Questões de Concurso Sobre orações coordenadas sindéticas: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas... em português

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Q3216172 Português
Texto para responder à questão.

      Eu deveria cantar.
    Rolar de rir ou chorar, eu deveria, mas tinha desaprendido essas coisas. Talvez então pudesse acender uma vela, correr até a igreja da Consolação, rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma Glória ao Pai, tudo que eu lembrava, depois enfiar algum trocado, se tivesse, e nos últimos meses nunca, na caixa de metal “Para as Almas do Purgatório”. Agradecer, pedir luz, como nos tempos em que tinha fé.
      Bons tempos aqueles, pensei. Acendi um cigarro. E não tomei nenhuma dessas atitudes, dramáticas como se em algum canto houvesse sempre uma câmera cinematográfica à minha espreita. Ou Deus. Sem juiz nem plateia, sem close nem zoom, fiquei ali parado no começo da tarde escaldante de fevereiro, olhando o telefone que acabara de desligar. Nem sequer fiz o sinal da cruz ou levantei os olhos para o céu. O mínimo, suponho, que um sujeito tem a obrigação de fazer nesses casos, mesmo sem nenhuma fé, como se reagisse a uma espécie de reflexo condicionado místico.
     Acontecera um milagre. Um milagre à toa, mas básico para quem, como eu, não tinha pais ricos, dinheiro aplicado, imóveis, nem herança e apenas tentava viver sozinho numa cidade infernal como aquela que trepidava lá fora, além da janela ainda fechada do apartamento. Nada muito sensacional, tipo recuperar de súbito a visão ou erguer-se da cadeira de rodas com o semblante beatificado e a leveza de quem pisa sobre as águas. Embora a miopia ficasse cada vez mais aguda e os joelhos tremessem com frequência, não sabia se fome crônica ou pura tristeza, meus olhos e pernas ainda funcionavam razoavelmente. Outros órgãos, verdade, bem menos.
     Toquei o pescoço. E o cérebro, por exemplo.
    Já chega, disse para mim mesmo, parado nu no meio da penumbra gosmenta do meio-dia. Pense nesse milagre, homem. Singelo, quase insignificante na sua simplicidade, o pequeno milagre capaz de trazer alguma paz àquela série de solavancos sem rumo nem ritmo que eu, com certa complacência e nenhuma originalidade, estava habituado a chamar de minha vida, tinha um nome. Chamava-se – um emprego.


(ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga? São Paulo: Planeta De Agostini, 2003, p. 11-12.)
Tendo em vista que o valor de um conectivo é fundamentado no contexto em que se encontra, podemos afirmar que a conjunção “mas” em “Rolar de rir ou chorar, eu deveria, mas tinha desaprendido essas coisas.” (2º§), manteria o sentido que expressa, caso fosse substituída por:
Alternativas
Q3212410 Português
Qual dos conectivos listados nas alternativas preenche coerentemente a lacuna inserida no parágrafo abaixo?
Era para Gabigol, que estreava oficialmente com a camisa celeste, ser a estrela da tarde no Mineirão, ______ seu protagonismo foi tomado pela negatividade, especialmente, sobre seu treinador. Neste sábado (25/1), o Cruzeiro empatou por 1 a 1 com o Betim, pelo Campeonato Mineiro, resultado que aumentou ainda mais a pressão sobre Fernando Diniz. [...] MORAES, Gabriel. Em estreia de Gabigol, Cruzeiro empata com o Betim e aumenta pressão sobre Diniz. O Tempo, 25 de janeiro de 2025. Disponível em: https://www.otempo.com.br/sports/cruzeiro/2025/1/25/em-estreia-de-gabigol-cruzeiro-empata-com-o-b etim-e-aumenta-pressao-sobre-diniz. Acesso em: 25 jan. 2025. Adaptado.
Alternativas
Q3212346 Português
Assinalar a alternativa em que a oração sublinhada é uma oração coordenada.
Alternativas
Q3203743 Português
No período “Ela se esforçou, mas não conseguiu completar a prova”, qual é a relação expressa pela conjunção “mas”?
Alternativas
Q3203741 Português
Assinale a alternativa que apresenta um período composto: 
Alternativas
Q3199051 Português
Leia o texto a seguir:


Inteligência artificial consegue decifrar o que dizem textos de papiros históricos


Com uma nova técnica, a inteligência artificial ajudou a decifrar papiros e mais textos antigos.


