Questões de Concurso
Comentadas sobre uso da vírgula em português
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De cabeça pra baixo
− Esse mundo está ficando de cabeça pra baixo!
É uma conhecida frase, que sucessivas gerações vêm frequentando. Ela logo surge a propósito de qualquer coisa que se considere uma novidade despropositada, irritante: modelo de roupa mais ousada, último grande sucesso musical, aumento milionário no salário de um jogador de futebol, a longa estiagem na estação chuvosa, a avalanche de crimes no jornal... A ideia é sempre demonstrar que a vida e o mundo já foram muito melhores, que a passagem do tempo leva inexoravelmente à perversão ou ao desmoronamento dos valores autênticos, que uma geração construiu e que a seguinte apagou.
Parece que na história da humanidade o fenômeno é comum e cíclico: as pessoas enaltecem seus hábitos passados e condenam os presentes. “Ah, no meu tempo...” é uma expressão que vale um suspiro e uma acusação. Algo de muito melhor ficou para trás e se perdeu. A missão dessa juventude de hoje é desviar-se da Civilização....
A ironia é que justamente nesses “desvios” e por conta deles a História caminha, ainda que não se saiba para onde. Fosse tudo uma repetição conservadora, nenhuma descoberta jamais se daria, sem contar que os mais velhos já não teriam do que se queixar e a quem imputar a culpa por todos os desassossegos que assaltam todas as gerações humanas, desde que existimos.
(Romildo Pacheco, inédito)
Texto
Justiça Social - Justiça ecológica
Entre os muitos problemas que assolam a humanidade, dois são de especial gravidade: a injustiça social e a injustiça ecológica. Ambos devem ser enfrentados conjuntamente se quisermos pôr em rota segura a humanidade e o planeta Terra.
A injustiça social é coisa antiga, derivada do modelo econômico que, além de depredar a natureza, gera mais pobreza que pode gerenciar e superar. Ele implica grande acúmulo de bens e serviços de um lado à custa de clamorosa pobreza e miséria de outro. Os dados falam por si: há um bilhão de pessoas que vive no limite da sobrevivência com apenas um dólar ao dia. E há 2,6 bilhões (40% da humanidade) que vive com menos de dois dólares diários. As consequências são perversas. Basta citar um fato: contam-se entre 350-500 milhões de casos de malária com um milhão de vítimas anuais, evitáveis.
Essa antirrealidade foi por muito tempo mantida invisível para ocultar o fracasso do modelo econômico capitalista feito para criar riqueza para poucos e não bem-estar para a humanidade.
A segunda injustiça, a ecológica, está ligada à primeira. A devastação da natureza e o atual aquecimento global afetam todos os países, não respeitando os limites nacionais nem os níveis de riqueza ou de pobreza. Logicamente, os ricos têm mais condições de adaptar-se e mitigar os efeitos danosos das mudanças climáticas. Face aos eventos extremos, possuem refrigeradores ou aquecedores e podem criar defesas contra inundações que assolam regiões inteiras. Mas os pobres não têm como se defender. Sofrem os danos de um problema que não criaram. Fred Pierce, autor de "O terremoto populacional" escreveu no New Scientist de novembro de 2009: "os 500 milhões dos mais ricos (7% da população mundial) respondem por 50% das emissões de gases produtores de aquecimento, enquanto 50% dos países mais pobres (3,4 bilhões da população) são responsáveis por apenas 7% das emissões". Esta injustiça ecológica dificilmente pode ser tornada invisível como a outra, porque os sinais estão em todas as partes, nem pode ser resolvida só pelos ricos, pois ela é global e atinge também a eles. A solução deve nascer da colaboração de todos, de forma diferenciada: os ricos, por serem mais responsáveis no passado e no presente, devem contribuir muito mais com investimentos e com a transferência de tecnologias e os pobres têm o direito a um desenvolvimento ecologicamente sustentável, que os tire da miséria.
