Questões de Concurso Sobre interpretação de textos em português

Foram encontradas 106.098 questões

Q3145358 Português
Leia o texto a seguir e responda, posteriormente, a questão.

    O desenvolvimento da acessibilidade necessita da integração das obras, produtos e serviços, pois a acessibilidade é um conjunto de ações transversais, ou seja, as diversas áreas em que houver projetos ou intervenções devem desenvolver estudos conjuntos de modo a prever todas as interfaces, necessidades e aptidões. A fidedigna observância às normas técnicas de acessibilidade pressupõe um projeto bem elaborado.

    Todos os projetos e adequações para acessibilidade devem obrigatoriamente atender às normas técnicas nacionais da ABNT, ainda que profissionais pouco familiarizados com o assunto usem como referência apenas uma norma para acessibilidade: NBR 9050.


Fonte: Girardi, S. Acessibilidade: guia prático para o projeto de adaptações e novas normas. São Paulo: Crea, 2018.
Sobre as reflexões propostas pelo texto, é pertinente afirmar: 
Alternativas
Q3145322 Português
Texto 13

PL 2.630/2020: em direção a um ambiente online mais seguro      

    O avanço tecnológico trouxe consigo um desafio crescente: a disseminação desenfreada de fake news. Diante desse cenário, o Projeto de Lei 2.630/2020 surge como uma iniciativa promissora para lidar com essa questão premente. Ao propor medidas para identificar, controlar e punir a propagação deliberada de informações falsas, o PL representa um passo significativo na proteção da integridade da informação e na salvaguarda da sociedade contra os males da desinformação.      
    
    Entretanto, a implementação de uma legislação sobre fake news deve ser conduzida com cautela. É fundamental encontrar um equilíbrio delicado entre combater a desinformação e preservar a liberdade de expressão e a privacidade dos cidadãos. Qualquer medida adotada deve evitar o risco de se tornar uma forma de censura ou vigilância excessiva, garantindo que os direitos individuais sejam protegidos.      
    Nesse sentido, o debate em torno do PL 2.630/2020 deve ser pautado pela busca por esse equilíbrio, considerando, desse modo, não apenas a eficácia das medidas propostas, mas também seu impacto nas liberdades democráticas e nos direitos dos cidadãos. Somente com um diálogo aberto e inclusivo será possível construir uma legislação sólida e eficiente para lidar com as fake news.      

    Além disso, é importante destacar que o combate às fake news não é responsabilidade exclusiva do governo ou das plataformas digitais. Todos os setores da sociedade têm um papel a desempenhar nesse esforço conjunto. A educação digital, a promoção do pensamento crítico e o incentivo à responsabilidade individual são elementos-chave para enfrentar esse desafio de maneira eficaz.      

    Portanto, o PL 2.630/2020 representa um passo na direção certa, mas ainda há um longo caminho a percorrer, de modo que é necessário continuar trabalhando para aprimorar e implementar políticas que protejam a integridade da informação online, ao mesmo tempo em que preservam os valores democráticos e os direitos individuais. Somente assim poderemos construir um ambiente online mais seguro e confiável para todos os cidadãos.


(Editorial sobre o PL 2.630/2020)
De acordo com o Texto 13, qual é a natureza fundamental do editorial como um gênero textual?
Alternativas
Q3145173 Português
A História em Quadrinhos que segue é uma produção de Helô D´Angelo. A partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta:

Imagem associada para resolução da questão

(Disponível em: @helodangeloarte. Acesso em 11 nov. 2024. Adaptado.)
Alternativas
Q3145172 Português
Um texto não é apenas uma soma ou a sequência de frases isoladas. Há elementos e recursos da língua que têm por função estabelecer relações textuais, ou seja, a coesão. São mecanismos da coesão textual:
Alternativas
Q3145171 Português
Leia o excerto que segue, extraído do "Glossário Ceale", produzido pela Faculdade de Educação da UFMG:

