Questões de Concurso Público TRT - 9ª REGIÃO (PR) 2022 para Analista Judiciário - Área Judiciária - Especialidade: Oficial de Justiça Avaliador Federal

Foram encontradas 14 questões

Q1959066 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
O eu lírico manifesta-se explicitamente no poema em:
Alternativas
Q1959067 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)

“Agora, a morte tem limites.” (verso 53)


Implícito a esse verso está a ideia de que, antes, a morte mostrava-se

Alternativas
Q1959068 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)

Considere os seguintes trechos:


I. “Descansou. Partiu. Deus o tenha.” (verso 23)

II. “deixar tudo para os filhos / e virar fotografia?” (versos 36 e 37)

III. “Mas ninguém tem culpa.” (verso 41)


Ocorre eufemismo em

Alternativas
Q1959069 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
O trecho sublinhado expressa um desejo em:
Alternativas
Q1959070 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
Expressão expletiva é uma expressão que não exerce função sintática. (Evanildo Bechara. Moderna gramática portuguesa, 2009. Adaptado.)

Verifica-se uma expressão expletiva em:
Alternativas
Q1959071 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
Um vocábulo pode ser formado quando passa de uma classe gramatical a outra, sem a modificação de sua forma. É o que se denomina derivação imprópria. Constitui exemplo de derivação imprópria o termo sublinhado em:
Alternativas
Q1959072 Português
Atenção: Para responder à questão, considere o poema “O que passou passou?” do escritor curitibano Paulo Leminski. 


1     Antigamente, se morria.
       1907, digamos, aquilo sim
       é que era morrer.
       Morria gente todo dia,
       e morria com muito prazer,
       já que todo mundo sabia
       que o Juízo, afinal, viria,
       e todo mundo ia renascer.
       Morria-se praticamente de tudo.

10   De doença, de parto, de tosse.
       E ainda se morria de amor,
       como se o amar morte fosse.
       Pra morrer, bastava um susto,
       um lenço no vento, um suspiro e pronto,
       lá se ia nosso defunto
       para a terra dos pés juntos.
       Dia de anos, casamento, batizado,
       morrer era um tipo de festa,
       uma das coisas da vida,

20    como ser ou não ser convidado.
        O escândalo era de praxe.
        Mas os danos eram pequenos.
        Descansou. Partiu. Deus o tenha.
        Sempre alguém tinha uma frase 
        que deixava aquilo mais ou menos.
        Tinha coisas que matavam na certa.
        Pepino com leite, vento encanado,
        praga de velha e amor mal curado.
        Tinha coisas que tem que morrer,

30    tinha coisas que tem que matar.
        A honra, a terra e o sangue
        mandou muita gente praquele lugar.
        Que mais podia um velho fazer,
        nos idos de 1916,
        a não ser pegar pneumonia,
        deixar tudo para os filhos
        e virar fotografia?
        Ninguém vivia pra sempre.
        Afinal, a vida é um upa.

40    Não deu pra ir mais além.
        Mas ninguém tem culpa.
        Quem mandou não ser devoto
        de Santo Inácio de Acapulco,
        Menino Jesus de Praga?
        O diabo anda solto.
        Aqui se faz, aqui se paga.
        Almoçou e fez a barba,
        tomou banho e foi no vento.
        Não tem o que reclamar.

50    Agora, vamos ao testamento.
        Hoje, a morte está difícil.
        Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
        Agora, a morte tem limites.
        E, em caso de necessidade,
        a ciência da eternidade
        inventou a criônica.
        Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. 


(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
Considerando a regência verbal recomendada pela norma-padrão da língua portuguesa, verifica-se um desvio em:
Alternativas
Q1959073 Português
Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

De acordo com o amigo do narrador, o título atribuído a Pio mostra-se
Alternativas
Q1959074 Português
Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

Em “Nada pude descobrir. Entretanto, picava-me a curiosidade.” (4° /5° parágrafos), o termo sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido do texto, por:  
Alternativas
Q1959075 Português
Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

Considere os seguintes trechos:

I. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos. (7° parágrafo) II. – Tens o bilhete contigo? (10° parágrafo) III. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade. (15° parágrafo)

Retoma uma expressão mencionada anteriormente no texto o termo sublinhado APENAS em
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Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

“Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo”. (3° parágrafo)

No contexto em que se insere, o termo sublinhado expressa ideia de
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Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

"– Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu.” (19° parágrafo)

Ao se transpor o trecho acima para o discurso indireto, o verbo sublinhado assume a seguinte forma:
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Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

Verifica-se o emprego de vírgula para separar um vocativo em:
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Atenção: Para responder à questão, leia o trecho inicial do conto “Virginius: narrativa de um advogado”, de Machado de Assis. 


      Não me correu tranquilo o S. João de 185...
      Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete, sem assinatura e de letra desconhecida:
      “O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chama-se Julião. Note que o Dr. é convidado a ir defender o réu.”
      Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus amigos e conhecidos... Nada pude descobrir. 
      Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das instâncias, montei a cavalo e parti.
      Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava um amigo meu, antigo companheiro da academia. 
      Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e admirado.
      − A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
      − Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
      − Tens o bilhete contigo?
      − Tenho.
      Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
      − É a letra de Pai de todos.
      − Quem é Pai de todos?
      − É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho Pio o é na verdade.
      − Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
      − Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina. Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao julgamento de Pai de todos.
      O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
      − Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me contarás.
      − É melhor. Julião é inocente...


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)

Em “Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo bilhete” (5° parágrafo), a expressão sublinhada exerce a mesma função sintática da expressão sublinhada em: 
Alternativas
Respostas
1: B
2: A
3: D
4: E
5: E
6: C
7: D
8: A
9: B
10: A
11: D
12: E
13: C
14: B