Questões de Português - Uso dos conectivos para Concurso
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Para que a oração que inicia o período acima seja caracterizada pela circunstância de concessão, a lacuna somente poderá ser preenchida por:
“_______________ o direito de viver livre da fumaça alheia seja garantido por lei, psicólogos e especialistas no combate ao fumo afirmam que os incomodados estão certos ao substituir um confronto direto pela intervenção de um mediador.”
Para que a oração que inicia o período acima seja
caracterizada pela circunstância de concessão, a
lacuna somente poderá ser preenchida por:
I. Como a chuva estava muito forte, não foi possível continuar o show.
II. Eu não consegui apresentar o trabalho porque estava muito nervosa!
III. Os manifestantes terão suas reivindicações atendidas, exceto se usarem de violência.
IV. Estava doente, mas foi trabalhar.
V. Os brasileiros são tão trabalhadores quanto os norte-americanos.
O mundo daqui a uma década
Em dez anos, olharemos para trás e morreremos de vergonha do festival de selfies, das fotos dos pratos de comida, da postura perfeita na ioga, do exibicionismo sem fim, da ostentação sem limite que desfilamos nas redes sociais.
Reclamamos que o Facebook entrega de bandeja nossos dados, mas todos os dias servimos sem parcimônia, depois de uma mãozinha de verniz, claro, uma versão melhorada do que somos.
A superexposição transformou pessoas sem talentos em celebridades. Vivemos numa época em que somos o que postamos, não o que fazemos. Nossa individualidade virou produto para consumo externo.
Mas essa onda já começa a dar sinais de decadência. Por que passamos tanto tempo vivendo experiências que não são nossas ou escancarando nossas vidas à espera de likes?
A empresa de tendências Box1824 detectou um novo comportamento entre jovens de 18 e 24 anos, o de deixar as redes sociais ou decretar uma grande mudança em como elas funcionam.
Contas fechadas, poucos amigos, posts efêmeros e o fim da busca pelo feed perfeito. É a geração Exit (saída), que vai abrir mão de ser seguida para viver a liberdade de ser anônima. Privacidade será o novo cool*. Tomara que essa moda pegue.
(Mariliz Pereira Jorge. https://bit.ly/2ZajulS. Adaptado)
* atitude que será considerada a melhor, a mais avançada, a ideal.
Considere a frase reescrita com base nas ideias do texto.
Nossa individualidade virou produto de consumo externo, ________ essa atitude está perdendo espaço, ________ a nova geração, chamada Exit, valoriza a liberdade advinda do anonimato, _______ privacidade será a nova onda.
Para que a frase esteja em conformidade com a norma-padrão e preserve o sentido do texto, as lacunas devem ser preenchidas, respectivamente, por:
Leia a tira, para responder à questão.
(Bill Watterson. Disponível em:<luisasandes.wordpress.com>
Considere o texto abaixo para responder à questão.
A crítica sistemática da ligação entre discurso e poder adquire plena evidência na Idade Moderna, sobretudo a partir da luta que a cultura renascentista empreende contra a força da tradição eclesiástica e contra os preconceitos da nobreza e da monarquia por direito divino.
O combate acendeu-se à medida que o conhecimento científico precisou enfrentar a ditadura do magister dixit1 aristotélico relançada pela Contrarreforma. A ciência cumpria então o objetivo de instaurar os métodos confiáveis da experiência e da indução e os procedimentos da dedução matemática. Para tanto, era necessário dissipar a névoa cerrada dos falsos conceitos que impediam o exercício do olhar racional da nova Astronomia e da nova Física.
Remover o princípio de autoridade foi a tarefa que se propuseram Erasmo e Rabelais, precedidos pela perícia filológica dos humanistas italianos do século XV. Lorenzo Valla, entre outros tantos, examinou documentos medievais e desmentiu a versão canônica da doação das terras vaticanas que o imperador Constantino teria feito ao bispo de Roma. A sua análise linguística provou que o latim do diploma de doação era “bárbaro”; um texto forjado, portanto, cuja língua não correspondia ao estilo oficial romano do século IV.
