Questões de Concurso Sobre significação contextual de palavras e expressões. sinônimos e antônimos. em português

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Q683290 Português

Texto 1

PAISAGENS EM MOVIMENTO

    Ponho todos os cristais ao Sol de sábado, acendo vela para Oxum e de repente pergunto para ninguém: viver é viajar? Sim — é clichê, mas verdadeiro —, viver é viajar. Como pergunto para ninguém, é ninguém que responde? Ou quando se diz ninguém isso será apenas a maneira dissimulada de referir-se a um Alguém talvez com maiúscula? Eu não sei? Resisto à tentação de um texto todo feito inteiro de interrogações: quero falar de viagem.

     Quando vocês estiverem lendo isto aqui, estarei viajando. E estarei bem porque estarei viajando. Vem de longe essa sensação. Não apenas desde a infância, viagens de carro para a fronteira com a Argentina, muitas vezes atolando noite adentro, puxados por carro de boi, ou em trem Maria Fumaça, longuíssima viagem até Porto Alegre, com baldeação em Santa Maria da Boca do Monte. Outro dia, seguindo informações vagas de parentes, remexendo em livros de História, descobri que um de meus antepassados foi Cristóvão Pereira de Abreu, tropeiro solitário que abriu caminho pela primeira vez entre o Rio Grande do Sul e Sorocaba, imagino que talvez lá pelo século 17 ou 18. Deve estar no sangue, portanto, no DNA. Como afirmam que “quem herda aos seus não rouba”, está tudo certo e é assim que é e assim que sou.

    Pois adoro viajar. Quem sabe porque o transitório que é a vida, em viagem deixa de ser metáfora e passa a ser real? Para mim, nada mais vivo do que ver o povo e paisagem passar e passar além de uma janela em movimento. Talvez trouxe esta mania dos trens (janela de trem é a melhor que existe), carros e ônibus da infância, porque mesmo em avião hoje em dia, só viajo na janela. Quem já viu de cima Paris, o Rio de Janeiro ou a antiga Berlim do muro sabe que vale a pena.

    Topo qualquer negócio por uma viagem. Quando mais jovem, cheguei a fazer mais de uma vez São Paulo-Salvador de ônibus (na altura de Jequié você entende o sentido da palavra exaustão), há três anos naveguei São Luís do Maranhão-Alcântara num barquinho saltitante (na maré baixa, você caminha quilômetros pelo manguezal), e exatamente há um ano atrás, já bastante bombardeado, encarei Paris-Lisboa de ônibus, e logo depois ParisOslo de ônibus também. Não por economia, a diferença de avião é mínima — mas por pura paixão pela janela. Sábia paixão. Não fosse isso, jamais teria comprado aquela fita de Nina Hagen numa lanchonete de beira de estrada nos Países Bascos (tristes e feios) à margem dos Pireneus, ou visto a cidadezinha onde nasceu Ingrid Bergman, num vale belíssimo na fronteira da Suécia com a Noruega.

    Para suportar tais fadigas, é preciso não só gostar de viajar, mas principalmente de ver. Para um verdadeiro apaixonado pelo ver, não há necessidade sequer de fotografar, vídeo então seria ridículo. Quando não se tem a voracidade de registrar o que se vê, vê-se mais e melhor, sem ânsia de guardar, mostrar ou contar o visto. Vê-se solitária e talvez inutilmente, para dentro, secretamente, pois ninguém poderá provar jamais que viu mesmo. Além do mais a memória filtra e enfeita as coisas. Até hoje não sei se aquela Ciudad Rodrigo que vi pela janela do ônibus, envolta em névoas no alto de uma colina no norte da Espanha, seria mesmo real ou metade efeito de um Lexotan dado por meu amigo Gianni Crotti em Lisboa. Cá entre nós, nem preciso saber.

     Mando esta da estrada, ando com o pé que é um leque outra vez. Lembro um velho poema de Manuel Bandeira — «café com pão/café com pão” — recriando a sonoridade dos trens de antigamente. Pois aqui nesta janela, além dela, passa boi, passa boiada, passa cascata, matagal, vilarejo e tudo mais que compõe a paisagem das coisas viventes, embora passe também cemitério e fome. Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam. Deixa passar. 


       ABREU, Caio Fernando. Pequenas epifanias. Porto Alegre: Sulina, 1996. p. 155–157. 

Em “Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam”, o verbo “passar” deixa de indicar
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Q683234 Português

                                                          TEXTO 2

                                               A ALMA DO CONSUMO

      Todos os dias, em algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege sentimentos, engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar. Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no mundo, humilhando e aprisionando, às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumimos e somos consumidos.

     O consumo não pertence a todas as épocas nem a todas as civilizações. Somente há pouco tempo histórico é que falamos e entendemos viver numa sociedade de consumo, onde tudo parece adaptar-se à lógica dessa racionalidade, ou seja, à esfera do lucro e do ganho, à ética e à estética das trocas pagas. É uma singularidade histórica. Tornamo-nos Homo consumericus.

   Para uma psicologia arquetípica, há deuses em nosso consumo: Afrodite da sedução e do encantamento pela beleza e pelo prazer, Hermes do comércio e da troca intensa, Cronos do devoramento, Plutão da riqueza e da abundância, Criança Divina da novidade, Dioniso do arrebatamento, Narciso ensimesmado, Herói furioso, Eros apaixonado, Pan, Príapo, Puer, quem mais? Que pessoas arquetípicas estão na alma do consumo?

       Ao buscarmos pela alma do consumo, lançamo-nos, sempre mais desconfortavelmente, no jogo entre necessidade e supérfluo, entre frívolo e essencial. Não sabemos ao certo onde termina a necessidade, onde começa o supérfluo, onde estão as fronteiras entre consumo de necessidade e consumo de gosto, consumo consciente e consumo de compulsão.

      A era hipermoderna se dá sob o signo do excesso e do extremo, que realiza uma “pulsão neofílica”, um prazer pela novidade que se volta constantemente para o presente. O consumo acontece ao lado de outros fenômenos importantes que marcam e que estão no centro do novo tempo histórico: o espetáculo midiático, a comunicação de massa, a individualização extremada, o hipermercado globalizado, a poderosíssima revolução informática, a internet. O consumo cria seus próprios templos: os shopping centers, as novas catedrais das novas e velhas igrejas, e também, a seu modo, a própria rede mundial de computadores.

   Consumo: tantos são seus deuses que é preciso evocá-los com cuidado, sem voracidade, para sentirmos sua interioridade, sua alma, sem sermos pegos em sua malha fina.

    Consumo de utensílios domésticos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos que liquidificam, batem, moem, trituram, misturam, assam, limpam, fervem, fritam, amassam, amolecem, passam e enceram para nós – sem nossas mãos, sem contato manual. Tocam sons, reproduzem imagens, processam informações. Excesso e profusão de automatismos também funcionando para a era da autonomia.

   Organizo e escolho as músicas que quero ouvir – a trilha sonora da minha vida – sem surpresas desagradáveis ou diferentes, simplesmente baixando arquivos de áudio da internet e armazenando-os em meu iPod. A telefonia está em minhas mãos, em qualquer lugar, é móvel, e com ela a impressão de contato por trás da fantasia de conectividade. A comunicação está toda em minhas mãos. Minha correspondência, agora por via eletrônica, está em minhas mãos (ou diante de meus olhos) na hora que desejo ou preciso, em qualquer lugar do planeta. E está em minhas mãos principalmente tudo aquilo que posso comprar pronto (ready-to-go): desde a comida – entregue em casa (delivery), ou então ao acesso rápido de uma corrida de carro (drive-through) – até medicamentos, entretenimento, companhia, sexo e roupas prêt-à-porter.

