Questões de Concurso Público UFJ 2022 para Técnico em Farmácia

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Q1918774 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


NÃO SOMOS FILHOS DAS COTAS! MAS CONSTRUÍMOS ESSA POLÍTICA



Ao pensar o conceito de políticas públicas e seu diálogo com a luta antirracista e ao recordar as experiências acumuladas de gestores públicos, podemos dizer: não somos filhos das cotas, mas nossas contribuições no tema de combate ao racismo resultaram nesta política reparatória. 

De Zumbi a Oliveira Silveira, Matilde Ribeiro e Luiza Bairros, começo esta conversa chamando à responsabilidade os beneficiários dessa luta. Tomar a vida como algo fácil, não reconhecendo essa conquista como um processo resultante de nossas ações, significa que temos o racismo como uma espada que está sempre presente sobre nossas cabeças, fixando limites, impondo consequências, artimanhas, e nos obrigando a chamar atenção para este momento conjuntural, na perspectiva nacional e internacional, e como tudo isso se relaciona. 

Um dos pontos centrais de nossa conversa é pensar as relações de poder, a concepção de Estado e o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial, dar respostas a setores da população carentes dessas políticas. Logo, o que determina a chegada, o rumo e a velocidade dessas políticas são os fatores e os fatos históricos. Assim, na historicidade, devemos buscar analisar realidades que não podem ser contestadas, porque fatos históricos são incontestáveis. Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e negligenciar suas narrativas. 

A propósito, foi sob a ordem de uma legalidade colonialista que se dizimaram povos e nações dos continentes americano e africano e, assim, construíram o conceito eurocêntrico, de berço e centro da humanidade. E para sustentar esse paradigma saquearam, mataram índios e negros em territórios africanos, nas Américas, promovendo a diáspora negra.

Ao discorrer sobre o tema racial, que é denso e estrutural, repenso estratégias para abordá-lo e expressar todos os sentimentos e sensações (dores e anseios), eu, uma pessoa negra enraizada no Brasil, buscando encontrar o meu local de fala, como brasileiro, um homem negro, periférico e vinculado a vários determinantes sociais que influenciam nossas vidas diariamente, como corpos andantes em uma sociedade capitalista e ainda com forte legado escravocrata, e que colaboram para situações que muitos não conseguem compreender. Mas, com tudo isso, tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista, para os quais precisamos acionar muitos mecanismos. 

Com esse entendimento, queremos mostrar como a ausência dessas políticas públicas reparadoras e de promoção da igualdade racial contribui para um processo de embranquecimento – entendendo que muitos símbolos são estruturados em uma ideologia que tem afetado a população negra – e, baseado nesse diagnóstico, desconstruir estereótipos e arquétipos negativos, mudando essa estrutura racista que tem atingido, psicologicamente, um processo de coisificação e embranquecimento de nossos corpos. Essas situações e processos são resultado de uma ideologia que está nas entranhas de nossa sociedade, nas ações estruturantes da gestão de políticas governamentais em todas as esferas.

Encontramos traços marcantes dela nos currículos da formação, nas políticas públicas voltadas para educação, saúde, economia, habitação… Geralmente, como militantes e movimentos, pensamos em formular diversas políticas com recorte racial, mas, como gestores, esquecemos de propor mudanças nas formações dos profissionais. Em todas áreas e níveis do funcionalismo público dá-se pouca ênfase a isso. 

Nesse sentido, chamamos atenção para este processo de formação de novos quadros políticos sociais no movimento negro e fora dele, porque, como já falamos, não basta combatermos o racismo, temos que procurar agir de forma antirracista e reconstruir uma ideologia de identidade negra. Ao longo da história, nossa identidade foi sendo desconstruída e, por mais que antropologicamente se diga que a origem do mundo foi em território africano, mesmo assim, muitos legados foram historicamente negados no reconhecimento de nossa ancestralidade.


Adaptado de:
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4
982904-nao-somos-filhos-das-cotas-mas-construimosesta-politica.html 

Acessado em 07/02/2022.
Em “chamar atenção para este momento conjuntural”, a expressão destacada refere-se a: 
Alternativas
Q1918775 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


NÃO SOMOS FILHOS DAS COTAS! MAS CONSTRUÍMOS ESSA POLÍTICA



Ao pensar o conceito de políticas públicas e seu diálogo com a luta antirracista e ao recordar as experiências acumuladas de gestores públicos, podemos dizer: não somos filhos das cotas, mas nossas contribuições no tema de combate ao racismo resultaram nesta política reparatória. 

De Zumbi a Oliveira Silveira, Matilde Ribeiro e Luiza Bairros, começo esta conversa chamando à responsabilidade os beneficiários dessa luta. Tomar a vida como algo fácil, não reconhecendo essa conquista como um processo resultante de nossas ações, significa que temos o racismo como uma espada que está sempre presente sobre nossas cabeças, fixando limites, impondo consequências, artimanhas, e nos obrigando a chamar atenção para este momento conjuntural, na perspectiva nacional e internacional, e como tudo isso se relaciona. 

Um dos pontos centrais de nossa conversa é pensar as relações de poder, a concepção de Estado e o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial, dar respostas a setores da população carentes dessas políticas. Logo, o que determina a chegada, o rumo e a velocidade dessas políticas são os fatores e os fatos históricos. Assim, na historicidade, devemos buscar analisar realidades que não podem ser contestadas, porque fatos históricos são incontestáveis. Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e negligenciar suas narrativas. 

A propósito, foi sob a ordem de uma legalidade colonialista que se dizimaram povos e nações dos continentes americano e africano e, assim, construíram o conceito eurocêntrico, de berço e centro da humanidade. E para sustentar esse paradigma saquearam, mataram índios e negros em territórios africanos, nas Américas, promovendo a diáspora negra.

Ao discorrer sobre o tema racial, que é denso e estrutural, repenso estratégias para abordá-lo e expressar todos os sentimentos e sensações (dores e anseios), eu, uma pessoa negra enraizada no Brasil, buscando encontrar o meu local de fala, como brasileiro, um homem negro, periférico e vinculado a vários determinantes sociais que influenciam nossas vidas diariamente, como corpos andantes em uma sociedade capitalista e ainda com forte legado escravocrata, e que colaboram para situações que muitos não conseguem compreender. Mas, com tudo isso, tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista, para os quais precisamos acionar muitos mecanismos. 

Com esse entendimento, queremos mostrar como a ausência dessas políticas públicas reparadoras e de promoção da igualdade racial contribui para um processo de embranquecimento – entendendo que muitos símbolos são estruturados em uma ideologia que tem afetado a população negra – e, baseado nesse diagnóstico, desconstruir estereótipos e arquétipos negativos, mudando essa estrutura racista que tem atingido, psicologicamente, um processo de coisificação e embranquecimento de nossos corpos. Essas situações e processos são resultado de uma ideologia que está nas entranhas de nossa sociedade, nas ações estruturantes da gestão de políticas governamentais em todas as esferas.

Encontramos traços marcantes dela nos currículos da formação, nas políticas públicas voltadas para educação, saúde, economia, habitação… Geralmente, como militantes e movimentos, pensamos em formular diversas políticas com recorte racial, mas, como gestores, esquecemos de propor mudanças nas formações dos profissionais. Em todas áreas e níveis do funcionalismo público dá-se pouca ênfase a isso. 

Nesse sentido, chamamos atenção para este processo de formação de novos quadros políticos sociais no movimento negro e fora dele, porque, como já falamos, não basta combatermos o racismo, temos que procurar agir de forma antirracista e reconstruir uma ideologia de identidade negra. Ao longo da história, nossa identidade foi sendo desconstruída e, por mais que antropologicamente se diga que a origem do mundo foi em território africano, mesmo assim, muitos legados foram historicamente negados no reconhecimento de nossa ancestralidade.


