A questão refere-se ao texto a seguir.
O aprendizado da angústia
Marcia Tiburi
Acha-se num dos contos de Grimm uma narrativa sobre um
moço que saiu a aventurar-se pelo mundo para aprender a
angustiar-se. Deixemos esse aventureiro seguir o seu caminho,
sem nos preocuparmos em saber se encontrou ou não o terrível.
Ao invés disso, quero afirmar que essa é uma aventura pela qual
todos têm de passar: a de aprender a angustiar-se, para que não
venham a perder, nem por jamais terem estado angustiados nem
por afundarem na angústia; por isso, aquele que aprender a
angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais elevado.
Soren Kierkegaard – O conceito de Angústia
A angústia nos coloca [...] a questão de nossa presença no mundo. Não
se trata apenas da pergunta pelo que somos, ou o que fazemos, mas
o que estamos experimentando. O que recebemos, damos e “levamos”
dessa vida? O que é realmente importante? O que realmente pode
ou deve ser vivido? Como vivemos diante do fato de que estamos
necessariamente relacionados a nós mesmos, além de estarmos
relacionados aos outros e à alteridade como lugar da diferença?
Bem vivida, a angústia é a chance de estabelecer uma relação
autêntica com a gente mesmo. Com o que somos. Ela envolve uma
autopedagogia pessoal. Nela é que podemos nos perguntar “como me
relaciono comigo mesmo?”, que é algo bem mais complexo do que a
crença em um “autoconhecimento”. É a angústia que pode nos dar as
condições de fazer a pergunta “como me torno quem eu sou?”.
E me faz saber que não posso responder a ela se não avaliar as
demandas, as imposições, as ordens e os modismos que me afastam
de mim. É a angústia, portanto, que me devolve a mim mesmo. Que
evita a alienação à qual nos convida o nosso tempo sombrio.
TIBURI, Marcia. O aprendizado da angústia. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/oaprendizado-da-angustia/. Acesso em 28 abr. 2022.