Questões de Português - Uso dos conectivos para Concurso
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É comum que a opinião pública adote, conforme o quadro social, determinados posicionamentos que predominam nos populares. Trata-se de uma uniformização de discursos, um consenso entre a maioria dos cidadãos sobre certo assunto. É evidente que o discurso não é sempre correto. O número de pessoas que fala a mesma coisa não é capaz de alterar o mundo dos fatos. Em outras palavras, quantidade não é qualidade.
1. A expressão destacada no trecho “O número de pessoas que fala a mesma coisa não é capaz de alterar o mundo dos fatos. Em outras palavras, quantidade não é qualidade.” (1º §), indica que o autor pretendeu fazer uma reformulação em seu discurso, para deixar as ideias mais claras para seu interlocutor.
2. No trecho: “Cada dia mais há publicações irônicas acerca do chamado "cidadão de bem", questionando a diferenciação desse com relação ao marginal.” (3º §), o leitor deve compreender que o termo destacado faz referência à expressão “cidadão de bem”.
3. Releia: “Não há traços físicos de pessoas tendentes ao cometimento de delitos. Ademais, qualquer indivíduo está sujeito ao cometimento de práticas delituosas” (3º §). Com o termo em destaque, o autor sinaliza sua intenção de acrescentar novas informações ao seu texto.
4. No trecho: “Se a opinião pública encabeça, atualmente, um movimento cada vez mais punitivista, é porque se cansou de ficar à deriva, entre um Estado que não o protege [...]” (7º §), o referente do pronome destacado, embora não explícito, pode ser recuperado pelo leitor, que relaciona esse pronome a “indivíduo”, “cidadão”, contidos na ideia de “opinião pública”.
Estão CORRETAS:
Francisco Rüdiger. As teorias da comunicação. Porto
Alegre: Penso, 2011, p. 122-3 (com adaptações).
Julgue o item subsecutivo, relativo às ideias e estruturas linguísticas do texto acima.
Na linha 5, o vocábulo “porquanto”, que liga orações
coordenadas, pode ser substituído por conquanto, sem
prejuízo para a correção gramatical ou para a ocorrência
textual.
Helena Maria Martins Lastres et al. Desafios e oportunidades da era do conhecimento.
In: São Paulo em Perspectiva, 16(3), 2002, p. 60-1 (com adaptações).
No que se refere às estruturas linguísticas do texto, julgue o item a seguir.
Na linha 20, o vocábulo “sobretudo” pode ser corretamente
substituído por mormente, sem prejuízo para a estrutura
gramatical e os sentidos do texto.
Francisco Rüdiger. As teorias da comunicação. Porto
Alegre: Penso, 2011, p. 122-3 (com adaptações).
Julgue o item subsecutivo, relativos às ideias e estruturas linguísticas do texto acima.
Na linha 5, o vocábulo “porquanto”, que liga orações
coordenadas, pode ser substituído por conquanto, sem
prejuízo para a correção gramatical ou para a ocorrência
textual.
Helena Maria Martins Lastres et al. Desafios e oportunidades da era do conhecimento.
In: São Paulo em Perspectiva, 16(3), 2002, p. 60-1 (com adaptações).
No que se refere às estruturas linguísticas do texto, julgue o item a seguir.
O texto permaneceria gramaticalmente correto caso o vocábulo
“portanto” (l.7) fosse deslocado para o início da oração, da
seguinte forma: Portanto, há...
Julgue o item subsecutivo, relativo às ideias e estruturas linguísticas do texto acima.
Na linha 5, o vocábulo “porquanto”, que liga orações
coordenadas, pode ser substituído por conquanto, sem
prejuízo para a correção gramatical ou para a ocorrência
textual.
No que se refere às estruturas linguísticas do texto, julgue o item a seguir.
O texto permaneceria gramaticalmente correto caso o vocábulo
“portanto” (l.7) fosse deslocado para o início da oração, da
seguinte forma: Portanto, há...