Seguramente, não podemos negligenciar soluções técnicas. Mas sozinhas são insuficientes, pois a solução global remete a uma questão prévia: ao paradigma de sociedade que se reflete na dificuldade de mudar estilos de vida e hábitos de consumo. Precisamos da solidariedade universal, da responsabilidade coletiva e do cuidado por tudo o que vive e existe (não somos os únicos a viver neste planeta nem a usar a biosfera). É fundamental a consciência da interdependência entre todos e da unidade Terra e humanidade. Pode-se pedir às gerações atuais que se rejam por tais valores se nunca antes foram vividos globalmente? Como operar essa mudança que deve ser urgente e rápida?
Talvez somente após uma grande catástrofe que afligiria milhões e milhões de pessoas, poder-se-ia contar com esta radical mudança, até por instinto de sobrevivência. A metáfora que me ocorre é esta: nosso pais é invadido e ameaçado de destruição por alguma força externa. Diante desta iminência, todos se uniriam, para além das diferenças. Como numa economia de guerra, todos se mostrariam cooperativos e solidários, aceitariam renúncias e sacrifícios a fim de salvar a pátria e a vida. Hoje a pátria é a vida e a Terra ameaçadas. Temos que fazer tudo para salvá-las.
Fonte: BOFF, Leonardo. Correio Popular, 2013.
Leia as seguintes frases:
I. "Os ricos, por serem mais responsáveis no passado e no presente, devem contribuir muito mais".
II. "Seguramente, não podemos negligenciar soluções técnicas".
III. "Diante desta iminência, todos se uniriam".
Com relação ao uso da vírgula, ela é:
Leia o texto para responder a questão.
O padeiro
TEXO I
Escola primária na Finlândia testa o uso de robôs em sala de aula.
Objetivo é avaliar se as máquinas podem melhorar a qualidade do ensino.
por O GLOBO
28/03/2018 10:36 / Atualizado 28/03/2018 11:06
TAMPERE, Finlândia — Com paciência infinita para repetir os ensinamentos e carisma para que as crianças não se sintam envergonhadas em fazer perguntas, Elias, que ensina línguas numa escola primária na Finlândia, está fazendo sucesso entre os alunos. Com cerca de 30 centímetros de altura, o novo professor é um robô equipado com um software que o permite compreender as perguntas dos estudantes e encorajar o aprendizado, se comunicando em três línguas: finlandês, inglês e alemão.
Elias é um dos quatro robôs que estão sendo empregados num programa piloto na cidade de Tampere, no sul do país. Ele é construído pela modificação do robô humanoide NAO, da japonesa Softbank, com software desenvolvido pela Utelias, uma firma local especializada em programas educativos para robôs sociais.
Além do Elias, a escola está fazendo testes com três OVObots, pequenas máquinas, com cerca de 25 centímetros de altura, que lembram corujas e ensinam matemática. O projeto piloto pretende avaliar se os robôs podem melhorar a qualidade do ensino. Isso não significa que eles irão substituir os professores, mas serão parceiros em sala de aula.
— Eu acho que a principal ideia do novo currículo é envolver as crianças, motivá-las, torná-las ativas — disse à Reuters Riikka Kolunsarka, professora de línguas na escola. — Eu vejo Elias como uma das ferramentas para aplicar diferentes atividades na sala de aula. Nesse sentido, eu acho que robôs, a programação de robôs e o trabalho com eles é algo de acordo com o novo currículo e algo com que nós, professores, precisamos ter a mente aberta.
Os OVObots são emprestados pela firma finlandesa AI Robots, e ficarão na escola por um ano. Já o Elias foi adquirido pela instituição. O uso de robôs em sala de aula já aconteceu em outros países no passado, mas somente agora as tecnologias estão ficando maduras o suficiente para o emprego mais rotineiro desses ajudantes. Até mesmo start-ups, como a AI Robots, conseguem disputar espaço neste mercado. E as crianças estão aprovando.