   Percebemos a enorme presença da fantasia de autonomia. E esta autonomia está a serviço da felicidade privada.

     O nosso tempo é um tempo de escolhas. A “customização” cada vez mais intensa da maioria dos bens e dos serviços de consumo permite que eu diga como quero meu refrigerante, meu carro, meu jeans, meu computador.

    A superindividualização também leva à autonomia, ou vice-versa, e impõe processos de escolha cada vez mais intensos e urgentes: “Os gostos não cessam de individualizar-se”.

   O senhor dos Portões (Mr. Gates) abriu as janelas (Windows) de um presente que requer, sim, definições (escolhas) cada vez mais “altas”, mais precisas, mais particularizadas, em quase tudo.

      A própria identidade torna-se, no mundo hipermoderno, uma escolha que se dá num campo cada vez mais flexível e fluido de possibilidades: tribos, nações, culturas, subculturas, sexualidades, profissões, idades. Personas to-go. Autonomia: nomear-se a si mesmo.

    A lógica consumista parece ser a de um hipernarcisismo. Se existem deuses nas nossas doenças, quem são eles no consumismo?

    Comecemos pela necessidade: temos necessidade de quê? De quanto? Quando? Não sabemos mais ao certo, é claro. As medidas enlouqueceram. Movemo-nos agora num mar de necessidades: pseudonecessidades, necessidades artificiais, necessidades básicas, necessidades estrategicamente plantadas pelo marketing, necessidades que não sei se tenho, necessidades futuras, até chegar ao desnecessário, o extraordinário que é demais. A necessidade delira.

    A compra é a magia do efêmero. É asa, é brasa. É futuro, promessa, desejo de mudar, intensificação, momento de morte. É o fim da produção, quando as coisas são finalmente absorvidas pela psique.

    A compra, ao contrário do que se poderia pensar, dissolve o ego em alma, dissolve o ego heróico em sua fantasia de morte. Comprar é o que resta. Comprar é nosso modo de fazer o mundo virar alma.


BARCELLOS, Gustavo.

Disponível em:

http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=291

Acesso em: 04 dez. 2014.

Texto adaptado

No trecho a seguir, “Ao buscarmos pela alma do consumo, lançamo-nos, sempre mais desconfortavelmente, no jogo entre necessidade e supérfluo, entre frívolo e essencial.”, a relação semântica que se estabelece entre os termos sublinhados é de:

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Q683228 Português

                                                            TEXTO 1

                                           AFOGANDO-SE NO “SELFIE

   Recentemente, em uma exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, li sua breve definição sobre o ofício do fotógrafo comparando-o com um caçador. Todavia, no entendimento de um dos maiores fotógrafos do século 20, não seria a imagem propriamente dita o objeto da caça, mas sim todo um significado, o contexto capaz de ser trazido à tona por tal imagem. A título de exemplo, pensa-se no jornalismo, na maneira como uma imagem pode ser veiculada, entrando em questão, neste caso, a legenda, o contexto social, econômico ou político etc. A apreensão de determinado instante sugere, portanto, não mais observá-lo unicamente sob a lógica de um momento passado, outrora capturado pela lente fotográfica, devendo inseri-lo em algo potencialmente muito maior, como, neste caso, a realidade de quem vê a fotografia. Creio não ser diferente com o selfie.

  Definitivamente, ele veio para ficar. É uma novidade e, enquanto novo, carece de entendimento. Não proponho desvendá-lo, apresentar um tratado ou compreensão sua. Nem mesmo criticá-lo. Desejo refletir. Confesso que o seu sentido ainda não chegou a mim – algo notável todas as vezes que vejo pessoas, independente da idade e cultura, realizando selfies. O cúmulo de minha incompreensão se deu recentemente quando presenciei um jovem turista, passeando integradamente em um grupo (integração essa perceptível pelas risadas e brincadeiras feitas com os outros e com ele mesmo), fazendo uma autofoto diante de um monumento. Ou seja, tirava a fotografia de si mesmo, enquanto os outros olhavam, sem pedir a ajuda a qualquer um de seus pares. Isso me fez perceber a complexidade da coisa, devendo ser vista como não mais sendo simplesmente fotografar ou ser fotografado.

    Desconfio ser uma das chaves de sua compreensão perceber o quão importante é a posse do aparelho eletrônico, a máquina, smartphone, tablet ou qualquer coisa parecida. Ter o aparelho, em si, faz toda a diferença no momento de se realizar uma fotografia. Não se vai mais a um determinado lugar, se vai a este lugar com o seu aparato fotográfico. Deseja-se, sempre, estar com o captador de imagens à mão, de maneira que possa retratar aquele momento. Entretanto, assim como uma fotografia jornalística leva em conta os elementos a comporem o seu quadro social, tal como o contexto da notícia e da fotografia, a foto derivada do selfie também. Ademais, compreendo este contexto como sendo aquele em que apresenta o fotografado como alguém integrado no universo do fazer a foto por si mesmo, a partir do momento em que se tem um aparelho diretamente conectado às principais redes sociais – por isso o aparelho é importante, pois é a chave para a conexão imediata com o mundo virtual.

   Logo, questionariam: “Mas, neste caso, pensando nas redes sociais, o contexto da foto não seria absurdamente amplo?”. Em meu entendimento – digno de críticas –, sim. A razão da fotografia estaria condicionada à exposição praticamente instantânea nas redes sociais que, como se sabe, possui uma dinâmica própria, rápida, a exigir um acompanhamento constante e ininterrupto de quem dela faz parte. O interessante, neste caso, é que o selfie sempre posiciona o fotografado em primeiro plano, fazendo com que nada o ofusque. Neste caso, tudo passaria, a meu ver, ao plano do secundário, do circunstancial.

  Quando era mais novo, sempre me questionei sobre o momento em que aquelas pessoas que fotografavam tudo em um passeio, indiscriminadamente, fariam uma sessão para ver o que vivenciaram. Imaginava a sala escura de suas residências com a projeção das fotos e os possíveis comentários derivados de cada imagem. Em alguns casos, visualizava a presença de amigos e familiares – que, naturalmente, não puderam fazer a mesma viagem – com questionamentos sobre como é tal ou qual lugar, povo, monumento, boneco de neve, cardápios etc. Parecia um verdadeiro desespero tentar captar tudo, em uma espécie de ansiedade em controlar todo aquele ambiente sumamente estranho, avesso à sua cultura. Talvez, imagino, ao colocar todos os fatos, acontecimentos, deste mundo tão diferente, em um filtro fotográfico, disquete, ou qualquer dispositivo semelhante, seria uma forma de controlar este algo estranho.

    Em minhas lembranças, estes nervosos fotógrafos não apareciam na maioria de suas próprias fotos. Os selfies, sim. Aliás, a existência do selfie está condicionada à presença do fotógrafo-fotografado, dono da conta na rede social, num primeiro plano. Se antes se mostrava, em sua viagem a Roma, o Coliseu, hoje a fala, implícita ou explícita, é “este sou eu no Coliseu”. O ver e o ser visto (con)fundem-se. Fico apenas sentido com o fato de o mesmo Coliseu, e seus congêneres monumentos histórico-artísticos, estarem condenados ao segundo plano, no fundo da fotografia, compondo uma espécie de cenário para a atração principal: o fotógrafo.

    Continuando no exemplo do Coliseu. Alguém poderia acompanhar as suas transformações ao longo do tempo ao olhar diversas fotografias suas, tiradas em diversos momentos da história, ainda que elas não tenham como objetivo final retratar as possíveis mudanças. Entretanto, acho difícil um acompanhamento como este ser possível se se tomar como referência somente selfies. Ou, pelo menos, as dimensões das transformações não serão totalmente expressas, tendo em vista a condição de segundo plano à qual o Coliseu foi relegado. E, sendo um pouco catastrófico, não seria apenas o monumento romano de Vespasiano a ser condenado como algo secundário, ocorrendo o mesmo com toda a arquitetura da Roma Antiga na capital italiana.