A denúncia das correntes hegemônicas, expressa em geral em tom satírico, terá sido o primeiro passo para constituir uma noção crítica de ideologia, antes mesmo do aparecimento do termo, que é do fim do século XVIII. O Dictionnaire étymologique2 de Albert Dauzat dá como seu criador o filósofo Destutt de Tracy, em 1796.
A ruptura de um grupo intelectual ou de um movimento político com o estilo de pensar dominante abre neste a ferida do dissenso. Um pensamento de oposição traz consigo o momento da negatividade, contesta a autoridade, tida por natural, do poder estabelecido, acusa as suas incoerências e, muitas vezes, assume estrategicamente o olhar de um outro capaz de erodir a pseudovalidade do discurso corrente. Os períodos de crise cultural engendraram a suspeita de que pode não ser verdadeiro ou justo o sistema de valores que “toda gente” admite sem maiores dúvidas.
(Trecho citado de: BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia: temas e variações. São Paulo, Companhia das Letras, 2010, p. 13-14.)
1 magister dixit: expressão latina que equivale a “o mestre disse”;
2 Dictionnaire étymologique: Dicionário etimológico.
Com relação às expressões sublinhadas no parágrafo transcrito acima, é correto afirmar que
Considere o texto abaixo para responder à questão.
Lagoa
Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito,
não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.
Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
e calma também.
Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha
a lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar.
Eu vi a lagoa...
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia 1930-62. São Paulo, Cosac Naify, 2012, p. 79)
Tirar marcação de leitura do WhatsApp pode
indicar traços de manipulação
Por Luciano Cazz
LEIA O TEXTO PARA RESPONDER À QUESTÃO.
Rosely Sayão: “Educar é apresentar a vida e não dizer como viver”
Educar não é fácil, muito menos nos tempos atuais. A sociedade tem passado por muitas transformações, e os pais se veem, tantas vezes, completamente perdidos. É o que evidencia a psicóloga Rosely Sayão em seu recém-lançado livro Educação sem blá-blá-blá ( Ed. Três Estrelas, 2016).
Mas porque os pais e professores estão tão perdidos? Para começar, diz a especialista, complicamos o que é muito simples e simplificamos o que tem grande complexidade. E, para completar, somos muito egoístas. “Não queremos que elas [as crianças] sofram, como se fosse possível evitar que isso ocorra, não queremos sofrer com a dor delas, não queremos que elas vivenciem frustrações, não queremos que sejam excluídas de grupos sociais. Para nós, o que conta são esses nossos sentimentos, mesmo que, para elas, passar por todas essas experiências “negativas” seja algo muito benéfico”, explica na introdução da obra.
Em conversa com Carta Educação, Rosely falou sobre os principais temas abordados no livro como a relação entre família e escola, a dificuldade dos pais de dizer “não”, como apresentar a tecnologia às crianças, entre outros assuntos essenciais para um convívio familiar e escolar mais saudável. Carta Educação: O mundo tem passado por muitas transformações em um espaço de tempo relativamente pequeno. A educação vem acompanhando essas mudanças? Quais são os ensinamentos de nossos avós, pais ainda pertinentes e quais aqueles que precisam ser revisados?
Rosely Sayão: Os ensinamentos que precisamos manter são aqueles gerais, relacionados aos princípios e valores. Independentemente das mudanças que ocorreram no mundo, do estilo de vida que as crianças e jovens levam hoje, é preciso ensiná-los a ser honesto, ético, justo, respeitar o outro. O que muda é a maneira de ensinar: acho que hoje a mediação funciona bem. Então usar um filme para discutir uma determinada situação ou uma notícia que está tendo repercussão nas mídias pode ser um ponto de partida para conversar sobre os temas. Antes os pais só mandavam, era “ faça isso, não faça aquilo, isso pode aquilo não”. Hoje, dever haver a conversa junto com a atitude. Não é só conversa também, são os dois juntos.
CE: No seu livre, a senhora fala em crise da autoridade dos pais e com isso tem dificultado a relação deles com os filhos. Poderia explicar melhor?