Adaptado de:
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4
982904-nao-somos-filhos-das-cotas-mas-construimosesta-politica.html 

Acessado em 07/02/2022.
Em “Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e neglicenciar suas narrativas”, o termo destacado expressa:
Alternativas
Q1918776 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


NÃO SOMOS FILHOS DAS COTAS! MAS CONSTRUÍMOS ESSA POLÍTICA



Ao pensar o conceito de políticas públicas e seu diálogo com a luta antirracista e ao recordar as experiências acumuladas de gestores públicos, podemos dizer: não somos filhos das cotas, mas nossas contribuições no tema de combate ao racismo resultaram nesta política reparatória. 

De Zumbi a Oliveira Silveira, Matilde Ribeiro e Luiza Bairros, começo esta conversa chamando à responsabilidade os beneficiários dessa luta. Tomar a vida como algo fácil, não reconhecendo essa conquista como um processo resultante de nossas ações, significa que temos o racismo como uma espada que está sempre presente sobre nossas cabeças, fixando limites, impondo consequências, artimanhas, e nos obrigando a chamar atenção para este momento conjuntural, na perspectiva nacional e internacional, e como tudo isso se relaciona. 

Um dos pontos centrais de nossa conversa é pensar as relações de poder, a concepção de Estado e o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial, dar respostas a setores da população carentes dessas políticas. Logo, o que determina a chegada, o rumo e a velocidade dessas políticas são os fatores e os fatos históricos. Assim, na historicidade, devemos buscar analisar realidades que não podem ser contestadas, porque fatos históricos são incontestáveis. Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e negligenciar suas narrativas. 

A propósito, foi sob a ordem de uma legalidade colonialista que se dizimaram povos e nações dos continentes americano e africano e, assim, construíram o conceito eurocêntrico, de berço e centro da humanidade. E para sustentar esse paradigma saquearam, mataram índios e negros em territórios africanos, nas Américas, promovendo a diáspora negra.

Ao discorrer sobre o tema racial, que é denso e estrutural, repenso estratégias para abordá-lo e expressar todos os sentimentos e sensações (dores e anseios), eu, uma pessoa negra enraizada no Brasil, buscando encontrar o meu local de fala, como brasileiro, um homem negro, periférico e vinculado a vários determinantes sociais que influenciam nossas vidas diariamente, como corpos andantes em uma sociedade capitalista e ainda com forte legado escravocrata, e que colaboram para situações que muitos não conseguem compreender. Mas, com tudo isso, tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista, para os quais precisamos acionar muitos mecanismos. 

Com esse entendimento, queremos mostrar como a ausência dessas políticas públicas reparadoras e de promoção da igualdade racial contribui para um processo de embranquecimento – entendendo que muitos símbolos são estruturados em uma ideologia que tem afetado a população negra – e, baseado nesse diagnóstico, desconstruir estereótipos e arquétipos negativos, mudando essa estrutura racista que tem atingido, psicologicamente, um processo de coisificação e embranquecimento de nossos corpos. Essas situações e processos são resultado de uma ideologia que está nas entranhas de nossa sociedade, nas ações estruturantes da gestão de políticas governamentais em todas as esferas.

Encontramos traços marcantes dela nos currículos da formação, nas políticas públicas voltadas para educação, saúde, economia, habitação… Geralmente, como militantes e movimentos, pensamos em formular diversas políticas com recorte racial, mas, como gestores, esquecemos de propor mudanças nas formações dos profissionais. Em todas áreas e níveis do funcionalismo público dá-se pouca ênfase a isso. 

Nesse sentido, chamamos atenção para este processo de formação de novos quadros políticos sociais no movimento negro e fora dele, porque, como já falamos, não basta combatermos o racismo, temos que procurar agir de forma antirracista e reconstruir uma ideologia de identidade negra. Ao longo da história, nossa identidade foi sendo desconstruída e, por mais que antropologicamente se diga que a origem do mundo foi em território africano, mesmo assim, muitos legados foram historicamente negados no reconhecimento de nossa ancestralidade.


Adaptado de:
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4
982904-nao-somos-filhos-das-cotas-mas-construimosesta-politica.html 

Acessado em 07/02/2022.
Em relação ao texto, é correto afirmar que: 
Alternativas
Q1918777 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


NÃO SOMOS FILHOS DAS COTAS! MAS CONSTRUÍMOS ESSA POLÍTICA



Ao pensar o conceito de políticas públicas e seu diálogo com a luta antirracista e ao recordar as experiências acumuladas de gestores públicos, podemos dizer: não somos filhos das cotas, mas nossas contribuições no tema de combate ao racismo resultaram nesta política reparatória. 

De Zumbi a Oliveira Silveira, Matilde Ribeiro e Luiza Bairros, começo esta conversa chamando à responsabilidade os beneficiários dessa luta. Tomar a vida como algo fácil, não reconhecendo essa conquista como um processo resultante de nossas ações, significa que temos o racismo como uma espada que está sempre presente sobre nossas cabeças, fixando limites, impondo consequências, artimanhas, e nos obrigando a chamar atenção para este momento conjuntural, na perspectiva nacional e internacional, e como tudo isso se relaciona. 

Um dos pontos centrais de nossa conversa é pensar as relações de poder, a concepção de Estado e o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial, dar respostas a setores da população carentes dessas políticas. Logo, o que determina a chegada, o rumo e a velocidade dessas políticas são os fatores e os fatos históricos. Assim, na historicidade, devemos buscar analisar realidades que não podem ser contestadas, porque fatos históricos são incontestáveis. Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e negligenciar suas narrativas. 

A propósito, foi sob a ordem de uma legalidade colonialista que se dizimaram povos e nações dos continentes americano e africano e, assim, construíram o conceito eurocêntrico, de berço e centro da humanidade. E para sustentar esse paradigma saquearam, mataram índios e negros em territórios africanos, nas Américas, promovendo a diáspora negra.

Ao discorrer sobre o tema racial, que é denso e estrutural, repenso estratégias para abordá-lo e expressar todos os sentimentos e sensações (dores e anseios), eu, uma pessoa negra enraizada no Brasil, buscando encontrar o meu local de fala, como brasileiro, um homem negro, periférico e vinculado a vários determinantes sociais que influenciam nossas vidas diariamente, como corpos andantes em uma sociedade capitalista e ainda com forte legado escravocrata, e que colaboram para situações que muitos não conseguem compreender. Mas, com tudo isso, tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista, para os quais precisamos acionar muitos mecanismos. 

Com esse entendimento, queremos mostrar como a ausência dessas políticas públicas reparadoras e de promoção da igualdade racial contribui para um processo de embranquecimento – entendendo que muitos símbolos são estruturados em uma ideologia que tem afetado a população negra – e, baseado nesse diagnóstico, desconstruir estereótipos e arquétipos negativos, mudando essa estrutura racista que tem atingido, psicologicamente, um processo de coisificação e embranquecimento de nossos corpos. Essas situações e processos são resultado de uma ideologia que está nas entranhas de nossa sociedade, nas ações estruturantes da gestão de políticas governamentais em todas as esferas.

Encontramos traços marcantes dela nos currículos da formação, nas políticas públicas voltadas para educação, saúde, economia, habitação… Geralmente, como militantes e movimentos, pensamos em formular diversas políticas com recorte racial, mas, como gestores, esquecemos de propor mudanças nas formações dos profissionais. Em todas áreas e níveis do funcionalismo público dá-se pouca ênfase a isso. 