No que se refere às estruturas linguísticas do texto, julgue o item a seguir.
Na linha 20, o vocábulo “sobretudo” pode ser corretamente
substituído por mormente, sem prejuízo para a estrutura
gramatical e os sentidos do texto.
Instrução: Leia o artigo de Contardo Calligaris, publicado no Jornal Folha de São Paulo em 16/04/2015, e responda à questão.
Maioridade penal?
(1§)A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a constitucionalidade da proposta de diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. Ela ainda será discutida em outra comissão especial antes de chegar ao plenário, mas já agita os espíritos. Se você conta com essa mudança para que a repressão e a prevenção da delinquência juvenil sejam mais eficientes, melhor esquecer. Neste caso, concordo com a Presidente da República: "Reduzir a maioridade penal não vai resolver o problema da delinquência juvenil".
(2§)Em suma, a proposta é inócua. E é possível que ela seja nociva: como lembrou Drauzio Varella (na Folha de 4 de abril), adolescentes encarcerados com adultos se tornarão rapidamente profissionais do crime, e serão arregimentados nas organizações que mandam na cadeia.
(3§)Hélio Schwartsman (na Folha de 8 de abril) também é contra a diminuição da maioridade penal e observa que a proposta aprovada é justificada por citações bíblicas. Penso como ele: vamos deixar ao Estado Islâmico a iniciativa de políticas públicas decididas com base em textos sagrados. No fim de sua coluna, Schwartsman escreve que gostaria de ouvir "boas" argumentações a favor da diminuição da maioridade penal. Vou tentar.
(4§)Antes disso: alguns opositores da proposta acham que a única (e verdadeira) razão para a redução da maioridade penal seria a vontade de punir os adolescentes infratores e de se vingar deles. Não vejo o problema: em geral, não acho que esta vontade seja necessariamente um sentimento vergonhoso. Enfim, sou contra a redução da maioridade penal ou a favor dela? E redução de 18 para que idade? Meu sentimento, desta vez, é radical: sou contra a existência de maioridades e menoridades penais, seja qual for a idade fixada.
(5§)Aqui, um parêntese: claro, para que alguém seja imputável, é preciso que seja capaz de fazer uma diferença entre o certo e o errado.
(6§)Também é lícito pedir que o amadurecimento cerebral (por exemplo, o desenvolvimento do córtex pré-frontal) garanta um mínimo de autocontrole. Mas mesmo esse requisito básico mereceria um longo debate, que talvez só seja possível resolver caso a caso.
(7§)Volto ao que me importa. A própria ideia de uma maioridade penal é um corolário da ideia de que a infância seja uma época diferenciada e merecedora de um tratamento especial, de modo que seja "mais feliz" do que a vida adulta.
(8§)As duas ideias, aliás, são coevas: prosperam desde o século 19.
(9§)No fim do século 18, quando perdemos a convicção absoluta de que a vida de nossa alma seria eterna, começamos a proteger e venerar as crianças, na esperança de que elas nos continuariam, seriam o remédio contra nossa mortalidade.
(10§)Logo, descobrimos o prazer de vê-las sempre saltitantes e despreocupadas, e decidimos que não seriam imputáveis juridicamente: seu sorriso, por mais que fosse um pouco besta, seria a imagem da "felicidade" de nosso futuro.
(11§)Essa mudança cultural poderia ter apenas melhorado a vida dos pequenos na nossa cultura. Mas não parou por aí: a partir da metade do século passado, a idealização da infância se tornou um desastre –para as próprias crianças, que não conseguem mais crescer, e para os adultos, que não param de regredir.
(12§)B., 10, indigna-se por ter que fazer seu dever de casa (que é irrisório, como é habitual, para não comprometer o sagrado jogo infantil). Ele esperneia e, já chorando de raiva, grita: "Eu sou uma criança!".