RS: A crise da autoridade começou faz tempo, mas estamos vendo os efeitos disso na educação só agora. E não é só a autoridade dos pais que está sendo contestada, é geral. Se analisarmos o nosso panorama político nas últimas décadas, percebemos que nem as autoridades políticas são respeitadas mais. Em relação aos pais, dizer não para o filho é apresentar a vida como ela é e essa é a dificuldade dos pais, pois eles querem criar um mudo perfeito para seus filhos, só que esse mundo não existe. Mas educar é isso: apresentar a vida e não dizer como viver
CE: Porque é tão difícil dizer “não”?
RS: Muitos pais me perguntam isso, como dizer “não” ao filho, e eu viro e respondo: “Olha para ele e diz não”. A verdade é que os pais não querem bancar o que vem depois do não. A birra, o choro, a revolta. Mas tem que bancar, pois é função dos pais fazer com que a criança faça aquilo que é bom para ela. Porque ela não sabe, a criança só sabe o que ela gosta e não gosta.
CE: Muitos pais têm sobrecarregado seus filhos com atividades extraclasse na ânsia de moldá-los dentro do currículo perfeito desde muito cedo. Como a senhora enxerga essa tendência?
RS: O individualismo e a competição estão no seu auge em paralelo com o poder de consumo. Há uma geração educada dessa maneira e percebe-se que isso não está ajudando a melhorar o mundo, pelo contrário. Então está na hora de a gente repensar isso tudo. Se o mundo ensina a gente a ser competitivo, a gente tem que dar uma vacina para nosso filho, isto é, ensinar a ser cooperativo. O mundo ensina que é importante consumir, tenho que dar uma vacina e mostrar que se pode consumir de maneira crítica. Isso que é importante e não ensinar mais do mesmo. Se o mundo já ensina isso, a gente não precisa ensinar de novo.
PAIVA, Thais. Rosely Sayão: “Educar é apresentar a vida e não dizer como viver”. Carta Capital, 2018 [adaptado]. Disponível
em: http:/www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/Rosely-sayao-educar-e-aresentar-a-vida-e-não-dizer-como-viver/. Acesso
em: 24 fev. 2019.
Texto para responder a questão.
Brasil cumpre apenas 2 de 6 metas mundiais para a educação, diz Unesco
Só um terço dos países atingiram objetivos para período 2000 a 2015.
Inep contesta números e diz que país avançou no acesso à educação.
Um relatório divulgado nesta quarta‐feira (8) pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), mostra que somente um terço dos países alcançou todas as seis metas de educação estabelecidas há 15 anos para o período de 2000 a 2015. Segundo o relatório, o Brasil chegou a duas dessas metas: universalizou o acesso à educação primária (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e atingiu a meta da igualdade de gênero, levando meninos e meninas às aulas em grande proporção.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do Ministério da Educação, contesta os números e vê grandes avanços no acesso à educação na pré‐escola, no ensino profissionalizante e no combate ao analfabetismo.
A educação no mundo ainda não é tratada da maneira como deveria, segundo a Unesco. A organização afirma que apesar de neste período 34 milhões de crianças terem tido acesso à educação, ainda há 58 milhões de crianças fora da escola no mundo e cerca de 100 milhões de crianças que não completarão a educação primária.
A desigualdade na educação aumentou, com os mais pobres e desfavorecidos carregando o maior fardo. As crianças mais pobres do mundo têm chances quatro vezes maiores de não frequentar a escola quando comparadas às crianças mais ricas do mundo, e cinco vezes maiores de não completar a educação primária.
Uma nova reunião mundial será realizada em maio na Coreia do Sul para traçar objetivos para o período de 2015 a 2030.
(Disponível: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/04/brasil‐cumpre‐apenas‐2‐de‐6‐metas‐mundiais‐para‐educacao‐diz‐unesco.html.Acesso em: 08/04/2015. Adaptado.)
Analise os trechos selecionados a seguir e as afirmativas relacionadas.
“Segundo o relatório, o Brasil chegou a duas dessas metas:” (1º§)
“A educação no mundo ainda não é tratada da maneira como deveria, segundo a Unesco.” (3º§)
I. Na segunda ocorrência, o termo “segundo” pode ser substituído por consoante.
II. As relações de conformidade possuem ênfase diferente de um segmento para outro.
III. Apenas na primeira ocorrência, o termo “segundo” exprime concordância, conformidade.
IV. A palavra “segundo” possui sentidos diferentes considerando‐se as duas ocorrências.
Estão corretas apenas as afirmativas
Considerando as relações de sentido estabelecidas no texto acima, afirma-se corretamente:
Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.
