Questões de Português - Uso dos conectivos para Concurso
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Leia os textos 1 a 3:
Texto 1
Se a escrita potenciou o discurso dos conceitos e a ordenação racional/estratégica do mundo, o fez às custas de ignorar, por outra parte, o sistema audiovisual, relegando o mundo das emoções ao espetáculo e à liturgia. Mas, em nosso século, a cultura da imagem, do som e do espetáculo passa à desforra com o cinema, a radiofonia, a televisão, sistemas já consolidados, ao mesmo tempo em que um novo patamar tecnológico aí vem para articular as muitas linguagens na rede interativa de um supertexto e em uma metalinguagem abrangente das modalidades oral, escrita e audiovisual.
A escrita se presta à configuração sistemática de um pensar conceitual, dedutivo e seqüencial, a uma valoração da razão e da ordem, à capacidade de estabelecer distanciamento e objetividade e de aguardar resposta postergada e, de outra parte, a televisão melhor se adapta à conversação ocasional, à sedução das imagens, às linhas do menor esforço psicológico, ao tranqüilo relaxar das tensões do cotidiano repetitivo, e se faz base dos processos de comunicação ampliada, da política e dos negócios, desalojando da prática societária mais ampla as mensagens que circulam nas redes interpessoais. Por outra parte, não sendo a audiência atitude passiva, antes interação de sujeitos, abrem-se caminhos da diferenciação, da segmentação dos meios, da personalização e individuação propiciadas pelas tecnologias da comunicação em muitas direções, através de canais múltiplos independentes e de sempre novos dispositivos da reversibilidade das mensagens.
In: MARQUES, M O (1999) A escola no computador. Ijuí: UNIJUI. PP: 98-9.
Texto 2
A problemática da interação está na agenda de discussões dos pesquisadores das tecnologias do ciberespaço e de ambientes informáticos de ensino à distância. Contudo, existe ainda uma carência por aprofundamento a respeito de tal tópico. As palavras “interatividade” e “interativo” têm sido usadas de forma muito elástica e imprecisa, além de servirem como slogan de venda para os mais diversos produtos industrializados. Nesse contexto, exige-se uma maior dedicação ao estudo da interação em ambientes mediados por computador para que se possa abordar o tema com a propriedade e cuidado necessários.
Inicialmente, caberia perguntar, por exemplo, se a interação (a) de um aluno com seu computador e (b) do mesmo aluno com seus colegas e professores mediados pela mesma máquina tem igual qualidade. Indo mais além, pode-se aproximar a interação entre um indivíduo e uma máquina de uma relação interpessoal, entendendo-as como equivalentes? Isto é, seria desnecessário levar em conta se tratamos de interação entre vivos ou não vivos?
Extraído de: PRIMO, A. (2001) “Sistemas de interação”.In: SILVA, D. et FRAGOSO, S. Comunicação na cibercultura. São Leopoldo: UNISINOS. P: 117.
Texto 3
Interatividade não é um fim, é meio
O termo indica um canal de relação de mão-dupla, onde um sujeito ajuda o outro para realizar uma ação conjunta. o website, a interatividade parte do hipertexto para chegar em transações reais entre cidadãos separados por centenas de quilômetros. Mesmo com todo esse potencial interativo, a maioria dos websites explora apenas o hipertexto, o e-mail e olhe lá.
Uma clínica de emagrecimento pode oferecer seu know-how tanto em artigos quanto numa aplicação que mede as calorias da sua refeição. Outra, pode oferecer acompanhamento da dieta por e-mail. Imagina-se que no futuro, pulseiras enviarão os dados vitais do gordinho constantemente para a personal trainer dele, que responde quando ele sai da linha. Tudo isso é interatividade, mas em graus distintos.
Essa tal de interatividade é tão boa que suportamos a situação insólita de ficar numa postura cansativa por horas só para poder interagir com os dispositivos do computador. É por isso que vem aquela coceira nos dedos quando temos que ficar muito tempo parados lendo um texto ou assistindo uma animação ou vídeo. Usar o computador implica interação.
Mas para estabelecer verdadeira interatividade, o usuário precisa se sentir participante da ação, precisa ver as coisas se modificarem à medida que ele emprega sua energia. Valorizar a entrada de dados (input) através de efeitos como rollover e mostrar as escolhas já feitas pelo usuário é só a ponta do iceberg. É preciso muito mais envolvimento.
Primeiro, o usuário precisa ter um grande interesse no que o website oferece. Por isso, nem adianta pedir a opinião do usuário sobre o website. Se ele não gosta, nem se dá ao trabalho de criticar. Vai embora.
Segundo, é preciso colocar o usuário no controle. A interface deve oferecer a ele as opções de que precisa o mais rápido possível, ser polida e obediente. Ninguém quer interagir com um computador desobediente, a não ser para objetivos de entretenimento ou puro sadomasoquismo. A interface deve funcionar como um servo de prontidão a fazer aquilo que o usuário mandar. Porém, um servo puxa-saco pode ser chato demais. Oferecer interatividade demais pode atrapalhar mais do que ajudar. Quem não se irrita com interrupções constantes que solicitam interação enquanto se está escrevendo algo, por exemplo?
Porém, interatividade não é um fim em si mesma. O termo acabou por se banalizar e hoje, clientes procuram agências para dar o “upgrade” no seu website, pedindo, entre outras, mais interatividade. Acham que por adicionar efeitos especiais ou criar aplicações mirabolantes, vão atrair e reter a audiência que falta no site.
Melhor explicar a esse cliente que, no website institucional, a interatividade deve estar de acordo com a identidade da empresa. Se a empresa é sisuda e raramente ouve seus próprios clientes, é até mesmo falta de honestidade criar um website supostamente interativo para ela. Porém, se ela está todo o tempo tentando criar canais de relacionamento, então é preciso fornecer mais recursos.
