Texto 1
É sabido que o oeste catarinense e o sudoeste do
Paraná começaram a ser ocupados, no início do século
XIX, através da pecuária, em suas regiões de campo,
pela criação extensiva em grandes propriedades. O
resultante desse processo foi a rarefação da população
em grandes espaços. Somente a partir de meados do
século passado é que as áreas de florestas, que antes
tinham permanecido praticamente intactas, passaram
a ser ocupadas através do excedente populacional
dos campos de criação de gado ou dos imigrantes
provindos de outras partes do território nacional. Esse
processo acabou constituindo a população cabocla
com uma cultura e um modus vivendi próprios, e com
a qual os imigrantes rio-grandenses iriam se defrontar.
As migrações visavam a ocupar o “espaço vazio” do
oeste catarinense, dentro do projeto capitalista do
governo, já que essa região era vista como perigosa e
inóspita, um verdadeiro deserto a ser povoado para
nele se produzir. As companhias colonizadoras, então,
começaram a fazer investimentos e vender as glebas
das áreas de florestas.
Nesse ínterim, entre os descendentes de imigrantes
italianos do Rio Grande do Sul (Serra Gaúcha e regiões
circunvizinhas), estava ocorrendo um fato conjuntural
que veio ao encontro do interesse pela colonização
do oeste catarinense. A estrutura fundiária das regiões
de imigração rio-grandenses era baseada em pequenos lotes de terra. Essas pequenas propriedades não
podiam mais ser desmembradas porque tornar-se-
-iam inviáveis economicamente. Daí o deserdamento
sistemático e necessário, forçando os colonos e seus
descendentes a novas migrações para novas colônias,
onde se reproduziu o modelo fundiário anterior.
ZAMBIASI, José Luiz. Lembranças de velhos. Chapecó: Universitária
Grifos, 2000, p. 28-29. [Fragmento adaptado].