(13§)B. escolheu bem seu trunfo final. Sabe que os adultos não querem que ele cresça, mas desejam que continue brincando, numa caricatura repetitiva da infância encantada. Ou seja, descobriu que os adultos idealizam a vida na idade dele, não a adulta. O problema de B. (mas duvido que ele se importe com isso) é que, por esse caminho, ele não tem como querer amadurecer.
(14§)As crianças ganharam uma relevância incrível por carregarem nosso futuro e resistirem contra nossa finitude. Por serem tudo o que nos sobra da nossa imortalidade (da qual duvidamos), as amamos como nunca na história foram amadas.
(15§)Mas é bom desconfiar dos amores excessivos. No caso, se amamos as crianças como ectoplasmas que garantiriam nossa sobrevivência, também as odiamos por ser fadadas a sobreviver à gente. Esse ódio se expressa nas condutas que as condenam a viver numa infância sem fim, sem nunca se tornarem adultas.
(16§)Detalhe: a leniência com os "menores" é uma dessas condutas.
Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/216161-maioridade-penal.shtml>
“Ela ainda será discutida em outra comissão especial antes de chegar ao plenário, mas já agita os espíritos.” (1§)
A relação originalmente estabelecida nesse fragmento, segundo o texto, é preservada em:
A cultura, e conseqüente organização social, política e econômica dominante na sociedade contemporânea, ainda é aquela que começou a nascer no século XVI, quando um conjunto de inovações tecnológicas num contexto histórico favorável contribuiu para o início do enterro do Antigo Regime, no qual a Terra estava no centro do universo, a ordem social era imutável e a Igreja, junto com o poder absolutista, tinha o monopólio da informação.
A prensa de Gutenberg estava entre as inovações tecnológicas que contribuíram para a ascensão do mundo burguês. E os seus principais produtos − o livro e o jornal − foram entendidos durante muitos anos pela ordem dominante como ferramentas subversivas. Esta subversão gestou e gerou o mundo em que vivemos. Um mundo onde a iniqüidade social ainda incomoda e assusta, mas no qual todas as barreiras para a geração de riqueza e de conhecimento foram derrubadas, num processo que também gerou a onda de inovação que estamos vivendo e a possibilidade de darmos o próximo salto.
Não é função da indústria pensar a educação. A missão de qualquer empresa é lutar com todas as suas forças para crescer e se perpetuar. Mesmo quando isso vai de encontro aos interesses da comunidade em que ela está inserida. Ela jamais poderá pensar com a devida isenção numa plataforma de serviços focada em educação.
Por isso mesmo, nenhum representante da indústria de tecnologia poderia ter sido pioneiro num projeto de educação fundamentado nas profundas e dramáticas mudanças que a cibernética tem trazido para as nossas vidas.
(Trecho do artigo do jornalista Rodrigo Lara Mesquita. O Estado
de S. Paulo, A2, 4 de maio de 2007)
Ninguém, em sã consciência, negará o fato.
A computação e a conectividade estarão a cada dia mais presentes na educação.
Acredita-se que a tecnologia fornece novas janelas potenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo.
Será necessário viabilizar projetos de inclusão digital nas escolas.
O processo de coesão entre as frases acima, articulandoas corretamente em um único período, deverá ocorrer da seguinte maneira:
Nas formas de vida coletiva podem assinalar-se dois princípios que se combatem de morte e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore.
Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes.
O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente que, no entanto, mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem sentido bem nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte maior que o todo.
Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro − audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem −, tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.
Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam estabilidade, paz, segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.
Entre esses dois tipos não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta como uma incompreensão radical. Ambos participam, em maior ou menor grau, de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro, nem o trabalhador, possuem existência real fora do mundo das idéias. Mas também não há dúvida que os dois conceitos nos ajudam a situar e a melhor ordenar nosso conhecimento dos homens e dos conjuntos sociais. E é precisamente nessa extensão superindividual que eles assumem importância inestimável para o estudo da formação e evolução das sociedades.