Nesse sentido, chamamos atenção para este processo de formação de novos quadros políticos sociais no movimento negro e fora dele, porque, como já falamos, não basta combatermos o racismo, temos que procurar agir de forma antirracista e reconstruir uma ideologia de identidade negra. Ao longo da história, nossa identidade foi sendo desconstruída e, por mais que antropologicamente se diga que a origem do mundo foi em território africano, mesmo assim, muitos legados foram historicamente negados no reconhecimento de nossa ancestralidade.


Adaptado de:
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4
982904-nao-somos-filhos-das-cotas-mas-construimosesta-politica.html 

Acessado em 07/02/2022.

Imagem associada para resolução da questão

Obra: Amnésia, 2015 Autor: Flávio Cerqueira Tinta látex sobre bronze



A questão abordada na obra acima encontra correlações com a seguinte frase do texto de Jorge Senna:

Alternativas
Q1918778 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


NÃO SOMOS FILHOS DAS COTAS! MAS CONSTRUÍMOS ESSA POLÍTICA



Ao pensar o conceito de políticas públicas e seu diálogo com a luta antirracista e ao recordar as experiências acumuladas de gestores públicos, podemos dizer: não somos filhos das cotas, mas nossas contribuições no tema de combate ao racismo resultaram nesta política reparatória. 

De Zumbi a Oliveira Silveira, Matilde Ribeiro e Luiza Bairros, começo esta conversa chamando à responsabilidade os beneficiários dessa luta. Tomar a vida como algo fácil, não reconhecendo essa conquista como um processo resultante de nossas ações, significa que temos o racismo como uma espada que está sempre presente sobre nossas cabeças, fixando limites, impondo consequências, artimanhas, e nos obrigando a chamar atenção para este momento conjuntural, na perspectiva nacional e internacional, e como tudo isso se relaciona. 

Um dos pontos centrais de nossa conversa é pensar as relações de poder, a concepção de Estado e o desenvolvimento de políticas públicas de promoção da igualdade racial, dar respostas a setores da população carentes dessas políticas. Logo, o que determina a chegada, o rumo e a velocidade dessas políticas são os fatores e os fatos históricos. Assim, na historicidade, devemos buscar analisar realidades que não podem ser contestadas, porque fatos históricos são incontestáveis. Ninguém muda a história, ainda que tentem sabotar e negligenciar suas narrativas. 

A propósito, foi sob a ordem de uma legalidade colonialista que se dizimaram povos e nações dos continentes americano e africano e, assim, construíram o conceito eurocêntrico, de berço e centro da humanidade. E para sustentar esse paradigma saquearam, mataram índios e negros em territórios africanos, nas Américas, promovendo a diáspora negra.

Ao discorrer sobre o tema racial, que é denso e estrutural, repenso estratégias para abordá-lo e expressar todos os sentimentos e sensações (dores e anseios), eu, uma pessoa negra enraizada no Brasil, buscando encontrar o meu local de fala, como brasileiro, um homem negro, periférico e vinculado a vários determinantes sociais que influenciam nossas vidas diariamente, como corpos andantes em uma sociedade capitalista e ainda com forte legado escravocrata, e que colaboram para situações que muitos não conseguem compreender. Mas, com tudo isso, tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista, para os quais precisamos acionar muitos mecanismos. 

Com esse entendimento, queremos mostrar como a ausência dessas políticas públicas reparadoras e de promoção da igualdade racial contribui para um processo de embranquecimento – entendendo que muitos símbolos são estruturados em uma ideologia que tem afetado a população negra – e, baseado nesse diagnóstico, desconstruir estereótipos e arquétipos negativos, mudando essa estrutura racista que tem atingido, psicologicamente, um processo de coisificação e embranquecimento de nossos corpos. Essas situações e processos são resultado de uma ideologia que está nas entranhas de nossa sociedade, nas ações estruturantes da gestão de políticas governamentais em todas as esferas.

Encontramos traços marcantes dela nos currículos da formação, nas políticas públicas voltadas para educação, saúde, economia, habitação… Geralmente, como militantes e movimentos, pensamos em formular diversas políticas com recorte racial, mas, como gestores, esquecemos de propor mudanças nas formações dos profissionais. Em todas áreas e níveis do funcionalismo público dá-se pouca ênfase a isso. 

Nesse sentido, chamamos atenção para este processo de formação de novos quadros políticos sociais no movimento negro e fora dele, porque, como já falamos, não basta combatermos o racismo, temos que procurar agir de forma antirracista e reconstruir uma ideologia de identidade negra. Ao longo da história, nossa identidade foi sendo desconstruída e, por mais que antropologicamente se diga que a origem do mundo foi em território africano, mesmo assim, muitos legados foram historicamente negados no reconhecimento de nossa ancestralidade.


Adaptado de:
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4
982904-nao-somos-filhos-das-cotas-mas-construimosesta-politica.html 

Acessado em 07/02/2022.
A frase “(…) tento produzir e transmitir conhecimentos para a construção de um debate e de uma luta antirracista (…)” está na 1ª pessoa do singular. Passando-a para a 2ª pessoa do singular da norma-padrão da língua portuguesa, teremos: 
Alternativas
Q1918779 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE FATO NO BRASIL?

HÉLIO SANTOS

A pergunta-título pode parecer estranha para alguns, porque vidas humanas devem importar sempre, independentemente de qualquer condição. O Black Lives Matter hashtag que dominou o mundo, sobretudo após a morte por sufocamento de George Floyd nos Estados Unidos – levanta a barbárie da violência que vitima negros em todo o mundo e de forma especial em países multirraciais como o Brasil. Reitera-se: “Vidas Negras Importam”. Mas esse clamor é um fato no Brasil? Vidas negras importam mesmo aqui?


A indagação do título acima tem pertinência, sim. Os antirracistas estão abalados pelas últimas mortes violentas de dois homens negros jovens – ambos no letal estado do Rio de Janeiro. Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.


O jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe sofreu, antes da xenofobia que imigrantes negros vivem aqui, violento racismo que de forma brutal o massacrou até à morte. Racismo este que assola aos negros sejam estes nascidos aqui ou não. Jamais um imigrante argentino, português ou do leste europeu, morreria daquela forma ao reivindicar salários atrasados. Tão infame quanto à morte de Moïse, foi a de Durval Teófilo Filho morto por um sargento da marinha que acertou 3 tiros no escuro contra o pai de família que retornava do trabalho – os dois últimos disparos foram feitos após a vítima, já caída, pedir clemência.


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram. Em 2021 a bela modelo e designer de 24 anos Kathlen Romeu – grávida – foi morta por um tiro de fuzil quando saía da casa de sua avó materna em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio. Não havia tiroteio no local como alegaram os policiais. A mãe da jovem foi enfática: “Foi a polícia que matou minha filha”. Ainda em 2021 em uma loja da rede Atakarejo em Salvador (BA), após furtarem carne, 2 homens famintos em plena pandemia – tio e sobrinho – foram detidos pela segurança da rede comercial e entregues não à polícia, mas aos traficantes da região que após sessão de tortura os matou a tiros. Vê-se aqui a gravidade do que apelidamos Segurança Privada em pleno conluio com o tráfico. Em 2020, 3 meninos foram mortos pelo tráfico de Belfort Roxo. Mais uma vez as comunidades esquecidas, invadidas livremente por marginais, foram vítimas da violência difusa liberada ao tráfico. As crianças de 9, 11 e 12 anos foram torturadas antes de serem mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Ainda em 2020 no Rio de Janeiro, 12 crianças – 5 meninas e 7 garotos – foram mortas por balas perdidas; cerca de uma por mês. Pergunta necessária: qual seria a reação das autoridades caso esses inocentes fossem crianças que brincassem nos playgrounds dos luxuosos bairros da zona sul carioca como Gávea, Leblon ou Barra? Balas nunca se perdem na direção de crianças brancas dos bairros ricos na cidade maravilhosa. Ainda bem, porque nenhuma criança merece isto.