— Bem, é divertido, interessante e excitante e estou um pouco chocada — disse a pequena Abisha Jinia, sobre o Elias.
https://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/escola-primaria-na-finlandia-testa-uso-de-robos-em-sala-deaula-22534037
Leia a charge.
(Gazeta do Povo, 01.12.2016)
O motivo pelo qual se separa entre vírgulas o termo
“Baiano” também está presente na seguinte frase:
Maria Bethânia emociona na abertura de Bienal
Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, CONSTITUIÇÃO, 1988, p. 137).
“Eu, Maricotinha, aluna de escola pública, abrindo a Bienal do Livro. Não é lindo?”. Foi assim que Maria Bethânia encerrou sua apresentação na sexta-feira, 26, não sem antes pedir desculpas por ter ultrapassado os 40 minutos combinado – não que alguém tenha achado ruim ouvi-la cantar e ler trechos de poemas e livros. A cantora, ligada ao universo literário há muito tempo, fez uma versão reduzida de seu show Bethânia e As Palavras, antes dos discursos habituais na cerimônia de abertura da Bienal Internacional do Livro de São Paulo – apenas o ministro da Educação, Mendonça Filho, evitou o microfone. Até 4 de setembro, são esperadas 700 mil pessoas no Anhembi.
Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Mia Couto, Manuel Bandeira, o professor da infância, Nestor Oliveira, que apresentou a poesia a Bethânia e Caetano. Eles e muitos outros, todos juntos, entre um verso e outro, uma música e outra, na voz de uma Bethânia toda de branco, cabelo preso quase até o fim do show, óculos de grau.
A Poetas Populares (Os nomes dos poetas populares / Deveriam estar na boca do povo / No contexto de uma sala de aula / Não estarem esses nomes me dá pena), de Antonio Vieira, ela emendou Trenzinho Caipira, num dos momentos mais bonitos – como foi quando ela cantou Romaria. A leitura de um longo trecho de Grande Sertão Veredas também foi um dos pontos altos.
O moçambicano Mia Couto apareceu mais de uma vez. Dele, ela leu: “Agora, meu ouro é a palavra. Agora, a poesia é a minha única visita de família” e “Na escolinha, a menina propícia a equívocos disse que masculino de noiva é navio”. “Que coisa linda!”, ela disse após ler esta última frase – e então cantou trecho de Oração ao Tempo.
Na sequência, leu Velha Chácara, de Manuel Bandeira, comentou sobre o aprendizado com Nestor de Oliveira, seu professor em Santo Amaro, na Bahia, e deu seu recado: “É possível, sim, uma boa e plena educação nas escolas públicas. Veja eu, Maricotinha, abrindo a Bienal do Livro. Beijinho no ombro”. Ela voltou a repetir isso – sem a referência à Valeska Popozuda – no final.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Adaptado de <https://istoe.com.br/bethania-emociona-na-abertura-da-bienal/>
Texto I
BITCOIN - Uma moeda simples que está criando milionários pelo mundo.
I. No fragmento “O Bitcoin, uma criptomoeda, tem ficado cada vez mais popular.”, as vírgulas se justificam por isolarem o aposto.
II. Em “Ele foi criado pelo misterioso Satoshi Nakamoto, que alega ser um japonês que já ultrapassou os 40 anos.”, a vírgula restringe o antecedente. III. Em casos como no excerto “Naquela época, o dólar estava bem mais barato no Brasil...”, a vírgula se justifica por separar adjunto adverbial de tempo.
Leia o texto para responder a questão.
TEMOS INSTITUIÇÕES FORTES
Como entender a evolução das regras do jogo no Brasil
(...)
Instituições, como ensina Douglass North, são regras do jogo, formais e informais. Constituem as restrições que moldam a interação humana, alinhando incentivos para ações de natureza política, social ou econômica. Criam condições para a atividade de empreender, assumir riscos e gerar prosperidade. Protegem os cidadãos do arbítrio e da violência do Estado.
