Questões de Concurso
Sobre morfologia em português
Foram encontradas 20.121 questões
Utilize o texto a seguir para responder as questões de 01 a 07.
DO BOM USO DO RELATIVISMO
Hoje pela multimídia, imagens e gentes do mundo inteiro nos entram pelos telhados, portas e janelas e convivem conosco. É o efeito das redes globalizadas de comunicação. A primeira reação é de perplexidade que pode provocar duas atitudes: ou de interesse para melhor conhecer que implica abertura e diálogo ou de distanciamento que pressupõe fechar o espírito e excluir. De todas as formas, surge uma percepção incontornável: nosso modo de ser não é o único. Há gente que, sem deixar de ser gente, é diferente. Quer dizer, nosso modo de ser, de habitar o mundo, de pensar, de valorar e de comer não é absoluto. Há mil outras formas diferentes de sermos humanos, desde a forma dos esquimós siberianos, passando pelos yanomamis do Brasil até chegarmos aos sofisticados moradores de Alphavilles onde se resguardam as elites opulentas e amedrontadas. O mesmo vale para as diferenças de cultura, de língua, de religião, de ética e de lazer.
Deste fato surge, de imediato, o relativismo em dois sentidos: primeiro, importa relativizar todos os modos de ser; nenhum deles é absoluto a ponto de invalidar os demais; impõe-se também a atitude de respeito e de acolhida da diferença porque, pelo simples fato de estar-aí, goza de direito de existir e de coexistir; segundo, o relativo quer expressar o fato de que todos estão de alguma forma relacionados. Eles não podem ser pensados independentemente uns dos outros porque todos são portadores da mesma humanidade. Devemos alargar, pois, a compreensão do humano para além de nossa concretização. Somos uma geosociedade una, múltipla e diferente.
Todas estas manifestações humanas são portadoras de valor e de verdade. Mas é um valor e uma verdade relativos, vale dizer, relacionados uns aos outros, autoimplicados, sendo que nenhum deles, tomado em si, é absoluto. Então não há verdade absoluta? Vale o everything goes de alguns pós-modernos? Quer dizer, o “vale tudo”? Não é o vale tudo. Tudo vale na medida em que mantém relação com os outros, respeitando-os em sua diferença. Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela. Todos, de alguma forma, participam da verdade. Mas podem crescer para uma verdade mais plena, na medida em que mais e mais se abrem uns aos outros.
(...)
A ilusão do Ocidente é de imaginar que a única janela que dá acesso à verdade, à religião verdadeira, à autêntica cultura e ao saber crítico é o seu modo ver e de viver. As demais janelas apenas mostram paisagens distorcidas. Ele se condena a um fundamentalismo visceral que o fez, outrora, organizar massacres ao impor a sua religião e, hoje, guerras para forçar a democracia no Iraque e no Afeganistão.
Devemos fazer o bom uso do relativismo, inspirados na culinária. Há uma só culinária, a que prepara os alimentos humanos. Mas ela se concretiza em muitas formas, as várias cozinhas: a mineira, a nordestina, a japonesa, a chinesa, a mexicana e outras. Ninguém pode dizer que só uma é a verdadeira e gostosa e as outras não. Todas são gostosas do seu jeito e todas mostram a extraordinária versatilidade da arte culinária. Por que com a verdade deveria ser diferente?
BOFF, Leonardo. Disponível em: < http://alainet.org>. Acesso em: 21 nov. 2016
“Cada um é portador de verdade mas ninguém pode ter o monopólio dela.”
Sobre o fragmento acima, são feitas as seguintes considerações:
I - Os termos “cada” e “ninguém” são, morfologicamente , idênticos;
II – Os termos “mas” e “dela” desempenham o mesmo papel coesivo;
III - Os termos “portador de verdade” e “monopólio” possuem a mesma função sintática;
IV – Contém duas orações que constituem um período composto por coordenação.
Está correto o que se afirma em
O texto abaixo é referência para as questões 01 a 04.
Eu vim ao Rio para um evento no Museu do Amanhã. Então descobri que não tinha mais passado.
Diante de mim, o Museu Nacional do Rio queimava.
O crânio de Luzia, a “primeira brasileira”, entre 12.500 e 13 mil anos, queimava. Uma das mais completas coleções de pterossauros do mundo queimava. Objetos que sobreviveram à destruição de Pompeia queimavam. A múmia do antigo Egito queimava. Milhares de artefatos dos povos indígenas do Brasil queimavam.
Vinte milhões de memória de alguma coisa tentando ser um país queimavam.
O Brasil perdeu a possibilidade da metáfora. Isso já sabíamos. O excesso de realidade nos joga no não tempo. No sem tempo. No fora do tempo.
O Museu Nacional em chamas. Um bombeiro esguichando água com uma mangueira um pouco maior do que a que eu tenho na minha casa. O Museu Nacional queimando. Sem água em parte dos hidrantes, depois de quatro horas de incêndio ainda chegavam caminhões-pipa com água potável. O Museu Nacional queimando. Uma equipe tentava tirar água do lago da Quinta da Boa Vista. O Museu Nacional queimando. A PM impedia as pessoas de avançar para tentar salvar alguma coisa. O Museu Nacional queimando. Outras pessoas tentavam furtar o celular e a carteira de quem tentava entrar para ajudar ou só estava imóvel diante dos portões tentando compreender como viver sem metáforas. Brasil, é você. Não posso ser aquele que não é. O Museu Nacional queimando. […]
Quando soube que o museu queimava, eu dividi um táxi com um jornalista britânico e uma atriz brasileira com uma câmera na mão. “Não é só como se o British Museum estivesse queimando, é como se junto com ele estivesse também o Palácio de Buckingham”, disse Jonathan Watts. “Não há mais possibilidade de fazer documentário”, afirmou Gabriela Carneiro da Cunha. “A realidade é Science Fiction”.
Eu, que vivo com as palavras e das palavras, não consigo dizer. Sem passado, indo para o Museu do Amanhã, sou convertida em muda. Esvazio de memória como o Museu Nacional. Chamas dentro de todo ele, uma casca do lado de fora. Sou também eu. Uma casca que anda por um país sem país. Eu, sem Luzia, uma não mulher em lugar nenhum.
A frase ecoa em mim. E ecoa. Fere minhas paredes em carne viva. “O Brasil é um construtor de ruínas. O Brasil constrói ruínas em dimensões continentais”. […]
Ouço então um chefe de bombeiros dar uma coletiva diante do Museu Nacional, as labaredas lambem o cenário atrás dele. O bombeiro explica para as câmeras de TV que não tinha água, ele conta dos caminhões-pipa. E ele declara: “Está tudo sob controle”.
