Questões de Concurso
Sobre figuras de linguagem em português
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Texto 1
O estudioso russo Mikhail Bakhtin afirma que não existe atividade mental sem expressão linguística e que devemos “eliminar de saída o princípio de uma distinção qualitativa entre o conteúdo interior e a expressão exterior”. No meio escolar, é muito comum o aluno afirmar que sabe determinado assunto, mas que não sabe expressar, não sabe falar sobre ele.
Bakhtin, como precursor da linguística moderna, enfatiza o caráter social da linguagem e, consequentemente, o seu caráter dialógico: “a palavra dirige-se a um interlocutor”. E é a presença desse interlocutor que definirá o seu perfil, ou seja, em função do ouvinte, ela será mais formal ou mais coloquial, mais cuidada ou mais solta. A presença do interlocutor é também o elemento desafiante, que vai provocar o sujeito para que ele organize sua expressão verbal. Assim, Bakhtin conclui que “não é a atividade mental que organiza a expressão, mas, ao contrário, é a expressão que organiza a atividade mental, que a modela e determina sua orientação”.
Diante de uma afirmação como essa, vemos o quanto é importante e mesmo determinante, no desenvolvimento da criança e do jovem, a interação professor/alunos e alunos/alunos no cotidiano escolar. E vemos o quanto é essencial que o professor estimule o exercício da verbalização entre eles, o quanto é necessário que eles aprendam a se colocar como ouvintes dos colegas e a disciplinar o acesso à fala, permitindo que todos tenham o direito à sua própria palavra. Essa é a condição mesma do desenvolvimento cognitivo de todos e condição para o desenvolvimento e o domínio da linguagem.
É ainda Bakhtin quem esclarece melhor, mostrando o quanto é importante o interlocutor em todo processo de enunciação: “Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim, numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor.”
O papel representado pelo grupo social com que se convive e que nos serve de interlocutor é da maior importância, diante do que Bakhtin nos expõe. Penso que, para nós, professores que atuamos na escola pública brasileira, interagindo com crianças e jovens provenientes dos meios sociais dos mais desfavorecidos, atentar para essa questão da linguagem é um imperativo básico. Só assim, com um olhar munido de uma compreensão maior, podemos melhor cumprir a tarefa que o nosso tempo histórico nos coloca. A escola constitui, para muitas dessas crianças e jovens, um dos poucos, talvez o único interlocutor em condições de interagir com eles e contribuir para a evolução de sua linguagem. E é bom lembrar, mais uma vez: seu desenvolvimento cognitivo depende do desenvolvimento de sua linguagem. Gostaria de lembrar que, diante de um livro ou de um texto, no ato de leitura somos desafiados por este interlocutor que nos fala através da palavra impressa. Ao ler, nós organizamos um discurso interno ao sermos provocados pelo discurso lido, nos lembramos de leituras ou experiências anteriores, relacionamos com outros textos que tratam do mesmo assunto. Mesmo quando não comentamos o texto com alguém, mesmo quando não escrevemos uma crítica ou resenha sobre ele, nós temos uma participação ativa na interação com a linguagem e com o sentido do texto. Essa é também uma forma de diálogo, e das mais enriquecedoras.
(MARIA, Luzia de. Amor literário: dez instigantes roteiros para você viajar pela cultura letrada. Rio: Ler & Cultivar editora, 2016, p. 250-1.)
Texto 8
PONCIÁ VICÊNCIO
(EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Rio de Janeiro: Pallas, 2017. p. 70.)
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
Mario Quintana , In: Caderno H, Mario Quintana: Poesia Completa, Editora Nova Aguilar, p. 257.
Sobre o terceiro verso do Poema acima, podemos afirmar que:
O sistema de posicionamento global (Global Positioning System – GPS) é uma dessas pequenas maravilhas tecnológicas que utilizam uma quantidade enorme de conhecimento acumulado. Usando ideias de eletromagnetismo, para tratar dos sinais emitidos, da física newtoniana, para pôr os satélites em órbita, da teoria da relatividade especial e geral, para tratar a defasagem dos sinais emitidos, e da geometria esférica do planeta, é possível nos localizar com precisão de poucos metros. Para sorte de muitos, parece que não é necessário acreditar na ciência para que ela funcione.
