1.§ Muitos previram o fim do mundo nos últimos
200 anos. Thomas Malthus (1766-1834) falava em risco
de catástrofe humana. Para ele, como a população
crescia em progressão geométrica e a produção de
alimentos em progressão aritmética, a fome se alastraria.
Assim, para controlar a expansão demográfica, Malthus
defendia a abstinência sexual e a negação de assistência
à população em hospitais e asilos. O risco foi superado
pela tecnologia, que aumentou a produtividade agrícola.
2.§ Hoje, o alarmismo vem de ambientalistas radicais.
A catástrofe decorreria do aquecimento global causado
basicamente pelo homem, via emissões de dióxido de
carbono. Em 2006, o governo britânico divulgou relatório
de grande repercussão, preparado por sir Nicholas
Stern, assessor do primeiro-ministro Tony Blair. Stern
buscava alertar os que reconheciam tal aquecimento,
mas julgavam que seria um desperdício enfrentá-lo. O
relatório mereceu dura resposta de Nigel Lawson, ex-ministro
de Energia e da Fazenda de Margaret Thatcher,
hoje no grupo dos “céticos”, isto é, os que duvidam dos
ambientalistas. No livro An Appeal to Reason (2008),
Lawson atribuiu objetivos políticos ao documento, que
não teria mérito nas conclusões nem nos argumentos.
3.§ Lawson afirma que o aquecimento não tem
aumentado desde a virada do século e que são comuns
oscilações da temperatura mundial. Há 400 anos, o
esfriamento conhecido como “pequena era do gelo”
fazia o Rio Tâmisa congelar no inverno. Mil anos atrás,
bem antes da industrialização — que se diz ser a origem
da mudança climática —, houve um “aquecimento
medieval”, com temperaturas tão altas quanto as
atuais. “Muito antes, no Império Romano, o mundo era
provavelmente mais quente”, assinala. De fato, sempre
me chamou atenção o modo de vestir de gregos e
romanos, que aparecem em roupas leves em pinturas da
Grécia e da Roma antigas. Nunca vi um deles metido em
pesados agasalhos como os de hoje.
4.§ Entre Malthus e os ambientalistas, surgiram
outros alarmistas. Em 1968, saiu o livro The Population
Bomb, do biologista americano Paul Ehrlich, no qual o
autor sustentava que o tamanho excessivo da população
constituiria ameaça à sobrevivência da humanidade e
do meio ambiente. Em 1972, o Clube de Roma propôs o
“crescimento zero” como forma de enfrentar a exaustão
rápida de recursos naturais. Ehrlich defendia a redução
do crescimento populacional; o Clube de Roma, a
paralisia do crescimento econômico. Nenhum dos dois
estava certo.
5.§ Em artigo na última edição da revista Foreign
Affairs, Bjom Lomborg, destacado “cético”, prova o
enorme fracasso das previsões catastróficas do Clube
de Roma. Dizia-se que em uma geração se esgotariam
as reservas de alumínio, cobre, ouro, chumbo, mercúrio,
molibdênio, gás natural, petróleo, estanho, tungstênio
e zinco. As de mercúrio, então sob forte demanda,
durariam apenas treze anos. Acontece que a inovação
tecnológica permitiu substituir o mercúrio em baterias e outras aplicações. Seu consumo caiu 98%; o preço,
90%. As reservas dos demais metais aumentaram e
outras inovações reduziram sua demanda. O colapso não
ocorreu.
6.§ Como o Clube de Roma pode ter errado tanto?
Segundo Lomborg, seus membros desprezaram o talento
e a engenhosidade do ser humano e “sua capacidade
de descobrir e inovar”. Se as sugestões tivessem sido
acatadas, meio bilhão de chineses, indianos e outros
teriam continuado muito pobres. Lomborg poderia ter
afirmado que o Brasil estaria mais desigual e não haveria
a ascensão da classe C.
7.§ Apesar de tais lições, volta-se a falar em limites
físicos do planeta. Na linha do Clube de Roma, defende-se
o estancamento da expansão baseada no consumo de
bens materiais. Se fosse assim, inúmeros países seriam
congelados em seu estado atual, sem poder reduzir a
pobreza nem promover o bem-estar.
8.§ Mesmo que o homem não seja a causa básica
do aquecimento, é preciso não correr riscos e apoiar
medidas para conter as emissões. Mas também resistir
a ideias de frear o consumo. Além de injusta, a medida
exigiria um impossível grau de coordenação e renúncia
ou um inconcebível comando autoritário. Desprezaria,
ademais, a capacidade do homem de se adaptar a novas
e desafiantes situações.
Revista Veja, edição 2.285. p. 24.