Mas como medir a interatividade? Ela é algo que faz parte da experiência total do usuário com o sistema. É preciso uma visão holística, que considera as partes do todo em relação umas com as outras, para perceber como é a interatividade. Uma análise equivocada poderia considerar um formulário de sugestões num website empresarial como uma interatividade. Na verdade a interatividade mesmo é o cliente modificando a empresa através da sugestão. O formulário é apenas um meio para isso. E o sucesso da interatividade, nesse caso, vai muito além de um posicionamento tecnológico. É uma questão de postura de relacionamento com o cliente: “ou a empresa ouve ele ou não”. Concluindo, o usuário não interage com o website. Ele interage com quem está por trás do website. Pode ser uma empresa, uma história, um personagem ou qualquer outro “agente” na ação realizada. Por isso, criar um website realmente interativo é um grande desafio. É preciso convencer a instituição de que vale a pena flexibilizar seu modelo de comunicação.
AMSTEL, F. In: http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/cl/
33. 05/12/2004
Leia os textos 1 a 3:
Texto 1
Se a escrita potenciou o discurso dos conceitos e a ordenação racional/estratégica do mundo, o fez às custas de ignorar, por outra parte, o sistema audiovisual, relegando o mundo das emoções ao espetáculo e à liturgia. Mas, em nosso século, a cultura da imagem, do som e do espetáculo passa à desforra com o cinema, a radiofonia, a televisão, sistemas já consolidados, ao mesmo tempo em que um novo patamar tecnológico aí vem para articular as muitas linguagens na rede interativa de um supertexto e em uma metalinguagem abrangente das modalidades oral, escrita e audiovisual.
A escrita se presta à configuração sistemática de um pensar conceitual, dedutivo e seqüencial, a uma valoração da razão e da ordem, à capacidade de estabelecer distanciamento e objetividade e de aguardar resposta postergada e, de outra parte, a televisão melhor se adapta à conversação ocasional, à sedução das imagens, às linhas do menor esforço psicológico, ao tranqüilo relaxar das tensões do cotidiano repetitivo, e se faz base dos processos de comunicação ampliada, da política e dos negócios, desalojando da prática societária mais ampla as mensagens que circulam nas redes interpessoais. Por outra parte, não sendo a audiência atitude passiva, antes interação de sujeitos, abrem-se caminhos da diferenciação, da segmentação dos meios, da personalização e individuação propiciadas pelas tecnologias da comunicação em muitas direções, através de canais múltiplos independentes e de sempre novos dispositivos da reversibilidade das mensagens.
In: MARQUES, M O (1999) A escola no computador. Ijuí: UNIJUI. PP: 98-9.
Texto 2
A problemática da interação está na agenda de discussões dos pesquisadores das tecnologias do ciberespaço e de ambientes informáticos de ensino à distância. Contudo, existe ainda uma carência por aprofundamento a respeito de tal tópico. As palavras “interatividade” e “interativo” têm sido usadas de forma muito elástica e imprecisa, além de servirem como slogan de venda para os mais diversos produtos industrializados. Nesse contexto, exige-se uma maior dedicação ao estudo da interação em ambientes mediados por computador para que se possa abordar o tema com a propriedade e cuidado necessários.
Inicialmente, caberia perguntar, por exemplo, se a interação (a) de um aluno com seu computador e (b) do mesmo aluno com seus colegas e professores mediados pela mesma máquina tem igual qualidade. Indo mais além, pode-se aproximar a interação entre um indivíduo e uma máquina de uma relação interpessoal, entendendo-as como equivalentes? Isto é, seria desnecessário levar em conta se tratamos de interação entre vivos ou não vivos?
Extraído de: PRIMO, A. (2001) “Sistemas de interação”.In: SILVA, D. et FRAGOSO, S. Comunicação na cibercultura. São Leopoldo: UNISINOS. P: 117.
Texto 3
Interatividade não é um fim, é meio
O termo indica um canal de relação de mão-dupla, onde um sujeito ajuda o outro para realizar uma ação conjunta. o website, a interatividade parte do hipertexto para chegar em transações reais entre cidadãos separados por centenas de quilômetros. Mesmo com todo esse potencial interativo, a maioria dos websites explora apenas o hipertexto, o e-mail e olhe lá.
Uma clínica de emagrecimento pode oferecer seu know-how tanto em artigos quanto numa aplicação que mede as calorias da sua refeição. Outra, pode oferecer acompanhamento da dieta por e-mail. Imagina-se que no futuro, pulseiras enviarão os dados vitais do gordinho constantemente para a personal trainer dele, que responde quando ele sai da linha. Tudo isso é interatividade, mas em graus distintos.
Essa tal de interatividade é tão boa que suportamos a situação insólita de ficar numa postura cansativa por horas só para poder interagir com os dispositivos do computador. É por isso que vem aquela coceira nos dedos quando temos que ficar muito tempo parados lendo um texto ou assistindo uma animação ou vídeo. Usar o computador implica interação.
Mas para estabelecer verdadeira interatividade, o usuário precisa se sentir participante da ação, precisa ver as coisas se modificarem à medida que ele emprega sua energia. Valorizar a entrada de dados (input) através de efeitos como rollover e mostrar as escolhas já feitas pelo usuário é só a ponta do iceberg. É preciso muito mais envolvimento.
Primeiro, o usuário precisa ter um grande interesse no que o website oferece. Por isso, nem adianta pedir a opinião do usuário sobre o website. Se ele não gosta, nem se dá ao trabalho de criticar. Vai embora.
Segundo, é preciso colocar o usuário no controle. A interface deve oferecer a ele as opções de que precisa o mais rápido possível, ser polida e obediente. Ninguém quer interagir com um computador desobediente, a não ser para objetivos de entretenimento ou puro sadomasoquismo. A interface deve funcionar como um servo de prontidão a fazer aquilo que o usuário mandar. Porém, um servo puxa-saco pode ser chato demais. Oferecer interatividade demais pode atrapalhar mais do que ajudar. Quem não se irrita com interrupções constantes que solicitam interação enquanto se está escrevendo algo, por exemplo?
Porém, interatividade não é um fim em si mesma. O termo acabou por se banalizar e hoje, clientes procuram agências para dar o “upgrade” no seu website, pedindo, entre outras, mais interatividade. Acham que por adicionar efeitos especiais ou criar aplicações mirabolantes, vão atrair e reter a audiência que falta no site.