Na obra da conquista e da colonização dos novos mundos coube ao espírito do trabalho, no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes vôos. E não foi fortuita a circunstância de se terem encontrado neste continente, empenhadas nessa obra, principalmente as nações onde o tipo do trabalhador, tal como acaba de ser discriminado, encontrou ambiente menos propício.
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 2ª ed. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1948, p. 36-39)
Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações... (4°parágrafo)
O vocábulo grifado acima introduz no contexto a noção de ...... e equivale a ...... .
As lacunas da frase estarão corretamente preenchidas, respectivamente, por:
Texto para a questão
Com o auxílio do texto acima e tendo em vista o cenário internacional contemporâneo, julgue o item que se segue.
Imediatamente antes de “Marco histórico” (ℓ.3), subentende-se
uma expressão tal como uma das seguintes: Já que se
configurou como um, Como é um, Uma vez que se
constituiu como um.
Podemos afirmar que existem duas unanimidades na teoria econômica, com resultados práticos inevitáveis. Salvo algumas poucas opiniões em contrário, a primeira delas diz respeito à neutralidade das atividades econômicas sobre a natureza e seus ecossistemas. Isto é, tudo que é feito neste mundo, em termos econômicos, seria incapaz de danificar a natureza, os elos biológicos e os ecossistemas. A maioria dos economistas acredita nisso, mas, olhando ao redor, nos perguntamos com base em que essa crença foi criada. A segunda unanimidade, derivada da primeira, é a obsessão pelo crescimento, como única forma de resolver os problemas humanos relacionados ao bem-estar e à felicidade. Por essa razão, a preocupação rotineira dos economistas em geral é a capacidade de as economias continuarem crescendo infinita e ininterruptamente. Vemos essa preocupação surgir nas justificativas de medidas governamentais, bem como nos textos de diversos autores no Brasil e fora dele. Um exemplo é o Consenso de Washington, cuja finalidade foi pavimentar nos países em desenvolvimento as condições necessárias para a expansão das atividades. No entanto, embora essa seja a preocupação mais corriqueira do mundo financeiro da atualidade, iniciamos o século XXI com enorme angústia em torno da nossa capacidade de crescer. Os riscos financeiros vêm se multiplicando, com ou sem as reformas do Consenso.
A situação econômica atual é crítica e vários economistas parecem deter a solução do problema: voltar a crescer. Precisamos tomar cuidado porque nem sempre os fins justificam os meios. Em primeiro lugar, não existe uma relação direta entre crescimento econômico e maior empregabilidade, já que o avanço tecnológico produz um crescimento de empregos que não alcança o da população. Além disso, o crescimento gerado com base na exaustão e degradação dos recursos naturais já está se mostrando inviável. Essa fórmula pode ser alentadora no curto prazo, mas fornece grande preocupação quanto ao futuro. Uma passagem de um célebre economista francês, Fréderic Bastiat, ilustra essa situação: “na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não engendram apenas um efeito, mas uma série de efeitos. Desses, só o primeiro é imediato porque se manifesta junto com sua causa (se vê); os outros se desenrolarão sucessivamente (não se veem). Somos felizes se pudermos prevê-los.”
(Adaptado de Hugo Penteado. Ecoeconomia: uma nova abordagem. São Paulo, Lazuli Editora, 2008, p. 89-92)
No entanto, embora essa seja a preocupação mais corriqueira do mundo financeiro da atualidade... (1° parágrafo)
Mantendo-se a correção e a lógica, os elementos grifados podem ser substituídos, respectivamente, por:
Como toda narração fantástica, a história da origem de Arthur Bispo do Rosário apresenta fatos difíceis de comprovar. Apelando para a imaginação, poderíamos começar assim: “Um dia eu simplesmente apareci no mundo.” Essa era a sua resposta a quem lhe perguntasse sobre sua origem. Ele se recusava a falar sobre sua família, suas raízes, sua cultura. Na sua história, ele era filho de Deus; havia sido adotado pela Virgem Maria e “aparecido” no mundo em seus braços.
