração “Hoje vivemos num mundo de caixas-pretas.”(5º§) para responder à questão.
A oração em questão tem sua expressividade
estruturada por meio da seguinte figura de estilo:
TEXTO 1
Este livro começou em 12 de outubro de 2007. (...) Eu já tinha uma proposta na cabeça. Ou melhor, várias (...). Foi aí que começou a aventura. Todas as minhas ideias foram rejeitadas. E veio a provocação final:
— Por que não falar da sua experiência como ator negro?
As duas perguntas que mais fazem a um ator negro, além das básicas “Esse personagem é um presente para você?” e “Você prefere fazer teatro, cinema ou tv?”, são:
— Sendo um ator negro, o que acha dessa coisa toda de racismo?
— Como é fazer um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... negro? Quando ouço essa última, sempre me dá vontade de responder algo bem esdrúxulo, do tipo: “Não sei, pois nunca fiz um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... verde”.
Às vezes, e sei que você que me lê agora também faz isso, no meio de uma conversa viajo para um universo paralelo e lembro ou imagino coisas. Neste momento, o universo paralelo se abriu e me lembrei de um papo que tive com Wagner (o Moura) depois que nos mudamos de Salvador para o Rio (...), em que ele, meio entristecido, disse que estava cansado, pois só era chamado para fazer papéis de bandido ou nordestino.
— E eu, brother, que só sou chamado para fazer negro? Você, pelo menos, ainda tem duas opções — brinquei.
(...)
Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada.
(...) A palavra “identidade”, que passou a aparecer com cada vez mais frequência, calou fundo em mim. Ao mesmo tempo, comecei a ter a clareza de que essa não é uma “questão dos negros”. É uma questão de qualquer cidadão brasileiro, ela diz respeito ao país, é uma questão nacional. Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça.
RAMOS, LÁZARO. Na minha pele. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017, p. 9-10, 12-13.
TEXTO 1
Este livro começou em 12 de outubro de 2007. (...) Eu já tinha uma proposta na cabeça. Ou melhor, várias (...). Foi aí que começou a aventura. Todas as minhas ideias foram rejeitadas. E veio a provocação final:
— Por que não falar da sua experiência como ator negro?
As duas perguntas que mais fazem a um ator negro, além das básicas “Esse personagem é um presente para você?” e “Você prefere fazer teatro, cinema ou tv?”, são:
— Sendo um ator negro, o que acha dessa coisa toda de racismo?
— Como é fazer um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... negro?
Quando ouço essa última, sempre me dá vontade de responder algo bem esdrúxulo, do tipo: “Não sei, pois nunca fiz um médico, arquiteto, surfista, Roque Santeiro, boêmio da Lapa, padre, gay ou seja lá quem for... verde”.
Às vezes, e sei que você que me lê agora também faz isso, no meio de uma conversa viajo para um universo paralelo e lembro ou imagino coisas. Neste momento, o universo paralelo se abriu e me lembrei de um papo que tive com Wagner (o Moura) depois que nos mudamos de Salvador para o Rio (...), em que ele, meio entristecido, disse que estava cansado, pois só era chamado para fazer papéis de bandido ou nordestino.
— E eu, brother, que só sou chamado para fazer negro? Você, pelo menos, ainda tem duas opções — brinquei.
(...)
Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada.
(...) A palavra “identidade”, que passou a aparecer com cada vez mais frequência, calou fundo em mim. Ao mesmo tempo, comecei a ter a clareza de que essa não é uma “questão dos negros”. É uma questão de qualquer cidadão brasileiro, ela diz respeito ao país, é uma questão nacional. Para crescer, o Brasil precisa potencializar seus talentos, e o preconceito é um forte empecilho para que isso aconteça.
RAMOS, LÁZARO. Na minha pele. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017, p. 9-10, 12-13.
Analise o trecho:
“Às vezes, e sei que você que me lê agora também faz isso, no meio de uma conversa viajo para um universo paralelo e lembro ou imagino coisas.”
Assinale a alternativa correta.
Os Três Porquinhos e o Lobo, “Nossos Velhos Conhecidos”
Era uma vez Três Porquinhos e um Lobo Bruto. Os Três Porquinhos eram pessoas de muito boa família, e ambos tinham herdado dos pais, donos de uma churrascaria, um talento deste tamanho. Pedro, o mais velho, pintava que era uma maravilha – um verdadeiro Beethoven. Joaquim, o do meio, era um espanto das contas de somar e multiplicar, até indo à feira fazer compras sozinho. E Ananás, o menor, esse botava os outros dois no bolso – e isso não é maneira de dizer. Ananás era um mágico admirável. Mas o negócio é que – não é assim mesmo, sempre? – Pedro não queria pintar, gostava era de cozinhar, e todo dia estragava pelo menos um quilo de macarrão e duas dúzias de ovos tentando fazer uma bacalhoada. Joaquim vivia perseguindo meretrizes e travestis, porque achava matemática chato, era doido por imoralidade aplicada. E Ananás detestava as mágicas que fazia tão bem – queria era descobrir a epistemologia da realidade cotidiana. Daí que um Lobo Bruto, que ia passando um dia, comeu os três e nem percebeu o talento que degustava, nem as incoerências que transitam pela alma cultivada. MORAL: É INÚTIL ATIRAR PÉROLAS AOS LOBOS.
Fernandes, Millôr. 100 Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Record, 2003.
Analise o trecho:
“Taís Araújo e Lázaro Ramos são o par mais poderoso do showbizz. E ainda simbolizam a vitória do talento sobre a barreira racial”.
Assinale a alternativa correta:
A Exceção e A Regra
Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam – Isso é natural.
Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão,
Em que corre o sangue,
Em que se ordena a desordem,
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza…
Não digam nunca: Isso é natural.
A fim de que nada passe por ser imutável.
Sob o familiar, descubram o insólito.
Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável.
Que tudo que seja dito ser habitual
Cause inquietação.
Na regra é preciso descobrir o abuso.
E sempre que o abuso for encontrado,
É preciso encontrar o remédio.
Vocês, aprendam a ver, em lugar de olhar bobamente.
É preciso agir em vez de discutir.
Aí está o que uma vez conseguiu dominar o mundo.
Os povos acabaram vencendo.
Mas não cantem vitória antes do tempo.
Ainda está fecundo o ventre de onde surgiu a coisa imunda.
BERTOLD BRECHT
Nos versos do texto “A exceção e a Regra”:
“Em que corre o sangue,
Em que se ordena a desordem,
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza…”,
O emprego de repetições iniciais são
características da figura de linguagem
denominada:
CHOVE
CHOVE. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que é ainda pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal de quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Lua Cheia
Boião de leite
Que a noite leva
Com mãos de trevas
Pra não sei quem beber.
E que, embora levando
Muito devagarzinho,
Vai derramando pingos brancos
Pelo caminho.
Cassiano Ricardo
http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesian et295.htm. Acesso em 05/11/2016
Analise as alternativas abaixo:
1. O poeta identifica a lua cheia como boião de leite.
2. Para o autor “boião de leite” é o mesmo que um recipiente de vidro cheio de leite.
3. O autor considera a noite como uma pessoa; isto é, atribui-lhe personificação.
4. O poeta concebe os raios do luar como sendo os pingos brancos que caem do boião de leite.
5. O texto “Lua Cheia” tem como personagem central o leite, as mãos de trevas e os pingos brancos.
Está (ão) correta (s) a (s) afirmativa (s):