No Brasil, entendem-se instituições como restritas apenas às organizações do setor público. Ocorre que elas incluem regras sobre liberdade de expressão e de opinião e, assim, garantias de imprensa livre e independente, além de compreenderem os mercados.
As instituições costumam surgir de novas crenças. Um exemplo foi a percepção, ao longo do tempo, das desvantagens do autoritarismo. Daí vieram, no Brasil, o fim do regime militar e as normas do Estado democrático de direito nascidas da Constituição de 1988.
(...)
(Revista Veja, Editora ABRIL, edição 2539, ano 50, nº 29, 19 de julho de 2017, p. 77).
Texto para responder a questão.
A era do descartável: seu lixo diz muito sobre você
Com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o próximo item.
A supressão da vírgula empregada logo após “2.900 a.C.” (l.7) manteria a correção gramatical do texto.
Leia o texto, para responder a questão.
Frei Caneca e a Virgem Maria
Texto 1
Viajar a Cuba é conhecer a diferença entre o comunismo ideal e real
§ 1º Estamos perto da data do centenário da Revolução de Outubro. Para celebrar, decidi passar uma semana em um país "supostamente comunista" – é tudo o que tivemos nos últimos cem anos, países supostamente comunistas; os comunistas "de verdade", ninguém viu, nunca.
§ 2º Escolhi Cuba, porque a ilha está a uma distância praticável e porque ela encarnou (talvez ainda encarne para alguns, especialmente na América Latina) um ideal.
§ 3º Foi minha primeira viagem a Cuba, com expectativas misturadas: entre camisetas de Che Guevara nos anos 1960 e o banho de realidade da "Trilogia Suja de Havana" de Pedro Juan Gutiérrez (Alfaguara), nos 1990.
§ 4º A história de Cuba é diferente da dos países do bloco soviético: a ilha se tornou comunista por movimento interno (não por uma invasão ou pela divisão, entre Rússia e EUA, dos espólios da Segunda Guerra).
§ 5º Também, a Revolução Cubana aconteceu numa época (1959) em que só os otários e os desonestos ignoravam os horrores da experiência soviética. Gide publicou seu "De Volta da URSS" em 1936 (Vecchi, 1937). E o relatório Khruschov é de 1956.
§ 6º A virada filossoviética da Revolução Cubana foi também consequência de uma política equivocada dos EUA, que pareciam sobretudo defender os interesses de seus mafiosos donos de hotéis. Mas a virada sanguinária e repressora da Revolução Cubana veio de onde? Camilo Cienfuegos, o proletário, morreu "por acaso": seu avião sumiu logo quando Camilo começava a manifestar seu dissenso.
§ 7º Os irmãos Castro e Che Guevara, rebentos (respectivamente) da grande e da pequena burguesia, "inventaram" fuzilamentos e campos de concentração para dissidentes; eles tiveram a crueldade típica de meninos que brincam de guerra para se fazerem de herói.
§ 8º Justamente, o Museu de la Revolución e o ensino de história alimentam para sempre a narrativa que os torna heróis. Um guia me garante que nunca houve campos de concentração em Cuba. E Reinaldo Arenas, seu livro, "Antes que Anoiteça"? Ninguém ouviu falar.
§ 9º As afirmações de Fidel e do Che, pelas quais "los maricones" seriam "contrarrevolucionários"? Ninguém nunca ouviu.
§ 10. Mas eu me lembro da provocação de Allen Ginsberg, o poeta beat, que foi expulso de Cuba em 1965 por dizer que Guevara era bonitinho e que Raúl Castro talvez fosse gay.
