Embora seja uma questão antiga e que em algumas vezes se misturava à questão religiosa, como o calvinismo do
século XVI, a busca de valores e virtudes a todo custo tornou-se uma necessidade tão vital como “o pão nosso de
cada dia”, especialmente nas atividades que envolvem as relações com o poder público. No século XVI, Calvino e seus
seguidores – frutos da Reforma Protestante que este ano completa 500 anos – preocupados com essa questão, diziam
aos crentes que eles precisavam ter retidão e austeridade no que faziam, diferentemente do pensamento do grupo
de teólogos não reformados, propensos a ver na atividade econômica a oportunidade de enriquecimento fácil com
coisas fúteis. Por outro lado, no século seguinte, Portugal foi contemplado com o trabalho do padre Antônio Vieira
que escreveu, em 1655, o sermão do bom ladrão, cujo conteúdo tem muito a ver com o que o Brasil vive na
atualidade: suborno, corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade na gestão do bem público por parte de gestores,
políticos e empresários inescrupulosos. E isso, não por acaso, influencia no cotidiano dos “clientes” da administração
pública em nossos dias. A ineficiência do serviço público brasileiro é de conhecimento de todos que costumam assistir
aos noticiários na TV, ou ler jornais e revistas de circulação no país. Nesses veículos de comunicação, é comum a
divulgação da precariedade não apenas dos serviços públicos – saúde, transportes, educação etc. – mas também de
setores há muito tempo privatizados, como o de telecomunicação que tem alto índice de reclamação dos clientes.
Tudo isso contribui para colocar em xeque a credibilidade que a população deposita nos gestores da coisa pública. A
confiança no serviço público está tão “nublada”, assumindo um “ar de cinismo”, que vários setores da sociedade têm
colocado a necessidade de uma nova reforma no topo da lista de objetivos urgentes. A que tipo de nova reforma o
enunciado se refere?