Em 2020, tivemos um assassinato bem parecido com o que vitimou George Floyd, foi a vez de João Alberto, morto por sufocamento e agressões numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Tudo foi filmado e exibido ao mundo. Ainda no mesmo ano foi a vez dolorosa de Miguel Otávio de 5 anos, abandonado pela patroa de sua mãe no elevador de serviço em um prédio de luxo no Recife. O meninozinho, reitero de 5 anos, se perdeu e caiu do 9º andar do edifício. Detalhe: a mãe que deixou a criança sob os cuidados da patroa passeava na calçada com a cadela da família. Em 2019, foi a vez de militares do exército brasileiro executarem uma pessoa negra. Pasmem: a família do músico Evaldo Rosa se dirigia de automóvel na região de Deodoro (zona Oeste do Rio) para um chá de bebê numa tarde de domingo – sua esposa, filho, uma acompanhante e seu sogro assistiram ao seu fuzilamento e só não morreram por milagre, pois cerca de 80 tiros de fuzis foram disparados contra eles. O sogro se feriu e um catador que tentou ajudar foi ferido também e depois veio a morrer. Todo mundo negro. Os militares alegaram “engano” pelos 80 tiros! Já Sérgio Moro, então ministro da justiça, chamou o fuzilamento de “incidente”. Caso fosse um tanque em uma guerra talvez não precisasse de 80 tiros de fuzil, mas uma família negra num automóvel fez jus a esse absurdo que não seria o recorde em violência, como se verá a seguir. Dessa vez (2015) as vítimas foram 5 adolescentes – todos negros de novo – que receberam 111 tiros da letal PM carioca. Essa execução coletiva se deu no bairro de Costa Barros na zona norte do Rio. Nenhum dos meninos tinha armas ou passagem pela polícia. Eram estudantes da comunidade e estavam no interior de um carro. O número de tiros – 111 – em que se revezavam fuzis e pistolas, dispensa o meu comentário. Ainda em 2015, no bairro do Cabula em Salvador, 12 jovens entre 16 e 27 anos tiveram execuções sumárias num caso que estarreceu a cidade pois não se vislumbrou nenhuma razão plausível para a chacina. Num julgamento relâmpago, uma juíza inocentou os policiais militares, mas a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.


Não temos espaço para falar de inúmeros outros casos, como o da mulher que foi arrastada por uma viatura da PM no Rio por mais de 300 metros. Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional. Essa lista não tem fim. 


Se formos indo aprofundando no tempo chegaremos a 1978, quando o feirante Robson da Luz foi torturado e morto numa delegacia em Osasco pela Polícia Civil de São Paulo. Essa morte foi um dos vetores que levou à criação do Movimento Negro Unificado (MNU) que há 44 anos batalha pelas vidas negras sempre sob constante ameaça.


Nenhum dos casos que eu trouxe aqui se tratou de pessoas que estavam enfrentando a polícia ou que estivessem em combate aberto contra outras pessoas.


Neste ano, os homens e mulheres que pretendem candidatar ao governo das 27 unidades federativas desse país continente têm que ter propostas razoáveis para essa “sangria desatada” – expressão usada pelos nossos avós para algo que nunca tem fim. Por outro lado, aquelas e aqueles que desejam o emprego de presidente da república terão de se posicionar com políticas efetivas para a defesa do que de mais elementar o estado deve proporcionar às pessoas: o direito à vida.


Dados de 2012 revelam 63 mortes diárias de jovens – todos negros – na faixa de 15 a 29 anos; quase 3 mortes a cada hora. Um desastre dessas proporções só é possível quando o aparato policial e judicial é conivente, quando não agente dessa mortandade. Mídia e os partidos políticos – que governam o país – têm sua parte nesse latifúndio bárbaro, anacrônico e que nos rebaixa a um vergonhoso ranking no campo dos direitos fundamentais.


Vidas negras importam – sim – para os antirracistas (negros e não-negros) que atuam na contramão de uma elite anestesiada e adoecida moralmente. Todavia, só a sociedade como um todo, liderada por mulheres e homens que almejem posicionar o Brasil num patamar civilizatório adequado ao século 21, pode estancar essa chaga que nos humilha, massacra e provoca muita dor à população majoritária que aqui está há meio milênio construindo o País.


Escancara-se a banalização do brutalismo contra a população negra. Questão que se faz necessária: qual a causa dessa reiterada anestesia moral? São várias, mas a impunidade e a abissal desigualdade racial nutrida pelo racismo têm espaço de destaque nessa cena distópica do país. A justiça que condena e prende a mãe que furta 2 litros de leite, devido a fome de sua prole, é a mesma que protela para as calendas o julgamento dos grandes sonegadores – todos brancos e ricos – que só em 2020 lesaram os cofres públicos em incríveis 460 bilhões de reais.


Não me parece mais correto dizer que o Brasil não tem projeto de nação. Ninguém come maça se não houver macieira. O que não temos são líderes e partidos com uma visão sistêmica que deem conta e queiram decifrar um país de 522 anos dos quais 354 se desenrolaram sob o barbarismo escravista. 



Adaptado de: Vidas negras importam de fato no Brasil? - Geledés (geledes.org.br) Acessado em 15/02/2022.

Em relação ao objetivo comunicativo do texto, não se pode afirmar:
Alternativas
Q1918780 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE FATO NO BRASIL?

HÉLIO SANTOS

A pergunta-título pode parecer estranha para alguns, porque vidas humanas devem importar sempre, independentemente de qualquer condição. O Black Lives Matter hashtag que dominou o mundo, sobretudo após a morte por sufocamento de George Floyd nos Estados Unidos – levanta a barbárie da violência que vitima negros em todo o mundo e de forma especial em países multirraciais como o Brasil. Reitera-se: “Vidas Negras Importam”. Mas esse clamor é um fato no Brasil? Vidas negras importam mesmo aqui?


A indagação do título acima tem pertinência, sim. Os antirracistas estão abalados pelas últimas mortes violentas de dois homens negros jovens – ambos no letal estado do Rio de Janeiro. Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.


O jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe sofreu, antes da xenofobia que imigrantes negros vivem aqui, violento racismo que de forma brutal o massacrou até à morte. Racismo este que assola aos negros sejam estes nascidos aqui ou não. Jamais um imigrante argentino, português ou do leste europeu, morreria daquela forma ao reivindicar salários atrasados. Tão infame quanto à morte de Moïse, foi a de Durval Teófilo Filho morto por um sargento da marinha que acertou 3 tiros no escuro contra o pai de família que retornava do trabalho – os dois últimos disparos foram feitos após a vítima, já caída, pedir clemência.


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram. Em 2021 a bela modelo e designer de 24 anos Kathlen Romeu – grávida – foi morta por um tiro de fuzil quando saía da casa de sua avó materna em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio. Não havia tiroteio no local como alegaram os policiais. A mãe da jovem foi enfática: “Foi a polícia que matou minha filha”. Ainda em 2021 em uma loja da rede Atakarejo em Salvador (BA), após furtarem carne, 2 homens famintos em plena pandemia – tio e sobrinho – foram detidos pela segurança da rede comercial e entregues não à polícia, mas aos traficantes da região que após sessão de tortura os matou a tiros. Vê-se aqui a gravidade do que apelidamos Segurança Privada em pleno conluio com o tráfico. Em 2020, 3 meninos foram mortos pelo tráfico de Belfort Roxo. Mais uma vez as comunidades esquecidas, invadidas livremente por marginais, foram vítimas da violência difusa liberada ao tráfico. As crianças de 9, 11 e 12 anos foram torturadas antes de serem mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Ainda em 2020 no Rio de Janeiro, 12 crianças – 5 meninas e 7 garotos – foram mortas por balas perdidas; cerca de uma por mês. Pergunta necessária: qual seria a reação das autoridades caso esses inocentes fossem crianças que brincassem nos playgrounds dos luxuosos bairros da zona sul carioca como Gávea, Leblon ou Barra? Balas nunca se perdem na direção de crianças brancas dos bairros ricos na cidade maravilhosa. Ainda bem, porque nenhuma criança merece isto.