A obra de arte genial dribla de algum modo o efeito debilitador da passagem do tempo e adquire o poder de dizer coisas novas a sucessivas gerações de apreciadores. As grandes obras da ciência, como os tratados hipocráticos, foram criações que marcaram época, mas que a passagem do tempo reduziu à condição de peça de antiquário. Com a arte é diferente.
A obra de arte genial transcende sua época. Mas ela é fruto de uma época. O trabalho do artista inevitavelmente reflete os valores de uma época - ou aquilo que os alemães denominam "zeitgeist", o espírito definidor de um período histórico particular.
Duzentos e cinquenta anos nos separam do nascimento de Mozart. Os seus 36 anos de intensa atividade musical transcorreram no século XVIII. Sua morte, em 1791, praticamente coincide com o desfecho dramático do século das luzes que foi a Revolução Francesa.
De tempos em tempos, surgem artistas que não se contentam em fazer escolhas dentro dos marcos definidos pelos adeptos de uma tradição estética − colegas, críticos e o público −, mas almejam ir além e escolher por si mesmos as regras do fazer criativo.
Em sua formação musical Mozart assimilou desde cedo, sob a rigorosa tutela do pai, a tradição clássica austríaca que tinha em Joseph Haydn a sua mais consumada expressão. Na juventude, Mozart se empenhou com extraordinário afinco ao desafio de dominar essa tradição.
Seu reconhecimento definitivo veio do próprio Haydn que, em comentário feito ao pai de Mozart, afirmou: "seu filho é o maior compositor de que tenho conhecimento". Seria difícil pedir mais.
Mozart não foi um revolucionário, como Beethoven. Ele jamais se propôs a subverter os marcos da tradição na qual se fez músico. O que é assombroso constatar é que Mozart conquistou a expansão de um potencial criativo sem que precisasse abdicar de uma estrita adesão ao rigor formal clássico.
Não seria descabido especular que o peso esmagador do seu gênio tenha contribuído para impelir Beethoven a embarcar na aventura radical da ruptura romântica. Pois se é verdade, como dizia Marx, que "a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos", o que dizer de uma tradição na qual floresce um Mozart?
Como entender a gênese de um gênio da estatura de Mozart? A imagem da criança prodígio, que aos oito anos arrebatou ao piano as cortes de Londres e Versailles, pode sugerir pistas enganosas - a ideia de dons sobrenaturais ou talentos geneticamente determinados.
Como pondera o biólogo Edward Wilson, "não existe um gene para tocar bem piano. O que há é uma ampla conjunção de genes cujos efeitos favorecem destreza manual, criatividade, expressão emotiva, foco, espectro de atenção e controle de tom, ritmo e timbre. Essa conjunção também torna a criança bem-dotada propensa a tirar proveito da oportunidade certa na hora certa". Mozart foi um prodígio que se fez gênio. O seu caminho de criança prodígio a gênio maduro revela o acerto do verso de Hesíodo: "Ante os portais da excelência, os altos deuses puseram o suor".
O surgimento de um Mozart, em suma, pode ser entendido como o efeito da convergência, estatisticamente improvável, de um grande número de circunstâncias felizes: excepcional dotação genética; a fortuna de uma educação exigente numa esplêndida tradição musical; a convivência com modelos inspiradores; um clima cultural propício e uma energia pessoal vulcânica ligada a um não menos generoso impulso criador. Acidentes felizes acontecem.
Mozart certamente não tem a profundidade emotiva de Beethoven. Nem por isso, contudo, é menor que ele. Na obra de Mozart sentimos pulsar a crença na possibilidade de existência de uma ordem cósmica que nos transcende. Alguma coisa além da nossa capacidade de compreensão, mas que nos é facultado entrever ou intuir no contato com a música. Que o ânimo luminoso dessa arte esteja conosco na difícil jornada que o século 21 prenuncia.
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo. O elogio do vira-lata. São Paulo: Cia. das Letras, 2018, edição digital.)