Eu quero gargalhar, me botar louca, queimar junto, ser aquela que ensandece para poder gritar para sempre a única frase lúcida que agora conheço: “O Museu Nacional está queimando! O Museu Nacional está queimando!”.
O Brasil está queimando.
E o meteoro estava dentro do museu.
(Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/03/opinion/1535975822_774583.html. Acesso em 04, set. 2018.)
No primeiro parágrafo do texto, o articulista afirma que “Eu vim ao Rio para um evento no Museu do Amanhã. Então descobri que não tinha mais passado”. O termo destacado conecta as sentenças em uma relação de:
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
As máquinas inteligentes e suas regras
01---------Em 1950, o cientista Alan Turing (1912-1954) criava um experimento que entraria para a
02--história. No famoso Teste de Turing, descrito no artigo Computing Machinery and Intelligence, o
03--britânico propunha que um computador e um humano respondessem ____ mesmas perguntas.
04--Caso o interrogador não conseguisse diferenciá-los, a máquina passava no teste, provando a sua
05--inteligência. Com sua validade questionada pela comunidade científica de hoje, o experimento
06--trouxe ____ tona uma indagação perturbadora: a máquina superará o ser humano? Passadas
07--mais de cinco décadas, a questão ainda ressoa na esfera pública, principalmente devido à
08--automação de atividades cotidianas, do transporte ao cuidado de idosos e crianças.
09---------Entu__iasta dos avanços tecnológicos, o docente do Instituto de Informática da
10--Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Edson Prestes, defende que a revolução robótica em
11--curso trará muitos benefícios. Porém, a sociedade civil precisa estar atenta, zelando pela
12--manutenção dos direitos humanos. “É consenso que robôs coe__istirão com os homens nos mais
13--variados ambientes, com as mais variadas funções. Eles impactarão certamente as nossas vidas.
14--A questão que é necessária responder é: de que forma? Se desenvolvermos robôs sem qualquer
15noção ética, certamente o impacto será negativo”, ressalta.
16---------O pesquisador integra a Global Initiative for Ethical Considerations in Artificial Intelligence
17--and Autonomous Systems, iniciativa que reúne especialistas de todo o globo para debater os
18--desafios da inteligência artificial. Essa discussão já toma forma com o desenvolvimento dos carros
19--autônomos, que não necessitam de motorista. Nos últimos dez anos, empresas de tecnologia,
20--como o Google e a Apple, e as tradicionais montadoras têm investido no setor, em uma corrida
21--para chegar ao mercado. Mais do que um benefício para quem não gosta de guiar, a promessa é
22--que esses veículos sejam mais seguros. Segundo estudo da consultoria McKinsey & Company, os
23--carros autônomos poderiam reduzir em 90% o número de acidentes, os quais são causados nos
24--dias de hoje principalmente por falhas humanas como e__esso de velocidade, consumo de álcool
25--e fadiga.
26---------Imune _____ distrações, os novos automóveis trariam benefícios inegáveis. No entanto, há
27--um fator que torna a equação um pouco mais complexa: o acaso. Como o veículo agirá se, por
28--exemplo, um pedestre aparecer de repente em seu percurso? Atropelará ____ pessoa ou desviará
29--para outro local pondo a vida do passageiro em risco? Segundo o gerente de estratégia da Ford,
30--Luciano Driemeier, situações como essas exigiriam a criação de normas de conduta. “O código de
31--ética é uma questão de toda a indústria. Precisamos de abordagens e discussões consistentes, e
32--de todas as partes interessadas – incluindo governo, indústria automobilística, suprimentos,
33--companhias de seguros e grupos de defesa dos consumidores”, afirma.
34---------O físico, astrônomo e docente da universidade norte-americana Dartmouth College,
35--Marcelo Gleiser, concorda que o padrão de conduta dos veículos autônomos deve ser discutido por
36--grupos multidisciplinares, incluindo filósofos especializados em ética. “A boa notícia é que, dada a
37--imparcialidade da máquina, muito provavelmente a melhor decisão será salvar o maior número de
38--vidas possível”, comenta. Esse fator também é ressaltado pelo gerente de projetos da BMW,
39--Henrique Miranda. Ele argumenta que, ao contrário do motorista, a máquina não age “por instinto
40--de sobrevivência”. “O objetivo da tecnologia não é escolher entre vidas, mas proteger todas as
41--vidas”, afirma.
42---------Para que esses carros possam ser inseridos no mercado, também será necessário criar
43--novas leis. Atualmente, por exemplo, ainda não há uma definição clara de quem seria
44--responsabilizado – a empresa ou o passageiro – caso o veículo provoque um acidente.
45--Recentemente, o governo alemão deu o primeiro passo nesse sentido, anunciando uma série de
46--diretrizes relacionadas ao uso de carros autônomos. Outras nações devem seguir o exemplo,
47--e__pandindo a regulamentação para outras áreas. “Diversos grupos em universidades já estão
48--discutindo que regras deveriam guiar o trabalho dos robôs. Afinal, se conseguirmos de fato
49--construir máquinas inteligentes, como garantir que elas seguirão nossas regras e não as delas?”,
50--indaga Gleiser.
(Fonte: Mariana Tessitore – Revista da Cultura – Disponível em:
https://www.livrariacultura.com.br/revistadacultura/reportagens/etica-e-tecnologia - adaptação)
Assinale a alternativa que apresenta vocábulo formado por derivação parassintética.
O sino de ouro
Contaram-me que, no fundo do sertão de Goiás, numa localidade de cujo nome não estou certo, mas acho que é Porangatu, que fica perto do rio de Ouro e da serra de Santa Luzia, ao sul da serra Azul – mas também pode ser Uruaçu, junto do rio das Almas e da serra do Passa Três ( minha memória é traiçoeira e fraca; eu esqueço os nomes das vilas e a fisionomia dos irmãos; esqueço os mandamentos e as cartas e até a amada que amei com paixão) – mas me contaram em Goiás, nessa povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são parados e doentes e indolentes, e mesmo a igreja pequena, me contaram que aí tem – coisa bela e espantosa – um grande sino de ouro.
Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grã-senhor – nem Chartres, nem Colônia, nem São Pedro ou Ruão, nenhuma catedral imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos tempos de antigamente.
É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas sobre as matas e os cerrados, e as veredas de buritis, e a melancolia do chapadão, e chega ao distante e deserto carrascal, e avança em ondas mansas sobre os campos imensos, o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do mundo em procura de Deus – gemidos, gritos, blasfêmias, batuques, sinos, orações, e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as explosões – eles sabem que Deus, com especial delícia e alegria ouve o som alegre do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem, o mais pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro.