Em 2020, tivemos um assassinato bem parecido com o que vitimou George Floyd, foi a vez de João Alberto, morto por sufocamento e agressões numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Tudo foi filmado e exibido ao mundo. Ainda no mesmo ano foi a vez dolorosa de Miguel Otávio de 5 anos, abandonado pela patroa de sua mãe no elevador de serviço em um prédio de luxo no Recife. O meninozinho, reitero de 5 anos, se perdeu e caiu do 9º andar do edifício. Detalhe: a mãe que deixou a criança sob os cuidados da patroa passeava na calçada com a cadela da família. Em 2019, foi a vez de militares do exército brasileiro executarem uma pessoa negra. Pasmem: a família do músico Evaldo Rosa se dirigia de automóvel na região de Deodoro (zona Oeste do Rio) para um chá de bebê numa tarde de domingo – sua esposa, filho, uma acompanhante e seu sogro assistiram ao seu fuzilamento e só não morreram por milagre, pois cerca de 80 tiros de fuzis foram disparados contra eles. O sogro se feriu e um catador que tentou ajudar foi ferido também e depois veio a morrer. Todo mundo negro. Os militares alegaram “engano” pelos 80 tiros! Já Sérgio Moro, então ministro da justiça, chamou o fuzilamento de “incidente”. Caso fosse um tanque em uma guerra talvez não precisasse de 80 tiros de fuzil, mas uma família negra num automóvel fez jus a esse absurdo que não seria o recorde em violência, como se verá a seguir. Dessa vez (2015) as vítimas foram 5 adolescentes – todos negros de novo – que receberam 111 tiros da letal PM carioca. Essa execução coletiva se deu no bairro de Costa Barros na zona norte do Rio. Nenhum dos meninos tinha armas ou passagem pela polícia. Eram estudantes da comunidade e estavam no interior de um carro. O número de tiros – 111 – em que se revezavam fuzis e pistolas, dispensa o meu comentário. Ainda em 2015, no bairro do Cabula em Salvador, 12 jovens entre 16 e 27 anos tiveram execuções sumárias num caso que estarreceu a cidade pois não se vislumbrou nenhuma razão plausível para a chacina. Num julgamento relâmpago, uma juíza inocentou os policiais militares, mas a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.


Não temos espaço para falar de inúmeros outros casos, como o da mulher que foi arrastada por uma viatura da PM no Rio por mais de 300 metros. Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional. Essa lista não tem fim. 


Se formos indo aprofundando no tempo chegaremos a 1978, quando o feirante Robson da Luz foi torturado e morto numa delegacia em Osasco pela Polícia Civil de São Paulo. Essa morte foi um dos vetores que levou à criação do Movimento Negro Unificado (MNU) que há 44 anos batalha pelas vidas negras sempre sob constante ameaça.


Nenhum dos casos que eu trouxe aqui se tratou de pessoas que estavam enfrentando a polícia ou que estivessem em combate aberto contra outras pessoas.


Neste ano, os homens e mulheres que pretendem candidatar ao governo das 27 unidades federativas desse país continente têm que ter propostas razoáveis para essa “sangria desatada” – expressão usada pelos nossos avós para algo que nunca tem fim. Por outro lado, aquelas e aqueles que desejam o emprego de presidente da república terão de se posicionar com políticas efetivas para a defesa do que de mais elementar o estado deve proporcionar às pessoas: o direito à vida.


Dados de 2012 revelam 63 mortes diárias de jovens – todos negros – na faixa de 15 a 29 anos; quase 3 mortes a cada hora. Um desastre dessas proporções só é possível quando o aparato policial e judicial é conivente, quando não agente dessa mortandade. Mídia e os partidos políticos – que governam o país – têm sua parte nesse latifúndio bárbaro, anacrônico e que nos rebaixa a um vergonhoso ranking no campo dos direitos fundamentais.


Vidas negras importam – sim – para os antirracistas (negros e não-negros) que atuam na contramão de uma elite anestesiada e adoecida moralmente. Todavia, só a sociedade como um todo, liderada por mulheres e homens que almejem posicionar o Brasil num patamar civilizatório adequado ao século 21, pode estancar essa chaga que nos humilha, massacra e provoca muita dor à população majoritária que aqui está há meio milênio construindo o País.


Escancara-se a banalização do brutalismo contra a população negra. Questão que se faz necessária: qual a causa dessa reiterada anestesia moral? São várias, mas a impunidade e a abissal desigualdade racial nutrida pelo racismo têm espaço de destaque nessa cena distópica do país. A justiça que condena e prende a mãe que furta 2 litros de leite, devido a fome de sua prole, é a mesma que protela para as calendas o julgamento dos grandes sonegadores – todos brancos e ricos – que só em 2020 lesaram os cofres públicos em incríveis 460 bilhões de reais.


Não me parece mais correto dizer que o Brasil não tem projeto de nação. Ninguém come maça se não houver macieira. O que não temos são líderes e partidos com uma visão sistêmica que deem conta e queiram decifrar um país de 522 anos dos quais 354 se desenrolaram sob o barbarismo escravista. 



Adaptado de: Vidas negras importam de fato no Brasil? - Geledés (geledes.org.br) Acessado em 15/02/2022.

No trecho copiado abaixo, a função dos dois pontos é:


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram.

Alternativas
Q1918781 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE FATO NO BRASIL?

HÉLIO SANTOS

A pergunta-título pode parecer estranha para alguns, porque vidas humanas devem importar sempre, independentemente de qualquer condição. O Black Lives Matter hashtag que dominou o mundo, sobretudo após a morte por sufocamento de George Floyd nos Estados Unidos – levanta a barbárie da violência que vitima negros em todo o mundo e de forma especial em países multirraciais como o Brasil. Reitera-se: “Vidas Negras Importam”. Mas esse clamor é um fato no Brasil? Vidas negras importam mesmo aqui?


A indagação do título acima tem pertinência, sim. Os antirracistas estão abalados pelas últimas mortes violentas de dois homens negros jovens – ambos no letal estado do Rio de Janeiro. Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.


O jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe sofreu, antes da xenofobia que imigrantes negros vivem aqui, violento racismo que de forma brutal o massacrou até à morte. Racismo este que assola aos negros sejam estes nascidos aqui ou não. Jamais um imigrante argentino, português ou do leste europeu, morreria daquela forma ao reivindicar salários atrasados. Tão infame quanto à morte de Moïse, foi a de Durval Teófilo Filho morto por um sargento da marinha que acertou 3 tiros no escuro contra o pai de família que retornava do trabalho – os dois últimos disparos foram feitos após a vítima, já caída, pedir clemência.