§ 11. Cuba é muito diferente da Europa do Leste antes da queda do muro, em que se respirava um clima tétrico, opressivo. As ruas da Havana são alegres, a gente caminha sem se sentir perseguido num filme expressionista alemão. A mão repressora é mais leve? Ou são o Caribe e seu sol que fazem isso? Aposto no Caribe. §
12. Nenhuma criança está fora da escola, e o analfabetismo acabou. A consequência é a própria comunidade: é possível conversar com qualquer um, e talvez namorar com qualquer um, porque existe um fundo de cultura básica (isso, apesar de diferenças econômicas abissais; o salário cubano começa pelos US$ 20 por mês, mas há pessoas vivendo em casas que não desfigurariam no Pacaembu, em SP).
§ 13. Agora, a cultura comum é pitoresca de tão parecida com um catecismo. Nas estradas, esbarra-se na declaração de que "la unidad y la doctrina" são os "pilares fundamentales". Parece ter sido escrito para mim: em geral, se tem doutrina e unidade na doutrina, eu sou contra.
§ 14. As ruas são seguras, mesmo de madrugada.
§ 15. Será efeito da polícia, que, numa ditadura, sempre é temida? Ou será pela própria existência de uma comunidade?
§ 16. A internet é lenta, disponível só em alguns lugares públicos, caríssima (US$ 2 a hora) e censurada. As imagens eróticas do meu Tumblr, por exemplo, não carregam porque a pornografia é proibida em Cuba. Realmente, os governos repressores sempre têm um sentido claro das prioridades. Estou sendo irônico, viu?
§ 17. Um pai, na Havana, quer fazer um bolo para o aniversário do filho. Começa a procurar e estocar os ingredientes três meses antes. O desabastecimento é crônico, salvo nos hotéis para turistas. E não adianta acusar embargos e bloqueios. O modelo econômico faliu o país. Conselho às mulheres que procurassem marido: viagem a Cuba se quiserem ser pedidas em casamento na primeira dança. Casar-se, para o homem cubano, é a única saída do país.
§ 18. Um amigo, para quem explicamos que, para muitas coisas, o Brasil talvez seja pior, responde: "Mas você veio e pode comparar. Eu não consigo sair daqui".
CALLIGARIS, Contardo. Folha de S. Paulo,
19/10/2017.
Considerando o emprego da pontuação no texto 1, julgue as afirmativas a seguir:
I. O sentido da frase “Será efeito da polícia, que, numa ditadura, sempre é temida?” (§ 15) seria preservado caso se suprimisse a vírgula que sucede a palavra “polícia”.
II. Na frase “Nenhuma criança está fora da escola, e o analfabetismo acabou” (§ 12), a vírgula deve ser eliminada, pois não se separam por vírgula duas orações unidas pela conjunção aditiva “e”.
III. Caso invertêssemos a posição dos sintagmas “Camilo Cienfuegos” e “o proletário”, seriam eliminadas as vírgulas presentes no enunciado integrado por essas expressões (§ 6º), de modo que o enunciado fosse assim registrado: “O proletário Camilo Cienfuegos morreu ‘por acaso’: seu avião sumiu logo quando Camilo começava a manifestar seu dissenso.”
IV. No 7º parágrafo, a substituição do ponto e vírgula por ponto-final e o devido emprego da inicial maiúscula a iniciar a nova frase preservariam a correção quanto ao emprego da norma-padrão da língua, bem como conservariam a coerência do texto.
V. No 5º parágrafo, a omissão da vírgula após o advérbio “também” prejudicaria a correção da frase.
Assinale a opção correta:
Joana tinha vinte anos e estranhava muito a rápida transformação de Manaus. Quando era ainda criança, as ruas não possuíam calçamento, as casas eram na maioria de madeira e careciam de eletricidade, água e esgoto. Uma viagem até Belém durava invariavelmente três meses. Quando o pai de Joana chegou ali em 1865, vindo do Maranhão, não encontrou mais de cinco mil almas. Era um lugarejo triste e de poucas ruas e muita lama. Quando Joana completou quinze anos, seu pai ofereceu uma recepção para duzentos convidados e a cidade já estava com vinte mil almas.