   Alguém diria: “são os tempos, os novos tempos, em que a pós-modernidade romperia com uma narrativa pré-estabelecida da História e, por sua vez, as coisas perderiam o seu sentido original, no caso, o sentido desejado pelo artista. Está escrito em Jean François-Lyotard.” Bem, pode até ser. De toda forma, vejo de maneira interessante que essa suposta ressignificação é feita por meio de uma transposição de valores, de sentidos, saindo o sentido original, aquele ansiado pelo artista, em nome de um indivíduo. Por sua vez, neste tipo de fotografia, o selfie, desponta cada vez mais a ideia de indivíduo, mais do que o indivíduo retratado propriamente dito, tal como suas idiossincrasias.

   Imagine um católico diante da parede da Capela Sistina. Pressionado perante a ideia do pecado, ele, como indivíduo, sente-se tocado, ansioso pelo perdão de Deus. Pode ser que veja, em si mesmo, seus pecados, seus defeitos. O indivíduo ao fazer o selfie, em sua essência, ficando de costas para a obra de Michelangelo, simplesmente transmite a ideia de indivíduo. O único diferencial é o fato de estar na Capela Sistina. E, depois, na Basílica São Pedro. Depois, na praça São Pedro. Trata-se, sempre, de fulano em algum lugar. O pôr-do-sol no Solar do Unhão, em Salvador, não faz sentido se não tiver a presença marcada.

   À guisa de conclusão, retomo o que escrevi acima, nos primeiros parágrafos. Não se trata de apresentar uma explicação, um tratado, sobre o selfie. Aqui, encontram-se expressas as minhas sensações todas as vezes que vejo alguém tirando uma foto sozinho e, em seguida, volta-se quase instintivamente para a tela de seu dispositivo, digita algo e... pronto! Está no ar! Tais inquietações, obviamente, podem ser frutos de alguma espécie de anacronismo derivado de incompatibilidade geracional – no qual não creio. De toda forma, acentuo o espanto de tudo isso a ponto de me causar um gigantesco estranhamento. Caetano Veloso disse que Narciso achava feio o que não fosse espelho. Bem, espero somente que ninguém anseie se tornar a narcísica e belíssima flor, pois, para isso, é preciso se afogar.

(RODRIGUES, Faustino da Rocha. Disponível em: http// www. observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 04 nov. 2014)

No trecho “quando era mais novo, sempre me questionei sobre o momento em que aquelas pessoas que fotografavam tudo em um passeio”, a palavra “novo” poderia ter como antônimo “idoso”. Quanto à produção de relações de antonímia, pode-se afirmar que:
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Q683227 Português

                                                            TEXTO 1

                                           AFOGANDO-SE NO “SELFIE

   Recentemente, em uma exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, li sua breve definição sobre o ofício do fotógrafo comparando-o com um caçador. Todavia, no entendimento de um dos maiores fotógrafos do século 20, não seria a imagem propriamente dita o objeto da caça, mas sim todo um significado, o contexto capaz de ser trazido à tona por tal imagem. A título de exemplo, pensa-se no jornalismo, na maneira como uma imagem pode ser veiculada, entrando em questão, neste caso, a legenda, o contexto social, econômico ou político etc. A apreensão de determinado instante sugere, portanto, não mais observá-lo unicamente sob a lógica de um momento passado, outrora capturado pela lente fotográfica, devendo inseri-lo em algo potencialmente muito maior, como, neste caso, a realidade de quem vê a fotografia. Creio não ser diferente com o selfie.

  Definitivamente, ele veio para ficar. É uma novidade e, enquanto novo, carece de entendimento. Não proponho desvendá-lo, apresentar um tratado ou compreensão sua. Nem mesmo criticá-lo. Desejo refletir. Confesso que o seu sentido ainda não chegou a mim – algo notável todas as vezes que vejo pessoas, independente da idade e cultura, realizando selfies. O cúmulo de minha incompreensão se deu recentemente quando presenciei um jovem turista, passeando integradamente em um grupo (integração essa perceptível pelas risadas e brincadeiras feitas com os outros e com ele mesmo), fazendo uma autofoto diante de um monumento. Ou seja, tirava a fotografia de si mesmo, enquanto os outros olhavam, sem pedir a ajuda a qualquer um de seus pares. Isso me fez perceber a complexidade da coisa, devendo ser vista como não mais sendo simplesmente fotografar ou ser fotografado.

    Desconfio ser uma das chaves de sua compreensão perceber o quão importante é a posse do aparelho eletrônico, a máquina, smartphone, tablet ou qualquer coisa parecida. Ter o aparelho, em si, faz toda a diferença no momento de se realizar uma fotografia. Não se vai mais a um determinado lugar, se vai a este lugar com o seu aparato fotográfico. Deseja-se, sempre, estar com o captador de imagens à mão, de maneira que possa retratar aquele momento. Entretanto, assim como uma fotografia jornalística leva em conta os elementos a comporem o seu quadro social, tal como o contexto da notícia e da fotografia, a foto derivada do selfie também. Ademais, compreendo este contexto como sendo aquele em que apresenta o fotografado como alguém integrado no universo do fazer a foto por si mesmo, a partir do momento em que se tem um aparelho diretamente conectado às principais redes sociais – por isso o aparelho é importante, pois é a chave para a conexão imediata com o mundo virtual.

   Logo, questionariam: “Mas, neste caso, pensando nas redes sociais, o contexto da foto não seria absurdamente amplo?”. Em meu entendimento – digno de críticas –, sim. A razão da fotografia estaria condicionada à exposição praticamente instantânea nas redes sociais que, como se sabe, possui uma dinâmica própria, rápida, a exigir um acompanhamento constante e ininterrupto de quem dela faz parte. O interessante, neste caso, é que o selfie sempre posiciona o fotografado em primeiro plano, fazendo com que nada o ofusque. Neste caso, tudo passaria, a meu ver, ao plano do secundário, do circunstancial.

  Quando era mais novo, sempre me questionei sobre o momento em que aquelas pessoas que fotografavam tudo em um passeio, indiscriminadamente, fariam uma sessão para ver o que vivenciaram. Imaginava a sala escura de suas residências com a projeção das fotos e os possíveis comentários derivados de cada imagem. Em alguns casos, visualizava a presença de amigos e familiares – que, naturalmente, não puderam fazer a mesma viagem – com questionamentos sobre como é tal ou qual lugar, povo, monumento, boneco de neve, cardápios etc. Parecia um verdadeiro desespero tentar captar tudo, em uma espécie de ansiedade em controlar todo aquele ambiente sumamente estranho, avesso à sua cultura. Talvez, imagino, ao colocar todos os fatos, acontecimentos, deste mundo tão diferente, em um filtro fotográfico, disquete, ou qualquer dispositivo semelhante, seria uma forma de controlar este algo estranho.

    Em minhas lembranças, estes nervosos fotógrafos não apareciam na maioria de suas próprias fotos. Os selfies, sim. Aliás, a existência do selfie está condicionada à presença do fotógrafo-fotografado, dono da conta na rede social, num primeiro plano. Se antes se mostrava, em sua viagem a Roma, o Coliseu, hoje a fala, implícita ou explícita, é “este sou eu no Coliseu”. O ver e o ser visto (con)fundem-se. Fico apenas sentido com o fato de o mesmo Coliseu, e seus congêneres monumentos histórico-artísticos, estarem condenados ao segundo plano, no fundo da fotografia, compondo uma espécie de cenário para a atração principal: o fotógrafo.

