Texto CG1A1-I
No Brasil os nomes das línguas correspondem, na maioria
dos casos, aos nomes atribuídos aos respectivos povos: por
exemplo, o povo xavante fala a língua xavante. São raros os
casos em que se fixou, na literatura especializada ou no uso
geral, um nome distinto para a língua. Há o povo fulniô, cuja
língua é o iatê.
Existem, nestes primeiros anos do século XXI, vários
povos bilíngues que convivem com a língua indígena e a
portuguesa, mas em outros o português predomina como língua
materna das crianças. Ainda se tem muito pouco conhecimento
de situações específicas de bilinguismo com o português, e será
muito difícil para o recenseador obter informação fidedigna: a
informação será mais confiável se obtida dos pais; menos
confiável quando for proveniente de líderes ou de
administradores; e menos segura ainda no caso de ser obtida por
amostragem.
Há relatos de povos com população considerável
distribuída por diversas aldeias. Por outro lado, a situação de uso
da língua portuguesa pode variar consideravelmente de uma
aldeia para outra, como no caso dos bororos, em Mato Grosso, ou
dos baniuas, no Amazonas.
Existem casos de bilinguismo ou de multilinguismo com
duas ou mais línguas indígenas faladas pelas mesmas pessoas,
como acontece entre os vários povos da família linguística (e
cultural) tucano, a noroeste do Amazonas: atualmente estão
presentes o português e(ou) o espanhol, além da língua geral
amazônica. Por outro lado, conhece-se pouco acerca do grau de
presença dessas diversas línguas nas respectivas comunidades.
Uma situação única, característica hoje da região do alto
rio Negro e seus afluentes, é a persistência do uso da língua geral
amazônica (também conhecida como nheengatu), que se concebe
hoje como língua franca de comunicação entre grande parte dos
indígenas dessa comunidade com os de outra etnia. Contudo,
converteu-se na língua materna do grande povo baré (com cerca
de 10.300 pessoas), nos municípios de São Gabriel da Cachoeira
e de Santa Isabel do Rio Negro; também o é de grande parte do
povo baniua, situado no baixo rio Içana e no médio rio Negro
(município de São Gabriel da Cachoeira).
Aryon Dall’Igna Rodrigues. Línguas indígenas brasileiras.
Brasília: Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, 2013 (com adaptações).