"...são as características básicas do contexto interlocutivo acionadas pelos sujeitos, de forma consciente ou inconsciente, no decorrer do processo de elaboração do texto oral ou escrito. De forma geral, essas demandas às quais o produtor de textos precisa atender situam-se num determinado tempo, espaço e cultura, e estão, em primeira instância, relacionadas aos seguintes aspectos: conteúdo temático (assunto tratado no texto), interlocutor visado (sujeito a quem o texto se dirige e que pode ser conhecido ou presumido), objetivo a ser atingido (propósito que motiva a produção), gênero textual próprio da situação de comunicação (regras de jogo, conto, parlenda, debate, publicidade, tirinha etc.), suporte em que o texto vai ser veiculado (jornal mural, jornal da escola, rádio comunitária, revista em quadrinhos, panfleto etc.) e, até mesmo, ao tom a ser dispensado ao texto (formal, informal, engraçado, irônico, carinhoso etc.). É preciso destacar que essas características não são rígidas. Ao contrário, elas costumam variar bastante nos contextos de produção."

(Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/condicoes-de-pr oducao-do-texto. Acesso em 10 nov. 2024. Adaptado.)


Pensando no contexto de produção de textos, o excerto anterior trata-se do conceito de: 
Alternativas
Q3145169 Português
A respeito da tipologia textual, pode-se afirmar que os tipos textuais:
Alternativas
Q3145167 Português
Leia o excerto que segue e complete as lacunas.

"[...] a __________________________ está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um/uma ___________________ para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de ________________________________, ligada à __________________________ do texto numa ______________________________ e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto."

Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas do excerto:
Alternativas
Q3145166 Português
Na perspectiva da concepção de leitura focada na interação autor-texto-leitor, de acordo com Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias, em Ler e compreender os sentidos do texto (2012):

I.a leitura é entendida como atividade de captação de ideias do autor, sem se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, bem como a interação autor-texto-leitor com propósitos constituídos sociocognitivo-interacionalmente. O foco de atenção é, pois, o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor, bastando tão-somente ao leitor captar essas intenções.

II.a leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que "tudo está dito no dito", cabendo-lhe o reconhecimento do sentido das palavras e estruturas do texto.

III.a leitura é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo.

É correto o que se afirma em:
Alternativas
Q3145165 Português
Na perspectiva bakhtiniana, os gêneros textuais:

(__)São tipos relativamente instáveis de enunciados presentes em cada esfera de comunicação, possuindo forma de composição e um plano composicional.

(__)Além do plano composicional, distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo.

(__)São entidades escolhidas, tendo em vista as esferas de necessidade temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou a intenção do interlocutor, sujeito responsável por enunciados, por unidades reais e concretas da comunicação verbal.

(__)Não são instrumentos rígidos e estanques e não se definem por sua forma, mas por sua função dentro da comunicação.

Marcando V, para verdadeiras, e F, para falsas, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
Alternativas
Q3145164 Português
Leia o texto que segue:

"Nascido nas ruas, criou-se nas quebradas das periferias. Sobrevive às dificuldades porque nunca anda sozinho. Traz consigo a consciência da força da coletividade. Com criatividade indócil, chegou ao mainstream sem tirar o pé do underground . Entrou nas casas e playlists da classe média alta, mas permanece periférico. Aos 50 anos, seu nome é rap , sigla em inglês para Ritmo e Poesia. Segue na luta conquistando espaços e travando batalhas − de MCs e slammers contra o preconceito, desigualdade, racismo e machismo, dando a letra através da oralidade e do corpo. Descobriu a performance como aliada na comunicação global. Ocupou as páginas dos livros e as teses e dissertações acadêmicas. O rap é a parte mais importante e literária do hip-hop, cultura tradicional urbana concebida nos anos 1970, nas periferias de Nova York, nos Estados Unidos, tendo a música como principal manifestação artística e na palavra sua fonte de longevidade. Palavra acompanhada pela paisagem sonora dos samples (trechos sonoros de uma música que são reutilizados) criados pelo DJ, diante do cenário colorido do grafite, embalando os b-boys no breakdancing.