Extraído de “A terra é redonda”, Ciência Hoje, n. 349, nov/18.)
O texto acima encerra uma matéria sobre o percurso da comprovação científica de que o planeta Terra é redondo (em resposta a quem o julga plano):
Nesse contexto, é correto inferir que “muitos”, no último período, refere-se:
Assassinos culturais
Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fecha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.
Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou editoras.
Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua essência, um problema livresco.
Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso afirmar que pago pelos meus vícios.
E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?
Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-prazer, escuto meus clássicos e descubro novos.
Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.
Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se desmaterializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela. Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante, assinantes.
O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primórdios do capitalismo.
Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à economia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).
Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela. Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova geração para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.
Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais autêntica da cultura?
(João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)
* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.
No trecho do poema abaixo, de Luis de Camões, o escritor usa qual figura de linguagem:
O amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
(Camões)
Uma andorinha não faz verão
No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.
A beleza do Rio é comparável à sua barbárie.
No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.
Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.
Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.
Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada.
Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia?
O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.
A andorinha aculturada sou eu.
Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.
Fernanda Torres. In: [email protected]
Estradas para a perdição?
Numa época em que quase todo mundo carrega um GPS facílimo de operar no bolso ou na bolsa, imagens de satélite nunca foram tão banais. Dois toques na tela do celular são suficientes para que o sujeito consiga examinar uma representação mais ou menos realista e atualizada da Terra vista do espaço.
Mesmo assim, uma forma inovadora de enxergar o nosso planeta, bolada por uma equipe internacional de cientistas, é capaz de deixar surpreso – e cabreiro – quem ainda tem um pouco de imaginação. O trabalho revela um globo retalhado por estradas, um “bolo planetário” cortado em 600 mil pedacinhos.
Note, aliás, que essa estimativa do número de fatias separadas pela ação humana provavelmente é conservadora – ainda faltam dados a respeito de certas áreas, o que significa que o impacto global das estradas deve ser ainda maior.
De qualquer jeito, se você achava que a Terra ainda está repleta de vastas áreas intocadas pela nossa espécie, pense de novo. A pesquisa, que acaba de sair na revista “Science”, indica que mais da metade dos pedaços de chão não atravessados por estradas têm área de menos de 1 km², e 80% desses trechos medem menos de 5 km² de área. Grandes áreas contínuas (com mais de 100 km²), sem brechas abertas especificamente para o tráfego humano, são apenas 7% do total.
E daí? Decerto uma estradinha passando nas vizinhas não faz tão mal assim, faz? Muito pelo contrário, indica a literatura científica avaliada pela equipe do estudo, que inclui a brasileira Mariana Vale, do Departamento de Ecologia da UFRJ.
Para calcular as fatias em que o planeta foi picado, Mariana e seus colegas utilizaram como critério uma distância de pelo menos 1 km da estrada mais próxima – isso porque distâncias iguais ou inferiores a 1 km estão ligadas a uma série de efeitos negativos das estradas sobre os ambientes naturais que cortam.
Estradas são, é claro, vias de acesso para caçadores e gente munida de motosserras; trazem poluentes dos carros e caminhões para as matas e os rios; além de trazer gente, trazem espécies invasoras (não nativas da região) que muitas vezes deixam as criaturas nativas em maus lençóis. Considere ainda que estradas, em certo sentido, dão cria: a abertura de uma rodovia em regiões como a Amazônia quase inevitavelmente estimula a abertura de ramais secundários, dos quais nascem outras picadas, num processo que vai capilarizando a devastação. [...]
(Reinaldo José Lopes. Folha de S. Paulo. 18 de dezembro de 2016.)
Atente para as seguintes passagens:
I. “Uma lágrima teimava em brotar-lhe os olhos e o americano tentou contê-la.” (linhas 3-5)
II. “Respirou fundo e retomou...” (linha 21)
III. “A lágrima teimosa conseguiu escorrer por seu rosto...” (linhas 26-27)
IV. “Wilbur MacDermott já não conseguia impedir as lágrimas.” (linhas 34-35)
As passagens apresentadas indicam, em relação ao presidente, a gradação de
Todas as coisas cujos valores podem ser
Disputados no cuspe à distância
Servem para poesia
(...)
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
Cada coisa ordinária é um elemento de estima
Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral
(...)
As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia
(...)
BARROS, Manoel. Adaptado. In: Matéria de Poesia. São Paulo: LeYa, 2013. p. 9.
Manoel de Barros é considerado um dos principais poetas da literatura contemporânea. A partir da leitura do texto, assinale a alternativa CORRETA:
O salto da terapia genética
Saudamos o fato de a ciência avançar rapidamente para aplicar técnicas que impeçam a transmissão de doenças hereditárias
Depois de décadas de hesitações e reveses, a terapia genética está em condições de cumprir suas promessas e dar o salto
à prática clínica. Em agosto foi aprovado nos EUA o primeiro tratamento comercial para um tipo de leucemia com mau
prognóstico e em 2018 são esperados os resultados das primeiras terapias experimentais para eliminar ou modificar os genes
envolvidos em outras patologias e tipos de câncer, entre eles o de pulmão.
Os primeiros experimentos tiveram de ser abandonados por causa dos efeitos adversos, uma vez que não havia nenhuma
maneira segura de extrair os genes alterados e substituí-los por outros normais. A morte de vários pacientes retardou a investigação
e as expectativas criadas. O grande salto que aconteceu agora se deve à descoberta — em 2013 — de uma nova técnica de edição
genética, chamada CRISPR, que não só permite copiar e colar genes ou porções do genoma como fazê-lo facilmente e a custos
muito mais baixos do que as técnicas anteriores. Seu desenvolvimento foi vertiginoso. Depois de demonstrar eficácia em animais,
os primeiros testes em humanos foram autorizados em 2016.
Devemos saudar o fato de a ciência avançar rapidamente para poder aplicar essa técnica de maneira segura em patologias
que hoje não têm tratamento ou para evitar a transmissão de doenças hereditárias. Mas também devemos abrir um debate sobre
como isso deve ser aplicado. O mesmo procedimento útil para curar pode servir para outros propósitos, como a modificação de
determinadas características da pessoa. Ainda estamos longe de ter os conhecimentos necessários para tornar isso possível, pois
existem muitos genes e muitas interações entre eles. Mas é conveniente avançar para canalizar a aplicação desses avanços, exigir
a máxima transparência nos resultados e garantir que esses tratamentos estejam disponíveis para todos e não apenas para aqueles
que eventualmente puderem pagar por eles.
O nobilíssimo ponto e vírgula
Estava na “capa” do UOL ontem: “Medo de ser assassinado atinge 3 em 4 brasileiros; 67% de jovens temem a PM”. Por favor, veja o ponto e vírgula, prezado leitor. Que faz ele aí? É correto o seu emprego? [...]
Posto isso, voltemos ao título do UOL e ao ponto e vírgula que há nele. Esse título diz respeito a uma pesquisa realizada pelo Datafolha e publicada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O tema da pesquisa, obviamente, é a violência no Brasil, que, como se sabe, é um país pacífico, solidário etc., etc., etc.
As duas informações que há no título são distintas: a primeira diz respeito ao medo de ser assassinado, sentimento de 76% dos entrevistados; a segunda diz respeito ao temor que 67% dos jovens entrevistados têm da Polícia Militar.
As informações são distintas, mas integram o mesmo assunto, o mesmo campo, o mesmo território, por isso foi empregado (corretissimamente) o ponto e vírgula, que separa o primeiro bloco, completo, autônomo etc., do segundo bloco, também completo, autônomo etc.
O papel do ponto e vírgula é sempre o de separar partes autônomas de um todo, isto é, blocos que apresentam sentido e informação completos e pertencem ao mesmo conjunto, ao mesmo assunto. […]
(Pasquale Cipro Neto, publicado em:<https://www1.folha.uol.com.br/ colunas/ pasquale/2016/11/1828820-o-nobilissimo-ponto-e-virgula.shtml?loggedpaywall>
Em determinado momento do texto, o autor faz uso da ironia. Assinale a alternativa na qual podemos constatar tal uso.
TEXTO 1
Os camelos do Islã
Por Reinaldo José Lopes
Quando a gente pensa em eventos históricos, precisa sempre levar em conta um termo meio técnico, meio filosófico, sem o qual é muito fácil cometer escorregadas feias. O termo é contingência. Em outras palavras, o papel do que poderíamos chamar de coincidência ou acaso em mover as engrenagens da história, e o fato de que os eventos históricos são caóticos, quase que no sentido físico do termo: alterações minúsculas podem conduzir a efeitos gigantes.
Por que estou me saindo com essa conversa mole? Bem, porque escrevi não faz muito tempo uma reportagem para esta Folha contando como uma série de alterações climáticas ligadas a erupções de vulcões a partir do século 6º d.C. parecem ter contribuído para acabar com o mundo antigo e “criar” a Idade Média.
No texto original, acabou não cabendo um detalhe absolutamente fascinante: segundo os modelos computacionais climáticos usados pelos pesquisadores suíços que assinam o estudo, um dos efeitos do frio intenso trazido pela erupção vulcânica pode ter sido um considerável aumento da umidade — chuva, portanto — na Arábia. E daí, perguntará você?
Bom, mais chuva = mais grama para os camelos e cavalos comerem. Mais camelos e cavalos = mais poderio militar para as tribos árabes. As quais, no período de que estamos falando, tinham acabado de adotar uma nova e empolgante ideologia religiosa trazida por um certo profeta chamado Maomé — uma ideologia que estava “pronta para exportação”, digamos assim.
Aí a gente cai de novo na tal da contingência. A expansão árabe certamente não teria acontecido sem o surgimento do Islã — mas talvez não fosse viável sem aquele monte de camelos e cavalos que só nasceram graças a algumas erupções vulcânicas. Fatores assim interagem o tempo todo, e dificilmente a gente tem clareza suficiente para entendê-los na hora em que estão ocorrendo, ou mesmo muitos séculos depois.
In: http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/03/08/os-camelos-do-isla/ Acesso em: 30 set. 2016
Considerando, ainda, outros recursos expressivos que concorrem para a compreensão do Texto 1, analise as afirmativas a seguir.
1) No trecho: “alterações minúsculas podem conduzir a efeitos gigantes” (1º parágrafo), a seleção vocabular conseguiu criar um expressivo efeito de contraste.
2) No trecho: “um dos efeitos do frio intenso (...) pode ter sido um considerável aumento da umidade — chuva, portanto — na Arábia.”, o segmento entre travessões introduz uma ideia de comparação.
3) Em: “Mais camelos e cavalos = mais poderio militar para as tribos árabes. As quais, no período (...)”, a opção de iniciar novo período por um pronome relativo (destacado) promoveu uma desarticulação que comprometeu a compreensão.
4) No trecho: “uma ideologia que estava ‘pronta para exportação.’, digamos assim” (4º parágrafo), o autor alude com certa ironia a um conhecimento partilhado com o leitor.
Estão corretas, apenas:
Solidão Coletiva – uma crônica sobre o vazio de uma cidade grande
Se pararmos para pensar, a solidão nos persegue. Sempre estamos tão juntos e, ao mesmo tempo, tão sozinhos.
O simples fato de estarmos rodeados por dezenas, centenas ou milhares de pessoas, não nos garante que pertençamos ao grupo.
A cidade é um dos maiores exemplos. Trem, metrô, ônibus em horário de pico. Homens ou mulheres. Jovens ou velhos. Gordos ou magros. Trabalho ou estudo. Cada um do seu jeito, indo cuidar da sua própria vida. Não há conversa ou um sorriso amigável. Rostos sérios e cansados sem ao menos se preocupar em lhe desejar um bom dia. Parece que ninguém está tendo um bom dia.
Na rua, todos têm pressa. Mochila à frente do corpo, senão você é roubado. Olhar no chão para manter o ritmo do passo, ou logo à frente, como quem quer chegar logo sem ser importunado.
Um braço estendido me tira do devaneio. É alguém sentado no chão, com um cobertor fino, pedindo algumas moedas. Como boa integrante de uma multidão fria e apressada, ignoro e continuo meu caminho. Essa é uma visão tão rotineira que se torna banal e, assim como eu, ninguém ali observou aquele cidadão com olhos sinceros. Não me julgue, eu sei que você faz o mesmo. O calor humano não parece suficiente para aquecer corações.
É um mar de gente. Mas não me sinto como mais uma onda, que compõe a beleza do oceano. Sinto-me em um pequeno barco à vela, perdida em alto mar. Parada no meio da multidão, sinto sua tensão constante, como se a qualquer momento fosse chegar um tsunami. Sinto-me naufragando.
Você já pegou a estrada à noite? É ali que percebemos que a cidade nunca dorme por completo. Carros a perder de vista em qualquer horário, com luzes que compõem uma beleza única. Porém, esquecemos que em cada carro não existe somente uma pessoa ou outra, mas sim histórias.
Para onde cada um está indo é um mistério. Neste momento, percebo que, assim como eu enxergava alguns minutos atrás, ninguém ali me vê como ser humano. Veem-me como mais um carro, mais uma máquina que atrapalha o trânsito de um local tão movimentado. Só eu sei meu próprio caminho e para onde vou. Estou sozinha entre centenas de pessoas.
Mesmo assim, muitas dizem preferir a cidade ao campo. Morar no interior não é uma opção para a maior parte das multidões – elas dizem que lá não há nada de interessante acontecendo e o silêncio da natureza as faz sentir muito distantes do mundo.
Por Beatriz Gimenez Disponível em: https://falauniversidades.com.br/cronica-solidao-cidade-grande/
Facebook está construindo sua própria cidade na Califórnia
O Facebook está construindo uma espécie de minicidade para seus funcionários. A ampliação do seu campus em Menlo Park, Califórnia, será repleta de regalias para os moradores - já que os funcionários vão morar praticamente dentro do trabalho.
O Wall Street Journal relatou que a rede social de Mark Zuckerberg está trabalhando para construir uma comunidade de US$ 120 milhões, com 394 unidades habitacionais a uma curta distância de seus escritórios. Com 192 mil metros quadrados, o chamado Anton Menlo vai incluir tudo, desde um bar de esportes até uma creche para cachorros.
O projeto do Facebook ultrapassa todas as novidades que as empresas do Vale do Silício já inventaram para tornar seus escritórios mais divertidos e descolados. Porém, uma porta-voz da empresa disse que a ideia de criar a propriedade não é para reter os funcionários - que estão cada dia mais disputados entre as empresas de tecnologia.
“Certamente estamos animados para ter opções de moradia mais perto do campus, mas acreditamos que as pessoas trabalham no Facebook porque o que elas fazem é gratificante, e elas acreditam em nossa missão”, disse a porta-voz. Em outras palavras, eles dizem que não querem apenas bajular os funcionários com todas as regalias possíveis para que eles não saltem para a concorrência.
Apesar de soar como inovadora, a ideia evoca memórias das “cidades empresas”, que eram comuns na virada do século 20, onde os operários norte-americanos viviam em com unidades pertencentes ao seu empregador e recebiam moradia, cuidados de saúde, polícia, igreja e praticamente todos os serviços oferecidos em uma cidade. Porém, elas acabaram extintas por colocar os trabalhadores completamente nas mãos dos empregadores, que muitas vezes se aproveitavam para explorá-los.
É claro que ninguém espera que o Facebook faça isso. O que acontece é que os preços dos imóveis estão subindo rapidamente no Vale do Silício - calcula-se um aumento de 24% desde o quarto trimestre de 2012, e alguns funcionários da empresa acabam enfrentando problemas com isso. Além disso, a cidade do Facebook terá capacidade para abrigar apenas 10% dos funcionários da companhia.
(Disponível em: http//www.canaltech.com.br - por Redação -
03/10/2013. Acesso em 22/08/2017)
Veja e leia o grafite abaixo:
A imagem mostra o dirigente de uma companhia falando a
seus colaboradores. O líder procura motivar os comandados
ao afirmar que “o ser humano está acima de tudo”, é a
preocupação central da empresa. Mas se o discurso é
motivador, o gesto de sentar sobre um empregado é
desalentador. Esse conflito entre o falar e o agir faz com que
a cena seja: