De 10% a 15% dos que sofrem de depressão
tentam acabar com a vida
De fato, entre todos os fatores de risco, o maior
previsor de suicídio é a ocorrência de doenças
mentais. Segundo a OMS, 90% das pessoas que se
suicidam apresentavam algum desequilíbrio, como
depressão, transtorno bipolar, dependência de
substâncias e esquizofrenia – e 10% a 15% dos que
sofrem de depressão tentam acabar com a vida.
Ainda assim, a OMS defende que 90% dos
suicídios poderiam ser evitados. O desafio é cuidar
das doenças mentais como cuidamos das outras
doenças. Cerca de 60% das pessoas que se suicidam
nunca se consultaram com um psicólogo ou
psiquiatra. Imagine que estranho seria, por exemplo,
se seis entre dez pessoas que quebram uma perna
simplesmente não fossem a um ortopedista. Doença
mental é apenas mais uma doença – e uma que pode
causar o suicídio. Parece óbvio que o assunto deve ser
visto como um problema de saúde pública.
“O primeiro passo para a prevenção é falar
sobre o suicídio. Ele deveria ser tratado como a aids
e o câncer de mama, cujas campanhas de prevenção
foram fundamentais para diminuir a incidência das
doenças”, diz a psicóloga e coordenadora do Instituto
Vita Alere, que faz prevenção ao suicídio, Karen
Scavacini. Essa é também a visão da OMS. Em 2013,
seus membros se comprometeram a desenvolver
estratégias para reduzir a incidência de casos em 10%
até 2020.
O Japão é um exemplo de sucesso – e que tem
índices historicamente altos. Até o fim dos anos 1990,
o suicídio era considerado tabu. Não se deveria
discuti-lo publicamente. Até que, em 1998, a
incidência de casos cresceu mais de 8 mil em um ano
e beirou as 33 mil mortes. A partir desse pico, filhos
de vítimas foram à imprensa pedir atenção para o
assunto, e o governo decidiu desenvolver medidas de
saúde pública no país, que avaliavam fatores
psicológicos, culturais e econômicos. Deu certo.
Apesar de ainda ser alto, o número de japoneses
que se suicidam ao ano caiu gradativamente, e em
2012 ficou abaixo dos 30 mil pela primeira vez em 14
anos.