'O rap positivou identidades periféricas, ressignificou a própria ideia de periferia, reconfigurou radicalmente os padrões estéticos, de modo que a MPB deixa de ser o principal modelo de compreensão, avaliação e juízo metodológico. Talvez o rap seja a mudança mais impactante na música brasileira nos últimos 30 anos", opina o doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor de literatura da Universidade de Pernambuco (UPE), Acauam Oliveira. Seu objeto de estudo do doutorado foi o maior grupo de rap do Brasil, o Racionais MC's, formado em 1988 por KL Jay, Ice Blue, Edi Rock e Mano Brown. Recentemente, o grupo recebeu o título de doutor honoris causa concedido pela Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Um dos álbuns da banda, Sobrevivendo no inferno (1997), figura na lista de leituras obrigatórias para o vestibular de uma das universidades mais importantes do país.

"A concessão desses títulos é um reconhecimento do quanto o grupo é importante no combate ao racismo e às desigualdades dentro de um país que confronta conceitos como cordialidade e democracia com aspectos coloniais e autoritários. Acho que a inserção do disco Sobrevivendo no inferno colocado em paralelo às obras literárias canônicas que vêm sendo indicadas para os vestibulares marca o reconhecimento da mudança de perfil dos estudantes − principalmente depois das cotas − e da própria universidade e de seus professores, querendo desenvolver as problemáticas sobre raça e desigualdade. Isso não quer dizer que, antes, não existiam pesquisadores pensando o rap , em particular, e o hip-hop, no geral. Mas as pesquisas não estavam muito conectadas 20 anos atrás. Agora eu acho que tem havido um projeto político de entender o hip-hop como possibilidade de pensar outras formas de conhecimento", declara Daniela Vieira dos Santos, professora de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, e coordenadora do projeto A nova condição do rap no Brasil.

(Disponível: https://www.suplementopernambuco.com.br/acervo/pernambuco/89-rep ortagem/3202-no-ritmo-e-nas-rimas-da-literatura-oral.html. Acesso em 11 nov. 2024. Adaptado.)

A partir da leitura do texto anterior, pode-se inferir que:
I.O rap e o hip-hop colocam-se como possibilidade de pensar, junto com os/as estudantes, outras formas de conhecimento que não apenas as canônicas, legitimadas e autorizadas pelas elites intelectuais.

II.O rap, enquanto linguagem verbal musicada e linguagem corporal, e o grafite, enquanto linguagem não-verbal, são excelentes exemplos de arte que traz à tona a periferia e a denúncia do racismo e das desigualdades, podendo ser trabalhados na escola, mas não no ensino de Língua Portuguesa, pois essas estruturas composicionais não são conteúdo dessa área.

III.O rap positiva identidades periféricas, ressignifica a ideia de periferia e reconfigura os padrões estéticos, colocando-se também como meio para o trabalho interdisciplinar na escola, o que possibilita um aprendizado mais holístico dos/das estudantes, enquanto cidadãos e cidadãs em formação, ao invés de uma formação por blocos disciplinares sem interconexão.


É correto o que se afirma em:
Alternativas
Q3145139 Português
Vini Jr. causa à Espanha o incômodo de encarar seu próprio racismo


Jogador faz com que, enfim, o tema precise ser discutido no país; por isso, ele é mais odiado que o problema

Carlos Massari e Aurélio Araújo, São Paulo (SP) | 30 de outubro de 2024

Votações envolvem rejeição: quando você precisa escolher alguém para vencer uma eleição, não é incomum se basear antes em quem você não quer que ganhe para depois escolher quem você quer ver vitorioso. Não há dúvida de que esse é um critério para selecionar o vencedor da Bola de Ouro, [...]. Frustraram-se as expectativas de milhões de pessoas de que esse seria o ano de Vinícius Júnior. Seria uma conquista a mais na carreira de Vini, coroando sua atuação não só dentro, mas também fora de campo.

Talvez aí resida o problema. O Brasil é um país com níveis altos de racismo, mas já foi pior. Nas últimas décadas, fomos forçados a ter essa discussão que evitamos por tanto tempo, enquanto muitos ainda acreditavam no fantasioso mito da democracia racial. [...]

Mesmo assim, pode-se dizer que estamos à frente de outros países, onde a discussão sobre o racismo ainda é incômoda demais para ser tão colocada em pauta como Vini Jr. faz. E ele o faz só por existir. [...]

Em maio de 2023, num dos vários episódios em que Vini foi alvo de racistas, [...] ele reagiu. Apontou ao árbitro vários daqueles que cometiam esses atos deploráveis contra ele. Seu ato de coragem foi respondido com duas atitudes muito diferentes. De um lado, muitos se juntaram a Vini, para discutir não só racismo no futebol, mas na própria sociedade espanhola. No TikTok, por exemplo, surgiu a trend "España no es racista, pero..." (a Espanha não é racista, mas...), em que espanhóis e imigrantes de pele escura relatavam casos chocantes de racismo sofridos no país. Essa atitude era uma resposta à outra, bem mais comum, representada na fala de Josep Pedrerol, apresentador do programa El Chiringuito, uma das mais populares mesas redondas espanholas, que fez um discurso em que dizia: "Valência não é racista, mas há racistas em Valência. A Espanha não é racista, mas há racistas na Espanha". [...]

É comum que a culpa pelas agressões racistas que sofre recaiam sobre o próprio Vinícius Jr. Supostamente, "ele provoca". Esse discurso não é restrito a uma ideologia ou a um espectro político − Borja Sanjuan Roca, presidente do Partido Socialista de Valencia, chegou a dizer que o brasileiro "é uma vergonha para o futebol". A "provocação" de Vini é ser ele mesmo. É gingar, bailar, exibir o futebol com os traços que marcaram o Brasil pentacampeão mundial. E é também não ficar quieto quando é ofendido, não tapar os ouvidos para os gritos que vêm da arquibancada. Quando aponta torcedores nas arquibancadas fazendo gestos racistas, Vini causa à Espanha um enorme incômodo: faz com que ela se olhe no espelho. Faz com que a sujeira escondida debaixo do tapete seja exposta. Faz com que, enfim, o racismo precise ser discutido. Por isso, ele é mais odiado que o problema.

O Diario Sport, um dos principais jornais esportivos espanhóis, publicou no dia da premiação da Bola de Ouro [...] que Rodri ganhou o prêmio "pelos valores". "Vinícius tem muito o que aprender. Seus protestos e reclamações, seus atos reprováveis sobre o gramado e a sensação de que não aprende custaram votos a ele", diz.

[...] No sábado, o Barcelona goleou o Real Madrid por 4 a 0 jogando na casa do adversário. Houve gritos e provocações da arquibancada contra Yamal (jogador negro e filho de imigrantes). "Eu não percebi os insultos, não dei muita atenção a eles. Não há espaço para essas coisas no futebol, mas eu estava pensando sobre a goleada de 4 a 0, a performance do time e a próxima partida", disse o atacante ao ser questionado sobre o assunto.

Essa, infelizmente, é a postura e os valores que se espera de Vinícius. Pode-se, no máximo, mencionar que houve insultos racistas, mas eles são só um detalhe. Afinal, a Espanha, cof cof, não é um país racista.


(Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/10/30/vini-jr-causa-a-espanha-o-i ncomodo-de-encarar-seu-proprio-racismo. Acesso em: 10 nov. 2024. Adaptado.)
Analise as assertivas que tratam das várias concepções racistas abordadas no artigo:

I.Para muitas pessoas, se o negro quer ser aceito na sociedade, ele precisa ficar quieto e não ficar denunciando atos racistas todo tempo. Sua existência enquanto pessoa negra já é suficiente para confrontar a sociedade.

