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Se o governo ouvisse a ciência, aumentaria a carga horária de esportes na escola
Sabine Righeti
Os educadores podem não saber disso, mas estudos que envolvem neurociência têm mostrado evidências
importantes que relacionam a prática regular de exercícios ao desempenho acadêmico. Trocando em miúdos: mais tempo na
quadra de esportes pode significar melhores notas na escola.
Então não seria interessante que cientistas e educadores trabalhassem juntos a fim de desenvolver estudos para
guiar tomadas de decisão na área de educação? Pois é. Essa é a proposta da Rede Nacional de Ciência para Educação, que
conecta educadores e cientistas com o objetivo de embasar decisões na área de educação. A relação entre esportes e
desempenho acadêmico é um exemplo clássico desse trabalho “em rede”.
De acordo com o neurocientista Roberto Lent, que trabalha com plasticidade e evolução do cérebro na UFRJ, e que
coordena a rede, uma série de estudos recentes mostram que exercícios físicos melhoram a memória e até a produção de
novos neurônios no hipocampo – área do cérebro responsável pela aprendizagem. Ele abordou o tema em um evento da rede
promovido nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.
Em experimentos com ratinhos, é possível “contar” os novos neurônios produzidos. Já em humanos, os resultados
são observados a partir de imagens do cérebro.
“Baseado nisso, o governo não deveria tornar educação física uma disciplina opcional”, diz Lent. Vale lembrar: na
proposta de reforma curricular do ensino médio, anunciada por meio de Medida Provisória em setembro, educação física e
artes passam a ser disciplinas eletivas. A proposta tem sido criticada por especialistas que receiam que algumas escolas
simplesmente não tenham essa opção para os alunos.
Outros trabalhos mostram também que a endorfina, neurotransmissor produzido com a prática de exercícios,
melhora a disposição de maneira geral – o que ajuda na concentração e nas aulas. Mais: exercícios físicos ajudam no sono,
que, por sua vez, tem um papel importantíssimo na memória. Para a psicologia, os exercícios físicos ajudam a desenvolver o
trabalho em grupo, a liderança e a disciplina.
A ideia da Rede Nacional de Ciência para Educação, criada em 2012, é justamente prover de informações
científicas políticas públicas na área de educação que possam ajudar a tomada de decisão. Hoje há educadores, cientistas,
economistas, fonoaudiólogos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento envolvidos no trabalho.
“Isso significa que se o governo tivesse ouvido os cientistas, aumentaria as horas de educação física”, diz Lent
De acordo com Daniele Botaro, pós-doutoranda do Instituto Ayrton Senna, que também integra a rede, uma das propostas é que os próprios professores tragam temas de pesquisa para a ciência.“Um professor pode observar um fenômeno
em sala de aula e trazer uma pergunta para os cientistas responderem”, diz. Isso é muito comum em países como os Estados
Unidos.
Disponível em: https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/
Acesso em: 21 set. 2018. Adaptado.