Melhor explicar a esse cliente que, no website institucional, a interatividade deve estar de acordo com a identidade da empresa. Se a empresa é sisuda e raramente ouve seus próprios clientes, é até mesmo falta de honestidade criar um website supostamente interativo para ela. Porém, se ela está todo o tempo tentando criar canais de relacionamento, então é preciso fornecer mais recursos.
Mas como medir a interatividade? Ela é algo que faz parte da experiência total do usuário com o sistema. É preciso uma visão holística, que considera as partes do todo em relação umas com as outras, para perceber como é a interatividade. Uma análise equivocada poderia considerar um formulário de sugestões num website empresarial como uma interatividade. Na verdade a interatividade mesmo é o cliente modificando a empresa através da sugestão. O formulário é apenas um meio para isso. E o sucesso da interatividade, nesse caso, vai muito além de um posicionamento tecnológico. É uma questão de postura de relacionamento com o cliente: “ou a empresa ouve ele ou não”. Concluindo, o usuário não interage com o website. Ele interage com quem está por trás do website. Pode ser uma empresa, uma história, um personagem ou qualquer outro “agente” na ação realizada. Por isso, criar um website realmente interativo é um grande desafio. É preciso convencer a instituição de que vale a pena flexibilizar seu modelo de comunicação.
AMSTEL, F. In: http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php/cl/
33. 05/12/2004
O poder da amizade
Se depender do ritmo de vida que adotamos ultimamente, vivemos isolados. Isso porque a agenda está sempre lotada de compromissos profissionais, mas a vida social vai ficando de lado. Porém a medicina faz um alerta importante: ter amigos (e conseguir mantê-los por perto, claro!) faz bem para a saúde.
Segundo o psicólogo Yuri Busin (SP), doutor em Neurociência do Comportamento, as amizades são capazes de transformar a saúde mental das pessoas. “Cultivar boas relações traz uma sensação de não estar só, além de alegrias e suporte no momento dos problemas”, comenta. Mas, o profissional também alerta, é importante observar a qualidade dos relacionamentos. “Vale lembrar que tem amizades que são tóxicas, e dessas você deve se afastar.”
Segundo um estudo que começou em 2004, algumas regiões do mundo são conhecidas pela longevidade dos seus habitantes. Entre as características em comum estão uma dieta muito próxima do modelo mediterrâneo, atividade física diária, uma atitude positiva em relação à vida e amigos sempre presentes. Chamadas de Blue Zones, essas regiões ainda são conhecidas pela baixa incidência de doenças crônicas. O conceito começou a ser desenvolvido pelos estudiosos Gianni Pes e Michel Poulain, que descobriram que a província de Nuoro, na Sardenha (Itália), era uma área com alta concentração de centenários. Desde então, outras quatro Blue Zones surgiram: a ilha de Ikaria, na Grécia, Okinawa, no Japão, a península de Nicoya, na Costa Rica, e Loma Linda, no sul da Califórnia (EUA). A cidade Jaraguá do Sul (SC) foi pré-selecionada e é a primeira na América Latina indicada para participar do estudo.
Revista Viva Saúde. São Paulo: Editora Escala, edição 189, fevereiro de 2019. (adaptado)
Entro no restaurante, sento-me, consulto o cardápio. E então reparo que alguns dos presentes, nas mesas em volta, não comem. Fotografam. O prato está pronto, e eles, antes de usarem os talheres, tiram foto da refeição com os celulares – de todos os ângulos, como se tivessem uma Gisele Bündchen na frente.
Por momentos, penso que o problema é médico: pessoas com primeiros sintomas de demência que gostam de registrar o que comeram ao almoço para não repetirem ao jantar.
Depois sou informado de que não: é moda fotografar os pratos e enviá-los para as redes sociais. Se os “amigos” sabem onde estamos e o que fazemos 24 horas por dia, é inevitável saberem também o que comemos. Desconfio até de que existem competições gastronômicas em que os pratos são usados como exibição de classe. Se as férias em família já servem para isso – esqui na Suíça, praia em Bali – por que não o almoço ou o jantar?
Mas o pasmo não termina com os fotógrafos. Continua com os enólogos amadores que tomaram conta do espaço público. No mesmo restaurante, os clientes giram os copos, cheiram, conferem a cor. Depois provam, fecham os olhos e invariavelmente convidam o empregado a servir o vinho. Quando foi que o mundo distribuiu diplomas de enologia pelo pessoal? E por que motivo eu não fui convidado?
(João Pereira Coutinho, In vino veritas. Folha de S.Paulo, 21.07.2015. Adaptado)
Observe as expressões destacadas nas frases – … gostam de registrar o que comeram ao almoço para não repetirem ao jantar. – e – Mas o pasmo não termina com os fotógrafos.
É correto substituí-las, sem prejuízo de sentido, respectivamente, por:
Mais que ouvir
A comunicação é, sem dúvida, um dos grandes entraves na sociedade e no mundo corporativo. A questão nem é tanto a comunicação verbal, o falar, mas, sim, o escutar, por isso venho observando o quanto a paciência e a tolerância com o processo de escuta, importantíssimo para que haja efetivamente a troca de informações, parecem estar reduzidas.
Nada me tira da cabeça que os índices de violência do país refletem, de certo modo, a falta de escuta dos governantes e dos gestores sobre as carências e as insatisfações da população.
As pessoas não se sentem ouvidas, então berram por meio dos atos de violência. Querem a atenção dos demais mas ficam frustradas, pois se sentem ignoradas ou marginalizadas. No mundo do trabalho também. Entre as maiores queixas dos profissionais está a falta de reconhecimento dos colegas, e é possível incluir nesse pacote a falta de escuta.
Será que estamos atarefados demais para olhar o outro? Será que o contato virtual nos rouba o real? Será que nos acostumamos com estatísticas e números e ficamos menos disponíveis para perceber o outro?
Lembro que escutar é diferente de ouvir. Se você não tem problemas no aparelho auditivo, você ouve. Mas escutar implica estar atento ao que o outro está dizendo e compreendê- -lo: não só com palavras, mas também com gestos, postura, expressão facial e tom de voz.
A escuta é uma exigência para as relações sociais, mas está em baixa.
Fazer esse exercício implica olhar e observar cuidadosamente seu interlocutor, compreender o que ele diz e os sentimentos envolvidos, sem julgamentos. É ficar atento também para a fluidez do discurso e as vacilações, pois todos esses detalhes podem revelar o que as palavras não conseguem dizer.