Quando vem o forasteiro de olhar aceso de ambição e propõe negócios, fala em estradas, bancos, dinheiro, obras, progresso, corrução – dizem que esses goianos olham o forasteiro com um olhar lento e indefinível sorriso e guardam um modesto silêncio. O forasteiro de voz alta e fácil não compreende; fica, diante daquele silêncio, sem saber que o goiano está quieto, ouvindo bater dentro de si, com um som de extrema pureza e alegria, seu particular sino de ouro. E o forasteiro parte, e a povoação continua pequena, humilde e mansa, mas louvando a Deus com sino de ouro. Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para louvar a Deus.
E se Deus não existe não faz mal. O ouro do sino de ouro é neste mundo o único ouro de alma pura, o ouro no ar, o ouro da alegria. Não sei se isso acontece em Porangatu, Uruaçu ou outra cidade do sertão. Mas quem me contou foi um homem velho que esteve lá; contou dizendo: “eles têm um sino de ouro e acham que vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de ouro”.
O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo deve ser ouvir um sino de ouro. Com certeza é esta mesma a opinião de Deus, pois ainda que Deus não exista ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrução, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão.
(BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas – 31ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010.)
A alternativa a seguir que apresenta adjetivo com variação de grau é:
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Estou deitado na margem. Dois barcos, presos a um tronco de salgueiro cortado em remotos tempos, oscilam ao jeito do vento, não da corrente, que é macia, vagarosa, quase invisível. A paisagem em frente, conheço-a. Por uma aberta entre as árvores, vejo as terras lisas da lezíria, ao fundo uma franja de vegetação verde-escura, e depois, inevitavelmente, o céu onde boiam nuvens que só não são brancas porque a tarde chega ao fim e há o tom de pérola que é o dia que se extingue. Entretanto, o rio corre. Mais propriamente se diria: anda, arrasta-se- mas não é costume.
Três metros acima da minha cabeça estão presos nos ramos rolos de palha, canalhas de milho, aglomerados de lodo seco. São os vestígios da cheia. À esquerda, na outra margem, alinham-se os freixos que, a esta distância, por obra do vento que lhes estremece as folhas numa vibração interminável, me fazem lembrar o interior de uma colmeia. É o mesmo fervilhar, numa espécie de zumbido vegetal, uma palpitação (é o que penso agora), como se dez mil aves tivessem brotado dos ramos numa ansiedade de asas que não podem erguer voo.
Entretanto, enquanto vou pensando, o rio continua a passar, em silêncio. Vem agora no vento, da aldeia que não está longe, um lamentoso toque de sinos: alguém morreu, sei quem foi, mas de que serve dizê-lo? Muito alto, duas garças brancas (ou talvez não sejam garças, não importa) desenham um bailado sem princípio nem fim: vieram inscrever-se no meu tempo, irão depois continuar o seu, sem mim.
Olho agora o rio que conheço tão bem. A cor das águas, a maneira como escorregam ao longo das margens, as espadanas verdes, as plataformas de limas onde encontram chão as rãs, onde as libélulas (também chamadas tira-olhos) pousam a extremidade das pequenas garras - este rio é qualquer coisa que me corre no sangue, a que estou preso desde sempre e para sempre. Naveguei nele, aprendi nele a nadar, conheço-lhe os fundões e as locas onde os barbos pairam imóveis. É mais do que um rio, é talvez um segredo.
E, contudo, estas águas já não são as minhas águas. O tempo flui nelas, arrasta-as e vai arrastando na corrente líquida, devagar, à velocidade (aqui, na terra) de sessenta segundos por minuto. Quantos minutos passaram já desde que me deitei na margem, sobre o feno seco e doirado? Quantos metros andou aquele tronco apodrecido que flutua? O sino ainda toca, a tarde teve agora um arrepio, as garças onde estão? Devagar, levanto-me, sacudo as palhas agarradas à roupa, calço-me. Apanho uma pedra, um seixo redondo e denso, lanço-o pelo ar, num gesto do passado. Cai no meio do rio, mergulha (não vejo, mas sei), atravessa as águas opacas, assenta no lodo do fundo, enterra-se um pouco.[ ... ]
Desço até a água, mergulho nela as mãos, e não as reconheço. Vêm-me da memória outras mãos mergulhadas noutro rio. As minhas mãos de há trinta anos, o rio antigo de águas que já se perderam no mar. Vejo passar o tempo. Tem a cor da água e vai carregado de detritos, de pétalas arrancadas de flores, de um toque vagaroso de sinos. Então uma ave cor de fogo passa como um relâmpago. O sino cala-se. E eu sacudo as mãos molhadas de tempo, levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a verdade desta hora.
(SARAMAGO, José. Deste mundo e do outro. Lisboa: Editorial Caminho, 1985. p. 35-37)
Vocabulário:
lezíria - zona agrícola muito fértil, situada na região do Ribatejo, em Portugal.
freixo - árvore das florestas dos climas temperados, de madeira clara, macia e resistente.
espadana - planta herbácea, aquática ou palustre, com folhas agudas.
loca - toca; furna; gruta pequena; esconderijo do peixe, debaixo da água, sob uma laje ou tronco submersos.
barbo-peixe vulgar de água doce.
"E eu sacudo as mãos molhadas de tempo, levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a verdade desta hora."(§ 6)
A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.
I. A primeira oração tem valor aditivo.
Il. O sujeito da última oração é indeterminado.
IIl. Sem prejuízo algum, poder-se-ia suprimir a preposição A de AOS OLHOS.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Estou deitado na margem. Dois barcos, presos a um tronco de salgueiro cortado em remotos tempos, oscilam ao jeito do vento, não da corrente, que é macia, vagarosa, quase invisível. A paisagem em frente, conheço-a. Por uma aberta entre as árvores, vejo as terras lisas da lezíria, ao fundo uma franja de vegetação verde-escura, e depois, inevitavelmente, o céu onde boiam nuvens que só não são brancas porque a tarde chega ao fim e há o tom de pérola que é o dia que se extingue. Entretanto, o rio corre. Mais propriamente se diria: anda, arrasta-se- mas não é costume.
Três metros acima da minha cabeça estão presos nos ramos rolos de palha, canalhas de milho, aglomerados de lodo seco. São os vestígios da cheia. À esquerda, na outra margem, alinham-se os freixos que, a esta distância, por obra do vento que lhes estremece as folhas numa vibração interminável, me fazem lembrar o interior de uma colmeia. É o mesmo fervilhar, numa espécie de zumbido vegetal, uma palpitação (é o que penso agora), como se dez mil aves tivessem brotado dos ramos numa ansiedade de asas que não podem erguer voo.