     Para que uma inteligência artificial (IA) seja usada para determinada função, ela é treinada, por meio de experiências, para que as máquinas adquiram conhecimentos e possam se adaptar às condições e desempenhar tarefas como os seres humanos. Seu uso pode ser infinito e nos mais variados campos. Como por exemplo, essa inteligência artificial que conseguiu decifrar o que dizem os textos de papiros históricos.

    Isso é algo que revoluciona todo o setor e traz vários dados inéditos sobre o passado. Com essa inteligência artificial, os especialistas foram capazes de decifrar os papiros de Herculano que foram queimados durante a erupção do Vesúvio em 79 d.C.

    Além desse feito, outras coisas que puderam ser decifradas por essa tecnologia foram o grande arquivo a respeito dos reinados de 27 reis coreanos, que viveram entre os séculos XIV e XX, e as tabuinhas de Creta, esculpidas com uma escrita complexa chamada “Linear B”.

     No caso dos papiros de Herculano, uma técnica de desenrolamento virtual foi criada. Ela consegue escanear os papiros, através de uma tomografia de raios X, e mapear cada camada. Depois que isso é feito, essa técnica o desenrola em uma imagem plana.

     A IA vem para fazer a distinção da tinta com a base de carbono, que é invisível nas digitalizações porque tem a mesma densidade do papiro. É assim que a inteligência artificial ajuda a decifrar essas folhas.

    Conseguir fazer isso é um grande passo no estudo da história da humanidade. Tanto que, no começo de 2024, três pesquisadores foram premiados com 700 mil dólares por terem conseguido produzir 16 colunas de texto claramente legíveis. Também existiu uma competição internacional nesse tema que foi capaz de desvendar letras, palavras e sentenças inteiras dos textos que foram carbonizados.

    “Nesse momento você realmente pensa: ‘Agora estou vivenciando algo que constituirá um momento histórico para minha área'”, afirmou Federica Nicolardi, papirologista da Universidade Federico II de Nápoles.
      A inteligência artificial ter ajudado a decifrar os papiros é uma nova porta para que a leitura de outros textos, antes inacessíveis, também possa acontecer. Alguns exemplos são os que estão escondidos nas encadernações de livros medievais ou nas bandagens envolvendo múmias antigas.


Fonte:https://www.fatosdesconhecidos.com.br/inteligencia-artificial-consegue-decifrar- o-que-dizem-textos-de-papiros-historicos/?fbclid=IwY2xjawHrhCxleHRuA2FlbQIxM QABHQzDWydLSnLeth9FB7XB-xjaek38BWgtmEE2d3uZbFDpn9AxXKWmHkg
Para que uma inteligência artificial (IA) seja usada para determinada função, ela é treinada, por meio de experiências, para que as máquinas adquiram conhecimentos e possam se adaptar às condições e desempenhar tarefas como os seres humanos” (1º parágrafo). O conectivo em destaque veicula sentido de:
Alternativas
Q3198019 Português
 Polícia Civil investiga caso de “falso dentista” na Grande SP; prejuízo de uma das vítimas chegou a R$ 32 mil


Internet: <www.g1.globo.com> (com adaptações).

De acordo com o texto, julgue o item seguinte.


Entre as linha 4, os termos “no dia 8 de novembro”, “em Suzano” e “na Grande São Paulo”, apesar de coordenados, não exercem a mesma função sintática.

Alternativas
Q3198009 Português
Ferrari cobra R$ 42 mil de dentista acusado por plágio após fabricar réplica no interior de SP


Internet: <www.g1.globo.com> (com adaptações).

Com base no texto, julgue o item a seguir.


Nas linhas 5 e 6, o período “A Ferrari, no entanto, descobriu e pediu a apreensão do veículo” é composto de uma oração adversativa coordenada com uma oração aditiva.

Alternativas
Q3196496 Português
Leia o texto a seguir:


Homem é flagrado andando de 'jet ski' na Ponte Rio-Niterói e vídeo viraliza nas redes sociais


Registro mostra veículo aquático adaptado para o asfalto com peças de motocicleta


     Um vídeo em que um homem anda em uma moto modificada com carcaça de jet ski pela Ponte Rio-Niterói viralizou nas redes sociais no último domingo. O meio de transporte, usado na água, foi adaptado com rodas e um chassi de moto para conseguir andar no asfalto.

     O registro mostra que o piloto não usa equipamentos de segurança de condução de uma moto. Ele anda de bermuda e chinelo, além de usar um capacete não recomendado. O condutor do veículo adaptado se identifica nas redes sociais como Lobão.