Quando a pessoa sente que é escutada, dá mais abertura para a mudança de atitudes e passa a agir de forma menos melindrada e mais flexível.
(Adriana Gomes. Folha de S. Paulo, 11.05.2014. Adaptado)
Os trechos destacados expressam, respectivamente
Texto para a questão
Istoé, 26/10/2005 (com adaptações).
Leia o texto a seguir, para responder à questão.
Se acrescentássemos ao texto “Abre-te, sésamo” o seguinte trecho:
“O projeto da casa inteligente mostra que o avanço tecnológico vem prejudicando a vida humana, pois o computador tornou-se um terrível adversário, substituindo o homem em quase todas as funções. Com isso, o desemprego passou a representar um dos grandes dramas da sociedade moderna”.
I - As ideias desse parágrafo funcionariam como uma conclusão, já que, no texto, não há conclusão.
II- Essas colocações não teriam sentido ou coerência em relação ao tema desenvolvido inicialmente.
III- Essas ideias só funcionariam como conclusão para o texto “Abre-te Sésamo”, se substituíssemos o conectivo “pois” por “assim”.
Concluímos que está(ão) CORRETA(s):
Leia o texto a seguir, para responder à questão.
Nas assertivas que seguem, coloque V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas as afirmações sobre o texto.
( ) A locução “por exemplo” (linha 5) inicia um esclarecimento em relação ao que foi dito anteriormente, dando continuidade à ideia inicial do texto.
( ) A preposição “para” (linha 6) expressa a finalidade do uso das câmeras, na casa do futuro.
( ) O primeiro período do texto é composto e suas orações aparecem ligadas pelo conectivo “que”.
( ) O texto é coerente no que diz respeito às ideias expostas, porém a falta de elementos coesivos prejudica o seu sentido.
A sequência CORRETA é:
Leia o texto a seguir, para responder às questões 9 e 10.
“Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão...” (Marina Colasanti - Eu sei, mas não devia.)
Após a leitura do artigo abaixo, extraído de Veja - 06/03/19, responda à questão.
AS UTIs ESTÃO NA UTI
Faltam vagas, médicos, recursos e medicamentos. O cenário dramático das unidades de terapia intensiva do país faz com que os profissionais muitas vezes tenham de escolher a quem ceder o leito
A unidade de terapia intensiva é uma estrutura hospitalar caracterizada pela capacidade de atender pacientes em estado grave ou potencialmente grave. Para cumprir sua missão, deve ser dotada de recursos humanos e técnicos de excelência para minimizar o sofrimento das pessoas, aliviar e proporcionar conforto, e sobretudo promover a cura. Com o aumento de expectativa de vida da população e a predominância de doenças crônicas como as principais causas de mortalidade, a necessidade de leitos de UTI hoje é crescente no Brasil, à semelhança da maioria dos países desenvolvidos. A questão é que o cenário da terapia intensiva está muitíssimo aquém das necessidades da população – tanto em números quanto em quantidade.
Estudo recente do Conselho Federal de Medicina demonstrou que menos de 10% dos municípios brasileiros oferecem esse tipo de leito pelo Sistema Único de Saúde (SUS): apenas 532 de 5570 municípios. De acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, o Brasil tem quase 45 000 leitos de UTI. Desses, 49% estão disponíveis para o SUS e 51%, para instituições privadas ou de saúde suplementar. Também chama a atenção a distribuição irregular dos leitos: a Região Sudeste concentra 53,4% do total. A Região Norte tem apenas 5%. A falta de leitos e a baixa qualidade do atendimento em terapia intensiva são constatadas nos dois sistemas de saúde, mas o cenário dramático é mais visível no SUS, pois os hospitais privados têm maior disponibilidade de recursos humanos e tecnológicos, além de melhores instalações físicas.
O dia a dia de um intensivista no Brasil, em especial de um hospital público, é feito de desafios inimagináveis:
devemos escolher a quem ceder o leito (o paciente em estado mais grave entre milhares de outros em estado
grave); determinar quem é o paciente que deverá receber hemodiálise (pois não há hemodiálise para todos que
precisam dela); deixar de administrar o antibiótico adequado (por ele não estar acessível no hospital); ter de
utilizar o tratamento menos eficiente; deixar de caminhar com o paciente na UTI pois não há equipe de
fisioterapia; restringir a permanência da família ao lado do paciente (Não há infraestrutura para isso); não
possibilitar dignidade durante o processo de morte... São muitos nãos. Ao não dispormos de terapias intensivas
avançadas, não estamos cumprindo o artigo 196 da nossa constituição – a saúde é direito de todos e dever do
Estado – no momento mais difícil que uma família enfrenta [...]
Apresentam-se na sequência versões correspondentes (paráfrases) de excertos extraídos do texto acima, estando ausentes os conectivos que estabelecem relações lógico-semânticas. Preencha as lacunas, considerando o contexto.
I- A necessidade de leitos de UTI hoje é crescente no Brasil, ______________a expectativa de vida da população aumentou e que doenças crônicas, que são as principais causadoras de mortalidade, predominam.
II- O cenário dramático é mais visível no SUS _____________ falta de leitos e a baixa qualidade do atendimento em terapia intensiva sejam constatadas nos dois sistemas de saúde, _______________ os hospitais privados têm maior disponibilidade de recursos humanos e tecnológicos, além de melhores instalações físicas.
III- Não estamos cumprindo o artigo 196 da nossa constituição – a saúde é direito de todos e dever do Estado, ______________ não dispomos de terapias avançadas.
A disposição CORRETA dos conectivos que preenchem as lacunas está na alternativa:
Meu amigo Brasílio
No sábado, fui visitar meu velho amigo Brasílio. Ele me recebeu no portão, animado, com um uisquinho na mão, me convidou para entrar, abriu uma champanhe francesa, me deu uma taça, acendeu um charuto cubano. Disse que as coisas estavam indo bem para ele, que os negócios tinham engrenado, que ele finalmente tinha descoberto o segredo para viver na fartura.
- Fica para jantar - ele convidou.
