Texto CG1A1-II
As plantas, os animais domésticos e os produtos deles
obtidos (frutas, ervas, carnes, ovos, queijos etc.) pertencem aos
mais antigos produtos comercializáveis. A palavra latina para
dinheiro, pecunia, deriva da relação com o gado (pecus). Esse
comércio é provavelmente tão antigo quanto a divisão do
trabalho entre agricultores e criadores de gado. Embora
inicialmente o comércio e a distribuição econômica de produtos
de colheita fossem geograficamente bem delimitados, eles
conduziram a uma difusão cada vez mais ampla das sementes,
desenvolvendo-se, então, um número cada vez maior de
variações. Sem milênios de constantes contatos entre os povos e
sem o trânsito intercontinental, o nosso cardápio teria uma
aparência bastante pobre. Das aproximadamente trinta plantas
que constituem os recursos de nossa alimentação básica, quase
todas têm sua origem fora da Europa e provêm,
predominantemente, de regiões que hoje enumeramos entre os
países em desenvolvimento.
Já que hoje as plantas nutritivas domésticas são cultivadas
em praticamente todas as regiões habitadas, a humanidade
também poderia alimentar-se, se o comércio de produtos agrários
se limitasse a áreas menores, de proporção regional. O transporte
de gêneros alimentícios por distâncias maiores se justifica, em
primeiro lugar, para prevenir e combater epidemias de fome. Há,
sem dúvida, uma série de razões ulteriores em favor do comércio
mundial de gêneros alimentícios: a falta de arroz, chá, café, cacau
e muitos temperos em nossos supermercados levaria a um
significativo empobrecimento da culinária, coisa que não se
poderia exigir de ninguém. O comércio internacional com
produtos agrícolas aporta, além disso, às nações exportadoras a
entrada de divisas, facilitando o pagamento de dívida. E, em
muitos lugares, os próprios trabalhadores rurais e pequenos
agricultores tiram proveito da venda de seus produtos a nações de
alta renda, sobretudo quando ela ocorre segundo os critérios do
comércio equitativo.
Thomas Kelssering. Ética, política e desenvolvimento humano: a justiça na era da globalização.
Tradução: Benno Dischinger. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2007, p. 209-10 (com adaptações)