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram. Em 2021 a bela modelo e designer de 24 anos Kathlen Romeu – grávida – foi morta por um tiro de fuzil quando saía da casa de sua avó materna em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio. Não havia tiroteio no local como alegaram os policiais. A mãe da jovem foi enfática: “Foi a polícia que matou minha filha”. Ainda em 2021 em uma loja da rede Atakarejo em Salvador (BA), após furtarem carne, 2 homens famintos em plena pandemia – tio e sobrinho – foram detidos pela segurança da rede comercial e entregues não à polícia, mas aos traficantes da região que após sessão de tortura os matou a tiros. Vê-se aqui a gravidade do que apelidamos Segurança Privada em pleno conluio com o tráfico. Em 2020, 3 meninos foram mortos pelo tráfico de Belfort Roxo. Mais uma vez as comunidades esquecidas, invadidas livremente por marginais, foram vítimas da violência difusa liberada ao tráfico. As crianças de 9, 11 e 12 anos foram torturadas antes de serem mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Ainda em 2020 no Rio de Janeiro, 12 crianças – 5 meninas e 7 garotos – foram mortas por balas perdidas; cerca de uma por mês. Pergunta necessária: qual seria a reação das autoridades caso esses inocentes fossem crianças que brincassem nos playgrounds dos luxuosos bairros da zona sul carioca como Gávea, Leblon ou Barra? Balas nunca se perdem na direção de crianças brancas dos bairros ricos na cidade maravilhosa. Ainda bem, porque nenhuma criança merece isto.


Em 2020, tivemos um assassinato bem parecido com o que vitimou George Floyd, foi a vez de João Alberto, morto por sufocamento e agressões numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Tudo foi filmado e exibido ao mundo. Ainda no mesmo ano foi a vez dolorosa de Miguel Otávio de 5 anos, abandonado pela patroa de sua mãe no elevador de serviço em um prédio de luxo no Recife. O meninozinho, reitero de 5 anos, se perdeu e caiu do 9º andar do edifício. Detalhe: a mãe que deixou a criança sob os cuidados da patroa passeava na calçada com a cadela da família. Em 2019, foi a vez de militares do exército brasileiro executarem uma pessoa negra. Pasmem: a família do músico Evaldo Rosa se dirigia de automóvel na região de Deodoro (zona Oeste do Rio) para um chá de bebê numa tarde de domingo – sua esposa, filho, uma acompanhante e seu sogro assistiram ao seu fuzilamento e só não morreram por milagre, pois cerca de 80 tiros de fuzis foram disparados contra eles. O sogro se feriu e um catador que tentou ajudar foi ferido também e depois veio a morrer. Todo mundo negro. Os militares alegaram “engano” pelos 80 tiros! Já Sérgio Moro, então ministro da justiça, chamou o fuzilamento de “incidente”. Caso fosse um tanque em uma guerra talvez não precisasse de 80 tiros de fuzil, mas uma família negra num automóvel fez jus a esse absurdo que não seria o recorde em violência, como se verá a seguir. Dessa vez (2015) as vítimas foram 5 adolescentes – todos negros de novo – que receberam 111 tiros da letal PM carioca. Essa execução coletiva se deu no bairro de Costa Barros na zona norte do Rio. Nenhum dos meninos tinha armas ou passagem pela polícia. Eram estudantes da comunidade e estavam no interior de um carro. O número de tiros – 111 – em que se revezavam fuzis e pistolas, dispensa o meu comentário. Ainda em 2015, no bairro do Cabula em Salvador, 12 jovens entre 16 e 27 anos tiveram execuções sumárias num caso que estarreceu a cidade pois não se vislumbrou nenhuma razão plausível para a chacina. Num julgamento relâmpago, uma juíza inocentou os policiais militares, mas a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.


Não temos espaço para falar de inúmeros outros casos, como o da mulher que foi arrastada por uma viatura da PM no Rio por mais de 300 metros. Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional. Essa lista não tem fim. 


Se formos indo aprofundando no tempo chegaremos a 1978, quando o feirante Robson da Luz foi torturado e morto numa delegacia em Osasco pela Polícia Civil de São Paulo. Essa morte foi um dos vetores que levou à criação do Movimento Negro Unificado (MNU) que há 44 anos batalha pelas vidas negras sempre sob constante ameaça.


Nenhum dos casos que eu trouxe aqui se tratou de pessoas que estavam enfrentando a polícia ou que estivessem em combate aberto contra outras pessoas.


Neste ano, os homens e mulheres que pretendem candidatar ao governo das 27 unidades federativas desse país continente têm que ter propostas razoáveis para essa “sangria desatada” – expressão usada pelos nossos avós para algo que nunca tem fim. Por outro lado, aquelas e aqueles que desejam o emprego de presidente da república terão de se posicionar com políticas efetivas para a defesa do que de mais elementar o estado deve proporcionar às pessoas: o direito à vida.


Dados de 2012 revelam 63 mortes diárias de jovens – todos negros – na faixa de 15 a 29 anos; quase 3 mortes a cada hora. Um desastre dessas proporções só é possível quando o aparato policial e judicial é conivente, quando não agente dessa mortandade. Mídia e os partidos políticos – que governam o país – têm sua parte nesse latifúndio bárbaro, anacrônico e que nos rebaixa a um vergonhoso ranking no campo dos direitos fundamentais.


Vidas negras importam – sim – para os antirracistas (negros e não-negros) que atuam na contramão de uma elite anestesiada e adoecida moralmente. Todavia, só a sociedade como um todo, liderada por mulheres e homens que almejem posicionar o Brasil num patamar civilizatório adequado ao século 21, pode estancar essa chaga que nos humilha, massacra e provoca muita dor à população majoritária que aqui está há meio milênio construindo o País.


Escancara-se a banalização do brutalismo contra a população negra. Questão que se faz necessária: qual a causa dessa reiterada anestesia moral? São várias, mas a impunidade e a abissal desigualdade racial nutrida pelo racismo têm espaço de destaque nessa cena distópica do país. A justiça que condena e prende a mãe que furta 2 litros de leite, devido a fome de sua prole, é a mesma que protela para as calendas o julgamento dos grandes sonegadores – todos brancos e ricos – que só em 2020 lesaram os cofres públicos em incríveis 460 bilhões de reais.


Não me parece mais correto dizer que o Brasil não tem projeto de nação. Ninguém come maça se não houver macieira. O que não temos são líderes e partidos com uma visão sistêmica que deem conta e queiram decifrar um país de 522 anos dos quais 354 se desenrolaram sob o barbarismo escravista. 



Adaptado de: Vidas negras importam de fato no Brasil? - Geledés (geledes.org.br) Acessado em 15/02/2022.

Releia:
Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.
Os dois termos destacados no fragmento têm o mesmo sentido, respectivamente, de:
Alternativas
Q1918782 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE FATO NO BRASIL?

HÉLIO SANTOS

A pergunta-título pode parecer estranha para alguns, porque vidas humanas devem importar sempre, independentemente de qualquer condição. O Black Lives Matter hashtag que dominou o mundo, sobretudo após a morte por sufocamento de George Floyd nos Estados Unidos – levanta a barbárie da violência que vitima negros em todo o mundo e de forma especial em países multirraciais como o Brasil. Reitera-se: “Vidas Negras Importam”. Mas esse clamor é um fato no Brasil? Vidas negras importam mesmo aqui?


A indagação do título acima tem pertinência, sim. Os antirracistas estão abalados pelas últimas mortes violentas de dois homens negros jovens – ambos no letal estado do Rio de Janeiro. Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.


O jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe sofreu, antes da xenofobia que imigrantes negros vivem aqui, violento racismo que de forma brutal o massacrou até à morte. Racismo este que assola aos negros sejam estes nascidos aqui ou não. Jamais um imigrante argentino, português ou do leste europeu, morreria daquela forma ao reivindicar salários atrasados. Tão infame quanto à morte de Moïse, foi a de Durval Teófilo Filho morto por um sargento da marinha que acertou 3 tiros no escuro contra o pai de família que retornava do trabalho – os dois últimos disparos foram feitos após a vítima, já caída, pedir clemência.


