O QUE VIVI AO FICAR PRESO NO ELEVADOR
Por Ton Paulo – 20 novembro 2019
As portas do elevador estacionado no térreo já se fechavam quando, numa corrida
rápida, coloco o braço no rumo do sensor a tempo de fazê-las reabrirem. Entro ainda
ofegante no cubículo vazio, não sem antes soltar um “que sorte!” em voz baixa.
Sou apaixonado por elevadores vazios. O intervalo do térreo até o andar escolhido é
sempre o momento oportuno do dia para dar uma ajeitada no cabelo no espelho, olhar as
mensagens ainda não visualizadas e respirar. Mas não hoje.
O elevador parou no meu andar, o 25º, mas as portas não se abriram. Espero,
estranhando o delay, e nada. Alguns instantes depois, o ventilador de teto para. Era isso: eu
estava preso em um elevador enguiçado.
Desato a tocar o interfone, mas, no lugar de uma voz humana, só recebo uma
luzinha que pisca insistentemente. Do nada, me vem a palavra “claustrofobia” – do latim,
claustro phobos: medo de lugares fechados. Eu não tinha aquilo, mas sentia que meus
pulmões já puxavam o ar de maneira irregular.
Sento, levanto, sento novamente, dou voltas só de meias dentro do cubículo de
metal. Exatos uma hora e cinquenta minutos se passam até que um funcionário abre a
porta, com o elevador já no térreo e me encontra no chão abraçado às minhas pernas.
Ainda um pouco trêmulo e puxando o ar com força, caminho até a recepcionista: “Onde
ficam as escadas mesmo?”
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