    Continuando no exemplo do Coliseu. Alguém poderia acompanhar as suas transformações ao longo do tempo ao olhar diversas fotografias suas, tiradas em diversos momentos da história, ainda que elas não tenham como objetivo final retratar as possíveis mudanças. Entretanto, acho difícil um acompanhamento como este ser possível se se tomar como referência somente selfies. Ou, pelo menos, as dimensões das transformações não serão totalmente expressas, tendo em vista a condição de segundo plano à qual o Coliseu foi relegado. E, sendo um pouco catastrófico, não seria apenas o monumento romano de Vespasiano a ser condenado como algo secundário, ocorrendo o mesmo com toda a arquitetura da Roma Antiga na capital italiana.

   Alguém diria: “são os tempos, os novos tempos, em que a pós-modernidade romperia com uma narrativa pré-estabelecida da História e, por sua vez, as coisas perderiam o seu sentido original, no caso, o sentido desejado pelo artista. Está escrito em Jean François-Lyotard.” Bem, pode até ser. De toda forma, vejo de maneira interessante que essa suposta ressignificação é feita por meio de uma transposição de valores, de sentidos, saindo o sentido original, aquele ansiado pelo artista, em nome de um indivíduo. Por sua vez, neste tipo de fotografia, o selfie, desponta cada vez mais a ideia de indivíduo, mais do que o indivíduo retratado propriamente dito, tal como suas idiossincrasias.

   Imagine um católico diante da parede da Capela Sistina. Pressionado perante a ideia do pecado, ele, como indivíduo, sente-se tocado, ansioso pelo perdão de Deus. Pode ser que veja, em si mesmo, seus pecados, seus defeitos. O indivíduo ao fazer o selfie, em sua essência, ficando de costas para a obra de Michelangelo, simplesmente transmite a ideia de indivíduo. O único diferencial é o fato de estar na Capela Sistina. E, depois, na Basílica São Pedro. Depois, na praça São Pedro. Trata-se, sempre, de fulano em algum lugar. O pôr-do-sol no Solar do Unhão, em Salvador, não faz sentido se não tiver a presença marcada.

   À guisa de conclusão, retomo o que escrevi acima, nos primeiros parágrafos. Não se trata de apresentar uma explicação, um tratado, sobre o selfie. Aqui, encontram-se expressas as minhas sensações todas as vezes que vejo alguém tirando uma foto sozinho e, em seguida, volta-se quase instintivamente para a tela de seu dispositivo, digita algo e... pronto! Está no ar! Tais inquietações, obviamente, podem ser frutos de alguma espécie de anacronismo derivado de incompatibilidade geracional – no qual não creio. De toda forma, acentuo o espanto de tudo isso a ponto de me causar um gigantesco estranhamento. Caetano Veloso disse que Narciso achava feio o que não fosse espelho. Bem, espero somente que ninguém anseie se tornar a narcísica e belíssima flor, pois, para isso, é preciso se afogar.

(RODRIGUES, Faustino da Rocha. Disponível em: http// www. observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 04 nov. 2014)

Em relação ao trecho “Em minhas lembranças, estes nervosos fotógrafos não apareciam na maioria de suas próprias fotos”, a proposição Estes fotógrafos nervosos, em minhas memórias, não surgiam na maior parte de suas próprias fotos estabelece uma relação de:
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Q683226 Português

                                                            TEXTO 1

                                           AFOGANDO-SE NO “SELFIE

   Recentemente, em uma exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, li sua breve definição sobre o ofício do fotógrafo comparando-o com um caçador. Todavia, no entendimento de um dos maiores fotógrafos do século 20, não seria a imagem propriamente dita o objeto da caça, mas sim todo um significado, o contexto capaz de ser trazido à tona por tal imagem. A título de exemplo, pensa-se no jornalismo, na maneira como uma imagem pode ser veiculada, entrando em questão, neste caso, a legenda, o contexto social, econômico ou político etc. A apreensão de determinado instante sugere, portanto, não mais observá-lo unicamente sob a lógica de um momento passado, outrora capturado pela lente fotográfica, devendo inseri-lo em algo potencialmente muito maior, como, neste caso, a realidade de quem vê a fotografia. Creio não ser diferente com o selfie.

  Definitivamente, ele veio para ficar. É uma novidade e, enquanto novo, carece de entendimento. Não proponho desvendá-lo, apresentar um tratado ou compreensão sua. Nem mesmo criticá-lo. Desejo refletir. Confesso que o seu sentido ainda não chegou a mim – algo notável todas as vezes que vejo pessoas, independente da idade e cultura, realizando selfies. O cúmulo de minha incompreensão se deu recentemente quando presenciei um jovem turista, passeando integradamente em um grupo (integração essa perceptível pelas risadas e brincadeiras feitas com os outros e com ele mesmo), fazendo uma autofoto diante de um monumento. Ou seja, tirava a fotografia de si mesmo, enquanto os outros olhavam, sem pedir a ajuda a qualquer um de seus pares. Isso me fez perceber a complexidade da coisa, devendo ser vista como não mais sendo simplesmente fotografar ou ser fotografado.

    Desconfio ser uma das chaves de sua compreensão perceber o quão importante é a posse do aparelho eletrônico, a máquina, smartphone, tablet ou qualquer coisa parecida. Ter o aparelho, em si, faz toda a diferença no momento de se realizar uma fotografia. Não se vai mais a um determinado lugar, se vai a este lugar com o seu aparato fotográfico. Deseja-se, sempre, estar com o captador de imagens à mão, de maneira que possa retratar aquele momento. Entretanto, assim como uma fotografia jornalística leva em conta os elementos a comporem o seu quadro social, tal como o contexto da notícia e da fotografia, a foto derivada do selfie também. Ademais, compreendo este contexto como sendo aquele em que apresenta o fotografado como alguém integrado no universo do fazer a foto por si mesmo, a partir do momento em que se tem um aparelho diretamente conectado às principais redes sociais – por isso o aparelho é importante, pois é a chave para a conexão imediata com o mundo virtual.

   Logo, questionariam: “Mas, neste caso, pensando nas redes sociais, o contexto da foto não seria absurdamente amplo?”. Em meu entendimento – digno de críticas –, sim. A razão da fotografia estaria condicionada à exposição praticamente instantânea nas redes sociais que, como se sabe, possui uma dinâmica própria, rápida, a exigir um acompanhamento constante e ininterrupto de quem dela faz parte. O interessante, neste caso, é que o selfie sempre posiciona o fotografado em primeiro plano, fazendo com que nada o ofusque. Neste caso, tudo passaria, a meu ver, ao plano do secundário, do circunstancial.

  Quando era mais novo, sempre me questionei sobre o momento em que aquelas pessoas que fotografavam tudo em um passeio, indiscriminadamente, fariam uma sessão para ver o que vivenciaram. Imaginava a sala escura de suas residências com a projeção das fotos e os possíveis comentários derivados de cada imagem. Em alguns casos, visualizava a presença de amigos e familiares – que, naturalmente, não puderam fazer a mesma viagem – com questionamentos sobre como é tal ou qual lugar, povo, monumento, boneco de neve, cardápios etc. Parecia um verdadeiro desespero tentar captar tudo, em uma espécie de ansiedade em controlar todo aquele ambiente sumamente estranho, avesso à sua cultura. Talvez, imagino, ao colocar todos os fatos, acontecimentos, deste mundo tão diferente, em um filtro fotográfico, disquete, ou qualquer dispositivo semelhante, seria uma forma de controlar este algo estranho.