Entretanto, enquanto vou pensando, o rio continua a passar, em silêncio. Vem agora no vento, da aldeia que não está longe, um lamentoso toque de sinos: alguém morreu, sei quem foi, mas de que serve dizê-lo? Muito alto, duas garças brancas (ou talvez não sejam garças, não importa) desenham um bailado sem princípio nem fim: vieram inscrever-se no meu tempo, irão depois continuar o seu, sem mim.
Olho agora o rio que conheço tão bem. A cor das águas, a maneira como escorregam ao longo das margens, as espadanas verdes, as plataformas de limas onde encontram chão as rãs, onde as libélulas (também chamadas tira-olhos) pousam a extremidade das pequenas garras - este rio é qualquer coisa que me corre no sangue, a que estou preso desde sempre e para sempre. Naveguei nele, aprendi nele a nadar, conheço-lhe os fundões e as locas onde os barbos pairam imóveis. É mais do que um rio, é talvez um segredo.
E, contudo, estas águas já não são as minhas águas. O tempo flui nelas, arrasta-as e vai arrastando na corrente líquida, devagar, à velocidade (aqui, na terra) de sessenta segundos por minuto. Quantos minutos passaram já desde que me deitei na margem, sobre o feno seco e doirado? Quantos metros andou aquele tronco apodrecido que flutua? O sino ainda toca, a tarde teve agora um arrepio, as garças onde estão? Devagar, levanto-me, sacudo as palhas agarradas à roupa, calço-me. Apanho uma pedra, um seixo redondo e denso, lanço-o pelo ar, num gesto do passado. Cai no meio do rio, mergulha (não vejo, mas sei), atravessa as águas opacas, assenta no lodo do fundo, enterra-se um pouco.[ ... ]
Desço até a água, mergulho nela as mãos, e não as reconheço. Vêm-me da memória outras mãos mergulhadas noutro rio. As minhas mãos de há trinta anos, o rio antigo de águas que já se perderam no mar. Vejo passar o tempo. Tem a cor da água e vai carregado de detritos, de pétalas arrancadas de flores, de um toque vagaroso de sinos. Então uma ave cor de fogo passa como um relâmpago. O sino cala-se. E eu sacudo as mãos molhadas de tempo, levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a verdade desta hora.
(SARAMAGO, José. Deste mundo e do outro. Lisboa: Editorial Caminho, 1985. p. 35-37)
Vocabulário:
lezíria - zona agrícola muito fértil, situada na região do Ribatejo, em Portugal.
freixo - árvore das florestas dos climas temperados, de madeira clara, macia e resistente.
espadana - planta herbácea, aquática ou palustre, com folhas agudas.
loca - toca; furna; gruta pequena; esconderijo do peixe, debaixo da água, sob uma laje ou tronco submersos.
barbo-peixe vulgar de água doce.
"Mais propriamente se diria: anda, arrasta-se - mas não é costume."(§ 1)
Com relação aos componentes destacados do trecho, é correto afirmar que:
Eu sei, mas não devia
Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma ___ não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, ___ medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir ____ comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma ____ poluição. ____ salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter _________ uma planta.
A gente se acostuma ____ coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e ____ no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não ____ muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar ____ pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
No período: “Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço”, os conectivos destacados estabelecem, respectivamente, relação de:
Analise as frases a seguir.
I. Júlia chorou porque não passou no vestibular.
II. O homem chorou, porque seus olhos estavam vermelhos.
III. Ela chorou porque lhe pisaram o calo.
IV. A garota chorou, porque havia lágrimas nos seus olhos.
Marque a opção CORRETA em relação ao valor da conjunção “porque”.
Texto para responder às questões de 1 a 7.
1 Podemos entender cultura como uma dimensão do
processo social e utilizá-la como um instrumento para
compreender as sociedades contemporâneas. O que não
4 podemos fazer é discutir sobre cultura ignorando as relações
de poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades.
Notem bem: o estudo da cultura não se reduz a isso, mas
7 essa é uma realidade que sempre se impõe. Assim é porque
as próprias preocupações com cultura nasceram associadas
às relações de poder, e também porque, como dimensão do
10 processo social, a cultura registra as tendências e os
conflitos da história coletiva por cuja transformação e por
cujos benefícios as forças sociais se defrontam.
13 O que quer dizer que as preocupações com a cultura
desenvolveram-se associadas às relações de poder?
Lembrem-se que elas se consolidaram junto com o
16 processo de formação de nações modernas dominadas por
uma classe social. Por outro lado, consolidaram-se
integrando a nova ciência do mundo contemporâneo, que
19 rompia com o domínio da interpretação religiosa,
transformando a vida e a sociedade em esferas que podiam
ser estudadas para que se pudesse agir sobre elas.
22 As preocupações com cultura surgiram associadas
tanto ao progresso da sociedade do conhecimento quanto a
novas formas de dominação. Notem que o conhecimento não
25 é só conteúdo básico das concepções da cultura; as próprias
preocupações com cultura são instrumentos de
conhecimento, respondem a necessidades de conhecimento
28 da sociedade, as quais se desenvolveram claramente
associadas com relações de poder.
Hoje os centros de poder da sociedade se
31 preocupam com a cultura, procuram defini-la, entendê-la,
controlá-la, agir sobre seu desenvolvimento. Há instituições
públicas encarregadas disso; da mesma forma, a cultura é
34 uma esfera de atuação econômica, com empresas
diretamente voltadas para ela. As preocupações com a
cultura são institucionalizadas, fazem parte da própria
37 organização social. Expressam seus conflitos e interesses, e
nelas os interesses dominantes da sociedade manifestam
sua força.
José Luiz dos Santos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2007 (com adaptações).