Bispo nasceu em Japaratuba, no estado de Sergipe, na primeira semana de julho de 1909, e não foi registrado em cartório. Foi batizado três meses depois, em 5 de outubro, na Igreja Nossa Senhora da Saúde daquela cidade. Segundo o registro do livro de batismo da igreja, seu pai se chamava Claudino Bispo do Rosário e sua mãe, Blandina Francisca de Jesus. Todavia, no boletim oficial de sua passagem pela Marinha brasileira, o nome de seu pai consta como Adriano Bispo do Rosário e a sua data de nascimento, 14 de junho de 1909. Segundo o documento de sua admissão como lavador de bondes na Viação Excelsior, no Rio de Janeiro, ele teria nascido em 16 de março de 1911; e, na sua ficha de internação da Colônia Juliano Moreira, hospital psiquiátrico do qual foi paciente, o item filiação foi preenchido com a anotação “desconhecida”.
[...]
Bispo não desenhou, não pintou nem esculpiu. Nenhuma dessas atividades expressivas tradicionais das “belas artes” foi utilizada por ele. Mas bordou, costurou, pregou, colou, talhou ou simplesmente compôs a partir de objetos já prontos. Nenhum dos materiais “dignos” das artes plásticas foi manipulado por ele; suas obras nasceram das coisas que recolheu por onde andava ou que adquiria no mercado negro do hospício. Na sua maioria, objetos sem vida útil, detritos, sucatas de toda espécie. Na sede compulsiva de criar, quase tudo ao seu redor se transformava em material para criação plástica e, quando necessitava de um tipo específico de material, obtinha-o transformando o que havia à mão: uniformes, lençóis, sacos de estopa. Era um artesão aficionado na ordenação, na catalogação, no preenchimento de espaços e no ato de envolver com fios o corpo dos objetos. Criou vitrines, miniaturas, painéis, estandartes, bordados, roupas e uma infinidade de outras coisas, difíceis de nomear. Uma aventura poética cuja beleza não é desinteressada, ao contrário: “o artista vê na sua própria obra somente uma promessa de felicidade” (Nietzsche).
(Fragmentos adaptados de Marta Dantas. Arthur Bispo do Rosário. S.Paulo, Editora UNESP, 2009, p.17 e 84)
Atente para as seguintes afirmações sobre a pontuação empregada no texto.
I. ... seu pai se chamava Claudino Bispo do Rosário e sua mãe, Blandina Francisca de Jesus.
... o nome de seu pai consta como Adriano Bispo do Rosário e a sua data de nascimento, 14 de junho de 1909...
Nos segmentos acima, as vírgulas são facultativas e poderiam ser retiradas sem prejuízo para o sentido original e a correção.
II. Nenhuma dessas atividades expressivas tradicionais das “belas artes” foi utilizada por ele.
Nenhum dos materiais “dignos” das artes plásticas foi manipulado por ele...
As aspas empregadas nas frases acima indicam a relativização com que devem ser lidos os termos destacados e a reserva que se faz quanto à sua utilização corrente.
III. Uma aventura poética cuja beleza não é desinteressada, ao contrário: “o artista vê na sua própria obra somente uma promessa de felicidade” (Nietzsche).
Os dois-pontos da frase acima poderiam ser substituídos por pois, antecedido de vírgula, mantendo-se a correção e, em linhas gerais, o sentido original.
Está correto o que se afirma em
I. As senhoras devem ser atendidas assim que preparamos os consultórios.
II. Os pacientes estarão bem, exceto se não seguirem as indicações médicas.
III. Ainda que não mantenha a orientação nutricional, continue utilizando os medicamentos.
A alternativa que contém as relações semânticas estabelecidas pelos termos em destaque na sequência correta, de cima para baixo, é
Leia o texto a seguir para responder à questão.