(Adaptado de: SOUZA, Márcio. Galvez Imperador do Acre. 18. ed. Rio de Janeiro, Record, 2001, p. 132)
Combate ao crime
Houve, no Brasil, uma escalada do aprisionamento que, nos últimos anos, levou o país a abrigar a terceira maior população carcerária do mundo, atrás de EUA e China.
Parte considerável das prisões resulta de casos de flagrante, e salta aos olhos a parcela de encarcerados por delitos menores (em especial o pequeno tráfico de drogas) e em regime provisório (40%).
Há anos este jornal manifesta opinião favorável à aplicação de sanções alternativas, de modo a reservar o cárcere para autores de crimes violentos, que representam ameaça à sociedade.
Tal correção de rumos, fique claro, não corresponde à complacência. Especialistas são praticamente unânimes em considerar que a certeza da punição, mais do que o rigor ou o tamanho da pena, é o principal fator de dissuasão.
Deve-se caminhar, ainda, no sentido da integração, com a criação de bases de dados e canais instantâneos de comunicação entre as polícias e outras instituições. Não menos importante, há que investir em redução da evasão escolar e políticas voltadas para a juventude.
Tudo isso depende, claro, da superação da crise orçamentária, em especial na esfera estadual.
(Folha de S.Paulo, 24.04.2018. Adaptado)
Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.
Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.
Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam.
A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.
Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.
(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017)
As frases abaixo dizem respeito à pontuação do texto.
I. No segmento ... não exclusivo de sua gravidade: o seu humor... (2°parágrafo), os dois-pontos podem ser substituídos por travessão, uma vez que se segue um aposto relativo ao termo “traço”, presente na mesma frase.
II. No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)... (3°parágrafo), os parênteses podem ser suprimidos, mantendo-se a correção, desde que se acrescente uma vírgula imediatamente após “exemplo”.
III. No segmento ... do esforço ou da inquietude; também eles sabem... (4° parágrafo), o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos, sem prejuízo da correção, uma vez que a ele se segue uma explicação.
Está correto o que consta APENAS de:
Texto I
Nossa imaginação precisa da literatura mais do que nunca
LIGIA G. DINIZ – 22 FEV 2018 - 18:44
Vamos partir de uma situação que grande parte de nós já vivenciou. Estamos saindo do cinema, depois de termos visto uma adaptação de um livro do qual gostamos muito. Na verdade, até que gostamos do filme também: o sentido foi mantido, a escolha do elenco foi adequada, e a trilha sonora reforçou a camada afetiva da narrativa. Por que então sentimos que algo está fora do lugar? [...]
O que sempre falta em um filme sou eu. Parto dessa ideia simples e poderosa, sugerida pelo teórico Wolfgang Iser em um de seus livros, para afirmar que nunca precisamos tanto ler ficção e poesia quanto hoje, porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o mecanismo livre da nossa imaginação. Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida por aquele monte de palavras impressas na página.
Essa potência vem, entre outros aspectos, do tanto que a literatura exige de nós, leitores. Não falo do esforço de compreender um texto, nem da atenção que as histórias e poemas exigem de nós – embora sejam incontornáveis também. Penso no tanto que precisamos investir de nós, como sujeitos afetivos e como corpos sensíveis, para que as palavras se tornem um mundo no qual penetramos. [...]
Somos bombardeados todo dia, o dia inteiro, por informações. Estamos saturados de dados e de interpretações. A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo diferente. Trata-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de “presença” e que remete a um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para além e para aquém do pensamento racional.
Muitos eventos produzem presença, é claro: jogos e exercícios esportivos, shows de música, encontros com amigos, cerimônias religiosas e relações amorosas e sexuais são exemplos óbvios. Por que, então, defender uma prática eminentemente intelectual, como a experiência literária, com o objetivo de “produzir presença”, isto é, de despertar sensações corpóreas e afetos? A resposta está, como já evoquei mais acima, na potência guardada pela ficção e a poesia para disparar a imaginação. [...]