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram. Em 2021 a bela modelo e designer de 24 anos Kathlen Romeu – grávida – foi morta por um tiro de fuzil quando saía da casa de sua avó materna em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio. Não havia tiroteio no local como alegaram os policiais. A mãe da jovem foi enfática: “Foi a polícia que matou minha filha”. Ainda em 2021 em uma loja da rede Atakarejo em Salvador (BA), após furtarem carne, 2 homens famintos em plena pandemia – tio e sobrinho – foram detidos pela segurança da rede comercial e entregues não à polícia, mas aos traficantes da região que após sessão de tortura os matou a tiros. Vê-se aqui a gravidade do que apelidamos Segurança Privada em pleno conluio com o tráfico. Em 2020, 3 meninos foram mortos pelo tráfico de Belfort Roxo. Mais uma vez as comunidades esquecidas, invadidas livremente por marginais, foram vítimas da violência difusa liberada ao tráfico. As crianças de 9, 11 e 12 anos foram torturadas antes de serem mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Ainda em 2020 no Rio de Janeiro, 12 crianças – 5 meninas e 7 garotos – foram mortas por balas perdidas; cerca de uma por mês. Pergunta necessária: qual seria a reação das autoridades caso esses inocentes fossem crianças que brincassem nos playgrounds dos luxuosos bairros da zona sul carioca como Gávea, Leblon ou Barra? Balas nunca se perdem na direção de crianças brancas dos bairros ricos na cidade maravilhosa. Ainda bem, porque nenhuma criança merece isto.


Em 2020, tivemos um assassinato bem parecido com o que vitimou George Floyd, foi a vez de João Alberto, morto por sufocamento e agressões numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Tudo foi filmado e exibido ao mundo. Ainda no mesmo ano foi a vez dolorosa de Miguel Otávio de 5 anos, abandonado pela patroa de sua mãe no elevador de serviço em um prédio de luxo no Recife. O meninozinho, reitero de 5 anos, se perdeu e caiu do 9º andar do edifício. Detalhe: a mãe que deixou a criança sob os cuidados da patroa passeava na calçada com a cadela da família. Em 2019, foi a vez de militares do exército brasileiro executarem uma pessoa negra. Pasmem: a família do músico Evaldo Rosa se dirigia de automóvel na região de Deodoro (zona Oeste do Rio) para um chá de bebê numa tarde de domingo – sua esposa, filho, uma acompanhante e seu sogro assistiram ao seu fuzilamento e só não morreram por milagre, pois cerca de 80 tiros de fuzis foram disparados contra eles. O sogro se feriu e um catador que tentou ajudar foi ferido também e depois veio a morrer. Todo mundo negro. Os militares alegaram “engano” pelos 80 tiros! Já Sérgio Moro, então ministro da justiça, chamou o fuzilamento de “incidente”. Caso fosse um tanque em uma guerra talvez não precisasse de 80 tiros de fuzil, mas uma família negra num automóvel fez jus a esse absurdo que não seria o recorde em violência, como se verá a seguir. Dessa vez (2015) as vítimas foram 5 adolescentes – todos negros de novo – que receberam 111 tiros da letal PM carioca. Essa execução coletiva se deu no bairro de Costa Barros na zona norte do Rio. Nenhum dos meninos tinha armas ou passagem pela polícia. Eram estudantes da comunidade e estavam no interior de um carro. O número de tiros – 111 – em que se revezavam fuzis e pistolas, dispensa o meu comentário. Ainda em 2015, no bairro do Cabula em Salvador, 12 jovens entre 16 e 27 anos tiveram execuções sumárias num caso que estarreceu a cidade pois não se vislumbrou nenhuma razão plausível para a chacina. Num julgamento relâmpago, uma juíza inocentou os policiais militares, mas a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.


Não temos espaço para falar de inúmeros outros casos, como o da mulher que foi arrastada por uma viatura da PM no Rio por mais de 300 metros. Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional. Essa lista não tem fim. 


Se formos indo aprofundando no tempo chegaremos a 1978, quando o feirante Robson da Luz foi torturado e morto numa delegacia em Osasco pela Polícia Civil de São Paulo. Essa morte foi um dos vetores que levou à criação do Movimento Negro Unificado (MNU) que há 44 anos batalha pelas vidas negras sempre sob constante ameaça.


Nenhum dos casos que eu trouxe aqui se tratou de pessoas que estavam enfrentando a polícia ou que estivessem em combate aberto contra outras pessoas.


Neste ano, os homens e mulheres que pretendem candidatar ao governo das 27 unidades federativas desse país continente têm que ter propostas razoáveis para essa “sangria desatada” – expressão usada pelos nossos avós para algo que nunca tem fim. Por outro lado, aquelas e aqueles que desejam o emprego de presidente da república terão de se posicionar com políticas efetivas para a defesa do que de mais elementar o estado deve proporcionar às pessoas: o direito à vida.


Dados de 2012 revelam 63 mortes diárias de jovens – todos negros – na faixa de 15 a 29 anos; quase 3 mortes a cada hora. Um desastre dessas proporções só é possível quando o aparato policial e judicial é conivente, quando não agente dessa mortandade. Mídia e os partidos políticos – que governam o país – têm sua parte nesse latifúndio bárbaro, anacrônico e que nos rebaixa a um vergonhoso ranking no campo dos direitos fundamentais.


Vidas negras importam – sim – para os antirracistas (negros e não-negros) que atuam na contramão de uma elite anestesiada e adoecida moralmente. Todavia, só a sociedade como um todo, liderada por mulheres e homens que almejem posicionar o Brasil num patamar civilizatório adequado ao século 21, pode estancar essa chaga que nos humilha, massacra e provoca muita dor à população majoritária que aqui está há meio milênio construindo o País.


Escancara-se a banalização do brutalismo contra a população negra. Questão que se faz necessária: qual a causa dessa reiterada anestesia moral? São várias, mas a impunidade e a abissal desigualdade racial nutrida pelo racismo têm espaço de destaque nessa cena distópica do país. A justiça que condena e prende a mãe que furta 2 litros de leite, devido a fome de sua prole, é a mesma que protela para as calendas o julgamento dos grandes sonegadores – todos brancos e ricos – que só em 2020 lesaram os cofres públicos em incríveis 460 bilhões de reais.


Não me parece mais correto dizer que o Brasil não tem projeto de nação. Ninguém come maça se não houver macieira. O que não temos são líderes e partidos com uma visão sistêmica que deem conta e queiram decifrar um país de 522 anos dos quais 354 se desenrolaram sob o barbarismo escravista. 



Adaptado de: Vidas negras importam de fato no Brasil? - Geledés (geledes.org.br) Acessado em 15/02/2022.

Releia o trecho a seguir.
Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional.
A expressão destacada é um aposto:
Alternativas
Q1918783 Português

TEXTO PARA A QUESTÃO:


VIDAS NEGRAS IMPORTAM DE FATO NO BRASIL?

HÉLIO SANTOS

A pergunta-título pode parecer estranha para alguns, porque vidas humanas devem importar sempre, independentemente de qualquer condição. O Black Lives Matter hashtag que dominou o mundo, sobretudo após a morte por sufocamento de George Floyd nos Estados Unidos – levanta a barbárie da violência que vitima negros em todo o mundo e de forma especial em países multirraciais como o Brasil. Reitera-se: “Vidas Negras Importam”. Mas esse clamor é um fato no Brasil? Vidas negras importam mesmo aqui?


A indagação do título acima tem pertinência, sim. Os antirracistas estão abalados pelas últimas mortes violentas de dois homens negros jovens – ambos no letal estado do Rio de Janeiro. Todavia, há uma continuidade das mortes que não cessam nunca o que torna nossa palavra de ordem algo sem repercussão na vida real da sociedade brasileira.