    Além do registro na Ponte, ele também compartilhou o momento em que trafegou pela Linha Vermelha e Amarela. O fato inusitado chamou a atenção dos internautas, que repercutiram o vídeo. "Veículo híbrido, já vai dar aquele mergulho no mar", escreveu um. "RJ está valendo tudo!!!", publicou outro.

   Criticado nas redes sociais, o homem rebateu afirmando que a moto está emplacada e regularizada. "A pessoa tem que estar com a alma podre para se incomodar com um moto jet passando na rua. As pessoas olham e acham graça, aí tem uns que pedem até prisão. Onde passa chama atenção, quem está estressado, arranca um sorriso da pessoa", justifica o condutor.

     Procurada, por meio de nota a Ecoponte descreveu que o veículo cruzou sentido Rio de Janeiro acoplado em um carro de passeio, e que "na altura da descida do Vão Central, o veículo parou, soltou o equipamento e ele seguiu viagem pela via". A reportagem tentou contato com a Polícia Rodoviária Federal para mais detalhes sobre o caso, mas ainda não obteve respostas. O espaço segue em aberto.

    Em nota, a Polícia Rodoviária Federal, responsável pela fiscalização da rodovia, confirmou que o homem passou pelo pórtico 11 da Ponte Rio-Niterói no último domingo, por volta das 15:40.

    "Em pesquisa no sistema, foi verificado que na verdade se tratava de uma motocicleta Suzuki AN125, com adulteração não autorizada do veículo. Foi verificado também que um automóvel estava ajudando a levar a moto aquática em uma carreta, e ambos foram identificados em imagens para futuras autuações que serão geradas em detrimento das imagens analisadas", afirmou a PRF.

   Questionado pelo GLOBO, o Detran-RJ afirmou que, de acordo com as normas vigentes, qualquer veículo que passe por alterações em suas características originais precisa ser submetido à avaliação e aprovação pelos órgãos técnicos competentes.


Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/01/07/homem-e-flagrado-andando- de-jet-ski-na-ponte-rio-niteroi-e-video-viraliza-nas-redes-sociais.ghtml. Acesso em 07/01/2024
“A reportagem tentou contato com a Polícia Rodoviária Federal para mais detalhes sobre o caso, mas ainda não obteve respostas” (5º parágrafo). Nesse período, a vírgula foi empregada para:
Alternativas
Q3194409 Português

Saúde mental no trabalho: empresas precisam ir além da NR-1 em 2025



    A saúde mental dos trabalhadores se tornará uma prioridade para as empresas brasileiras a partir de 2025. O aumento de afastamentos por estresse, ansiedade e Burnout tem colocado essa questão em evidência. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entra em vigor em maio de 2025, exigirá que as empresas incluam a avaliação dos riscos psicossociais em seus processos de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). No entanto, a mudança vai além de uma simples exigência legal. As empresas precisam entender que o bem-estar mental de seus trabalhadores afeta diretamente o ambiente de trabalho e a produtividade.


    Os riscos psicossociais incluem fatores como sobrecarga de trabalho, assédio moral, pressão por metas excessivas e falta de suporte. Esses problemas estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil. A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2023 mostra que mais de 4,5 milhões de estabelecimentos empregam trabalhadores no país. O setor de serviços tem crescido, refletindo a complexidade das relações de trabalho e os desafios enfrentados pelos trabalhadores.


    Esses fatores psicossociais têm gerado aumento nos afastamentos por doenças mentais, como depressão e ansiedade. Isso impacta diretamente a produtividade das empresas. Em muitos casos, os afastamentos tornam-se crônicos, prejudicando tanto o trabalhador quanto a organização. Tatiana Gonçalves, especialista da Moema Medicina do Trabalho, afirma: “A saúde mental dos trabalhadores nunca foi tão importante para o sucesso das empresas. A mudança nas normas é só o começo. O mais importante é que as empresas reconheçam essa questão como estratégica para manter seus trabalhadores motivados, produtivos e saudáveis. Os riscos psicossociais incluem diversos fatores que afetam o bem-estar psicológico dos trabalhadores. 


    Esses fatores podem gerar problemas graves para a saúde mental. Eles afetam não só a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também a produtividade e o clima organizacional.