A leitura de textos literários [...] exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena de não existir espaço ficcional algum.
Mais ainda, a experiência literária nos dá a chance de vivenciarmos possibilidades que, no cotidiano, estão fechadas a nós: de explorarmos essas possibilidades como se estivéssemos, de fato, presentes. E a imaginação é o palco em que a vivência dessas possibilidades é encenada, por meio do jogo entre identificações e rejeições. [...]
(Adaptado de:<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/22/opinion/1519332813_987510.html>
Texto I
O Aleph e o Hipopótamo I
Leandro Karnal
O tempo é uma grandeza física. Está por todos os lados e em todos os recônditos de nossas vidas. Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada. Há dias em que o tempo não passa, anda devagar, como se os ponteiros do relógio (alguém ainda usa modelo analógico?) parecessem pesados. Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens. Tal é o tempo da sala de espera para ser atendido no dentista ou pelo gerente do banco, por exemplo.
Em compensação, há o tempo que corre, voa, falta. Em nosso mundo pautado pelo estresse, por mais compromissos que a agenda comporta, a sensação de que a areia escorre mais rápido pela ampulheta é familiar e amarga. O tempo escasseia e os mesmos exatos 60 minutos que a física diz que uma hora contém viram uma fração ínfima do tempo de que precisamos.
Vivemos um presente fugidio. Mal falei, mal agi e o que acabei de fazer virou passado, parafraseando o genial historiador Marc Bloch. Não é incomum querermos que o presente dure mais, se estique, para que uma faísca de felicidade pudesse viver alguns momentos mais longos.
Se o presente é esse instante impossível de ser estendido, o passado parece um universo em franca expansão. Quanto mais envelhecemos, como indivíduos e como espécie, mais passado existe, mais parece que devemos nos lembrar, não nos esquecer. Criamos estantes com memorabilia, pastas de computador lotadas de fotos, estocamos papéis e contas já pagas, documentos. Criamos museus, parques, tombamos construções, fazemos estátuas e mostras sobre o passado.
E o futuro? Como nos projetamos nesse tempo que ainda não existe… “Pode deixar que amanhã eu entrego tudo o que falta”; “Semana que vem nos encontramos, está combinado”; “Apenas um mês e… férias!”; “Daqui a um ano eu me preocupo com isso”. Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido. E tudo o que é sólido se desmancha no ar, não é mesmo? Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato! [...]
Saber sobre tudo que possa vir a ocorrer é um grande desejo. Ele anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus. Infelizmente, pela sua natureza e deficiência, toda profecia deve ser vaga. “Vejo uma viagem no seu futuro”, afirma a mística intérprete das cartas. Jamais poderia ser: no dia 14 de março de 2023, às 17h12, você estará no Largo do Boticário, no Rio de Janeiro, lendo o conto A Cartomante, de Machado de Assis. Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado.
Entender o passado em toda a sua vastidão e complexidade, perceber o quanto ele ainda é presente, é o sonho de todos os historiadores, desejo maior de todos os que lotam os consultórios de psicólogos e psicanalistas. [...] Ao narrar o que vi e vivi, dependo da memória. Aquilo de que nos lembramos ou nos esquecemos nem sempre depende de nossa vontade ou escolhas. Quando digo: quero me esquecer disso ou daquilo, efetivamente estou me lembrando da situação. Alguns eventos são tão traumáticos que, como esquadrinhou Freud um século atrás, são bloqueados pela memória. Escamoteados pelo trauma, ficam ali condicionando nossas ações e não ações no presente. [...]
(Adaptado de https://entrelacosdocoracao.com.br/2018/03/o-aleph
-e-o-hipopotamo-i/ - Acesso em 26/03/2018)