Como nosso modo de ser ainda é bastante romântico, temos uma tendência quase invencível para atribuir aos grandes escritores uma quota pesada e ostensiva de sofrimento e de drama, pois a vida normal parece incompatível com o gênio. Dickens desgovernado por uma paixão de maturidade, após ter sofrido em menino as humilhações com a prisão do pai; Dostoievsky quase fuzilado, atirado na sordidez do presídio siberiano, sacudido pela moléstia nervosa, jogando na roleta o dinheiro das despesas de casa; Proust enjaulado no seu quarto e no seu remorso, sufocado de asma, atolado nas paixões proibidas – são assim as imagens que prendem nossa imaginação.
Por isso, os críticos que estudaram Machado de Assis nunca deixaram de inventariar e realçar as causas eventuais de tormento, social e individual: cor escura, origem humilde, carreira difícil, humilhações, doença nervosa. Mas depois dos estudos de JeanMichel Massa é difícil manter este ponto de vista.
Com efeito, os seus sofrimentos não parecem ter excedido aos de toda gente, nem a sua vida foi particularmente árdua. Mestiços de origem humilde foram alguns homens representativos no nosso Império liberal. Homens que, sendo da sua cor e tendo começado pobres, acabaram recebendo títulos de nobreza e carregando pastas ministeriais. Não exageremos, portanto, o tema do gênio versus destino. Antes, pelo contrário, conviria assinalar a normalidade exterior e a relativa facilidade da sua vida pública. Tipógrafo, repórter, funcionário modesto, finalmente alto funcionário, a sua carreira foi plácida. A cor parece não ter sido motivo de desprestígio, e talvez só tenha servido de contratempo num momento brevemente superado, quando casou com uma senhora portuguesa. E a sua condição social nunca impediu que fosse íntimo desde moço dos filhos do Conselheiro Nabuco, Sizenando e Joaquim, rapazes finos e cheios de talento.
Se analisarmos a sua carreira intelectual, verificaremos que foi admirado e apoiado desde cedo, e que aos cinqüenta anos era considerado o maior escritor do país, objeto de uma reverência e admiração gerais, que nenhum outro romancista ou poeta brasileiro conheceu em vida, antes e depois dele. (...) Quando se cogitou fundar a Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis foi escolhido para seu mentor e presidente, posto que ocupou até morrer. Já então era uma espécie de patriarca das letras, antes dos sessenta anos.
Patriarca (sejamos francos) no bom e no mau sentido. Muito convencional, muito apegado aos formalismos, era capaz, sob este aspecto, de ser tão ridículo e mesmo tão mesquinho quanto qualquer presidente de Academia. Talvez devido a certa timidez, foi desde moço inclinado ao espírito de grupo e, sem descuidar as boas relações com grande número, parece que se encontrava melhor no círculo fechado dos happy few. A Academia surgiu, na última parte de sua vida, como um desses grupos fechados onde a sua personalidade encontrava apoio; e como dependia dele em grande parte o beneplácito para os membros novos, ele atuou com uma singular mistura de conformismo social e sentimento de clique, admitindo entre os fundadores um moço ainda sem expressão, como Carlos Magalhães de Azeredo, só porque lhe era dedicado e ele o estimava –, motivos que o levaram a dar ingresso alguns anos depois a Mário de Alencar, ainda mais medíocre. No entanto, barrava outros de nível igual ou superior, como Emílio de Meneses, não por motivos de ordem intelectual, mas porque não se comportavam segundo os padrões convencionais, que ele respeitava na vida de relação.
Sendo assim, parece não haver dúvida que a sua vida foi não apenas sem aventuras, mas relativamente plácida, embora marcada pelo raro privilégio de ser reconhecido e glorificado como escritor, com um carinho e um preito que foram crescendo até fazer dele um símbolo do que se considera mais alto na inteligência criadora.
CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários
escritos. 3ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.