II.Vini Jr. é o único responsável por ter perdido a Bola de Ouro, afinal, ele deve se preocupar com jogar futebol e não com denunciar atos racistas ocorridos no campo de futebol. Ele deve ignorar o que ouve e vê, seja dos torcedores, seja de outros atletas e arbitragem.

III.Vini Jr. perdeu a Bola de Ouro porque seus atos são reprováveis. Ainda que seja um excelente atleta, ele precisa aprender outros valores e amadurecer.

IV.Para o racismo existir, é preciso que, quem o sofre, dê atenção ao fato. Nesse sentido, quando Yamal ignora os gritos e provocações da arquibancada e diz "Eu não percebi os insultos, não dei muita atenção a eles. Não há espaço para essas coisas no futebol", ele rompeu com a lógica racista. Isso é muito mais efetivo do que o caminho escolhido por Vini Jr.

De acordo com o texto, são concepções racistas o que se afirma em:
Alternativas
Q3145036 Português
Vini Jr. causa à Espanha o incômodo de encarar seu próprio racismo


Jogador faz com que, enfim, o tema precise ser discutido no país; por isso, ele é mais odiado que o problema

Carlos Massari e Aurélio Araújo, São Paulo (SP) | 30 de outubro de 2024

Votações envolvem rejeição: quando você precisa escolher alguém para vencer uma eleição, não é incomum se basear antes em quem você não quer que ganhe para depois escolher quem você quer ver vitorioso. Não há dúvida de que esse é um critério para selecionar o vencedor da Bola de Ouro, [...]. Frustraram-se as expectativas de milhões de pessoas de que esse seria o ano de Vinícius Júnior. Seria uma conquista a mais na carreira de Vini, coroando sua atuação não só dentro, mas também fora de campo.

Talvez aí resida o problema. O Brasil é um país com níveis altos de racismo, mas já foi pior. Nas últimas décadas, fomos forçados a ter essa discussão que evitamos por tanto tempo, enquanto muitos ainda acreditavam no fantasioso mito da democracia racial. [...]

Mesmo assim, pode-se dizer que estamos à frente de outros países, onde a discussão sobre o racismo ainda é incômoda demais para ser tão colocada em pauta como Vini Jr. faz. E ele o faz só por existir. [...]

Em maio de 2023, num dos vários episódios em que Vini foi alvo de racistas, [...] ele reagiu. Apontou ao árbitro vários daqueles que cometiam esses atos deploráveis contra ele. Seu ato de coragem foi respondido com duas atitudes muito diferentes. De um lado, muitos se juntaram a Vini, para discutir não só racismo no futebol, mas na própria sociedade espanhola. No TikTok, por exemplo, surgiu a trend "España no es racista, pero..." (a Espanha não é racista, mas...), em que espanhóis e imigrantes de pele escura relatavam casos chocantes de racismo sofridos no país. Essa atitude era uma resposta à outra, bem mais comum, representada na fala de Josep Pedrerol, apresentador do programa El Chiringuito, uma das mais populares mesas redondas espanholas, que fez um discurso em que dizia: "Valência não é racista, mas há racistas em Valência. A Espanha não é racista, mas há racistas na Espanha". [...]

É comum que a culpa pelas agressões racistas que sofre recaiam sobre o próprio Vinícius Jr. Supostamente, "ele provoca". Esse discurso não é restrito a uma ideologia ou a um espectro político − Borja Sanjuan Roca, presidente do Partido Socialista de Valencia, chegou a dizer que o brasileiro "é uma vergonha para o futebol". A "provocação" de Vini é ser ele mesmo. É gingar, bailar, exibir o futebol com os traços que marcaram o Brasil pentacampeão mundial. E é também não ficar quieto quando é ofendido, não tapar os ouvidos para os gritos que vêm da arquibancada. Quando aponta torcedores nas arquibancadas fazendo gestos racistas, Vini causa à Espanha um enorme incômodo: faz com que ela se olhe no espelho. Faz com que a sujeira escondida debaixo do tapete seja exposta. Faz com que, enfim, o racismo precise ser discutido. Por isso, ele é mais odiado que o problema.