O jovem imigrante congolês Moïse Kabagambe sofreu, antes da xenofobia que imigrantes negros vivem aqui, violento racismo que de forma brutal o massacrou até à morte. Racismo este que assola aos negros sejam estes nascidos aqui ou não. Jamais um imigrante argentino, português ou do leste europeu, morreria daquela forma ao reivindicar salários atrasados. Tão infame quanto à morte de Moïse, foi a de Durval Teófilo Filho morto por um sargento da marinha que acertou 3 tiros no escuro contra o pai de família que retornava do trabalho – os dois últimos disparos foram feitos após a vítima, já caída, pedir clemência.


Vejamos: antes dos violentos assassinatos recentes destes jovens negros descortinamos uma sequência tenebrosa de casos que só vieram a público frente à covardia como aconteceram. Em 2021 a bela modelo e designer de 24 anos Kathlen Romeu – grávida – foi morta por um tiro de fuzil quando saía da casa de sua avó materna em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio. Não havia tiroteio no local como alegaram os policiais. A mãe da jovem foi enfática: “Foi a polícia que matou minha filha”. Ainda em 2021 em uma loja da rede Atakarejo em Salvador (BA), após furtarem carne, 2 homens famintos em plena pandemia – tio e sobrinho – foram detidos pela segurança da rede comercial e entregues não à polícia, mas aos traficantes da região que após sessão de tortura os matou a tiros. Vê-se aqui a gravidade do que apelidamos Segurança Privada em pleno conluio com o tráfico. Em 2020, 3 meninos foram mortos pelo tráfico de Belfort Roxo. Mais uma vez as comunidades esquecidas, invadidas livremente por marginais, foram vítimas da violência difusa liberada ao tráfico. As crianças de 9, 11 e 12 anos foram torturadas antes de serem mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Ainda em 2020 no Rio de Janeiro, 12 crianças – 5 meninas e 7 garotos – foram mortas por balas perdidas; cerca de uma por mês. Pergunta necessária: qual seria a reação das autoridades caso esses inocentes fossem crianças que brincassem nos playgrounds dos luxuosos bairros da zona sul carioca como Gávea, Leblon ou Barra? Balas nunca se perdem na direção de crianças brancas dos bairros ricos na cidade maravilhosa. Ainda bem, porque nenhuma criança merece isto.


Em 2020, tivemos um assassinato bem parecido com o que vitimou George Floyd, foi a vez de João Alberto, morto por sufocamento e agressões numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Tudo foi filmado e exibido ao mundo. Ainda no mesmo ano foi a vez dolorosa de Miguel Otávio de 5 anos, abandonado pela patroa de sua mãe no elevador de serviço em um prédio de luxo no Recife. O meninozinho, reitero de 5 anos, se perdeu e caiu do 9º andar do edifício. Detalhe: a mãe que deixou a criança sob os cuidados da patroa passeava na calçada com a cadela da família. Em 2019, foi a vez de militares do exército brasileiro executarem uma pessoa negra. Pasmem: a família do músico Evaldo Rosa se dirigia de automóvel na região de Deodoro (zona Oeste do Rio) para um chá de bebê numa tarde de domingo – sua esposa, filho, uma acompanhante e seu sogro assistiram ao seu fuzilamento e só não morreram por milagre, pois cerca de 80 tiros de fuzis foram disparados contra eles. O sogro se feriu e um catador que tentou ajudar foi ferido também e depois veio a morrer. Todo mundo negro. Os militares alegaram “engano” pelos 80 tiros! Já Sérgio Moro, então ministro da justiça, chamou o fuzilamento de “incidente”. Caso fosse um tanque em uma guerra talvez não precisasse de 80 tiros de fuzil, mas uma família negra num automóvel fez jus a esse absurdo que não seria o recorde em violência, como se verá a seguir. Dessa vez (2015) as vítimas foram 5 adolescentes – todos negros de novo – que receberam 111 tiros da letal PM carioca. Essa execução coletiva se deu no bairro de Costa Barros na zona norte do Rio. Nenhum dos meninos tinha armas ou passagem pela polícia. Eram estudantes da comunidade e estavam no interior de um carro. O número de tiros – 111 – em que se revezavam fuzis e pistolas, dispensa o meu comentário. Ainda em 2015, no bairro do Cabula em Salvador, 12 jovens entre 16 e 27 anos tiveram execuções sumárias num caso que estarreceu a cidade pois não se vislumbrou nenhuma razão plausível para a chacina. Num julgamento relâmpago, uma juíza inocentou os policiais militares, mas a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça da Bahia.


Não temos espaço para falar de inúmeros outros casos, como o da mulher que foi arrastada por uma viatura da PM no Rio por mais de 300 metros. Isso sem contar as ameaças constantes que se tornaram mania contra políticos negros eleitos, especialmente mulheres, em que o exemplo mais marcante foi o de Marielle Franco com repercussão internacional. Essa lista não tem fim. 


Se formos indo aprofundando no tempo chegaremos a 1978, quando o feirante Robson da Luz foi torturado e morto numa delegacia em Osasco pela Polícia Civil de São Paulo. Essa morte foi um dos vetores que levou à criação do Movimento Negro Unificado (MNU) que há 44 anos batalha pelas vidas negras sempre sob constante ameaça.


Nenhum dos casos que eu trouxe aqui se tratou de pessoas que estavam enfrentando a polícia ou que estivessem em combate aberto contra outras pessoas.


Neste ano, os homens e mulheres que pretendem candidatar ao governo das 27 unidades federativas desse país continente têm que ter propostas razoáveis para essa “sangria desatada” – expressão usada pelos nossos avós para algo que nunca tem fim. Por outro lado, aquelas e aqueles que desejam o emprego de presidente da república terão de se posicionar com políticas efetivas para a defesa do que de mais elementar o estado deve proporcionar às pessoas: o direito à vida.


Dados de 2012 revelam 63 mortes diárias de jovens – todos negros – na faixa de 15 a 29 anos; quase 3 mortes a cada hora. Um desastre dessas proporções só é possível quando o aparato policial e judicial é conivente, quando não agente dessa mortandade. Mídia e os partidos políticos – que governam o país – têm sua parte nesse latifúndio bárbaro, anacrônico e que nos rebaixa a um vergonhoso ranking no campo dos direitos fundamentais.


Vidas negras importam – sim – para os antirracistas (negros e não-negros) que atuam na contramão de uma elite anestesiada e adoecida moralmente. Todavia, só a sociedade como um todo, liderada por mulheres e homens que almejem posicionar o Brasil num patamar civilizatório adequado ao século 21, pode estancar essa chaga que nos humilha, massacra e provoca muita dor à população majoritária que aqui está há meio milênio construindo o País.


Escancara-se a banalização do brutalismo contra a população negra. Questão que se faz necessária: qual a causa dessa reiterada anestesia moral? São várias, mas a impunidade e a abissal desigualdade racial nutrida pelo racismo têm espaço de destaque nessa cena distópica do país. A justiça que condena e prende a mãe que furta 2 litros de leite, devido a fome de sua prole, é a mesma que protela para as calendas o julgamento dos grandes sonegadores – todos brancos e ricos – que só em 2020 lesaram os cofres públicos em incríveis 460 bilhões de reais.


Não me parece mais correto dizer que o Brasil não tem projeto de nação. Ninguém come maça se não houver macieira. O que não temos são líderes e partidos com uma visão sistêmica que deem conta e queiram decifrar um país de 522 anos dos quais 354 se desenrolaram sob o barbarismo escravista. 



Adaptado de: Vidas negras importam de fato no Brasil? - Geledés (geledes.org.br) Acessado em 15/02/2022.

Imagem associada para resolução da questão


A reflexão proposta pela tirinha de Armandinho tem o mesmo sentindo do seguinte fragmento de texto, considerando-o em seu contexto:

Alternativas
Respostas
1: B
2: E
3: D
4: D
5: A
6: C
7: E
8: A
9: D
10: E