    Em minhas lembranças, estes nervosos fotógrafos não apareciam na maioria de suas próprias fotos. Os selfies, sim. Aliás, a existência do selfie está condicionada à presença do fotógrafo-fotografado, dono da conta na rede social, num primeiro plano. Se antes se mostrava, em sua viagem a Roma, o Coliseu, hoje a fala, implícita ou explícita, é “este sou eu no Coliseu”. O ver e o ser visto (con)fundem-se. Fico apenas sentido com o fato de o mesmo Coliseu, e seus congêneres monumentos histórico-artísticos, estarem condenados ao segundo plano, no fundo da fotografia, compondo uma espécie de cenário para a atração principal: o fotógrafo.

    Continuando no exemplo do Coliseu. Alguém poderia acompanhar as suas transformações ao longo do tempo ao olhar diversas fotografias suas, tiradas em diversos momentos da história, ainda que elas não tenham como objetivo final retratar as possíveis mudanças. Entretanto, acho difícil um acompanhamento como este ser possível se se tomar como referência somente selfies. Ou, pelo menos, as dimensões das transformações não serão totalmente expressas, tendo em vista a condição de segundo plano à qual o Coliseu foi relegado. E, sendo um pouco catastrófico, não seria apenas o monumento romano de Vespasiano a ser condenado como algo secundário, ocorrendo o mesmo com toda a arquitetura da Roma Antiga na capital italiana.

   Alguém diria: “são os tempos, os novos tempos, em que a pós-modernidade romperia com uma narrativa pré-estabelecida da História e, por sua vez, as coisas perderiam o seu sentido original, no caso, o sentido desejado pelo artista. Está escrito em Jean François-Lyotard.” Bem, pode até ser. De toda forma, vejo de maneira interessante que essa suposta ressignificação é feita por meio de uma transposição de valores, de sentidos, saindo o sentido original, aquele ansiado pelo artista, em nome de um indivíduo. Por sua vez, neste tipo de fotografia, o selfie, desponta cada vez mais a ideia de indivíduo, mais do que o indivíduo retratado propriamente dito, tal como suas idiossincrasias.

   Imagine um católico diante da parede da Capela Sistina. Pressionado perante a ideia do pecado, ele, como indivíduo, sente-se tocado, ansioso pelo perdão de Deus. Pode ser que veja, em si mesmo, seus pecados, seus defeitos. O indivíduo ao fazer o selfie, em sua essência, ficando de costas para a obra de Michelangelo, simplesmente transmite a ideia de indivíduo. O único diferencial é o fato de estar na Capela Sistina. E, depois, na Basílica São Pedro. Depois, na praça São Pedro. Trata-se, sempre, de fulano em algum lugar. O pôr-do-sol no Solar do Unhão, em Salvador, não faz sentido se não tiver a presença marcada.

   À guisa de conclusão, retomo o que escrevi acima, nos primeiros parágrafos. Não se trata de apresentar uma explicação, um tratado, sobre o selfie. Aqui, encontram-se expressas as minhas sensações todas as vezes que vejo alguém tirando uma foto sozinho e, em seguida, volta-se quase instintivamente para a tela de seu dispositivo, digita algo e... pronto! Está no ar! Tais inquietações, obviamente, podem ser frutos de alguma espécie de anacronismo derivado de incompatibilidade geracional – no qual não creio. De toda forma, acentuo o espanto de tudo isso a ponto de me causar um gigantesco estranhamento. Caetano Veloso disse que Narciso achava feio o que não fosse espelho. Bem, espero somente que ninguém anseie se tornar a narcísica e belíssima flor, pois, para isso, é preciso se afogar.

(RODRIGUES, Faustino da Rocha. Disponível em: http// www. observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 04 nov. 2014)

No oitavo parágrafo, o termo “idiossincrasias” refere-se ao sentido de:
Alternativas
Q683224 Português

                                                            TEXTO 1

                                           AFOGANDO-SE NO “SELFIE

   Recentemente, em uma exposição de fotografias de Henri Cartier-Bresson, li sua breve definição sobre o ofício do fotógrafo comparando-o com um caçador. Todavia, no entendimento de um dos maiores fotógrafos do século 20, não seria a imagem propriamente dita o objeto da caça, mas sim todo um significado, o contexto capaz de ser trazido à tona por tal imagem. A título de exemplo, pensa-se no jornalismo, na maneira como uma imagem pode ser veiculada, entrando em questão, neste caso, a legenda, o contexto social, econômico ou político etc. A apreensão de determinado instante sugere, portanto, não mais observá-lo unicamente sob a lógica de um momento passado, outrora capturado pela lente fotográfica, devendo inseri-lo em algo potencialmente muito maior, como, neste caso, a realidade de quem vê a fotografia. Creio não ser diferente com o selfie.

  Definitivamente, ele veio para ficar. É uma novidade e, enquanto novo, carece de entendimento. Não proponho desvendá-lo, apresentar um tratado ou compreensão sua. Nem mesmo criticá-lo. Desejo refletir. Confesso que o seu sentido ainda não chegou a mim – algo notável todas as vezes que vejo pessoas, independente da idade e cultura, realizando selfies. O cúmulo de minha incompreensão se deu recentemente quando presenciei um jovem turista, passeando integradamente em um grupo (integração essa perceptível pelas risadas e brincadeiras feitas com os outros e com ele mesmo), fazendo uma autofoto diante de um monumento. Ou seja, tirava a fotografia de si mesmo, enquanto os outros olhavam, sem pedir a ajuda a qualquer um de seus pares. Isso me fez perceber a complexidade da coisa, devendo ser vista como não mais sendo simplesmente fotografar ou ser fotografado.

    Desconfio ser uma das chaves de sua compreensão perceber o quão importante é a posse do aparelho eletrônico, a máquina, smartphone, tablet ou qualquer coisa parecida. Ter o aparelho, em si, faz toda a diferença no momento de se realizar uma fotografia. Não se vai mais a um determinado lugar, se vai a este lugar com o seu aparato fotográfico. Deseja-se, sempre, estar com o captador de imagens à mão, de maneira que possa retratar aquele momento. Entretanto, assim como uma fotografia jornalística leva em conta os elementos a comporem o seu quadro social, tal como o contexto da notícia e da fotografia, a foto derivada do selfie também. Ademais, compreendo este contexto como sendo aquele em que apresenta o fotografado como alguém integrado no universo do fazer a foto por si mesmo, a partir do momento em que se tem um aparelho diretamente conectado às principais redes sociais – por isso o aparelho é importante, pois é a chave para a conexão imediata com o mundo virtual.

   Logo, questionariam: “Mas, neste caso, pensando nas redes sociais, o contexto da foto não seria absurdamente amplo?”. Em meu entendimento – digno de críticas –, sim. A razão da fotografia estaria condicionada à exposição praticamente instantânea nas redes sociais que, como se sabe, possui uma dinâmica própria, rápida, a exigir um acompanhamento constante e ininterrupto de quem dela faz parte. O interessante, neste caso, é que o selfie sempre posiciona o fotografado em primeiro plano, fazendo com que nada o ofusque. Neste caso, tudo passaria, a meu ver, ao plano do secundário, do circunstancial.

  Quando era mais novo, sempre me questionei sobre o momento em que aquelas pessoas que fotografavam tudo em um passeio, indiscriminadamente, fariam uma sessão para ver o que vivenciaram. Imaginava a sala escura de suas residências com a projeção das fotos e os possíveis comentários derivados de cada imagem. Em alguns casos, visualizava a presença de amigos e familiares – que, naturalmente, não puderam fazer a mesma viagem – com questionamentos sobre como é tal ou qual lugar, povo, monumento, boneco de neve, cardápios etc. Parecia um verdadeiro desespero tentar captar tudo, em uma espécie de ansiedade em controlar todo aquele ambiente sumamente estranho, avesso à sua cultura. Talvez, imagino, ao colocar todos os fatos, acontecimentos, deste mundo tão diferente, em um filtro fotográfico, disquete, ou qualquer dispositivo semelhante, seria uma forma de controlar este algo estranho.