Em “um instrumento para compreender as sociedades contemporâneas” (linhas 2 e 3), a preposição “para”
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Texto 1
Tesouro musical
Entre o fim do século XVII e meados do XIX, surgiu na Europa uma preciosa coleção de órgãos de igreja que, até hoje, se distingue pelas dimensões monumentais, pela riqueza de ornamentos e pelo som, de nitidez incomparável. De valor inestimável para a arte sacra e a música erudita, tendo sido uma das principais ferramentas de trabalho de compositores como o alemão Johann Sebastian Bach (1685- 1750), esses órgãos barrocos formam um surpreendente acervo no Brasil – tesouro pouco conhecido que, só agora, começa a vir à luz. O mérito é de uma pesquisa conduzida na Universidade Sorbonne, que catalogou os exemplares existentes no país. A lista não é extensa. De uma centena deles de que se tem registro no século XVIII, sobraram apenas quinze, dois dos quais em funcionamento. A coleção, modesta se comparada à de países europeus, chama atenção pelo exagero de pinturas e entalhes recobertos de ouro e ainda por uma peça que a torna singular: um instrumento de 1710 assinado pelo alemão Arp Schnitger (1648-1719), espécie de Antonio Stradivari, o célebre construtor de violinos, no mundo dos órgãos barrocos. Não há mais que trinta desses Schnitgers em uso. O do Brasil enfeita a Catedral da Sé de Mariana, em Minas Gerais, à qual foi doado em 1753 por dom José I, rei de Portugal. Restaurado, ainda se presta a belíssimos concertos de música barroca.
O atual trabalho ajuda a lançar luz sobre a história desses órgãos no Brasil – e também sobre a própria história do país. O propósito original ao trazê-los da Europa para a colônia era animar missas e arregimentar fiéis. “Esses instrumentos vão funcionar melhor do que as pregações”, escreveu ao rei o bispo de Salvador, dom Pero Fernandes Sardinha, em 1552, imbuído da missão de catequizar índios. No Brasil imperial, os órgãos barrocos se popularizaram, a exemplo do que ocorria àquele tempo nas cortes europeias. Na cena da coroação de dom Pedro I, em 1822, retratada por Debret, aparece ao fundo o órgão no qual se executou, naquela ocasião, composição de José Maurício Nunes Garcia, um dos grandes nomes da música barroca no Brasil (sim, houve uma profícua produção do gênero no país, ainda que com o previsível atraso e influências do classicismo). Tal órgão, do qual só permaneceu uma parte da caixa ricamente decorada, pode ser visto na antiga Catedral da Sé do Rio de Janeiro.
Nenhum instrumento produz, sozinho, acordes tão ricos quanto os órgãos barrocos. Seu princípio de funcionamento é o de um instrumento de sopro, mas, no lugar do pulmão humano, se faz uso de foles que enviam o ar, simultaneamente, a dezenas de tubos que emitem o som. É como se fosse um conjunto de flautas gigantes, com até 10 metros de altura. “O que distingue os modelos barrocos é que nenhum outro permite escutar com tamanha nitidez tantos acordes ao mesmo tempo”, afirma a especialista Elisa Freixo. Seu mecanismo garante que o ar chegue imediatamente aos tubos quando o teclado é acionado, processo que leva até meio segundo nos demais modelos – suficiente para a perda de limpidez do som. Eles também se diferenciam pela concentração de finíssimos tubos, de onde saem tons de um agudo extremo. Os órgãos fabricados mais tarde privilegiaram sons mais graves e difusos – o que os adequava a uma nova função, a de integrar orquestras.
Países como Espanha e Portugal, donos de valiosas coleções de órgãos barrocos, já se dedicam à conservação desses instrumentos há um século. “No Brasil, predomina o descaso”, diz o brasileiro Marco Aurélio Brescia, à frente da pesquisa da Sorbonne. Ele ficou chocado, por exemplo, ao encontrar na cidade mineira de Bom Jesus do Amparo destroços de um órgão barroco do século XIX, obra de um artesão local. Com o que sobrou, ainda é possível reconstruir o maquinário original. De outra preciosidade da coleção, o órgão do Mosteiro de São Bento, no Rio, só ficou de pé a caixa original – até hoje lá –, boa amostra da imponência barroca. Mesmo que com atraso, o inventário dessas obras é o primeiro passo para a conservação do tesouro que restou.
(Marcelo Bortoloti, in Revista Veja, 3 de fev. de 2010)
Em “...sim, houve uma profícua produção do gênero no país...”, o advérbio de afirmação:
O texto a seguir é referência para as questões 08 a 10.
O nobilíssimo ponto e vírgula
Estava na “capa” do UOL ontem: “Medo de ser assassinado atinge 3 em 4 brasileiros; 67% de jovens temem a PM”. Por favor, veja o ponto e vírgula, prezado leitor. Que faz ele aí? É correto o seu emprego? [...]
Posto isso, voltemos ao título do UOL e ao ponto e vírgula que há nele. Esse título diz respeito a uma pesquisa realizada pelo Datafolha e publicada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O tema da pesquisa, obviamente, é a violência no Brasil, que, como se sabe, é um país pacífico, solidário etc., etc., etc.
As duas informações que há no título são distintas: a primeira diz respeito ao medo de ser assassinado, sentimento de 76% dos entrevistados; a segunda diz respeito ao temor que 67% dos jovens entrevistados têm da Polícia Militar.
As informações são distintas, mas integram o mesmo assunto, o mesmo campo, o mesmo território, por isso foi empregado (corretissimamente) o ponto e vírgula, que separa o primeiro bloco, completo, autônomo etc., do segundo bloco, também completo, autônomo etc.
O papel do ponto e vírgula é sempre o de separar partes autônomas de um todo, isto é, blocos que apresentam sentido e informação completos e pertencem ao mesmo conjunto, ao mesmo assunto. […]
(Pasquale Cipro Neto, publicado em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2016/11/1828820-o-nobilissimo-ponto-e-virgula.shtml?logged paywall. Acesso em 01/06/18. Adaptado)
Com base no uso do superlativo pelo autor no texto acima (adjetivo: nobilíssimo; advérbio: corretissimamente), assinale a alternativa em que foi utilizado corretamente o mesmo processo de formação de ambos os exemplos – com adjetivo e com advérbio.
Leia a tirinha a seguir:
(Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/page/8)
Diante da falta de compreensão (“Não entendi nada!”) de Armandinho, considere as seguintes afirmativas:
1. A palavra público no primeiro quadrinho é um adjetivo e significa “que pertence a todos”, enquanto a mesma palavra no segundo quadrinho é um substantivo e significa “o homem comum”.
2. A palavra “privadas” no primeiro quadrinho é um adjetivo e significa “que pertencem um indivíduo particular”, enquanto a palavra “privados” do segundo quadrinho é um verbo e significa “impedidos de ter o gozo de algo”.
3. As expressões “transporte público”, do primeiro quadrinho, e “transporte coletivo de qualidade”, do segundo quadrinho, significam a mesma coisa.
Assinale a alternativa correta.