Feliz com a felicidade do meu amigo querido, aceitei. Ele foi buscar um prato na cozinha, mas, ao abrir a gaveta, parou, constrangido.
- Ixi, não tenho talheres.
- Como não tem talheres, Brasa? - perguntei. Eu tinha cansado de fazer boquinha na casa do Brasílio e sempre usávamos uns talheres lindos, de prata, herança de família. - Vendi pela internet.
Foi assim que comprei este charuto - disse, distraído, enquanto a cinza caía no chão. Foi aí que notei as paredes vazias e esburacadas. Os quadros tinham sumido. E os fios de eletricidade haviam sido arrancados.
- Descobri que dá para viver muito bem apenas catando as coisas de valor da família e colocando para vender. Isso que é vida.
Claro que o Brasílio não existe e que a história aí em cima é fictícia - ninguém faria um absurdo desses, vender o patrimônio para torrar em desfrute. Ou faria?
Em grande medida, o modelo econômico deste nosso país é baseado numa lógica bem parecida com a do meu querido e fictício amigo. Bem mais que a metade da economia brasileira é sustentada pela mera extração de recursos naturais, de maneira não sustentável. Arrancamos a floresta, passamos nos cobres e aí torramos a grana - e ficamos sem floresta. É o mesmo que vender a prataria da família e gastar em uísque e charutos.
Muito da prosperidade recente do país foi abastecida por indústrias de alto impacto, que fazem dinheiro a curto prazo, mas nos deixam mais pobres depois. Historicamente este país confundiu gerar riqueza com atacar o patrimônio, surrupiando-o de nossos descendentes. Não precisa ser assim. Há países como a Suécia. Lá, boa parte da economia é baseada na exploração sustentável da floresta. Se a gelada e infértil Suécia conseguiu um dos maiores padrões de vida do mundo explorando floresta, por que um país tão fértil, com uma floresta incomensuravelmente mais rica, como é o caso do Brasil, não poderia fazer o mesmo?
Porque a floresta equatorial brasileira não é simples e previsível como a floresta temperada sueca. Lá, cresce basicamente uma única espécie de árvore, que permite uma exploração industrial da madeira pelas indústrias de papel, móveis e navios. A floresta brasileira é muito mais rica do que a sueca, mas é também muito mais complexa. E lidar com complexidade é muito mais difícil. Em vez de fazer um produto só, há que se aprender a fazer centenas, milhares. Em vez de uma matéria-prima só, há quase infinitas.
Muito difícil. Melhor derrubar tudo e vender a lenha. Melhor alargar tudo para gerar energia. Melhor passar o trator e fazer monocultura de soja ou gado. E aí ficar sem talheres para o almoço.
(Denis Russo Burgierman. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/>,
TEXTO
ADOLESCENTES QUE ENGRAVIDAM SOFREM MAIOR RISCO DE PROBLEMAS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS
Taxa de filhos de mães adolescentes no Brasil é maior que a média mundial. Adolescentes que engravidam têm alto risco de uma série de danos, e as mulheres mais pobres são as mais atingidas
Os índices de gravidez na adolescência no Brasil servem para nos lembrar de que ainda temos muitas dificuldades a enfrentar nessa área. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) mostram que, dos quase 3 milhões de nascidos em 2016, 480 mil eram filhos de mães entre 15 e 19 anos, compondo uma taxa de 16% de todos os nascimentos. Apesar de ter havido uma queda de aproximadamente 20% nesse número em dez anos, ainda temos 68 bebês de mães adolescentes para cada mil meninas entre 15 e 19 anos, enquanto a taxa mundial é estimada em 46 para cada mil meninas dessa faixa etária.
Explicar os motivos que levam a esse cenário não é tão simples, mas os especialistas consultados para esta reportagem foram unânimes em duas hipóteses: independentemente da classe social, os adolescentes estão transando cada vez mais cedo. Ao mesmo tempo, falta educação sexual. A preocupação com o uso de método contraceptivo sempre recai sobre a mulher, e geralmente elas têm conhecimento sobre a importância de se prevenir. “A grande maioria das gestantes adolescentes tem noção da necessidade de usar métodos contraceptivos. Sabe que existe camisinha, pílula ou DIU. Mas entre saber e usar, há um abismo”, afirma a dra. Fernanda Surita, ginecologista do Hospital da Mulher de Campinas-SP. Os profissionais apontam, ainda, para um fenômeno chamado “pensamento mágico”. O casal dificilmente acredita que a gravidez vá de fato acontecer com eles. Muitos pensam que “é só uma vez, então não vai acontecer nada”.
A ginecologista dra. Beatriz Barbosa trabalha no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoerinha, na zona norte de São Paulo, desde 2003. Às quartas-feiras ela atende no ambulatório somente gestantes, muitas delas adolescentes. A médica expressa seu desânimo com a situação, dizendo que muitas vezes se sente como se “enxugasse gelo”. Apesar do esforço que toda equipe faz para aconselhar as pacientes, principalmente no pós-parto, ela conta que o risco de atender uma grávida reincidente é alto. Ela se recorda de um episódio de uma menina que engravidou 10 meses após o primeiro parto. Conta que levou um susto quando viu a ficha dela em cima da mesa e achou que era um erro. “Mas não era. Foi muito rápido. Mal tinha dado tempo de ela se recuperar e já ia enfrentar tudo de novo.”
No breve tempo em que fiquei aguardando para entrevistar a médica, encontrei duas garotas que não deviam ter mais que 15 anos. Tentei conversar com uma delas, que estava acompanhada da mãe, mas sem sucesso. “Aqui é assim praticamente toda semana. Atendo uma média de 20 pacientes, a grande maioria adolescentes. Já cheguei a atender uma de 12 anos. Apesar dos índices do Ministério apontarem para uma queda nos índices de gravidez precoce, na prática clínica não é isso que notamos”, comenta Beatriz.