Animais de estimação
O homem tem bicho de estimação desde que vivia nas cavernas. Hoje, porém, os animais domésticos alcançaram status de membro da família. Existe um mercado voltado para eles que vem crescendo muito. As pessoas sentem-se mais sós e os animais de estimação passaram a ser excelentes companhias. Muitos casais preferem criar um animal a ter um filho, alegando que o amor aos animais é completamente diferente do amor entre humanos: não tem cobrança nem críticas.
Há os que afirmam receber mais amor e compreensão dos bichos do que dos filhos ou amigos.
(http://www.mulher.uol.com.br/comportamento. Acesso em 04.07.2015. Adaptado)
Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto
Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores.
Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.
— Desconhecida? — pergunta ele.
— Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!
O marido se interroga: como se pode saber falar
uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas
palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo
desse provas da incapacidade de ser humano.
Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.
Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.
Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.
O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.
Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias.
Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.
Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que
vendem pouco e os que compram ainda menos. Os
autores africanos que não escrevem em inglês (e em
especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na
periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para
não ser silêncio.
Caros amigos:
As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.
Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.
Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.
As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...)
* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008.
Leia com atenção o trecho da notícia do R7.com – 01/01/2020:
Um misterioso vírus que causa problemas respiratórios tem colocado a China e o mundo em estado de alerta: o coronavírus já se espalhou de seu ponto inicial, a cidade de Wuhan (centro-leste chinês), para outras grandes metrópoles como Pequim e teve mais de 200 casos oficialmente registrados, com três mortes confirmadas.
{...} a China confirmou que o vírus — que causa um tipo de pneumonia — é transmitido de pessoa para pessoa.
O termo inicial do segundo parágrafo foi omitido como indica o uso dos colchetes. A coerência do texto exige que essa lacuna seja preenchida com a seguinte formulação, seguida da necessária vírgula:
Observe as frases:
“João foi aprovado no concurso. Não estudasse para isso.” Assinale a alternativa que poderia ligar as duas frases em sequência lógica, sem alterar o sentido.
Leia a charge para responder à questão
(Bob Thaves. Frank & Ernest. O Estado de S.Paulo, 02.07.2019.
https://cultura.estadao.com.br. Adaptado)
Se a vida é um vale de lágrimas, por que não processar os pais por nos terem trazido ao mundo?
Se o leitor nunca pensou nessa hipótese, isso pode significar duas coisas. Primeiro, que é uma pessoa sã. Segundo, que nunca leu a saga do indiano Raphael Samuel, 27, que tentou processar os progenitores, segundo o jornal “The Guardian”.
Sim, Samuel confessa que tem uma excelente relação com eles. Mas há, digamos, um “pecado original” que o rapaz não pode perdoar: ele nasceu sem dar o seu consentimento. Uma indenização, ainda que simbólica, seria uma forma de fazer doutrina: quando queremos ter filhos, é importante ter o consentimento deles.
Por essa altura, o leitor inteligente que lê as minhas colunas já deve ter feito uma pergunta fundamental: como obter esse consentimento? E, já agora, em que fase?
A ciência terá aqui uma palavra importante. Mas, conhecendo o narcisismo da espécie e a tendência irresistível de marchar pelas causas mais improváveis, não é de excluir que adolescentes de todas as idades, frustrados com a vida e com a necessidade de escovar os dentes, encontrem em Raphael Samuel um modelo (de negócio).
Antigamente, os pais poupavam para a universidade dos filhos. Hoje, convém poupar primeiro para a indenização que eles nos vão pedir.
No limite, ver o filho a pedir uma indenização aos pais por ter nascido faz tanto sentido como pedir uma indenização ao filho por ele não querer estar cá. Quem disse que só o filho pode ter razões de queixa?
O problema dos cálculos meramente utilitaristas é que eles são dotados de uma espantosa flexibilidade. E da mesma forma que os filhos avaliam os seus danos por terem nascido, os pais podem atuar da mesma forma.
Investiram tudo no delfim – patrimônio genético, tempo, dinheiro, sanidade e expectativas legítimas de que ele seria um adulto.
Mas o ingrato, no fim das contas, ainda quer fazer contas. Se isso não é motivo para uma indenização pesada, só um anjo nos pode salvar.
(João Pereira Coutinho, Alô, filho, você quer mesmo sair?
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br.
Acesso em: 15.11.2019. Adaptado)