    Em minhas lembranças, estes nervosos fotógrafos não apareciam na maioria de suas próprias fotos. Os selfies, sim. Aliás, a existência do selfie está condicionada à presença do fotógrafo-fotografado, dono da conta na rede social, num primeiro plano. Se antes se mostrava, em sua viagem a Roma, o Coliseu, hoje a fala, implícita ou explícita, é “este sou eu no Coliseu”. O ver e o ser visto (con)fundem-se. Fico apenas sentido com o fato de o mesmo Coliseu, e seus congêneres monumentos histórico-artísticos, estarem condenados ao segundo plano, no fundo da fotografia, compondo uma espécie de cenário para a atração principal: o fotógrafo.

    Continuando no exemplo do Coliseu. Alguém poderia acompanhar as suas transformações ao longo do tempo ao olhar diversas fotografias suas, tiradas em diversos momentos da história, ainda que elas não tenham como objetivo final retratar as possíveis mudanças. Entretanto, acho difícil um acompanhamento como este ser possível se se tomar como referência somente selfies. Ou, pelo menos, as dimensões das transformações não serão totalmente expressas, tendo em vista a condição de segundo plano à qual o Coliseu foi relegado. E, sendo um pouco catastrófico, não seria apenas o monumento romano de Vespasiano a ser condenado como algo secundário, ocorrendo o mesmo com toda a arquitetura da Roma Antiga na capital italiana.

   Alguém diria: “são os tempos, os novos tempos, em que a pós-modernidade romperia com uma narrativa pré-estabelecida da História e, por sua vez, as coisas perderiam o seu sentido original, no caso, o sentido desejado pelo artista. Está escrito em Jean François-Lyotard.” Bem, pode até ser. De toda forma, vejo de maneira interessante que essa suposta ressignificação é feita por meio de uma transposição de valores, de sentidos, saindo o sentido original, aquele ansiado pelo artista, em nome de um indivíduo. Por sua vez, neste tipo de fotografia, o selfie, desponta cada vez mais a ideia de indivíduo, mais do que o indivíduo retratado propriamente dito, tal como suas idiossincrasias.

   Imagine um católico diante da parede da Capela Sistina. Pressionado perante a ideia do pecado, ele, como indivíduo, sente-se tocado, ansioso pelo perdão de Deus. Pode ser que veja, em si mesmo, seus pecados, seus defeitos. O indivíduo ao fazer o selfie, em sua essência, ficando de costas para a obra de Michelangelo, simplesmente transmite a ideia de indivíduo. O único diferencial é o fato de estar na Capela Sistina. E, depois, na Basílica São Pedro. Depois, na praça São Pedro. Trata-se, sempre, de fulano em algum lugar. O pôr-do-sol no Solar do Unhão, em Salvador, não faz sentido se não tiver a presença marcada.

   À guisa de conclusão, retomo o que escrevi acima, nos primeiros parágrafos. Não se trata de apresentar uma explicação, um tratado, sobre o selfie. Aqui, encontram-se expressas as minhas sensações todas as vezes que vejo alguém tirando uma foto sozinho e, em seguida, volta-se quase instintivamente para a tela de seu dispositivo, digita algo e... pronto! Está no ar! Tais inquietações, obviamente, podem ser frutos de alguma espécie de anacronismo derivado de incompatibilidade geracional – no qual não creio. De toda forma, acentuo o espanto de tudo isso a ponto de me causar um gigantesco estranhamento. Caetano Veloso disse que Narciso achava feio o que não fosse espelho. Bem, espero somente que ninguém anseie se tornar a narcísica e belíssima flor, pois, para isso, é preciso se afogar.

(RODRIGUES, Faustino da Rocha. Disponível em: http// www. observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 04 nov. 2014)

No último parágrafo do texto, o autor questiona se um possível “anacronismo derivado de incompatibilidade geracional” estaria atrelado ao seu espanto diante do fenômeno do selfie. Dentro do contexto textual referido, a expressão “anacronismo” liga-se à ideia de:
Alternativas
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: CREA-AC Prova: FUNCAB - 2016 - CREA-AC - Analista de Sistema |
Q682446 Português

Texto para responder a questão.

A nova Califórnia (Fragmento)

    Tubiacanga era uma pequena cidade de três ou quatro mil habitantes, muito pacífica, em cuja estação, de onde em onde, os expressos davam a honra de parar. Há cinco anos não se registrava nela um furto ou roubo. As portas e janelas só eram usadas... porque o Rio as usava. [...]

    Mas, qual não foi a surpresa dos seus habitantes quando se veio a verificar nela um dos repugnantes crimes de que se tem memória! [...] violavam-se as sepulturas do “Sossego”, do seu cemitério, do seu campo-santo. [...]

    A indignação na cidade tomou todas as feições e todas as vontades. [...] A própria filha do engenheiro residente da estrada de ferro, que vivia desdenhando aquele lugarejo [...] não pôde deixar de compartilhar da indignação e do horror que tal ato provocara em todos do lugarejo. Que tinha ela com o túmulo de antigos escravos e humildes roceiros? Em que podia interessar aos seus lindos olhos pardos o destino de tão humildes ossos? Porventura o furto deles perturbaria o seu sonho de fazer radiar a beleza de sua boca, dos seus olhos e do seu busto nas calçadas do Rio?

    Decerto, não; mas era a Morte, a Morte implacável e onipotente, de que ela também se sentia escrava, e que não deixaria um dia de levar a sua linda caveirinha para a paz eterna do cemitério. [...]

    Organizaram então uma guarda. Dez homens decididos juraram perante o subdelegado vigiar durante a noite a mansão dos mortos.

    Nada houve de anormal na primeira noite, na segunda e na terceira; mas, na quarta, quando os vigias já se dispunham a cochilar, um deles julgou lobrigar um vulto esgueirando-se por entre a quadra dos carneiros. Correram e conseguiram apanhar dois dos vampiros. [...]

    A notícia correu logo de casa em casa e, quando, de manhã, se tratou de estabelecer a identidade dos dois malfeitores, foi diante da população inteira que foram neles reconhecidos o Coletor Carvalhais e o Coronel Bentes, rico fazendeiro e presidente da Câmara. Este último [...] a perguntas repetidas que lhe fizeram, pôde dizer que juntava os ossos para fazer ouro e o companheiro que fugira era o farmacêutico.

    Houve espanto e houve esperanças. Como fazer ouro com ossos? Seria possível? Mas aquele homem rico, respeitado, como desceria ao papel de ladrão de mortos se a coisa não fosse verdade!

    Se fosse possível fazer, se daqueles míseros despojos fúnebres se pudesse fazer alguns contos de réis, como não seria bom para todos eles!

    O carteiro, cujo velho sonho era a formatura do filho, viu logo ali meios de consegui-la Castrioto, o escrivão do juiz de paz, que no ano passado conseguiu comprar uma casa, mas ainda não a pudera cercar, pensou no muro, que lhe devia proteger a horta e a criação. Pelos olhos do sitiante Marques, que andava desde anos atrapalhado para arranjar um pasto, pensou logo no prado verde do Costa, onde os seus bois engordariam e ganhariam forças...

    Às necessidades de cada um, aqueles ossos que eram ouro viriam atender, satisfazer e felicitá-los; e aqueles dois ou três milhares de pessoas, homens, crianças, mulheres, moços e velhos, como se fossem uma só pessoa, correram à casa do farmacêutico.

BARRETO, Lima. A nova Califórnia. In: SALES, Herberto (Org.). Contos brasileiros. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 25-27.

O segundo parágrafo do texto de Lima Barreto ancora-se na sugestão de duplo sentido da palavra SOSSEGO - apoiado pelas aspas - tomada ora com ideia abstrata, ora concreta. Esses sentidos são, respectivamente:
Alternativas
Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: CREA-AC Prova: FUNCAB - 2016 - CREA-AC - Analista de Sistema |
Q682445 Português

Texto para responder a questão.

A nova Califórnia (Fragmento)

    Tubiacanga era uma pequena cidade de três ou quatro mil habitantes, muito pacífica, em cuja estação, de onde em onde, os expressos davam a honra de parar. Há cinco anos não se registrava nela um furto ou roubo. As portas e janelas só eram usadas... porque o Rio as usava. [...]

    Mas, qual não foi a surpresa dos seus habitantes quando se veio a verificar nela um dos repugnantes crimes de que se tem memória! [...] violavam-se as sepulturas do “Sossego”, do seu cemitério, do seu campo-santo. [...]

    A indignação na cidade tomou todas as feições e todas as vontades. [...] A própria filha do engenheiro residente da estrada de ferro, que vivia desdenhando aquele lugarejo [...] não pôde deixar de compartilhar da indignação e do horror que tal ato provocara em todos do lugarejo. Que tinha ela com o túmulo de antigos escravos e humildes roceiros? Em que podia interessar aos seus lindos olhos pardos o destino de tão humildes ossos? Porventura o furto deles perturbaria o seu sonho de fazer radiar a beleza de sua boca, dos seus olhos e do seu busto nas calçadas do Rio?

    Decerto, não; mas era a Morte, a Morte implacável e onipotente, de que ela também se sentia escrava, e que não deixaria um dia de levar a sua linda caveirinha para a paz eterna do cemitério. [...]

    Organizaram então uma guarda. Dez homens decididos juraram perante o subdelegado vigiar durante a noite a mansão dos mortos.

    Nada houve de anormal na primeira noite, na segunda e na terceira; mas, na quarta, quando os vigias já se dispunham a cochilar, um deles julgou lobrigar um vulto esgueirando-se por entre a quadra dos carneiros. Correram e conseguiram apanhar dois dos vampiros. [...]

    A notícia correu logo de casa em casa e, quando, de manhã, se tratou de estabelecer a identidade dos dois malfeitores, foi diante da população inteira que foram neles reconhecidos o Coletor Carvalhais e o Coronel Bentes, rico fazendeiro e presidente da Câmara. Este último [...] a perguntas repetidas que lhe fizeram, pôde dizer que juntava os ossos para fazer ouro e o companheiro que fugira era o farmacêutico.

    Houve espanto e houve esperanças. Como fazer ouro com ossos? Seria possível? Mas aquele homem rico, respeitado, como desceria ao papel de ladrão de mortos se a coisa não fosse verdade!

    Se fosse possível fazer, se daqueles míseros despojos fúnebres se pudesse fazer alguns contos de réis, como não seria bom para todos eles!

    O carteiro, cujo velho sonho era a formatura do filho, viu logo ali meios de consegui-la Castrioto, o escrivão do juiz de paz, que no ano passado conseguiu comprar uma casa, mas ainda não a pudera cercar, pensou no muro, que lhe devia proteger a horta e a criação. Pelos olhos do sitiante Marques, que andava desde anos atrapalhado para arranjar um pasto, pensou logo no prado verde do Costa, onde os seus bois engordariam e ganhariam forças...

    Às necessidades de cada um, aqueles ossos que eram ouro viriam atender, satisfazer e felicitá-los; e aqueles dois ou três milhares de pessoas, homens, crianças, mulheres, moços e velhos, como se fossem uma só pessoa, correram à casa do farmacêutico.

BARRETO, Lima. A nova Califórnia. In: SALES, Herberto (Org.). Contos brasileiros. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 25-27.

Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de um segmento em:
Alternativas
Q682034 Português
Minhas maturidade
Circunspecção, siso, prudência.
Mario Prata
É o que o homem pensa durante anos, enquanto envelhece. Já está perto dos 50 e a pergunta ainda martela. Um dia ele vai amadurecer.
Quando um homem descobre que não é necessário escovar os dentes com tanta rapidez, tenha certeza, ele virou um homem maduro. Só sendo mesmo muito imaturo para escovar os dentes com tanta pressa.
E o amarrar do sapato pode ser mais tranqüilo, arrumando-se uma posição menos incômoda, acertando as pontas.
(...)
Não sente culpa de nada. Mas, se sente, sofre como nunca. Mas já é capaz de assistir à sessão da tarde sem a culpa a lhe desviar a atenção.
É um homem mais bonito, não resta a menor dúvida.
Homem maduro não bebe, vai à praia.
Não malha: a malhação denota toda a imaturidade de quem a faz. Curtir o corpo é ligeiramente imaturo.
(...)
Sorri tranqüilo quando pensa que a pressa é coisa daqueles imaturos.
O homem maduro gosta de mulheres imaturas. Fazer o quê? Muda muito de opinião. Essa coisa de ter sempre a mesma opinião, ele já foi assim.
(...)
Se ninguém segurar, é capaz do homem maduro ficar com mania de apagar as luzes da casa.
O homem maduro faz palavras cruzadas!
Se você observar bem, ele começa a implicar com horários.
A maturidade faz com que ele não possa mais fazer algumas coisas. Se pega pensando: sou um homem maduro. Um homem maduro não pode fazer isso.
O homem maduro começa, pouco a pouco, a se irritar com as pessoas imaturas.
Depois de um tempo, percebe que está começando é a sentir inveja dos imaturos.
Será que os imaturos são mais felizes?, pensa, enquanto começa a escovar os dentes depressa, mais depressa, mais depressa ainda.
O homem maduro é de uma imaturidade a toda prova.
Meu Deus, o que será de nós, os maduros?
PRATA, Mário. Minhas tudo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda,
2001, pág. 99. 
Analise as opções abaixo e assinale a principal característica do subtítulo do texto. “Circunspecção, siso, prudência.”
Alternativas
Q682030 Português
Minhas maturidade
Circunspecção, siso, prudência.
Mario Prata
É o que o homem pensa durante anos, enquanto envelhece. Já está perto dos 50 e a pergunta ainda martela. Um dia ele vai amadurecer.
Quando um homem descobre que não é necessário escovar os dentes com tanta rapidez, tenha certeza, ele virou um homem maduro. Só sendo mesmo muito imaturo para escovar os dentes com tanta pressa.
E o amarrar do sapato pode ser mais tranqüilo, arrumando-se uma posição menos incômoda, acertando as pontas.
(...)
Não sente culpa de nada. Mas, se sente, sofre como nunca. Mas já é capaz de assistir à sessão da tarde sem a culpa a lhe desviar a atenção.
É um homem mais bonito, não resta a menor dúvida.
Homem maduro não bebe, vai à praia.
Não malha: a malhação denota toda a imaturidade de quem a faz. Curtir o corpo é ligeiramente imaturo.
(...)
Sorri tranqüilo quando pensa que a pressa é coisa daqueles imaturos.
O homem maduro gosta de mulheres imaturas. Fazer o quê? Muda muito de opinião. Essa coisa de ter sempre a mesma opinião, ele já foi assim.
(...)
Se ninguém segurar, é capaz do homem maduro ficar com mania de apagar as luzes da casa.
O homem maduro faz palavras cruzadas!
Se você observar bem, ele começa a implicar com horários.
A maturidade faz com que ele não possa mais fazer algumas coisas. Se pega pensando: sou um homem maduro. Um homem maduro não pode fazer isso.
O homem maduro começa, pouco a pouco, a se irritar com as pessoas imaturas.
Depois de um tempo, percebe que está começando é a sentir inveja dos imaturos.
Será que os imaturos são mais felizes?, pensa, enquanto começa a escovar os dentes depressa, mais depressa, mais depressa ainda.
O homem maduro é de uma imaturidade a toda prova.
Meu Deus, o que será de nós, os maduros?
PRATA, Mário. Minhas tudo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda,
2001, pág. 99. 
Leia a frase abaixo e assinale a alternativa que substitui adequadamente a palavra em destaque, sem alterar o sentido do texto. “Não malha: a malhação denota toda a imaturidade de quem a faz”.
Alternativas
Q682029 Português
Minhas maturidade
Circunspecção, siso, prudência.
Mario Prata
É o que o homem pensa durante anos, enquanto envelhece. Já está perto dos 50 e a pergunta ainda martela. Um dia ele vai amadurecer.
Quando um homem descobre que não é necessário escovar os dentes com tanta rapidez, tenha certeza, ele virou um homem maduro. Só sendo mesmo muito imaturo para escovar os dentes com tanta pressa.
E o amarrar do sapato pode ser mais tranqüilo, arrumando-se uma posição menos incômoda, acertando as pontas.
(...)
Não sente culpa de nada. Mas, se sente, sofre como nunca. Mas já é capaz de assistir à sessão da tarde sem a culpa a lhe desviar a atenção.
É um homem mais bonito, não resta a menor dúvida.
Homem maduro não bebe, vai à praia.
Não malha: a malhação denota toda a imaturidade de quem a faz. Curtir o corpo é ligeiramente imaturo.
(...)
Sorri tranqüilo quando pensa que a pressa é coisa daqueles imaturos.
O homem maduro gosta de mulheres imaturas. Fazer o quê? Muda muito de opinião. Essa coisa de ter sempre a mesma opinião, ele já foi assim.
(...)
Se ninguém segurar, é capaz do homem maduro ficar com mania de apagar as luzes da casa.
O homem maduro faz palavras cruzadas!
Se você observar bem, ele começa a implicar com horários.
A maturidade faz com que ele não possa mais fazer algumas coisas. Se pega pensando: sou um homem maduro. Um homem maduro não pode fazer isso.
O homem maduro começa, pouco a pouco, a se irritar com as pessoas imaturas.
Depois de um tempo, percebe que está começando é a sentir inveja dos imaturos.
Será que os imaturos são mais felizes?, pensa, enquanto começa a escovar os dentes depressa, mais depressa, mais depressa ainda.
O homem maduro é de uma imaturidade a toda prova.
Meu Deus, o que será de nós, os maduros?
PRATA, Mário. Minhas tudo. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda,
2001, pág. 99. 
Analise a citação abaixo e assinale a alternativa que apresenta ideias opostas. “Sorri tranqüilo quando pensa que a pressa é coisa daqueles imaturos.”
Alternativas
Q681485 Português

FAMÍLIA

Três meninos e duas meninas

Sendo uma ainda de colo

A cozinheira preta, a copeira mulata,

O papagaio, o gato, o cachorro,

As galinhas gordas no palmo da horta

E a mulher que trata de tudo


A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,

O cigarro, o trabalho, a reza,

A goiabada na sobremesa de domingo,

O palito nos dentes contentes,

O gramofone rouco toda noite

E a mulher que trata de tudo.


O agiota, o leiteiro, o turco,

O médico uma vez por mês,

O bilhete todas as semanas

Branco! Mas a esperança sempre verde.

A mulher que trata de tudo

E a felicidade

Carlos Drummond de Andrade

Identifique, no texto, qual a palavra que resume a concepção do poema sobre a família:
Alternativas
Q681420 Português
Assinale a alternativa que apresenta uma forma verbal que expressa o sentido contextual da palavra turvava (l. 49).
Alternativas
Q681406 Português
Assinale a alternativa que apresenta sinônimos das palavras permeando (l. 03), fímbria (l. 06) e exíguo (l. 25), tais como foram empregadas no texto.
Alternativas
Ano: 2013 Banca: IF-MG Órgão: IF-MG Prova: IF-MG - 2013 - IF-MG - Auxiliar Administrativo |
Q680263 Português

“Perguntei, então, à menina: ‘E como é que vocês aprendem?’. Ela não titubeou:” (linha 25)

O sentido que se pode atribuir ao verbo “titubeou” destacado acima é:

Alternativas
Q680218 Português

Analise o excerto:

A água quer ser rio mesmo que seja de lama, mesmo que seja radioativa, quer ir para o mar, quer ser um só.

Levando-se em consideração o contexto, o substantivo que melhor explicita o sentido desse excerto está adequadamente selecionado na alternativa:

Alternativas
Q679059 Português
O presidente do conselho afirma que trouxe para a indústria de manufaturados toda a tecnologia para lidar com o mercado volátil do câmbio.
Na frase acima, o termo em destaque tem o mesmo significa do que:' 
Alternativas
Q679051 Português
O termo em destaque foi empregado de forma incorreta em:
Alternativas
Q678982 Português

    Caso de recenseamento

    Carlos Drummond de Andrade


    O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
    — Não quero comprar nada.
    — Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
    — Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém.
    Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim? 
    E fecha-lhe a porta.
    Ele bate de novo.
    — O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?
    — A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie, mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta respondera umas perguntinhas.
    — Não vou respondera perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
    A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
    — Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
    — Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele. 
    (Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
    — Que é que há? — resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
    — E esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada! 
    — Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.
    — Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo! 
    O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convence-o de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A ideia , de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.
    E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.
    — O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
    — Tenho três, sim senhor.
    — Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
    — Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
    — Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
    — Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
    — Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
    — Isso eu não sei, não me lembro.
    E, voltando-se para a cozinha:
    — Mulher, sabes o nome da Pipoca?
    A mulher aparece confusa.
    — Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
    Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
    — Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
    — Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente.
    Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

    Na frase: “A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo”, o narrador, ao dizer que o agente estava obstinado, se refere ao fato de que ele estava 
    Alternativas
    Q678980 Português

      Caso de recenseamento

      Carlos Drummond de Andrade


      O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.
      — Não quero comprar nada.
      — Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.
      — Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém.
      Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim? 
      E fecha-lhe a porta.
      Ele bate de novo.
      — O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?
      — A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie, mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta respondera umas perguntinhas.
      — Não vou respondera perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!
      A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.
      — Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!
      — Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele. 
      (Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma ideia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário).
      — Que é que há? — resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.
      — E esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada! 
      — Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.
      — Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo! 
      O marido faz-lhe um gesto para calar-se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convence-o de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A ideia , de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.
      E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.
      — O senhor tem filhos, seu Ediraldo?
      — Tenho três, sim senhor.
      — Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?
      — Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.
      — Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?
      — Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.
      — Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...
      — Isso eu não sei, não me lembro.
      E, voltando-se para a cozinha:
      — Mulher, sabes o nome da Pipoca?
      A mulher aparece confusa.
      — Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.
      Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.
      — Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?
      — Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente.
      Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

      Assinale a alternativa que apresenta a definição correta do termo “recenseamento”.
      Alternativas
      Respostas
      10441: D
      10442: B
      10443: E
      10444: C
      10445: E
      10446: D
      10447: B
      10448: C
      10449: A
      10450: A
      10451: B
      10452: B
      10453: A
      10454: A
      10455: D
      10456: D
      10457: D
      10458: A
      10459: C
      10460: A