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Seu aparelho de ar-condicionado está deixando o planeta mais quente
1 Sol, praia, calor. O Brasil é tipicamente conhecido por suas características tropicais. Apesar
2 disso, pouca gente nega um bom ar-condicionado em dias quentes. No verão do ano passado, a
3 venda desses aparelhos bateu recorde. Temos, atualmente, um total de 139 milhões de unidades
4 funcionando. Mas não é só o brasileiro que ama um friozinho artificial — Estados Unidos e Japão
5 detêm a maior parte dos exemplares mundiais. Porém, de acordo com um relatório divulgado pela
6 Agência Internacional de Energia (IEA), um irônico paradoxo foi confirmado: o aumento na
7 quantidade de aparelhos de ar-condicionado está deixando o mundo mais quente. No mundo, a
8 quantidade de ares-condicionados está concentrada em um pequeno número de países (nos
9 Estados Unidos, 90% das residências possuem). Mas à medida que a renda aumenta e as
10 populações crescem nas nações emergentes, especialmente em regiões quentes, o uso dos
11 aparelhos se torna cada vez mais comum. E as estatísticas provam: o funcionamento de ares-
12 condicionados e ventiladores já representa cerca de um quinto do total da eletricidade gasta em
13 edifícios de todo o mundo — ou 10% do consumo global.
14 Os números ficam cada vez mais exorbitantes: hoje, temos cerca de 1,6 bilhão de
15 aparelhos funcionando. Para 2050, a perspectiva é de impressionantes 5,6 bilhões. Considerando
16 também o crescimento populacional, na metade do século teremos uma estimativa de um ar-
17 condicionado para cada duas pessoas do mundo. E a demanda pelo uso de climatizadores vai
18 mais que triplicar: eles consumirão a mesma quantidade de energia que China e Índia juntas.
19 Ok, você já entendeu que temos muitos ares-condicionados pelo mundo. Mas voltemos à
20 questão principal: como eles estão tornando o planeta mais quente? Para começar, a população
21 usa “errado”. Os consumidores atuais não se preocupam em comprar aparelhos mais eficientes,
22 que gastem menos energia. A competência média dos exemplares comprados hoje é menos da
23 metade do que está normalmente disponível para venda, com cerca de um terço da tecnologia
24 dos mais eficientes. Isso pode se converter no fator econômico: geralmente os mais baratos são
25 mais simples. Mas a questão crucial é, lógico, a influência que esses bilhões de aparelhos exercem
26 na temperatura do planeta. As emissões de gases estufa liberados pelas usinas de carvão e gás
27 natural ao gerar eletricidade para os ares-condicionados quase dobrariam — de 1,25 bilhão de
28 toneladas em 2016 para 2,28 bilhões de toneladas em 2050. Essas emissões impactariam
29 significativamente o aquecimento global — o que aumentaria ainda mais a demanda por ar-
30 condicionado.
31 Sim, é um ciclo vicioso. O conforto tem um preço, e ele é bem alto. E o relatório cita
32 exemplos bem ilustrativos da situação: quanto mais aumenta a renda de uma família, cresce
33 também o número de eletrodomésticos como geladeiras e televisores. Esses aparelhos geram
34 calor, deixando o ambiente mais quente. Solução: comprar um ar-condicionado. E a maioria dos
35 ares-condicionados funcionam, em parte, “jogando” o ar quente para o lado de fora, também
36 tornando a vizinhança mais quente. Segundo estimativas, o aparelho pode elevar a temperatura
37 durante a noite em cerca de um grau Celsius em algumas cidades. Ou seja, se um número
38 suficiente de vizinhos comprar um ar-condicionado, a temperatura da sua casa pode aumentar a
39 ponto de você precisar fazer o mesmo.
40 Apesar do aparente caos cíclico sem solução, o relatório termina esperançoso. Ele fala
41 sobre o “Cenário de Refrigeração Eficiente”, um caminho que se baseia numa forte ação política
42 para limitar o uso de energia com a finalidade de resfriar os espaços. E, principalmente, fala sobre
43 investir em aparelhos mais competentes. Essa simples atitude pode reduzir a demanda futura de
44 energia pela metade — em comparação com as suposições feitas baseadas no consumo atual.
45 Também torna tudo mais barato: seguindo os padrões do Cenário de Refrigeração Eficiente, pode-
46 se reduzir os custos de investimento, combustíveis e outros gastos gerados por essa indústria do
47 frio em três trilhões de dólares até 2050. E, por último, esse cenário reduziria as emissões de
48 gases estufa pela metade. Ele está de acordo com os objetivos climáticos previstos no Acordo de
49 Paris. Então lembre-se, pelo bem do futuro do planeta, quando for comprar um ar-condicionado,
50 tenha certeza de que as especificações de eficiência são as melhores possíveis.
Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em https://super.abril.com.br/ciencia/seu-aparelho-de-ar-condicionado-esta-deixando-o-planeta-mais-quente/. Acesso em 17 mai. 2018.
A locução conjuntiva “à medida que” (l. 09) exprime uma ideia de:
Texto
29 anos de democracia
_____Mais de 90 milhões de brasileiros, quase metade da população atual, não eram nascidos quando o último general-presidente, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto. Outros 30 milhões ainda não eram adolescentes.
_____Maioria crescente dos brasileiros, portanto, terá nascido ou se tornado adulta na vigência do regime democrático. A Nova República já é mais longeva que todos os arranjos republicanos anteriores, à exceção do período oligárquico (1889-1930).
_____Em termos de escala, assiduidade e participação da população na escolha dos governantes, o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, moderno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência eleitoral anterior.
_____A hipótese de ruptura com o passado se fortalece quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distribuição de oportunidades e de mitigação de desigualdades de hoje. Sozinhas, as despesas sociais no Brasil equivalem, em percentual do PIB, a quase todo o gasto público chinês.
_____A democracia brasileira contemporânea, e apenas ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda média. A baixa qualidade dos serviços governamentais está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de políticas públicas social-democratas.
_____Autoritários e populistas do passado davam uma banana para o custeio –e o controle de qualidade– da educação básica. Governos democráticos a partir de 1985 fizeram disparar a despesa. Muito da redução na desigualdade de renda se deve a isso.
_____Ainda assim, a parte da esquerda viúva da ruína socialista vive a defender o “aprofundamento da democracia” e “mudanças estruturais” que nos livrem do modelo de “modernização conservadora” –seja lá o que esses termos signifiquem hoje.
_____Já ocorreu a tal “mudança estrutural”. O Brasil democrático não se parece com seu passado tristonho, embora ainda haja tanto por fazer.
(Vinicius Mota, Folha de São Paulo)
“Autoritários e populistas do passado davam uma banana para o custeio – e o controle de qualidade – da educação básica. Governos democráticos a partir de 1985 fizeram disparar a despesa. Muito da redução na desigualdade de renda se deve a isso.”