O Diario Sport, um dos principais jornais esportivos espanhóis, publicou no dia da premiação da Bola de Ouro [...] que Rodri ganhou o prêmio "pelos valores". "Vinícius tem muito o que aprender. Seus protestos e reclamações, seus atos reprováveis sobre o gramado e a sensação de que não aprende custaram votos a ele", diz.

[...] No sábado, o Barcelona goleou o Real Madrid por 4 a 0 jogando na casa do adversário. Houve gritos e provocações da arquibancada contra Yamal (jogador negro e filho de imigrantes). "Eu não percebi os insultos, não dei muita atenção a eles. Não há espaço para essas coisas no futebol, mas eu estava pensando sobre a goleada de 4 a 0, a performance do time e a próxima partida", disse o atacante ao ser questionado sobre o assunto.

Essa, infelizmente, é a postura e os valores que se espera de Vinícius. Pode-se, no máximo, mencionar que houve insultos racistas, mas eles são só um detalhe. Afinal, a Espanha, cof cof, não é um país racista.


(Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/10/30/vini-jr-causa-a-espanha-o-i ncomodo-de-encarar-seu-proprio-racismo. Acesso em: 10 nov. 2024. Adaptado.)
A respeito do trecho "De um lado, muitos se juntaram a Vini, para discutir não só racismo no futebol, mas na própria sociedade espanhola" e do contexto em que ele está inserido, analise as proposições que seguem:

I.Geralmente, a expressão De um lado vem seguida de Por outro lado , dando sequência às ideias e articulando-as de forma coesa. Apesar de os autores não explicitarem essa segunda expressão, no contexto fica claro que a progressão das ideias dá-se pelo trecho "Essa atitude era uma resposta à outra", em que o pronome demonstrativo essa faz referência ao que foi tratado a partir de De um lado , e o pronome indefinido outra assume o papel da expressão ausente Por outro lado , estabelecendo os sentidos para o leitor, sem prejuízos na progressão textual.

II.A expressão De um lado só tem sentido se, na sequência, os autores do texto complementarem o raciocínio, introduzindo a expressão Por outro lado . Ao não fazerem isso, os autores comprometeram a progressão do texto, deixando a primeira ideia incompleta e causando prejuízo nos sentidos pretendidos.

III.A palavra mas trata-se de uma conjunção adversativa e tem como função, na coesão textual do texto, de contrastar informação de maior peso, prestígio ou importância do que a da oração anterior.


É correto o que se afirma em:
Alternativas
Q3144896 Português

Fonte: Armandinho. Artista: Alexandre Beck.

Na tirinha, observa-se uma interação entre uma criança e um adulto sobre o cuidado com a natureza. A criança faz uma reflexão crítica ao final, destacando a importância das ações da geração atual para a preservação do meio ambiente. Com base na interpretação da tirinha, analise as assertivas abaixo:
I. A criança demonstra uma atitude passiva em relação ao cuidado com a natureza, indicando que não pretende se envolver com a preservação ambiental no futuro.
II. A frase "Depende de vocês!" expressa uma crítica à geração atual, responsabilizando-a pelo estado futuro do meio ambiente.
III. O último quadrinho sugere que a criança tem consciência de que as ações das gerações atuais impactam o futuro da natureza.

Sobre as assertivas acima, pode-se afirmar que:
Alternativas
Q3144654 Português

"Estudos mostram que, embora a maioria dos humanos goste de doces, uma exposição significativa ao açúcar no início da vida pode fortalecer essa preferência", aponta. 


No trecho, o verbo 'gostar' está concordando com a expressão 'a maioria', mas também poderia estar flexionado como 'gostem', concordando com 'humanos'. 