Muitos ginecologistas acreditam que é preciso reforçar a orientação sobre a necessidade de usar métodos contraceptivos, principalmente os de longa duração. Isso ajudaria bastante nos casos em que a jovem se esquece de tomar a pílula. “O SUS oferece o DIU de cobre, mas a adesão é muito baixa e o produto chega até a vencer nas unidades de saúde”, comenta César Eduardo Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
ADOLESCENTES GRÁVIDAS SOFREM COM FALTA DE ESTRUTURA
Ser mãe adolescente, sem nenhum tipo de planejamento nem apoio familiar, ocasiona diversos problemas na vida da gestante e perpetua um ciclo de pobreza e exclusão social difícil de ser quebrado. Adolescentes pobres têm cinco vezes mais risco de engravidar que as mais ricas. Com filhos, dificilmente elas conseguirão conciliar os estudos, entrar no mercado de trabalho e ter independência financeira.
Muitas atrasam o pré-natal (momento extremamente importante para garantir a integridade física do bebê) porque não se sentem preparadas para contar para a família que estão grávidas. Dessa maneira, a janela para identificar e resolver algum problema de saúde potencialmente grave, como sífilis, fica limitada, o que aumenta ainda mais o risco de instabilidade dali em diante. Ao mesmo tempo, elas ainda são muito jovens, então elas demonstram preocupações quase infantis. “Elas chegam assustadas e com algumas dúvidas que não condizem com a situação. Perguntam ‘mas como esse bebê vai sair daqui?’”, afirma Beatriz Barbosa.
Tanto o Hospital Cachoeirinha, em São Paulo, como o Hospital da Mulher, em Campinas, promovem atendimento especializado multidisciplinar para dar suporte a essas gestantes. As áreas de nutrição (a maioria chega abaixo do peso e desnutrida), de assistência social e de psicologia são as mais acionadas. Apesar de cada uma abordar uma vertente, todas procuram identificar se a garota não foi vítima de violência sexual. “Estabelecemos um acolhimento para entender, primeiramente, a dinâmica familiar em que a jovem está inserida. Depois disso, tentamos inseri-la em políticas públicas como bolsa família, cesta básica emergencial, cursos para gestante etc.”, explica Dalva Rossi, assistente social do Hospital da Mulher de Campinas.
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E POUCO DIÁLOGO EM CASA
Nem todos os adolescentes que têm filhos muito cedo apresentam histórico de desestruturação familiar, mas é muito comum serem prole de gerações que também tiveram filhos antes dos 20 anos. A falta de conversa sobre sexo em casa também costuma ser tradição nessas famílias.
Eles não conversam sobre o assunto em casa e, provavelmente, nem na escola. Na verdade, o ensino sobre os temas sexualidade e prevenção da gravidez sofreu grande retrocesso no país em meados de 2011, quando se instaurou uma polêmica envolvendo o material educativo Escola sem Homofobia (que ficou tachado de “kit gay”). Na época, todo o suporte didático que era distribuído desde 2003 para crianças a partir dos 12 anos foi recolhido sob a justificativa de que “incentivavam o homossexualismo (sic) e a promiscuidade”. “Falta espaço para discutir sexualidade porque ainda a encaramos como tabu. Os pais acham que se falarem com os filhos sobre o assunto vão estimular a relação sexual precoce, o que é um mito”, afirma Rossi.
RISCOS DE UMA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Além do aspecto social, a gravidez na adolescência está associada a uma série de riscos à saúde da mulher e do bebê. Elevação da pressão arterial (eclâmpsia e pré-eclâmpsia) com risco de crises convulsivas são alguns dos problemas que podem acometer a grávida muito jovem com maior frequência que em outras faixas etárias.
Entre os agravos mais comuns no bebê, estão a prematuridade e o baixo peso ao nascer. “O índice de mortalidade entre filhos de mães adolescentes é muito alto. Cerca de 20% da mortalidade infantil no Brasil decorrem do óbito precoce de bebês nascidos de mães entre os 15 e 19 anos”, destaca a dra. Evelyn Eisenstein, membro do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Qualquer pessoa consegue imaginar a desorganização que ter filhos de forma não planejada pode provocar na vida. No caso específico de mulheres jovens, cada uma dessas condições é um agravante com alto impacto no futuro de famílias que provavelmente já se encontram em situação vulnerável. Como acontece na maioria das vezes quando tratamos questões envolvendo pessoas socialmente mais vulneráveis, o mais eficaz é concentrar os esforços em políticas públicas na prevenção.
Sobre o autor: Juliana Conte é jornalista, repórter do Portal Dráuzio Varella desde 2012. Interessa-se por questões relacionadas a manejo de dores, atividade física e alimentação saudável.
Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/adolescentes-que-engravidam-sofrem-maior-risco-de-problemas-fisicos-psicologicos-e-sociais/ Acesso em: 21 de maio 2019.
Releia.
Explicar os motivos que levam a esse cenário não é tão simples, mas os especialistas consultados para esta reportagem foram unânimes em duas hipóteses: independentemente da classe social, os adolescentes estão transando cada vez mais cedo.
Sobre esse trecho, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) A oração “que levam a esse cenário”, introduzida por um pronome relativo, funciona sintaticamente como um adjunto adnominal.
( ) A conjunção “mas” funciona como um elemento conectivo que, além de exercer função sintática, também estabelece relação semântica entre as orações conectadas.
( ) O sujeito do predicado “não é tão simples” pode ser classificado como simples, cujo núcleo é o sintagma nominal “os motivos”.
( ) O vocábulo “unânimes” funciona morfologicamente como adjetivo e sintaticamente como predicativo do sujeito.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
Texto para responder á questão
Meu amigo Brasílio
No sábado, fui visitar meu velho amigo Brasílio. Ele me recebeu no portão, animado, com um uisquinho na mão, me convidou para entrar, abriu uma champanhe francesa, me deu uma taça, acendeu um charuto cubano. Disse que as coisas estavam indo bem para ele, que os negócios tinham engrenado, que ele finalmente tinha descoberto o segredo para viver na fartura.
- Fica para jantar - ele convidou.
Feliz com a felicidade do meu amigo querido, aceitei. Ele foi buscar um prato na cozinha, mas, ao abrir a gaveta, parou, constrangido.
- Ixi, não tenho talheres.
- Como não tem talheres, Brasa? - perguntei. Eu tinha cansado de fazer boquinha na casa do Brasílio e sempre usávamos uns talheres lindos, de prata, herança de família.
- Vendi pela internet. Foi assim que comprei este charuto - disse, distraído, enquanto a cinza caía no chão.