    A atualização da NR-1 trará uma abordagem mais detalhada sobre os riscos psicossociais no trabalho. As empresas agora serão obrigadas a identificar e gerenciar esses riscos. Após identificar os riscos, as empresas precisam implementar planos de ação. Essas medidas incluem:


• Reorganizar o trabalho para reduzir a sobrecarga de tarefas e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Promover um ambiente de trabalho saudável, focando nas relações interpessoais e no bem-estar geral;


• Realizar ações contínuas de monitoramento e ajustes para garantir que as medidas adotadas sejam eficazes. Além disso, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realizará uma fiscalização planejada. Ela focará em setores com alta incidência de doenças mentais, como teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde. Os auditores verificarão a organização do trabalho e os dados sobre afastamentos relacionados à saúde mental;


• Implementar programas de Primeiros Socorros Psicológicos (PSP) também é uma ação importante para lidar com crises emocionais no ambiente de trabalho. Os PSP envolvem intervenções simples, mas eficazes para ajudar uma pessoa em sofrimento emocional até que um profissional de saúde mental seja consultado.


    Tatiana Gonçalves explica que “os Primeiros Socorros Psicológicos são importantes, pois uma intervenção simples e imediata pode resolver a crise emocional no ambiente de trabalho. A empatia e o apoio emocional podem evitar o agravamento do quadro de estresse ou ansiedade”.


    Portanto, investir nesse tema não só previne o afastamento de trabalhadores, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais engajado e motivado. Empresas que implementam boas práticas não só cumprem a legislação, mas também demonstram seu compromisso com o bem-estar de seus trabalhadores.


(Allan Ravagnani. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/. Acesso em: janeiro de 2025. Adaptado.)

“Os PSP envolvem intervenções simples, mas eficazes para ajudar uma pessoa em sofrimento emocional [...]” (8º§) Quanto à relação entre as orações, assinale a alternativa correta.
Alternativas
Q3194051 Português
Leia a seguinte frase:
“Você a instigou com suas palavras; não se lamente, pois, por suas reações.”
Qual a correta classificação do termo em destaque?
Alternativas
Q3192887 Português

Leia o texto a seguir para responder a questão:


O sertanejo é, antes de tudo, um forte. [...] A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. [...] Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertigase, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte [...]. (Euclides da Cunha. Os sertões: campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, pp. 129-130. )

No trecho: “...que lhe dá um caráter de humildade deprimente. [...] Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.”, a palavra "entretanto" introduz uma ideia de:
Alternativas
Q3188093 Português

A questão  diz respeito ao texto. Leia-o atentamente antes de respondê-la.



Q1_9.png (350×469)

A oração iniciada por ‘Portanto’ (linha 13), sem vínculo de dependência sintática com a anterior, possui a nomenclatura de:
Alternativas
Q3185743 Português
No período: “arrumarei uma namorada na festa ou irei embora o mais rápido possível”
A segunda oração é coordenada sindética: 
Alternativas
Q3183054 Português
Para responder à questão, analise o trecho a seguir:

As tecnologias digitais trouxeram grandes transformações para a educação, assim (1), modificando processos de ensino-aprendizagem que ora (2) são compreendidos como benéficos, por dinamizarem a aula e permitirem acesso mais rápido ___ diversas informações, ora (2) são interpretados como maléficos, por (3) diminuírem a capacidade dos alunos resolverem problemas, de forma analítica e autônoma. 

(Disponível em: https://eventos.congresse.me/ellin/resumos/31138.pdf?version=resended – texto adaptado especialmente para esta prova)
Assinale a alternativa que indica a correta relação de sentido introduzida pelos elementos sublinhados e numerados no trecho anterior, respectivamente.
Alternativas
Q3182263 Português

O texto a seguir servirá de base para responder à questão.



Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior


Julián Fuks



Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.


Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."


Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.


Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?


Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."


Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.


Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.


Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as-emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso em 18 out. 2024.

Leia as proposições que seguem:
I. Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.
II. Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.
III. Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.
A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em:
Alternativas
Q3181800 Português

O texto seguinte servirá de base para responder à questão de 1 a 10.


Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior


Julián Fuks


Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.


Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."


Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.


Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?


Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."


Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.


Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.


Disponível em:

https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as-emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso em 18 out. 2024.

Leia as proposições que seguem:


I. Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.


II. Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.


III. Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.


A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em:

Alternativas
Q3179787 Português
Analise o excerto a seguir e assinale a alternativa que preenche correta e respectivamente suas lacunas.

A data da festa estava se aproximando, __ não haviam começado a cuidar dos preparativos. Sempre pensavam em deixá-los para __ tarde. No fundo, sabiam que precisariam de __ dois ou três dias.
Alternativas
Q3178790 Português

Leia o texto para responder à próxima questão.


