Leia o texto a seguir para responder à questão.
Carlos Chagas: há 90 anos morria o único
cientista a descrever completamente uma
doença
Indicado duas vezes ao Prêmio Nobel, o
cientista, médico sanitarista, infectologista,
bacteriologista, professor e pesquisador Carlos
Ribeiro Justiniano das Chagas (1878 -1934)
entrou para a história com uma marca até hoje
não superada. Ele foi a primeira e até hoje única
pessoa a descrever completamente uma doença
infecciosa. Isso significa que ele, com suas
pesquisas, detalhou o patógeno, o vetor, os
hospedeiros, as manifestações clínicas e a
epidemiologia da tripanossomíase americana,
conhecida como doença de Chagas — em sua
homenagem.
Nesse processo de pesquisa, ele
descobriu o protozoário causador da patologia e
o batizou de Trypanosoma cruzi — em alusão
laudatória ao seu amigo, o também médico
Oswaldo Cruz.
Chagas não levou o Nobel, mas acabou
reconhecido com diversas outras honrarias
nacionais e internacionais. Tornou-se membro
honorário da Academia Nacional de Medicina e
recebeu o doutorado honoris causa das
universidades de Harvard e Paris.
Nasceu em Oliveira, município de Minas
Gerais, em uma família de cafeicultores.
Formou-se em 1902 pela Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, hoje Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
Quando pesquisava para sua tese de
conclusão de curso, acabou indo até o Instituto
Soroterápico Federal, conhecido como
Manguinhos, que era dirigido por Oswaldo Cruz.
Foi o primeiro contato de ambos e o início de
uma amizade. Chagas não só fez sua pesquisa de
graduação, sobre o ciclo evolutivo da malária,
como ganhou lá o seu primeiro emprego.
A partir de 1905, a carreira de Carlos
Chagas passou a se voltar para o combate a
doenças em campanhas de saneamento. Cruz o
convidou para atuar em trabalhos de controle da malária no interior paulista. Seu trabalho foi
bem-sucedido e acabou servindo de protocolo
para outras iniciativas pelo país.
Quando trabalhava em Minas, em 1907,
identificou um protozoário no sangue de um
sagui, batizado por ele de Tripanosoma
minasensis. Na mesma época, um engenheiro
que trabalhava na construção de uma ferrovia na
região da cidade de Lassance, perto do Rio São
Francisco, contou a ele que havia ali a infestação
de um inseto hematófago chamado de barbeiro.
Após análises, o médico concluiu que se tratava
de outro protozoário, parecido com o que atacava
os macacos. Batizou o parasita de Trypanosoma
cruzi. A descoberta do brasileiro foi publicada
em uma revista acadêmica alemã, em 1909. A
notícia repercutiu em todo o continente europeu.
Nos anos seguintes, Chagas seguiu
examinando pessoas atacadas pelo parasita, até
compreender na totalidade o complexo ciclo da
doença e suas consequências para os humanos. A
enfermidade acabou chamada de doença de
Chagas, mas o próprio cientista recusava o
rótulo. Seguia denominando-a de
tripanossomíase americana.
Três dias após a morte de Oswaldo Cruz,
Chagas foi nomeado seu sucessor na direção do
instituto que hoje leva o nome do primeiro.
Quando o Brasil foi acometido pela gripe
espanhola, em 1918, a presidência da República
o convidou para que ele dirigisse as ações de
contenção da epidemia. Em 1919, foi nomeado
pelo presidente Epitácio Pessoa (1865-1942)
como diretor geral de Saúde Pública,
acumulando este cargo com o do instituto que já
dirigia. Ele centralizou os sistemas sanitários e
focou esforços em campanhas para controle e
erradicação de epidemias como a malária e o mal
de Chagas.
VEIGA, E. BBC News Brasil. Adaptado. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5yp9re49m8o>