Foi aí que notei as paredes vazias e esburacadas. Os quadros tinham sumido. E os fios de eletricidade haviam sido arrancados.
- Descobri que dá para viver muito bem apenas catando as coisas de valor da família e colocando para vender. Isso que é vida.
Claro que o Brasílio não existe e que a história aí em cima é fictícia - ninguém faria um absurdo desses, vender o patrimônio para torrar em desfrute. Ou faria?
Em grande medida, o modelo econômico deste nosso país é baseado numa lógica bem parecida com a do meu querido e fictício amigo. Bem mais que a metade da economia brasileira é sustentada pela mera extração de recursos naturais, de maneira não sustentável. Arrancamos a floresta, passamos nos cobres e aí torramos a grana - e ficamos sem floresta. É o mesmo que vender a prataria da família e gastar em uísque e charutos.
Muito da prosperidade recente do país foi abastecida por indústrias de alto impacto, que fazem dinheiro a curto prazo, mas nos deixam mais pobres depois. Historicamente este país confundiu gerar riqueza com atacar o patrimônio, surrupiando-o de nossos descendentes. Não precisa ser assim. Há países como a Suécia. Lá, boa parte da economia é baseada na exploração sustentável da floresta. Se a gelada e infértil Suécia conseguiu um dos maiores padrões de vida do mundo explorando floresta, por que um país tão fértil, com uma floresta incomensuravelmente mais rica, como é o caso do Brasil, não poderia fazer o mesmo?
Porque a floresta equatorial brasileira não é simples e previsível como a floresta temperada sueca. Lá, cresce basicamente uma única espécie de árvore, que permite uma exploração industrial da madeira pelas indústrias de papel, móveis e navios. A floresta brasileira é muito mais rica do que a sueca, mas é também muito mais complexa. E lidar com complexidade é muito mais difícil. Em vez de fazer um produto só, há que se aprender a fazer centenas, milhares. Em vez de uma matéria-prima só, há quase infinitas.
Muito difícil. Melhor derrubar tudo e vender a lenha. Melhor alargar tudo para gerar energia. Melhor passar o trator e fazer monocultura de soja ou gado. E aí ficar sem talheres para o almoço.
(Denis Russo Burgierman. Disponível em:<http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/>, acesso em18/01/2015.)
Considere a tirinha abaixo para responder à questão.
In http://tirasdemafalda.tumblr.com
Para responder à questão de, leia o texto abaixo.
O zika vírus e a microcefalia
Deu zica. Este ano o Brasil enfrenta um surto de recém-nascidos com microcefalia que é alarmante. Ao que tudo indica, essa epidemia está relacionada a um vírus emergente, o zika vírus, que está se espalhando rapidamente pelo país e pode ser o responsável por uma das piores catástrofes na área de saúde de todos os tempos. São mais de mil casos suspeitos de microcefalia em diversos estados, principalmente no Nordeste. A microcefalia é uma malformação incurável que causa redução do volume cerebral, com consequências graves e permanentes para o desenvolvimento do indivíduo. É grave porque afeta fetos em formação e o comprometimento é para a vida toda.
O zika vírus é um patógeno conhecido e identificado inicialmente em 1947 na floresta de Zika (Uganda), mas que desde 2007 estava restrito a África e Ásia. Esse vírus pertence ao gênero dos flavivírus, que inclui os vírus da dengue, febre amarela e do Nilo, e pode ser transmitido por um artrópode. No Brasil, são mais de 84 mil pessoas infectadas. No indivíduo adulto, o Zika pode passar despercebido, em alguns casos causando somente sintomas leves, como febre e dores pelo corpo. Não existe vacina para esse vírus.
Após alguns meses de silêncio, o governo federal finalmente se manifestou sobre o problema. Com ajuda da Organização Mundial da Saúde e do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA, que se preocupa com uma eventual contaminação no continente americano, resolveram montar uma operação de emergência. De acordo com nosso atual ministro da Saúde, Marcelo Castro, o caos pode ser consequência direta de um descaso com o programa de combate ao mosquito Aedes aegypti – o mosquito da dengue, e potencial agente transmissor do zika vírus.
Resolvi escrever sobre o assunto, refletindo sobre quais seriam as atitudes científicas mais óbvias a serem tomadas. Isso não só seria uma oportunidade única para os cientistas brasileiros (pois o mecanismo de ação do vírus é ainda desconhecido), como permitiria que o governo investisse em soluções definitivas (ao invés de investir em evitar mosquitos). Os experimentos científicos descritos abaixo têm um baixo custo em comparação ao orçamento destinado ao extermínio de mosquitos e custos com futuros tratamentos para os afetados ao longo da vida.
A primeira coisa a fazer seria buscar uma relação causal do vírus com o fenótipo dos pacientes, algo inédito na literatura mundial. Até agora, temos apenas uma correlação entre o vírus e material biológico dos pacientes. E essa evidência não é robusta: apenas dois fetos infectados com o vírus e com o diagnóstico de microcefalia por ultrassom existem até o momento. O vírus também foi encontrado em tecidos de um outro bebê com microcefalia que morreu ao nascer. Existem outras evidências circunstanciais vindas de outros países e que, juntas, tornam essa alternativa plausível. É possível que a versão do zika vírus brasileiro seja uma variante ou linhagem genética mais patogênica, selecionada através de algumas características da população nordestina, como exposição ao vírus da dengue ou ao mosquito transmissor.
Mas a pergunta mais importante seria: como o zika vírus causa microcefalia? Uma hipótese atraente seria que o zika vírus atravessasse a placenta, atingindo o feto em momentos críticos do desenvolvimento neural na gestação. O vírus poderia, por exemplo, infectar células do sistema nervoso central, causando a morte ou alterando o ciclo de células progenitoras neurais. Experimentos com modelos animais poderiam ajudar a confirmar essa correlação, mas o tempo de gestação humano é diferente da maioria dos animais em laboratório e ainda não sabemos se o vírus infectaria células nervosas de outras espécies. [...]
(g1.globo.com)
Veja:
“É possível que a versão do zika vírus brasileiro seja uma variante ou linhagem genética mais patogênica, selecionada através de algumas características da população nordestina, como exposição ao vírus da dengue ou ao mosquito transmissor.”