Nas alternativas a seguir há também duas possibilidades de concordância, EXCETO em:

Alternativas
Q3144315 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).

INSTRUÇÃO: A questão deve ser respondida com base na relação entre os textos I e II.


Texto II
11.png (662×227)   GALHARDO, Caco. Disponível em: https://cartum.folha.uol.com.br/quadrinhos/2024/05/06/bicudinho-caco-galhardo.shtml. Acesso em: 10 set. 2024.

Assinale a alternativa em que a passagem extraída do texto I ilustra a crítica apresentada no texto II.
Alternativas
Q3144314 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).
Assinale a alternativa em que o vocábulo apresentado entre parênteses pode substituir a palavra destacada no trecho, sem alteração do sentido original.
Alternativas
Q3144313 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).
Leia esta passagem do texto:
        “Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar.”
Nesse trecho, o autor destaca um tópico (os jovens) e apresenta novas informações sobre ele. Trata-se, portanto, do processo de progressão temática por meio de um tema constante. Os excertos apresentados nas alternativas a seguir são formados por esse mesmo processo, exceto:
Alternativas
Q3144312 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).
Nas alternativas a seguir, o emprego do termo ou expressão em destaque expressa corretamente a orientação argumentativa explicitada entre parênteses, exceto em:
Alternativas
Q3144311 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).
Leia este trecho:
        “[...] Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera.”
Considerando a linguagem figurativa desse trecho, constata-se que, ao empregar a expressão em destaque, o autor faz uso de uma
Alternativas
Q3144309 Português
INSTRUÇÃO: Leia o texto I para responder à questão.

Texto I

São pássaros e não voam

Frei Betto. 20 de maio de 2024.

        Imagino a cabeça dos que viviam entre os séculos XIV e XVI diante de tantas mudanças de paradigmas! Testemunharam, literalmente, a queda do céu. A fé, sustentáculo do período medieval, foi desbancada pelo advento da ciência. As revoadas de anjos deram lugar às explorações marítimas. Ptolomeu, ídolo dos negacionistas, cedeu o proscênio para Copérnico e Galileu. Contudo, o otimismo voltairiano com a irrupção da modernidade, apoiada em suas filhas diletas, a ciência e a tecnologia, não se confirmou. À servidão do feudalismo sucedeu-se a opressão do capitalismo. Os prognósticos do Iluminismo não se confirmaram: malgrado a fé ateísta de Nietzsche, as religiões se robusteceram na pós-modernidade, e o dogma da imaculada concepção da neutralidade científica esvaneceu-se nos cogumelos atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
        O capital tornou-se senhor do mundo. É o deus Mamon ao qual todos devemos adoração. Nada se sobrepõe a ele, sejam leis, direitos humanos ou delimitações fronteiriças. Criou um Sansão que desbanca todos os filisteus e ainda não se deparou com um Davi capaz de derrotá-lo. Sua poderosa cabeleira são as redes e plataformas digitais. Elas provocam a mesma ruptura epistemológica operada no advento da modernidade pela filosofia de Descartes, a física de Newton e a literatura de Cervantes. E, na pós- modernidade, pela física quântica, a morte das grandes narrativas e a descoberta do inconsciente.
        O surgimento do motor elétrico no século XIX deu origem a três gerações de equipamentos comunicacionais: o rádio, que se escuta; a TV, que se mira; e as redes digitais, com as quais interagimos. Enquanto somos objetos passivos diante do rádio, da TV, do cinema e da mídia impressa, nas ferramentas digitais nos sentimos protagonistas. Temos a sensação de ter alcançado o ápice da liberdade de expressão, uma vez que findou o consenso da maioria ditado pela hegemonia da minoria. Agora cada um é rei ou rainha em sua bolha. Voltamos a nos tribalizar. Sem nenhuma consciência de que, de fato, somos manipulados por uma sofisticada tecnologia que nos introjeta um chip virtual e nos induz a nos demitir da condição de cidadãos para nos reduzir à condição de meros consumidores.
        Quais as consequências de tão abrupta revolução epistêmica? Crianças e jovens têm, hoje, duplo espaço de (de)formação: o institucional (família, escola, igreja etc.) e o digital (Google, TikTok, Instagram, X, YouTube etc.). Como são espaços antagônicos, instala-se o conflito na subjetividade. A tendência é o digital prevalecer sobre o institucional. No digital, cada um encontra a sua tribo, que fala a mesma linguagem onomatopaica. E cria seus próprios valores sem dar ouvidos à voz autoritária de pais, professores, ministros religiosos e políticos. Ali cada usuário é “primus inter pares”, e não filho, aluno, fiel ou eleitor.
        Há, contudo, um grave problema. Imagine fazer uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro, por terra, sem que haja estradas, mapas, indicações e veículos. A vida é feita de paradigmas, referências, valores e objetivos. Quando nada disso tem solidez, pois vivemos na “sociedade líquida” (Bauman) prevista por Marx (“tudo que é sólido desmancha no ar”), sentimo-nos perdidos, porque o tempo não espera. E quem não conhece o caminho fica sem horizonte de futuro. Cai na armadilha do aqui-e-agora, sem que a vida encontre no tempo a sua linha de historicidade.
        Daí os jovens que se recusam a amadurecer. Desprovidos de linguagem lógica, reféns do precário dialeto telegráfico das redes, prisioneiros de seus joguinhos virtuais, ficam à deriva no mar da vida, sem bússola. São pássaros e não sabem voar. Adultos, e ainda abrigados sob o teto familiar, parecem náufragos agarrados aos escombros de uma era que desabou, pois não aprenderam a nadar. Gritam por socorro! Sequer sabem o que é utopia – que poderia salvá-los desse redemoinho que, como um ralo de pia, suga-os para a vida shoppingcentrada e permanentemente monitorada pelas redes digitais. Muitos sofrem de nomofobia, dependência do celular. Fácil saber se você já contraiu essa doença: ao se deitar para dormir desliga ou não o celular?
        A situação é preocupante. Ignoro o que dirá o futuro dessa primeira geração que passou da era analógica à digital, mas os sintomas não são alvissareiros: ódio à flor da pele; reaparecimento de ideias neonazistas; economia produtiva suplantada pela especulativa; aumento das formas criminosas de discriminação (homofobia, xenofobia, racismo, misoginia etc.). Entram em cena o negacionismo, o cancelamento e a polarização. Esgarçam-se os valores éticos, o ecocídio se amplia, os direitos humanos são ridicularizados.
        Enquanto miramos, perplexos, o dilúvio que afeta o Rio Grande do Sul, não percebemos que estamos à beira do abismo. Não há uma ponte chamada utopia que nos conduza à terra firme. Assim como a natureza, que em nada necessita de nós, e no seu percurso extinguiu várias espécies, como os dinossauros, agora somos nós mesmos, seres humanos, a nos aniquilar, como o ouroboro, a serpente que morde o próprio rabo. Ainda há tempo de evitar o pior, como incentivar o pensamento crítico, introduzir o raciocínio dialético no lugar do analítico e, sobretudo, regular as redes e suas plataformas.

Disponível em: https://www.freibetto.org/sao-passaros-e-nao-voam/. Acesso em: 01 set. 2024. (Adaptado).
Nos processos de referenciação textual, há formas anafóricas que realizam a retomada resumitiva de uma ideia ou de um conjunto de informações anteriormente mencionado no texto, transformando-os em um novo referente. Nas alternativas a seguir, as expressões em destaque desempenham essa função, exceto em:
Alternativas
Respostas
1341: E
1342: D
1343: C
1344: C
1345: D
1346: A
1347: C
1348: C
1349: A
1350: E
1351: D
1352: A
1353: B
1354: C
1355: B
1356: B
1357: A
1358: C
1359: D
1360: A