Aprendi. (Clarice Lispector).


Compreendi que viver é ser livre. Que ter amigos é necessário. Que lutar é manter-se vivo.

Que para ser feliz basta querer.

Aprendi que o tempo cura. Que mágoa passa. Que decepção não mata. Que hoje é reflexo de ontem. Compreendi que podemos chorar sem derramar lágrimas. Que um verdadeiro amigo permanece. Que dor fortalece. Que vencer engrandece.

Aprendi que sonhar não é fantasiar. Que para sorrir tem que se fazer alguém sorrir. Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos. Que o valor está na força da conquista.

Compreendi que as palavras têm força. Que fazer é melhor que falar. Que o olhar não mente.

Que viver é aprender com os erros. Aprendi que tudo depende da vontade. Que o melhor é ser nós mesmos. Que o segredo da vida é viver!

E uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.

Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi criadora de minha própria vida. 

No período do texto “e sim no que sentimos”, temos uma oração: 
Alternativas
Q3178167 Português

O texto seguinte servirá de base para responder à questão.


Bater perna


Mineiro que é mineiro quando sai de casa quer resolver o mundaréu de convites que estava devendo.


Ele demora para largar o aconchego de seu lar, mas, quando decide, não quer perder a viagem. Pretende aproveitar o máximo do tempo para dar conta da blitz afetuosa e quitar a lista de intenções do ano passado.


Não é mais um passeio, e sim uma romaria. Se perigar, é capaz de visitar cinco pessoas no sábado, com um tiquinho de café num, um tiquinho de broa no outro, jamais recusando provar os petiscos.


Confunde-se com um trem: várias estações a descer até o fim dos trilhos. Não é à toa que suspira "trem" para qualquer "treco".


Mineiro é supersticioso. Não aceita abrir a boca em vão.


Pressinto a correria da esposa no momento em que confessa que a família vem reclamando que anda sumida e que, se continuar sem dar notícias, pensará que ela morreu. Aliás, mineiro apenas aceita notícias pessoalmente, caso contrário não acredita.


Conversar por telefone ameniza a saudade, ajuda um pouco a entender o problema, porém não substitui a presença em carne e osso. Aqui é São Tomé com Phd: só tocando para crer.


Minha esposa quando fala que vai visitar uma tia é uma parcela da verdade: pretende visitar todas as suas tias. É a tia Norma. É a tia Geni. É tia Therezinha. É tia Naná. Será o dia das tias. O dia exclusivo da tiarada.


Não pode deixar nenhuma de fora, para não ser injusta. Pois se uma fica sabendo, o risco da desilusão é iminente. Uma tia pode se sentir preterida e não atender mais as ligações. Mineiro quando se chateia simplesmente não atende mais as ligações. Finge-se de surdo. O silêncio é a sua terrível vingança: desaparece de repente para gerar preocupação, obrigando quem fez a desfeita a ir a sua casa e bater à porta.


A culpa em Minas está diretamente ligada ao amor. Você se vê culpado até por aquilo que não aconteceu.


Força-se a alegria com medo da tragédia.


Ela parte de manhãzinha e somente voltará à noite. Para não render o assunto comigo, avisa que será rapidinho. Leia-se rapidinho em cada uma das trocentas paradas. Já estarei dormindo, certamente, em seu regresso. Nem me preocupo mais como antes. 


Às vezes acredito que está em permanente campanha eleitoral, tentando desesperadamente não perder os votos que possuía.


Assim como há a data reservada para as tias, ainda tem o dia dos primos, dos tios, dos tios-avós, dos amigos, dos colegas de trabalho. A sorte que é filha única e sobrou um dia para mim, senão teria ainda o dia dos irmãos.


Nunca vi ninguém cuidar tanto da família como o mineiro. Não suporta o adeus, muito menos tolera o tchau. É inté! (traduzindo: volte logo, sem desculpas).


Disponível em Acesso em 25 nov 2024

No trecho "Conversar por telefone ameniza a saudade, ajuda um pouco a entender o problema, porém não substitui a presença em carne e osso", analise a estrutura sintática e identifique a alternativa correta sobre o tipo de período e as orações que o compõem.
Alternativas
Respostas
1: B
2: A
3: C
4: D
5: B
6: B
7: E
8: C
9: D
10: C
11: B
12: B
13: A
14: D
15: A
16: D
17: A
18: C
19: C
20: A