Sobre a passagem citada, assinale a afirmação correta.
Para responder à questão de, leia o texto abaixo.
O zika vírus e a microcefalia
Deu zica. Este ano o Brasil enfrenta um surto de recém-nascidos com microcefalia que é alarmante. Ao que tudo indica, essa epidemia está relacionada a um vírus emergente, o zika vírus, que está se espalhando rapidamente pelo país e pode ser o responsável por uma das piores catástrofes na área de saúde de todos os tempos. São mais de mil casos suspeitos de microcefalia em diversos estados, principalmente no Nordeste. A microcefalia é uma malformação incurável que causa redução do volume cerebral, com consequências graves e permanentes para o desenvolvimento do indivíduo. É grave porque afeta fetos em formação e o comprometimento é para a vida toda.
O zika vírus é um patógeno conhecido e identificado inicialmente em 1947 na floresta de Zika (Uganda), mas que desde 2007 estava restrito a África e Ásia. Esse vírus pertence ao gênero dos flavivírus, que inclui os vírus da dengue, febre amarela e do Nilo, e pode ser transmitido por um artrópode. No Brasil, são mais de 84 mil pessoas infectadas. No indivíduo adulto, o Zika pode passar despercebido, em alguns casos causando somente sintomas leves, como febre e dores pelo corpo. Não existe vacina para esse vírus.
Após alguns meses de silêncio, o governo federal finalmente se manifestou sobre o problema. Com ajuda da Organização Mundial da Saúde e do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA, que se preocupa com uma eventual contaminação no continente americano, resolveram montar uma operação de emergência. De acordo com nosso atual ministro da Saúde, Marcelo Castro, o caos pode ser consequência direta de um descaso com o programa de combate ao mosquito Aedes aegypti – o mosquito da dengue, e potencial agente transmissor do zika vírus.
Resolvi escrever sobre o assunto, refletindo sobre quais seriam as atitudes científicas mais óbvias a serem tomadas. Isso não só seria uma oportunidade única para os cientistas brasileiros (pois o mecanismo de ação do vírus é ainda desconhecido), como permitiria que o governo investisse em soluções definitivas (ao invés de investir em evitar mosquitos). Os experimentos científicos descritos abaixo têm um baixo custo em comparação ao orçamento destinado ao extermínio de mosquitos e custos com futuros tratamentos para os afetados ao longo da vida.
A primeira coisa a fazer seria buscar uma relação causal do vírus com o fenótipo dos pacientes, algo inédito na literatura mundial. Até agora, temos apenas uma correlação entre o vírus e material biológico dos pacientes. E essa evidência não é robusta: apenas dois fetos infectados com o vírus e com o diagnóstico de microcefalia por ultrassom existem até o momento. O vírus também foi encontrado em tecidos de um outro bebê com microcefalia que morreu ao nascer. Existem outras evidências circunstanciais vindas de outros países e que, juntas, tornam essa alternativa plausível. É possível que a versão do zika vírus brasileiro seja uma variante ou linhagem genética mais patogênica, selecionada através de algumas características da população nordestina, como exposição ao vírus da dengue ou ao mosquito transmissor.
Mas a pergunta mais importante seria: como o zika vírus causa microcefalia? Uma hipótese atraente seria que o zika vírus atravessasse a placenta, atingindo o feto em momentos críticos do desenvolvimento neural na gestação. O vírus poderia, por exemplo, infectar células do sistema nervoso central, causando a morte ou alterando o ciclo de células progenitoras neurais. Experimentos com modelos animais poderiam ajudar a confirmar essa correlação, mas o tempo de gestação humano é diferente da maioria dos animais em laboratório e ainda não sabemos se o vírus infectaria células nervosas de outras espécies. [...]
(g1.globo.com)
Veja:
"Isso não só seria uma oportunidade única para os cientistas brasileiros (pois o mecanismo de ação do vírus é ainda desconhecido), como permitiria que o governo investisse em soluções definitivas (ao invés de investir em evitar mosquitos)."
Considerando que a expressão “ao invés de” só pode ser utilizada para indicar termos ou expressões de ideias diametralmente opostas entre si e considerando, ainda, que ela foi corretamente utilizada na passagem acima, pode-se concluir, pela interpretação do texto, que:
Texto 02
Feridas do esquecimento
Certa vez, tomei conhecimento de um episódio impressionante, que causou um forte impacto sobre a minha vida, especialmente no que diz respeito à importância dos relacionamentos significativos da vida e de como eles se tornam periféricos em nossos dias, sobretudo, por conta do individualismo que tem marcado a nossa geração.
Quando foi receber o prêmio Nobel da Paz, em 1979, Madre Tereza de Calcutá fez menção a uma visita que fizera a um dos mais luxuosos asilos para idosos, na América. A beleza e o luxo deixaram-na impressionada. Contudo, algo a impactou mais ainda: os velhinhos ali colocados pelos próprios filhos tinham no rosto uma profunda expressão de tristeza. Ela, intrigada, indagou a si mesma: “por que tanta tristeza e expressão de dor naquelas pessoas, apesar do conforto material que as rodeava?”
De repente, percebeu que todos eles olhavam para uma grande porta. Curiosa, perguntou à sua acompanhante: “Por que todos olham para a mesma porta? E por que não conseguem sorrir?” A responsável pela visita respondeu-lhe: “Eles olham para aquela porta porque esperam ansiosamente a visita dos filhos, e este semblante triste e distante que trazem no rosto é porque se sentem feridos. Acham que foram esquecidos por seus familiares. Infelizmente, de fato, foram esquecidos pelos seus” [...].
(FERNANDES, Estevam. In: Quando vem a brisa. Rio de Janeiro: Ed. Central, 2009, p. 75).
Em relação ao primeiro parágrafo, pode-afirmar que:
I- Há três orações subordinadas adjetivas, todas introduzidas por pronome relativo.
II- As expressões “um forte impacto” e “a nossa geração” funcionam sintaticamente como objeto direto.
III- O termo “sobretudo” é uma expressão adversativa que contraria uma ideia anterior.
Analise as proposições e marque a alternativa adequada. Está(ão) correta(s) apenas: