Questões de Concurso Público TRT - 23ª REGIÃO (MT) 2016 para Analista Judiciário - Área Judiciária

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Q613231 Português
     Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aleia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu.  

      Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio conseguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma aparência que a mim lembrava vagamente um olho.

      Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos. Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada região do Jardim Botânico.

      Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu. Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.

      Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos mulungus, só me ficou a memória − essa memória mínima.

(Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Disponível em: http://heloisaseixas.com.br) 
             ... que a mim lembrava vagamente um olho. (2° parágrafo)

             ... que me restava na palma da mão... (3° parágrafo)

             ... o prazer de encontrá-las. (5° parágrafo)

Os elementos sublinhados acima referem-se, na ordem dada, a: 
Alternativas
Q613232 Português
                                          Logrador

                          Você habita o próprio centro
                          de um coração que já foi meu.
                          Por dentro torço por que dentro
                          em pouco lá só more eu.

                          Livre de todos os negócios
                          e vícios que advêm de amar
                          lá seja o centro de alguns ócios
                          que escolherei por cultivar.

                          Para que os sócios vis do amor,
                          rancor, dor, ódio, solidão,
                          não mais consumam meu vigor,

                          amado e amor banir-se-ão
                          do centro rumo a um logrador
                          subúrbio desse coração.

                      (CÍCERO, Antonio. Guardar, Rio de Janeiro, Record, 1996, p. 71) 
Mantendo-se o sentido original, no verso Por dentro torço por que dentro (1ª estrofe), o termo sublinhado pode ser substituído por:
Alternativas
Q613233 Português
                                          Logrador

                          Você habita o próprio centro
                          de um coração que já foi meu.
                          Por dentro torço por que dentro
                          em pouco lá só more eu.

                          Livre de todos os negócios
                          e vícios que advêm de amar
                          lá seja o centro de alguns ócios
                          que escolherei por cultivar.

                          Para que os sócios vis do amor,
                          rancor, dor, ódio, solidão,
                          não mais consumam meu vigor,

                          amado e amor banir-se-ão
                          do centro rumo a um logrador
                          subúrbio desse coração.

                      (CÍCERO, Antonio. Guardar, Rio de Janeiro, Record, 1996, p. 71) 
No poema,
Alternativas
Q613234 Português
                                          Logrador

                          Você habita o próprio centro
                          de um coração que já foi meu.
                          Por dentro torço por que dentro
                          em pouco lá só more eu.

                          Livre de todos os negócios
                          e vícios que advêm de amar
                          lá seja o centro de alguns ócios
                          que escolherei por cultivar.

                          Para que os sócios vis do amor,
                          rancor, dor, ódio, solidão,
                          não mais consumam meu vigor,

                          amado e amor banir-se-ão
                          do centro rumo a um logrador
                          subúrbio desse coração.

                      (CÍCERO, Antonio. Guardar, Rio de Janeiro, Record, 1996, p. 71) 
Atente para as afirmativas abaixo relativas a pontuação.

I. Pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente após amar, na segunda estrofe, sem prejuízo para a correção.

II. As vírgulas empregadas imediatamente antes de rancor e após solidão, na terceira estrofe, podem ser substituídas por travessões, sem prejuízo para a correção.

III. O último verso poderia vir precedido de dois-pontos ou travessão, já que constitui uma explicação do termo antecedente logrador.

Está correto o que consta em
Alternativas
Respostas
9: D
10: A
11: A
12: D