Leia o texto a seguir e respondas a questão:
"Acabou!"
O que as pessoas fazem para sobreviver
emocionalmente em meio a tantas crises?
Uma empresária de 57 anos disse que está muito
deprimida e até teve ataques de pânico em função da
atual crise econômica e política.
"Procuro adotar a filosofia de viver um dia de cada
vez. Meu mantra é: concedei-me a serenidade
necessária para aceitar as coisas que não posso
mudar, coragem para modificar aquelas que posso e
sabedoria para distinguir umas das outras".
Ela disse que seu maior sofrimento é não conseguir
enxergar alguma saída para a crise.
"Não gosto de tomar remédio para dormir ou para me
acalmar. E, por isso, sofro demais com a minha
insônia. Fiz muitos anos de análise, gastei uma fortuna
com todos os tipos de terapia. Mas, na verdade, a
única vez que um analista me ajudou foi quando eu
estava em dúvida se voltava ou não para o meu exmarido. Levei uma folha com tudo anotado. Os prós:
sentia falta das nossas conversas, tinha medo de ficar
sozinha para sempre, estava com ciúmes da nova vida
dele. Os contras: brigávamos o tempo todo, ele me
irritava de propósito, só sabia me criticar e destruir
minha autoestima".
O analista pegou a folha da sua mão e a rasgou em
pedacinhos. Depois disse: "Acabou!".
"Eu continuava insistindo em ruminar o passado:
'Onde foi que eu errei? Por que não deu certo? Será
que eu estaria mais feliz se não tivesse me separado?'
Não importava mais se minha decisão de separar
tinha ou não sido certa: acabou! Não interessava se
eu estava com medo de ficar sozinha para sempre ou
com ciúmes dele: acabou! Foi a resposta que eu
precisava para não me atormentar mais: acabou!".
Ela conclui: "Antes, quando tinha algum problema
profissional ou pessoal, ficava paralisada. Falava com
muitas pessoas, ouvia conselhos e opiniões
contraditórias, ficava perdida e cada vez mais
angustiada. Hoje, quando estou insegura com alguma
questão, escrevo em uma página todos os prós e
contras, analiso cada uma das possibilidades, tomo
uma decisão e, depois, rasgo em pedacinhos o papel.
Digo para mim mesma: Acabou! É uma verdadeira
libertação dos meus medos, ansiedades e
preocupações e, só assim, consigo dormir".
Por que temos tanta dificuldade para aceitar que,
simplesmente, acabou?
Goldeberg, Mirian. Colunista da Folha de São Paulo, Março, 2016.
Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2016/03/175
2575-acabou.shtml .Acesso em 21/04/2016.