A palavra desse segmento que não é formada com um sufixo é
Texto
29 anos de democracia
_____Mais de 90 milhões de brasileiros, quase metade da população atual, não eram nascidos quando o último general-presidente, João Figueiredo, deixou o Palácio do Planalto. Outros 30 milhões ainda não eram adolescentes.
_____Maioria crescente dos brasileiros, portanto, terá nascido ou se tornado adulta na vigência do regime democrático. A Nova República já é mais longeva que todos os arranjos republicanos anteriores, à exceção do período oligárquico (1889-1930).
_____Em termos de escala, assiduidade e participação da população na escolha dos governantes, o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, moderno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência eleitoral anterior.
_____A hipótese de ruptura com o passado se fortalece quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distribuição de oportunidades e de mitigação de desigualdades de hoje. Sozinhas, as despesas sociais no Brasil equivalem, em percentual do PIB, a quase todo o gasto público chinês.
_____A democracia brasileira contemporânea, e apenas ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda média. A baixa qualidade dos serviços governamentais está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de políticas públicas social-democratas.
_____Autoritários e populistas do passado davam uma banana para o custeio –e o controle de qualidade– da educação básica. Governos democráticos a partir de 1985 fizeram disparar a despesa. Muito da redução na desigualdade de renda se deve a isso.
_____Ainda assim, a parte da esquerda viúva da ruína socialista vive a defender o “aprofundamento da democracia” e “mudanças estruturais” que nos livrem do modelo de “modernização conservadora” –seja lá o que esses termos signifiquem hoje.
_____Já ocorreu a tal “mudança estrutural”. O Brasil democrático não se parece com seu passado tristonho, embora ainda haja tanto por fazer.
(Vinicius Mota, Folha de São Paulo)
Assinale a opção que indica o segmento em que a conjunção e tem valor adversativo e não aditivo.
Considere o texto abaixo para responder as questões de 01 a 06.
Dia Mundial da Água
Comemora-se no dia 22 de março o Dia Mundial da Água. Essa data é destinada a reflexão e discussão sobre a relação homem e água, e abordam temas como a conservação e proteção da água, desenvolvimento correto dos recursos hídricos e medidas para resolver problemas relacionados com poluição.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) criou este evento no dia 22 de Fevereiro de 1993, devido à presença de grandes índices de poluição ambiental no planeta. Elaborou medidas cautelosas a favor da água e impôs a consciência ecológica em relação a este bem natural. Assim, é dever de cada ser humano conservar a água que é um grande patrimônio mundial e responsável por todo o equilíbrio do planeta Terra.
A água é essencial para todos os seres vivos e cobre cerca de 70% da superfície da terra. Os oceanos são responsáveis por 97,2% de toda a água do planeta, entretanto não podemos beber água do mar, por isso é necessário que as fontes de água doce sejam preservadas.
A importância da água é tamanha. Os seres humanos que poluem através de ações incorretas, esquecem de que essas ações podem atingi-los de forma direta. Além de ser o principal constituinte do corpo humano e essencial para o pleno funcionamento do organismo, a água é utilizada de diversas formas, principalmente para alimentação e sobrevivência dos animais e plantas.
Com o Dia Mundial da Água, espera-se que resíduos entulhos e produtos tóxicos que são despejados no meio ambiente sejam reduzidos e evitar a poluição das águas que aparecem sob diversas formas como através de poluição térmica (descarga de efluentes e altas temperaturas), poluição física (descarga de material em suspensão), poluição biológica (descarga de vírus e bactérias patogênicas) e poluição química (acontece devido a deficiência de oxigênio, toxidez e eutrofização).
Processos de decomposição que contribuem para o aumento de nutrientes e produtividade biológica, permite que as algas presentes nas águas se proliferem, tornando-a turva e aumentando a toxidez para os seres que vivem nela. Esse fenômeno é chamado de eutrofização e é um tipo de poluição química.
É de fundamental importância a conscientização da população mundial em relação à educação ambiental e atitudes do dia-a-dia fazem a diferença. Se cada um reduzir um a dois minutos do tempo de banho diário, três a seis litros de água serão economizados. Se multiplicar este volume pelo número de habitantes presentes em uma cidade, percebe-se que os resultados trazem impactos positivos e fazem a diferença.
Os temas do Dia Mundial da Água variam a cada ano. Em 2016 o tema é "Água e Empregos".
Disponível em: http://www.infoescola.com/datas-comemorativas/dia-mundial-da-agua/. Acesso em 21/04/2016.
As palavras relacionadas são derivadas por sufixação:
Texto para as questões de 1 a 7.
1 __ Na era da informação e de uma economia cada vez
mais global, as novas descobertas tecnológicas se superam
em uma velocidade sem precedentes na história. Nesse
4 cenário, os desafios e as exigências que o mercado apresenta
aos profissionais de radiologia e às instituições de saúde
requerem flexibilidade e capacidade de absorção rápida
7 das inovações do setor. Assim, o técnico em radiologia deve
investir no constante aprendizado para o manejo das novas
tecnologias, levando em consideração a evolução
10 permanente dos processos na medicina diagnóstica. Nesse
contexto, a aquisição de expertise na radiologia digital é
fundamental, já que a substituição do filme radiográfico pela
13 representação computadorizada facilita o trabalho do
profissional em diversas vertentes, tais como: a possibilidade
de ajustes (contrastes) ou ampliação de imagens; o
16 armazenamento das imagens em nuvem, que permite sua
visualização por meio de qualquer dispositivo com acesso à
Internet; e o compartilhamento das imagens digitalizadas
19 entre outros profissionais (mesmo que estejam fora das
instituições), que facilita o processo de tomada de decisão.
Além disso, os avanços tecnológicos na área da radiologia
22 favorecem a redução significativa da dose de exposição dos
pacientes à radiação, a diminuição de custos, devido à
eliminação de filmes radiográficos, a diminuição dos danos
25 socioambientais provocados pelo uso do filme e de
reveladores químicos e a redução do tempo de espera para a
emissão de laudos e para a realização de diagnósticos. A
28 tecnologia permite ainda a elaboração de laudos por
reconhecimento de voz e a organização automática na
distribuição de equipamentos e salas ociosas (benefícios dos
31 sistemas de gestão, geração de laudos, armazenamento e
compartilhamento de imagens).
Internet: <http://www.mv.com.br/>(com adaptações).
Assinale a alternativa em que a palavra destacada do texto está empregada como adjetivo.
Leia o texto para responder às questões de 01 a 07.
