O Reizinho Mandão
Eu vou contar pra vocês uma história que o meu
avô sempre contava. Ele dizia que esta história aconteceu
há muitos e muitos anos, num lugar muito longe daqui.
Neste lugar tinha um rei, daqueles que têm nas histórias.
De barba branca batendo no peito, de capa vermelha batendo no pé. Como este rei era rei da história, era um rei
muito bonzinho, muito justo... E tudo que ele fazia era
pro bem do povo.
Vai que esse rei morreu, porque era muito velhinho, e o príncipe, filho do rei, virou rei daquele lugar. O
príncipe era um sujeitinho muito mal-educado, mimado, destes que as mães deles fazem todas as vontades, e
eles ficam pensando que são os donos do mundo. Precisa
de ver que reizinho chato que ele ficou! Mandão, teimoso, implicante, xereta! Ele era tão xereta, tão mandão,
que ele queria mandar em tudo que acontecia no reino.
Os conselheiros do rei ficavam desesperados, tentavam dar conselhos a ele, que afinal é pra isso que os
conselheiros existem. Mas o reizinho não queria saber
de nada. Era só um conselheiro abrir a boca para dar
um conselho e ele ficava vermelhinho de raiva, batia o
pé no chão e gritava de maus modos: ___ Cala a boca!
Eu é que sou o rei . Eu é que mando! Podia ser ministro,
embaixador, professor. E tantas vezes ele mandava, que o
papagaio dele acabou aprendendo a dizer “Cala a boca”
também.
Tinha horas que era até engraçado. O reizinho
gritava “Cala a boca” de cá, e o papagaio gritava “Cala
a boca” de lá. As pessoas, então foram ficando cada vez
mais quietas, cada vez mais caladas.E de tanto ficarem
caladas as pessoas foram esquecendo como é que se falava. Até que chegou um dia que o reizinho percebeu que
ninguém mais no reino sabia falar. Ninguém.
(ROCHA RUTH. O Reizinho Mandão.
3ª Edição. Livraria Pioneira.)