A questão refere-se ao texto abaixo.
Brasil está despreparado para a mutação do trabalho na era digital
Até 2027, serão criados no mundo 69 milhões de postos de trabalho e eliminados 83 milhões, de acordo
com levantamento sobre o futuro do emprego feito pelo Fórum Econômico Mundial. Esses 14 milhões de
postos de trabalho deverão ser ceifados pelo avanço da automação e da inteligência artificial (IA). As novas
tecnologias criarão outras alternativas de trabalho, mas a sociedade precisará estar qualificada para se
adaptar à nova realidade e aproveitar as oportunidades que surgirem.
Entre os setores com mais potencial de impulsionar novos empregos estão, segundo o estudo, energia e
materiais; tecnologia da informação (TI) e comunicação digital. A transição verde para uma economia de baixo
carbono será também fonte importante de novos empregos. Eles surgem da necessidade de aumentar a
geração de energia de fontes renováveis, com investimentos em parques solares ou eólicos.
A China lidera esse mercado de trabalho, tendo criado 42% dos empregos mundiais. Nos Estados Unidos,
o governo Biden aprovou no Congresso uma lei que destina US$ 370 bilhões à transição da economia
americana para energia limpa. Desde agosto, surgiram 100 mil novos empregos no segmento. Nas áreas de
TI e comunicação digital, de acordo com o estudo, cada emprego gera cinco noutras áreas.
Para qualquer país usufruir a revolução tecnológica será fundamental dispor de mão de obra qualificada.
Isso se traduz em forte estrutura educacional. Nesse requisito, o Brasil ainda patina, apesar dos avanços no
início do ciclo fundamental. Falta conhecimento para obter resultados satisfatórios no segundo ciclo do
fundamental, portanto os resultados demoram a aparecer no ensino médio. Ao anunciar a suspensão da
reforma do ensino médio, o governo contribui para atrasar ainda mais a formação voltada a cursos
profissionalizantes e ao ensino superior.
Será preciso também pensar em retreinamento de profissionais para atender às necessidades do novo
sistema de produção. Na conferência que o Fórum Econômico Mundial promoveu no mês passado na Suíça
para debater o mercado de trabalho do futuro, foi revelado que, na Europa, falta 1 milhão de engenheiros
apenas para atender à demanda por painéis solares.
Será, por fim, essencial requalificar aqueles cujos empregos desaparecerão porque suas funções não
serão mais necessárias. Já está em declínio a busca por cargos de secretaria executiva e administrativa,
guardas de segurança, caixas de banco, vendedores de tíquetes ou carteiros. Dezenas de outras funções
ficarão obsoletas. Sua manutenção só contribuirá para reduzir a produtividade da economia, como já ocorre
com porteiros, cobradores de ônibus, flanelinhas e tantos outros postos.
É evidente que o Brasil está atrasado para se adequar a um tipo de sociedade que começou a surgir faz
tempo e agora acelera as transformações. Educação básica, retreinamento, requalificação, tudo se tornou
urgente para o país. Infelizmente, nem o Executivo nem o Legislativo parecem preocupados — ou mesmo
preparados — para o desafio.
Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 19 jun. de 2023.