SOBRE CAFÉS E LIVROS
O que é que eu fui fazer na livraria? Eu estava procurando um livro. Como era desses códices que a gente tem vontade de rabiscar, anotar, comentar, marcar, resolvi ter o livro, bonito, impresso, original. Não encontrei em lugar nenhum, mas o que importa é o percurso desta minha busca.
Passei por duas livrarias dessas enormes, com escadarias, segundo andar, rede de lojas por toda a cidade. Também passei por duas livrarias médias, dessas que têm tradição e são cercadas de lendas urbanas. As outras quatro eram livrarias cult, dessas que servem café e bolos. Pedi um capuchino e até fiquei um tempo ouvindo a moça que cantava ao vivo num palco. Mas então me lembrei de que tinha uma meta: procurar um livro e fui em busca dele. Mexi e remexi em todas as prateleiras, mapeei a loja, fui nas estantes que ficavam sob a placa da categoria em que eu imaginava encontrar meu livrinho. Observei, me aproximei, espirrei a poeira dos livros guardados, chamei o vendedor, pedi informação à menina do caixa e saí de lá com as mãos abanando.
Em Belo Horizonte, e em vários outros lugares, você pode ir a uma livraria sem ter a menor vontade de comprar ou ver um livro. Impressionante a limpeza do balcão, a voz da cantora, a estante de periódicos, o uniforme dos garçons, a agilidade do caixa, o cheirinho do café. Mas na livraria, o vendedor não sabia me informar sobre livros, e as estantes estavam empoeiradas em completa desorganização. Era impossível inferir, sem ajuda urgentíssima, o critério de disposição daquelas obras todas. No meio dos dicionários de línguas, estava o dicionário de palavrões do Glauco Mattoso. No meio dos livros de botânica, estava o Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque. O livro que eu procurava devia estar em algum lugar daquele universo indistinto. Talvez na prateleira da cozinha, junto com as colheres de pau.
O que eu procuro quando vou a uma livraria? Em geral, procuro por um livro. Também posso chegar à loja procurando por um tema, sem ter a ideia exata de que livro levar. Eu sinto a necessidade de encontrar ajuda numa espécie de consumidor, alguém que saiba sobre o objeto que vende. Não um vendedor treinado para me dizer “bom dia”. Daí que faço as perguntas e ele deve me responder com alguma dose de precisão, além da simpatia. Também pode ser que ele me dê uma sugestão, o que será delicioso. E se a sugestão for bem sucedida, serei fiel à livraria.
Mas parece que, nesta cidade, as livrarias já não têm mais a missão de vender livros. Têm tantas outras que essa se confunde com o pó do capuchino industrializado. Estão lá garçons que vendem livros e cantoras que interpretam poetas que não se encontram mais nas prateleiras. A menina do caixa nunca lê as capas das obras que vende. Atrás dela está pendurado um painel com uma cena de Dom Quixote. Ela pensa que é o esboço de um desenho animado Disney. E então eu sei que não encontrarei o livro que eu quero porque ele deve estar perdido na desordem da loja. Não poderei contar com o vendedor porque ele também não sabe do que eu estou falando. E não poderei fazer outra coisa ali que não seja degustar um café e ler sobre vinhos chilenos com nomes interessantes.
Eu não fui com a intenção de conhecer vinhos andinos. Nem cheguei lá pensando em paquerar. Também não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico. Não imaginava que seria atendida por um garçom e não queria que o vendedor ficasse constrangido em me dizer que nunca ouvira falar daquele livro antes. Eu queria uma obra que infesta as referências dos meus pares. E onde será que eles a encontram?
Depois de percorrer a cidade em busca do meu livro e não encontrar, entrei na internet e achei. Pedi, paguei frete e o terei em casa sem pedir ao garçom e sem sentir cheiro de café. Não há nada de mal em tomar capuchino na livraria. O que deve estar fora do lugar é a ênfase. Se eu entrasse numa cafeteria e perguntasse por um livro, talvez o garçom se desse conta de que eu é que estava no lugar errado.
RIBEIRO, Ana Elisa. Meus Segredos com Capitu. 2 ed. Natal: Jovens Escribas, 2015. (adaptado)
No excerto do texto “[...] não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico” (6º parágrafo), a conjunção subordinativa expressa:
Texto para responder às questões de 01 a 15.
Uma vela para Dario
Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminui o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Foi escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se ele não está se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
Estendeu-se mais um pouco, deitado agora na calçada, e o cachimbo a seu lado tinha apagado. Um rapaz de bigode pediu ao grupo que se afastasse, deixando-o respirar. E abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe tiram os sapatos, Dario roncou pela garganta e um fio de espuma saiu no canto da boca.
Cada pessoa que chegava se punha na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram acordadas e vieram de pijama às janelas. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao lado dele.
Uma velhinha de cabeça grisalha gritou que Dario estava morrendo. Um grupo transportou-o na direção do táxi estacionado na esquina. Já tinham introduzido no carro a metade do corpo, quando o motorista protestou: se ele morresse na viagem? A turba concordou em chamar a ambulância. Dario foi conduzido de volta e encostado à parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
Alguém afirmou que na outra rua havia uma farmácia. Carregaram Dario até a esquina; a farmácia era no fim do quarteirão e, além do mais, ele estava muito pesado. Foi largado ali na porta de uma peixaria. Imediatamente um enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse o menor gesto para espantá-las.
As mesas de um café próximo foram ocupadas pelas pessoas que tinham vindo apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delícias da noite. Dario ficara torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os documentos. Vários objetos foram retirados de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do seu nome, idade, cor dos olhos, sinais de nascença, mas o endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se tumulto na multidão de mais de duzentos curiosos que, a essa hora ocupava toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu contra o povo e várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo – os bolsos vazios. Restava apenas a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio – quando vivo – não podia retirar do dedo senão umedecendo-o com o sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.
A última boca repetiu – “Ele morreu, ele morreu”, e então a gente começou a se dispersar. Dario havia levado quase duas horas para morrer e ninguém acreditara que estivesse no fim. Agora, os que podiam olhá-lo, viam que tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não lhe pôde fechar os olhos ou a boca, onde as bolhas de espuma haviam desaparecido. Era apenas um homem morto e a multidão se espalhou rapidamente, as mesas do café voltaram a ficar vazias. Demoravam-se nas janelas alguns moradores, que haviam trazido almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario esperando o rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade, apagando-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
TREVISAN, Dalton. . Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1964, p.33-35.
O termo destacado em “Dois ou três passantes rodearam-no, indagando SE ele não está se sentindo bem.”, no contexto, é: